terça-feira, 29 de dezembro de 2009

Os meninos do Brasil

Sean

Sean Goldman não é brasileiro, mas certamente tem os vínculos mais fortes com nosso país. O pai americano alega ter sempre tentado entrar em contato com o menino. A família brasileira diz desconhecer este esforço. Apesar disso, creio não haver maiores dúvidas de que a coisa certa e justa a se fazer era mesmo devolver a criança ao pai biológico. Sempre digo que o laço sanguíneo, por si, não quer dizer absolutamente nada. Ser pai não é ter uma relação com uma mulher, é dedicar a vida a outro ser. Um pai adotivo pode ser tão ou mais “verdadeiro” que um pai biológico. O que faz o americano, David, merecer a guarda de Sean é o fato de a mãe ter praticamente seqüestrado a criança. Foi extirpado deste pai, o direito de ver seu próprio filho crescer. O americano não tem nenhum antecedente que o desabone, e demonstra condições de oferecer ao filho uma boa vida. O ideal seria a convivência do menino com ambas as famílias, não fossem a hostilidade entre elas e a distância inviável. A Justiça brasileira cumpriu com seu dever, e devolveu ao pai o direito de viver com Sean.

Ainda assim, é inevitável pensar nos vínculos que esta criança criou com o Brasil. Com o padrasto, com a irmã, com os avós maternos, com todos os familiares, claro. Mas também com os amigos, colegas de escola, professores, lugares que ele conhece e gosta de freqüentar, os programas a que ele assiste na TV etc. De repente, ele será separado de tudo isto. Tenho dificuldade para pensar em algo mais traumático. O menino sequer fala inglês tão bem. Psicólogos, professores particulares e outros profissionais tentarão facilitar a vida do menino daqui pra frente, mas o problema não tem solução objetiva, muito menos garantida. A adaptação aos Estados Unidos custará muito a Sean, não sei nem se será possível um dia. Fico imaginando que o vínculo com a família da mãe pode ser tão intenso, que talvez Sean, quando atingir a maioridade, opte por voltar ao Brasil. Aí, a decisão não caberá mais à Justiça de nenhum país. Até quando a lembrança da família brasileira persistirá na mente e no coração de Sean? Só espero que as respectivas partes tenham maturidade e sensatez para buscar sempre o melhor para o menino.

Márcio

Márcio, de dois anos, teve que se submeter a cirurgias para retirar agulhas que ameaçavam órgãos vitais. O caso chocou muitas pessoas e, para surpresa geral, casos similares começaram a surgir pelo país em um curto período de tempo. Certamente, estas pessoas que foram a hospitais e revelaram agulhas em seus corpos, nos últimos dias, não são as únicas que foram submetidas a este ritual, ao que tudo indica, de magia negra. Este episódio deixa muito clara a existência de dois “Brasis”: um que fica absolutamente escandalizado com agulhas no corpo de um menino, e outro que tem este tipo de prática como uma realidade quase cotidiana. Um Brasil – moderno, “civilizado”, metropolitano, com melhores níveis de escolaridade e instrução, da mídia, dos jornalistas, da informação, dos profissionais liberais, dos cidadãos esclarecidos – ignora completamente outro Brasil – da pobreza, da miséria e do atraso. Não dá pra desassociar um crime como este da questão social.

Não é por acaso que as crianças perfuradas por agulhas (que apareceram na mídia) moram no interior do país, e são de famílias pobres. Isso significa que pobres são menos civilizados e se preocupam menos com seus filhos? Não, significa que a miséria e a pobreza podem desconstituir os próprios valores humanos. Concentração de renda traz fome e necessidades de várias ordens a muitas regiões de um país, mas também traz a própria deterioração dos valores familiares e humanitários. Populações inteiras vivem sem referências de comportamento, sem o reconhecimento dos direitos mais fundamentais, sem noções importantes de regras e limites para a convivência em sociedade. Noções que figuras modernas como Estado, civilização, progresso, levaram a alguma regiões – em alguma medida – mas que nunca chegaram a tantas outras regiões. O Brasil é um dos vários países que carregam esta dívida histórica. Nos últimos anos, ações públicas têm sido realizadas para reverter este quadro, mas é claro que muito ainda precisa ser feito.

