Eu, pelo menos, vi várias pessoas se referindo a então Ministra desta forma. Mas não foi o suficiente pra barrar a candidatura. Com o início da eleição, foi necessário lançar mão de uma estratégia que revertesse a força política da união das imagens públicas de Lula e sua candidata – algo quase imbatível dada a aprovação do Governo. Logo, oposição e mídia optaram pela desconstrução da imagem da petista, enquadrada como alguém inábil, totalmente dependente, sem comando, sem força, sem luz própria. Uma guinada brusca: de excesso de personalidade, para absoluta falta. Mas, a mídia não se constrange... Lembro que, no começo da campanha, nas primeiras entrevistas de Dilma, muitos jornalistas – acreditando em suas próprias cantilenas – concediam à candidata governista um tratamento condescendente, quase paternalista, como se estivessem lidando com uma criança indefesa, prestes a cometer gafes em série, uma bomba relógio. Muitos entrevistadores repetiam perguntas, alegando que a candidata não tinha entendido a questão. Na imensa maioria das vezes, era a resposta de Dilma que tinha sido complexa demais para a compreensão do jornalista.

Claro que indicações para a equipe de Dilma, de Lula, dos governadores, de qualquer chefe do executivo, obedecem a composições partidárias e a questões de governabilidade, algo controverso e questionável sob vários aspectos. O Governo petista teve de ligar com isto desde a era Lula, não muda agora com Dilma, nem mudaria com Serra. A esta altura, já ficou claro quais forças político-partidárias estão alinhadas com o PT e quais não. Mesmo no PMDB, que é ambíguo, como outras legendas, já há divisão entre alas mais governistas e mais oposicionistas. A despeito disto, a “turma” que entra agora no Ministério Dilma não é nem dela, nem de Lula, porque os próprios governos não são dela ou dele. O que está em jogo é um projeto para o país, uma concepção de estado, uma visão política, um campo ideológico, com métodos, práticas e idéias. Quem venceu em 2010 foi este projeto, esta proposta pro país, este conjunto de políticas públicas – que foi representado pelo Lula, e agora é pela Dilma.
Neste sentido, os nomes são menos importante que as ações e programas de governo, seja para o cargo de presidente, seja para os Ministérios. Os indivíduos indicados para as pastas do Governo Federal, antes de estarem vinculados a Lula ou à Dilma, estão vinculados a este projeto. De maneira que a abordagem individualista é bastante pobre para compreende tal processo de montagem da equipe. Não há oposição entre Lula, Dilma, ou outro nome que viesse a representar uma mesma proposta para o país. Há oposição entre Dilma e Serra! Neste caso, não pelos seus atributos individuais ou pelas suas personalidades, mas porque estão situados em campos políticos divergentes. A maioria do povo brasileiro entendeu isto, tanto que elegeu para o mais importante cargo uma mulher sem experiência eleitoral. Isto porque o primordial era a manutenção das políticas públicas vigentes, e não propriamente o indivíduo – um sinal de maturidade na nossa democracia. Na política, mais importante que o embate entre pessoas, é o embate entre idéias, concepções, conteúdos programáticos etc. A eleição de Dilma foi didática neste sentido. Pena que alguns demorem mais pra entender, seja por má vontade, seja por incompetência.