domingo, 18 de novembro de 2007

"Quem financia a baixaria é contra a cidadania!"

Televisão é uma concessão pública, por isso deve prestar serviços à sociedade. A partir do momento em que a lógica mercadológica sobrepõe-se à formação crítica da audiência, aos conteúdos educativos e ao teor cultural, é porque os interesses privados estão prevalecendo sobre os públicos. A sociedade exerce controle social sobre a qualidade da saúde, da educação, segurança, entre outros serviços. Por que não sobre a comunicação? Discriminação da mulher, do negro, do homossexual, do indígena, do morador de periferia é violação de direitos humanos. Esses grupos são frequentemente excluídos nos meios de comunicação de massa, inferiorizados ou retratados de maneira caricata. Não que deva ser proibida qualquer forma de humor, mas as minorias precisam ser representadas também de maneira digna, democraticamente. Comunicação é direito humano reconhecido, e precisa estar a serviço das causas sociais.

A regulamentação da mídia é encarada com muita naturalidade em países dos mais desenvolvidos, como Inglaterra, Suécia e Estados Unidos. Infelizmente, no Brasil, toda a discussão sobre controle da programação televisiva é imediatamente rotulada de censura. Muitas vezes, esta resistência surge da própria indústria da mídia, que utiliza seus instrumentos de influência sobre a sociedade, para sabotar qualquer avanço. Enquanto isso, as programações exibem conteúdos inadequados para crianças e adolescentes, em qualquer horário. Se, por um lado, cabe aos pais a responsabilidade de determinar quais conteúdos são apropriados para seus filhos; por outro, está mais do que comprovado que a ausência de regulamentação leva as emissoras a exibirem uma programação aberta marcada pela baixaria e pela perseguição de lucro a qualquer custo.

É justamente para proteger os direitos das crianças e adolescentes, que a sociedade civil precisa de organização para acionar mecanismos de constante avaliação dos produtos midiáticos. É difícil mensurar até que ponto vai a participação do Estado, nesta problemática. De toda forma, as decisões não podem ser tomadas a despeito dos direitos coletivos. ONG's, entidades, pesquisadores acadêmicos, estudantes, universitários, sites, blogs e os próprios programas de TV, dentre outros, precisam, cada vez mais, provocar este debate e estimular a sociedade a fiscalizar, não apenas a qualidade das programações, como também os processos de distribuição de concessões públicas na comunicação.

Uma matéria jornalística, por exemplo, na BBC, dura 6, 7 minutos, em média, e procura contextualizar as informações. Em emissoras brasileiras, muitas matérias não passam de 30 segundos. Ao invés de oferecer vários aspectos sobre uma questão, permitindo que o espectador forme a sua própria conclusão, boa parte da mídia no Brasil quer oferecer as respostas, assumindo um posicionamento totalmente tendencioso e unilateral. É muita opinião disfarçada de informação! Parte do público, infelizmente, está condicionada a adotar as informações da mídia como uma verdade inquestionável e que deve ser absorvida automaticamente; quando, na verdade, qualquer mensagem jornalística é uma VERSÃO dos fatos. Liberdade de imprensa deve ser respeitada, mas não pode funcionar como álibi para este autoritarismo. Pluralidade deveria ser a palavra de ordem em um veículo de comunicação de massa.

5 comentários:

  1. Muito bom os textos desse blog. Em relação a esse assunto, a minha discordância é que eu não acho que a mídia deva ser regulada, afinal, quem a regularia não seriam os mesmos poderosos que atualmente definem a sua programação???

    ResponderExcluir
  2. Então, Fábio. Essa é a questão! Se o Estado for regular, através do Ministério da Justiça, corre-se o risco de virar "censura". Se a regulamentação ficar por conta das próprias emissoras, nada muda! Não sei qual a melhor resposta pra sua pergunta, mas acho importante que a sociedade civil lance mecanismos de avaliação e fiscalização, tanto do conteúdo da programação midiática, quanto do processo de distruibuição das concessões públicas, por meio, por exemplo, dos agentes que eu mencionei no texto.

    ResponderExcluir
  3. Muito beme scrito, contextualizado e pertinente o texto.
    A solução da "fiscalização" e da "mudança da comunicação massiva do Brasil" passa por vários problemas/defeitos/caracerísticas que tendem a manter o modelo: a relação políticos - propriedade de concessões é uma, o conformismo com a produção unilateral do eixo rio-são paulo é outra.
    Enfim, creio que a presença das emissoras comerciais não seja o problema, mas sim a ausência de uma emissora pública-estatal competitiva de televisão para fazer frente a Globo, Record, Band, SBT, etc. Enfim, isso dá uma longa discussão;

    ResponderExcluir
  4. A mídia necessita, realmente, de uma regulamentação. Programas indevidos estão sendo exibidos a qualquer hora, em qualquer circustãncia. Um dia desses, na nova novela das oito, a tal "novela da família", vi uma cena em que a Flávia Alessandra - não importando o papel que ocupa na trama - fazia um strip-tease quase que infinito. Cenas fortíssimas, com alto teor erótico e totalmente inapropriadas para aquele horário. E o pior é que a cena era sempre repetida em diversas lembranças de outros personagens.
    Se isso é a chamada "liberdade de imprensa", sinceramente, prefiro um certo controle sobre a programação televisiva.

    ResponderExcluir
  5. No caso das cenas da Flávia Alessandra, o pior é que são reprisadas na íntegra, 8 horas da manhã, no programa da Ana Maria Braga.

    ResponderExcluir