O Brasil “esclarecido”, ao mesmo tempo em que se escandaliza, tem enorme dificuldade para reconhecer a raiz social destes episódios bárbaros. Desconcentração de renda, obviamente, é matéria que não interessa ao Brasil mais rico. Como não é politicamente correto admitir isto, construímos diariamente camadas de discursos politicamente aceitáveis, para refutar a pauta da distribuição de renda. Continuaremos repetindo o mantra dos intelectuais: “não pode dar o peixe, tem que ensinar a pescar”. E nos recusamos a ver que muitos já estão morrendo afogados. Para quem sofre com necessidades básicas, ações emergenciais são tão importantes quanto ações estruturais, de médio e longo prazo. Infelizmente, nada impede que outras crianças passem pelo mesmo tipo de barbaridade que o Márcio, da Bahia. Provavelmente, isto é inevitável. Mas melhorar a situação destas famílias historicamente penalizadas passa necessariamente pela distribuição da renda, além de vários outros serviços públicos, é claro. O Brasil instruído esforça-se para ignorar isto.

segunda-feira, 21 de dezembro de 2009

Drops - Dezembro

Economia

Depois que foi divulgado o PIB do terceiro trimestre de 2009 – que obteve crescimento de 1,3% - proliferaram na grande mídia matérias com alfinetadas ao Governo. O resultado pode ser considerado bom, mas não tão bom quanto previa o Governo, no entender dos jornalistas. O resultado “deixou dois fatos bem evidentes para os economistas: primeiro, ficou abaixo do que o Governo previa, mas principalmente mostrou que outros países em desenvolvimento, como a China, como a Índia, tiveram resultados muito melhores do que o nosso”, sentenciou William Bonner. Realmente, não dá pra comparar o crescimento brasileiro com o crescimento chinês ou indiano. Mas, se por um lado, o desempenho brasileiro não correspondeu ao que foi “alardeado pelo Governo”, como diz a Globo; por outro lado, este desempenho foi muito melhor que o apocalipse alardeado pela mídia. Eu acho muita cara de pau, a essa altura, os jornalistas apontarem o dedo na cara e acusarem o Governo de ter errado no tom. Tom errado por tom errado, o da mídia foi muito mais distante da realidade. Ainda que menor que o dos asiáticos, o desempenho brasileiro frente à crise foi excelente – e eles não contavam com isso.



Estrela do Lula brilha de novo diante do mundo

É impressionante a habilidade que o Lula tem para traduzir um sentimento coletivo. O que as pessoas chamam de “carisma” eu vejo como sensibilidade e poder de compreensão. Lula consegue fazer leituras acuradas de situações políticas complexas e expressar pensamentos que atendem às expectativas da maioria. Foi isto que o presidente fez na COP-15, e por isso foi longamente aplaudido em vários momentos do seu discurso. Enquanto Lula cobrava responsabilidades dos países ricos, Obama tangiversou. O presidente americano fez um discurso protocolar e burocrático, decepcionou o mundo inteiro, mas atendeu às expectativas americanas. A grande verdade é que os Estados Unidos não estão dispostos a fazer concessões ambientais, que possam comprometer seu ímpeto desenvolvimentista – muito menos em pleno processo de recuperação da crise. Os Republicanos sequer acreditam em aquecimento global. O presidente Obama é Democrata, mais flexível, mas ainda é presidente americano. E um político, por melhor que seja, é sempre ele e suas circunstâncias.

Cop 15: erro de estratégia

Não sei se faz muito sentido criar um fundo para ajudar os países pobres a diminuir a poluição do planeta. Quem mais polui são os países ricos, e alguns emergentes, como a China. Portanto, são estes quem mais podem contribuir com a diminuição da poluição, e não nós. De qualquer forma, se fizerem o tal fundo, acho absurdo que o Brasil coloque um centavo que seja nesta cesta. Os países ricos são os que mais poluem justamente porque já tiveram a oportunidade histórica de se industrializarem. Tiveram o imenso benefício de expandirem suas economias, aumentarem suas riquezas, melhorarem a qualidade de vida de suas populações etc. Isso tudo teve um custo ambiental, e na hora de pagar a conta, o Brasil – que ainda não experimentou estes benefícios – vai ser convocado?! É como se uma turma fizesse um banquete em um restaurante caríssimo, no final, convidassem você pra um cafezinho, e depois quisessem dividir a conta total entre todos – não lembro quem da comissão brasileira em Copenhague disse isto, mas a frase é muito boa.

Corrida presidencial

Na última pesquisa Datafolha, Dilma obteve 23% das intenções de votos, enquanto Serra ficou com 37%. Fui surpreendido pelo desempenho da Dilma. De qualquer forma, algum crescimento era esperado, pois a pesquisa foi posterior às inserções e ao Programa do PT na TV (que, aliás, ficou muito bom). O programa petista foi exibido uma semana depois do programa do PSDB. Portanto, tanto o Serra quanto a Dilma tiveram a oportunidade de se comunicar com a população. Entretanto, para o Serra, que já conhecido, isto é bom. Para a Dilma, que a maior parte da população conhece pouco, é fulcral. A estratégia da presidenciável governista não pode se outra: precisa colar sua imagem a do presidente. Uma eleição pleibicitária, com uma candidatura altamente identificada com o campo político do FHC e outra altamente identificada com o campo político do Lula, tende a dar a vitória ao atual Governo. Claro que isto não será automático. Tempo na televisão e fortes palanques estaduais são pré-condições já bem encaminhadas. Dilma ainda precisará executar uma campanha eficiente e ter bom desempenho nos debates. Cumpridas estas etapas, a candidata do Governo provavelmente vence.

segunda-feira, 14 de dezembro de 2009

Dilma é "mais gerentão do que humano".

Sempre que a Dilma aparece na grande Imprensa, é de forma prejudicial a sua imagem. Entre os analistas políticos, é comum a premissa de que Dilma é uma mulher intratável, intragável, insuportável, que terá de ser enfiada goela abaixo da população em 2010. Em parte, isto está relacionado ao perfil mais exigente, firme e incisivo da Ministra – o que é natural e admirável, partindo de um homem; mas é visto como grosseria e antipatia quando parte de uma mulher. Estou bastante convencido da existência de um componente de gênero neste processo. Ontem, Christian Pior, do Pânico, fez uma enquete entre seus entrevistados para escolher a “Mulher do Ano”, candidatas: Geisy Arruda (a mais votada), Michelle Obama (que levou alguns votos) e Dilma (que não teve nenhum voto). Claro que ninguém leva a sério uma enquete do Pânico. Mas eu fiquei imaginando... Mesmo que levassem a sério, o desempenho da petista não seria tão diferente. A maioria da população não conhece a Dilma, mas os que conhecem tendem a nutrir alguma rejeição por ela.

Muitas pessoas vinculam Dilma ao Sarney, ou ao apagão, ou sentem falta de carisma na pré-candidata, ou não gostam dela mesmo sem saber exatamente o porquê. Evidente que isto está vinculado à cobertura jornalística. O Gilberto Dimenstein resumiu a Dilma a uma “sisuda burocrata, que nunca teve nenhum voto”. Vocês já viram o FHC ser tratado nestes termos? Claro que, em algum momento, algum jornalista pode ter se referido ao ex-presidente em termos parecidos, mas a falta de carisma do Fernando Henrique nunca foi pretexto para ele ser retratado quase que invariavelmente como um “sisudo intelectual”. E olha que – se aceitarmos que “carisma” é um critério válido para avaliar um ser humano (quando não é) – nem FHC, nem Serra está em situação mais favorável que Dilma. Entretanto, para a presidenciável do PT, a suposta “falta de carisma”, a falta de “jogo de cintura”, a sisudez e a dureza tornaram-se pecados mortais. A verdade é que nem Dilma, nem Serra, nem ninguém tem apenas um lado da personalidade para mostrar. Ninguém é duro e rígido em todas as situações, assim como ninguém é afável e só sorrisos em tempo integral.



Mas, para o Josias de Souza, se a Dilma tem a audácia de falar em um tom de voz que não se aproxime do grito, só pode ser obra dos marketeiros mágicos do PT. Já perdi a conta de quantas matérias assim eu já li na Veja, Isto É etc. Josias insinua (e não é o único) que uma nova Dilma está sendo fabricada – da maneira mais artificial possível – para ser apresentada à população nas eleições. Para o blogueiro da Folha, a verdadeira Dilma é aquela que rispidamente chamou uma jornalista de “minha filha”, na entrevista coletiva que deu sobre as causas do apagão. Concordo que tratamentos como “minha filha”, “minha querida” têm de ser banidos do discurso de um presidenciável. Mas todos os telejornais estavam jogando pro país uma frase de Dilma, fora do contexto, em que ela falava que não teria mais apagão. A cobertura sobre a pane elétrica teve forte viés político-eleitoral (diferente, por exemplo, da cobertura sobre o acidente no Rodoanel), analistas políticos reverenciados trataram o assunto na base do “apagão do FHC versus apagão do Lula”.

A pergunta da jornalista “minha filha” foi exatamente sobre esta comparação entre a gestão atual e a anterior. Apesar de incorreta, não sei se a reação da Ministra era pra menos. Foi uma reação de quem tem brios. A Ministra tinha, de fato, muito o que falar, esclarecer e colocar os pingos nos is. Dilma diz, por exemplo, que as árvores de natal que têm este ano no Parque do Ibirapuera, na Lagoa Rodrigo de Freitas, às margens do Guaíba no Rio Grande do Sul, dentre várias outras localidades, não poderiam existir na época do racionamento do Fernando Henrique, por falta de energia! Nenhuma empresa deixa mais de vir ao Brasil – gerar investimentos e empregos – por falta de energia, porque hoje a situação é totalmente diferente. E agora os jornalistas vêm cobrar da Ministra que ela prometeu energia e não cumpriu. Acho inadequado, porém compreensível que Dilma tenha se exaltado. Antes de ser candidata, Dilma é humana. E por mais que você, leitor, esteja achando esta constatação óbvia, não é tanto.

O jornalista de O Globo, Gustavo Paul, declarou no programa Fatos e Versões, aos 5’, que Marina Silva tem uma história muito parecida com a do Lula, que pode fazer chorar, e vai rivalizar com Dilma, que já teria uma história mais dura, mais “de gerentão” do que de humano. Vejam vocês a que ponto chegam as análises! Dilma sofreria de uma falta de carisma tão aguda, que se afastaria de um perfil mais “humano”, seja lá o que o jornalista quis dizer com isso. Já ouvi pessoas nas ruas, amigos e familiares fazerem comentários na mesma linha... É como se a Dilma antipática fosse a realidade inquestionável, e a Dilma ponderada fosse uma construção artificial dos marketeiros. As pessoas não percebem que tanto uma quanto a outra são formas diferentes de retratar uma mesma pessoa. Óbvio, os marketeiros do PT vão retratar a candidata de uma maneira positiva, ganham pra isso. Os jornalistas, por motivos menos óbvios, sempre retratam Dilma de maneira negativa. O Horário Eleitoral gratuito é importante para todos os candidatos, mas é simplesmente vital para alguns. Se Dilma quiser apresentar-se à sociedade de maneira mais positiva, só assim.

terça-feira, 8 de dezembro de 2009

O que o escândalo no GDF representa?

A interpretação predominante que as pessoas têm feito do escândalo no Governo Arruda consiste em desacreditar ainda mais a atividade política (se é que era possível tornar a política ainda mais desacreditada). Não é raro ouvir de pessoas – sejam cidadãos comuns, especialistas ou pessoas com visibilidade na mídia – que a política brasileira como um todo não tem mais salvação, e que este escândalo só veio reforçar este dado. Tanto Governo quanto Oposição encenam um grande teatro, com o objetivo único e generalizado de avançar no bolso do contribuinte. Esta visão é rasteira, conveniente, freqüentemente mal informada e presta um desserviço enorme ao país. Por pior que seja a qualidade dos nossos representantes públicos, é evidente que não podemos generalizar casos de corrupção, nem desacreditar da atividade política como um todo. Estou convencido de que a forma como a mídia cobre estes escândalos tem papel essencial na predominância desta interpretação generalista. Isso significa culpar a Imprensa pela existência da corrupção? Evidente que não. Significa identificar o enquadramento midiático mais utilizado para retratar o objeto política.

Um enquadramento é um sistema hermenêutico, é a seleção de alguns aspectos de uma realidade com a omissão de outros; enquadrar é pensar, interpretar, retratar um objeto de determinada maneira. A expressão “Mensalão do DEM” é sintomática do enquadramento generalizante que a mídia emprega para pensar a política. Pelas minhas posições ideológicas, eu teria todo o interesse em embarcar nesta campanha de esquartejamento do DEMocratas. Iria contra tudo que eu sempre escrevi aqui. O Mensalão do GDF não é do DEM, mesmo! Se eu tenho todas as diferenças programáticas em relação ao DEM, preciso externá-las no debato limpo e republicano das idéias. A mídia riscou o PT da sua lista de partidos decentes e aptos a Governar, em 2005. Guardadas as devidas proporções, atribuiu ao PSDB o “começo de tudo”, no caso Azeredo – a corrupção brasileira encontrou seu episódio seminal. Agora, o DEM entra pro balaio do Mensalão, depois de um ano inteiro de campanha midiática contra o PDMB – como diria o Paulo Henrique Amorim: 50 anos depois, a mídia descobriu que o Sarney é o Sarney. Brilhante!



Enquanto nós ficarmos com uma listinha dos “partidos decentes”, riscando um por um a cada escândalo, acreditando que um dia nós acharemos o partido da ética ou o Messias que nos livrará de todas as agruras da política, quebraremos a cara permanentemente. Não podemos depender das condutas dos indivíduos, tampouco de um suposto partido santo, precisamos depende de instituições, que atuem de maneira livre e eficiente. Neste sentido, estamos avançando. Lula, em função da sua frase “as imagens não falam por si”, foi muito criticado por estimular a corrupção. A frase foi muito infeliz mesmo, mas a verdade é que, no Governo Lula, houve forte avanço institucional. Nos últimos dois mandatos presidenciais, a PF teve recursos e autonomia para atuar, seu orçamento foi mais do que triplicado, membros do Governo e familiares do presidente foram investigados em operações, coisa que não tinha a mais remota chance de acontecer no período tucano. Isto não é militância, nem ideologismo, são fatos concretos! Estamos falando de números, quantidades de operações e prisões, quantidade de agentes federais prestando serviços etc. Apesar disso, é evidente que muita coisa ainda precisa mudar.

O Brasil precisa, urgentemente, aperfeiçoar a legislação que trata da probidade na administração pública. As leis que deveriam combater os crimes de corrupção são anacrônicas. O judiciário, por sua vez, é de uma inércia assustadora! O Senador Azeredo tornou-se réu, pelo uso de dinheiro não contabilizado em suas campanhas, mais de uma década depois do crime! Por muito pouco o crime não prescreveu. Isso é medieval! Nenhum país pode pretender ser sério com este tipo de deficiência. Nos EUA, um Governador foi preso 8 meses depois da revelação do seus crimes. Entretanto, corrupção não é exclusividade nossa. Este ano, na Inglaterra, houve um escândalo político para brasileiro nenhum botar defeito. Parlamentares pediram e receberam reembolso por gastos considerados absurdos, como a limpeza do fosso de uma casa de campo, despesas de jardinagem, compra de estrume para adubo, limpeza de piscina, entre outros. O primeiro-ministro Gordon Brown e o líder da oposição David Cameron pediram desculpas em público pela conduta abusiva dos parlamentares. Apesar de todas as nossas graves carências, vejo um país que vem melhorando, e tem tudo para melhorar ainda mais no futuro.

Se a gente pensar em 15 anos atrás, meados da década de 90, nós tínhamos uma Polícia Federal completamente aparelhada, sucateada, defasada em recursos financeiros e humanos para agir no sentido de moralizar o país. A Imprensa noticiava escândalos, sim. Mas com menos ênfase, menos espaço, e menos know-how de jornalismo investigativo. E 15 anos mais pra trás ainda nos leva à Ditadura Militar, em que o jornalista era assassinado se escrevesse uma linha de crítica ao Governo. O grau de transparência era zero! Ou vocês acham que a Ditadura que ocultava cadáveres não tinha corrupção? Hoje, o escândalo do GDF foi desmontado pela Polícia e amplamente divulgado, o jornalismo investigativo vem aperfeiçoando-se, a sociedade está aturando cada vez menos casos definitivamente comprovados, e o Arruda está numa situação delicadíssima: trocou uma reeleição praticamente garantida por chances drasticamente reduzidas de continuar na vida pública (apesar de nada ser impossível). Espero que daqui a 15 anos, aconteça tudo isso, e o governante ainda vá preso em pouco tempo. Mas, olhando para a linha cronológica, eu vejo o meu país avançando.

segunda-feira, 30 de novembro de 2009

Drops - Novembro

Escândalo Fulminante no GDF

As denúncias de que o Governador Arruda apropria-se e distribui entre aliados políticos
montantes vultosos estão fartamente comprovadas pela Polícia Federal. São documentos, registros de movimentações financeiras, escutas telefônicas e vídeos. Por isso, o escândalo é fulminante. Por mais grave que seja uma denúncia, sem uma prova cabal do envolvimento do governante, fica o dito pelo não dito. Um grampo é avassalador, um vídeo é um golpe de morte. Neste caso, não é nem apenas um vídeo, são vários, envolvendo toda a alta cúpula do GDF, com direito a dinheiro na meia e tudo. Ainda que o Governador diga que a finalidade do dinheiro era outra (comprar panetones), o efeito psicológico que a imagem gera sobre o público é devastador. Todos os analistas dão de barato que Arruda está liquidado eleitoralmente. Eu sinceramente não duvido de nada. Claro que, a essa altura, é muitíssimo improvável que Arruda seja reeleito, mas eu não duvidaria de um desempenho razoável do Governador, em 2010. Acontece que o DEM cogita retirar-lhe a legenda, o que impediria Arruda de disputar as eleições. O candidato precisa estar filiado a um partido com um ano de antecedência para participar do pleito. Neste caso, as forças governistas podem lançar outro candidato. Aí, realmente, o que já era difícil fica quase impossível.

Do Blog do Gadelha: Duas crises financeiras, dois resultados (Elio Gaspari)

"Um malvado devorador de números fez um exercício e comparou as iniciativas tomadas pelo tucanato durante a crise financeira internacional de 1997/1999 com as medidas postas em prática pelo atual governo desde o ano passado. Fechando o foco nas mudanças tributárias, resulta que os tucanos avançaram no bolso da patuléia, enquanto Nosso Guia botou dinheiro na mão da choldra. Entre maio de 1997 e dezembro de 1998, o governo remarcou, para cima, as alíquotas de sete impostos, além de passar a cobrar um novo tributo. A voracidade arrecadatória elevou a carga tributária de 28,6% para 31,1% do PIB. O produto interno fechou 1998 com um crescimento de 0,03% e a taxa de desemprego pulou de 10% para 13%. Em 1999, o salário mínimo encolheu 3,5% em termos reais. A crise financeira mundial de 2008/2009 foi mais severa que as dos anos 90. Em vez de aumentar impostos, o governo desonerou setores industriais, baixou o IPI dos carros, geladeiras e fogões, deixando de arrecadar cerca de R$ 6 bilhões nos primeiros três meses do tratamento. Uma mudança na tabela do Imposto de Renda das pessoas físicas, resolvida antes da crise, deixou cerca de R$ 5,5 bilhões na mão da choldra. A carga tributária caiu de 35,8% do PIB para 34,5%. Em 2009, o salário mínimo teve um ganho real de 6,4%. O desemprego deu um rugido mas voltou aos níveis anteriores à crise."

Heráclito Fortes: sem comentários


quarta-feira, 25 de novembro de 2009

Aniversário de 2 anos!

Eu precisei ir conferir quando foi a primeira postagem e fazer as contas direito, para poder acreditar que já se foram dois anos, desde que eu decidi criar este blog. Talvez seja besteira fazer uma “postagem de comemoração” todos os anos. Acho que os outros não fazem. Mas, sei lá, não gosto de deixar passar em branco. Por mais que nem eu tenha percebido, já se passou o segundo ano de blog, de uma atividade que exige algum compromisso e trabalho. Eu nem teria moral para falar, considerando que tantas pessoas colocam conteúdo novo no blog todos os dias, e eu mal consigo manter a freqüência semanal de atualização. Ao mesmo tempo, eu procuro relacionar o que eu escrevo com várias outras referências, notícias, colunas, opiniões, pesquisas, programas televisivos etc., e isto exige um trabalho que vai além de escrever. Também tento fazer análises que vão um pouco além da reprodução de discursos e da pura panfletagem.

Quando eu criei o blog, em novembro de 2007, eu estava morando em São Paulo. No aniversário de um ano do blog, por pura coincidência, eu estava em uma passagem de poucos dias por São Paulo. Em novembro deste ano, precisei ir apresentar um trabalho em um congresso. Onde? Em São Paulo! Pensei seriamente em escrever o texto por lá (não imaginava que eu tivesse um lado tão supersticioso). Infelizmente, não deu tempo. Escrevo agora que já voltei de viagem. Se isto mudar alguma coisa, espero que seja pra melhor. De fato, acho que o blog de hoje é melhor que o de um ou dois anos atrás. Quando eu pego alguns textos antigos pra ler e gosto, é porque alguma coisa tá errada. Prefiro quando eu detesto textos que eu escrevi há alguns meses atrás, porque isso mostra evolução, mostra que o eu de hoje é melhor do que o eu de ontem. Ano passado eu passei um período assim, meio estagnado, gostando do que eu tinha escrito há meses. Este ano voltei a brigar comigo mesmo, graças a Deus.

Foi o meu primeiro ano no mestrado em Comunicação da UFBA. Pra quem quer falar sobre mídia, nada mais providencial. Esse ano foi mesmo um marco na minha vida, e também no blog, já que a minha proposta aqui é exatamente analisar a cobertura midiática sobre política. Mestrado não é garantia de sucesso pra ninguém, está longe de tornar qualquer opinião inquestionável, diria até que não é nada de mais, mas é algo que eu queria muito e está sendo ótimo. Aqui, nem sempre eu encontrei confirmações pra minhas convicções, sejam as referentes à política, sejam as referentes à mídia. Ao mesmo tempo, encontrei ferramentais teóricos (perdoem o típico academiquês) para aperfeiçoar as minhas análises. Algumas convicções foram confirmadas, outras foram reformuladas, outras precisaram ser destruídas para serem reconstruídas ainda mais sólidas. De maneira geral, muita coisa ficou mais clara e mais fácil de operacionalizar.

A tese central permanece, talvez elaborada de maneira mais cuidadosa: os principais veículos de comunicação fazem um cobertura jornalística sobre os temas políticos que privilegia aspectos da realidade que se alinham com um determinado campo político, isto ao custo de uma melhor compreensão da audiência, da distorção de algumas informações e de um possível desequilíbrio na disputa político-eleitoral. Na minha visão, a principal motivação para isto é a predominância de uma visão de mundo nas editorias políticas, que contempla certos discursos e ideologias (às vezes mais à direita, e às vezes mais à esquerda - mas quase sempre contra o campo político que está na presidência atualmente, e mais favorável ao PSDB / DEM). No caso de alguns veículos, esta cobertura oferece, estrategicamente, aquilo que o público consumidor quer ler. Espero continuar o debate acerca desta tese central e de várias outras, por vários anos. Agradeço nominalmente ao Guto, ao Interferente e à Repórter das Sandálias, mas sou igualmente grato a todos os que visitam este espaço. Parabéns a todos nós! XD

sábado, 14 de novembro de 2009

O apagão, a política e a mídia.

De todas as coberturas prejudiciais à imagem de Dilma, se a menor dúvida, esta sobre o apagão é a de maior poder de fogo. Nem Dossiê da Casa Cívil, nem Lina Vieira, nem currículo “falso”, causaram um prejuízo sequer próximo ao que pode ser causado pelo apagão. Pode-se dizer que o Governo vinha navegando em um verdadeiro mar de rosas. Um presidente extremamente popular, programas e realizações importantes e aprovados pela população, um prestígio internacional sem precedentes, tudo isso coroado com as conquistas dos dois eventos mundiais mais importantes: Copa do Mundo e Jogos Olímpicos. O apagão significou uma turbulência no mar de rosas do Governo. Não acho que este incidente vá alterar a decisão de voto dos brasileiros, mas representa um percalço na trajetória petista pela presidência. Especialmente, por causa da extensão do blecaute. A depender de como o incidente será retratado na mídia, o percalço pode converter-se em uma mancha e ter reverberações sobre as eleições de 2010. E qual tem sido o enfoque predominante na mídia? Eis:



Claro que esta é apenas uma matéria, de um jornal. Mas é o jornal mais importante, e este discurso também está em outros telejornais, nos principais jornais impressos, nos principais sites de notícias etc. Há questionamentos que devem ser feitos sobre os mecanismos de proteção do nosso sistema elétrico? Sim, há. É verdade que a versão do Governo, de que o apagão foi causado por fatores meteorológicos, apresenta falhas e sugere vulnerabilidades? Sim, é verdade. Partir do pressuposto de que chuvas e raios podem deixar mais da metade do país sem luz é bastante preocupante, de fato. Dilma foi Ministra de Minas e Energia, trabalhou no modelo de gestão do Sistema Elétrico brasileiro, e afirmou pouco tempo atrás que tinha uma certeza: “de que não vai ter apagão”. E isto, é verdade? Sim, é tudo verdadeiro. Mas também é verdade que o Sistema Interligado, que pode ter permitido o alastramento do apagão por 18 estados, é considerado o mais adequado para o nosso país. No Brasil, enquanto o Nordeste enfrenta chuva, o Sul e o Sudeste podem passar por secas. Por isso, é importante que usinas hidrelétricas e termelétricas estejam conectadas por grandes linhas de transmissão.

Também é verdade que Dilma, quando disse que não teríamos apagões, estava se referindo aos investimentos que este Governo fez, como dezenas de quilômetros de linhas de transmissão, além da Hidrelétrica de Santo Antônio e a Usina de Jirau. Ao contrário da gestão anterior, que foi incompetente, não se planejou e de repente o Brasil consumia mais energia do que podia produzir (e olha que a Economia tinha um desempenho pífio). O resultado foi o racionamento de energia que os brasileiros tiveram que enfrentar. Concretamente, são duas situações muito diferentes. Entretanto, nada disto impediu Eliane Cantanêde, da Folha, de chegar à seguinte conclusão: “Uma das críticas que governo do PT sempre fez ao governo de Fernando Henrique Cardoso é sobre o apagão de 1999. Agora a gente tem apagão contra apagão, sendo que, neste caso, bate diretamente na candidata Dilma Rousseff”. Cantanhede foi tendenciosa na melhor das hipóteses, e sórdida na pior. Atribuir o apagão à imagem da Ministra Dilma tem evidentes e importantes implicações eleitorais.

Não vou dizer que as implicações eleitorais foram a motivação dos jornalistas, quando optaram pelo viés político na cobertura, mas eles têm perfeita consciência destas implicações. Esta politização do debate não é proibida. A declaração da Ministra de que não haveria apagão é noticiável, não há nada de errado com a veiculação em si deste fato. O primeiro problema é a reprodução e o reforço do discurso cascateiro da Oposição, em detrimento da melhor compreensão do episodio. É claro que há muitas questões pertinentes: Não havia formas de isolar a pane (fazer o chamado ilhamento)? Não teria como construir linhas reservas para estes casos? É possível, viável, custa muito caro? E o Governo não deve temer este debate. Ao contrário, encarar os questionamentos – que certamente continuarão – é a melhor saída. Nisto, o presidente Lula tem sido de uma inteligência ímpar. As declarações do presidente estão sendo no sentido de admitir possíveis falhas, buscar os aprimoramentos necessários, e informar sobre os avanços do setor elétrico nos últimos anos. Pena que nem todas as lideranças do Governo têm esta mesma sensibilidade e sensatez, diante da irritação e desconfiança da população.

O segundo problema da politização do debate é que ela só aparece quando compromete um campo político. Vejam por exemplo as matérias do mesmo JN sobre o acidente no Rodoanel, em que gigantescas vigas de concreto caíram sobre cidadãos. Por muito pouco, ninguém morreu. Absolutamente, não há viés político-eleitoral nas matérias. A cobertura se dá em um nível técnico, sóbrio. A Oposição – que norteou boa parte das matérias sobre o apagão – foi ignorada nas matérias sobre o acidente no Rodoanel. Uma obra que é tida como a menina dos olhos da gestão Serra, e que está prevista para ser entregue exatamente no período em que o Governador precisa de descompatibilizar do cargo para disputar a presidência. Também foi assim com a cratera no metrô, em 2007. Este tem sido um padrão: há cobertura com viés político-eleitoral, contra o Governo Federal, por qualquer Lina Vieira ou tapioca. Contra as administrações tucanas – de presidenciáveis, e nos estados mais importantes – coberturas técnicas. Qual foi a grande crise política que Serra ou Aécio tiveram de enfrentar? Quem conseguir citar uma ganha um presente...

terça-feira, 10 de novembro de 2009

Lula: subperonista, autoritário popular e analfabeto

O presidente Lula nada de braçada na política, de maneira que, como causa ou como conseqüência, a oposição mostra-se tímida, desarticulada e sem agenda. Por incrível que pareça, os principais candidatos oposicionistas à sucessão do atual Governo não assumem a linha de frente das críticas à gestão petista. Ao contrário, raramente Serra ou Aécio assumem um papel de antagonistas do Governo Federal, a não ser que estejam falando para dentro do PSDB. Publicamente, nenhum quer fazer frente ao presidente. Isso tem uma razão evidente: a popularidade de Lula, que intimida qualquer adversário. Assim, o papel da oposição, muitas vezes, é exercido pelos líderes do PSDB / DEM no Congresso; por órgãos como o TCU – que barrou obras importantes do mais badalado Programa do Planalto, o PAC – pela Imprensa; ou ainda pelo presidente do STF, Gilmar Dantas. Para reforçar o coro, o ex-presidente Fernando Henrique publicou artigo em O Globo e no Estadão, fazendo duras críticas ao Lula.

FHC acredita que o PT conduz o Brasil para um autoritarismo popularesco ou “subperonista”, com partidos e sociedade civil neutralizados, organizações sociais cooptadas e empresariado dependente do capital controlado pelo Estado. O líder tucano diz ainda que Lula não aceita críticas, e tentar matar moralmente os adversários. O jornalista Alon Feuerwerker escreveu em seu Blog que o PT caiu como um pato na armadilha de FHC, uma vez que respondeu ao artigo, praticando exatamente aquilo que foi objeto da crítica: os petistas “armaram o pelotão de fuzilamento”, buscaram a todo o momento desqualificar moralmente o adversário e não ofereceram argumentos ao mérito do debate. O próprio Lula afirmou que FHC é movido pelo inconformismo com o sucesso do Governo. Por pior que tenha sido a reação do PT, as críticas de FHC realmente me parecem por demais abstratas, vagas e de difícil assimilação pela maioria da população. O texto não trata de questões específicas, materiais ou que possam ser percebidas no cotidiano do brasileiro, é tudo muito intelectualizado.



O discurso pode surtir efeito sobre os públicos dos jornais – que já são majoritariamente “anti-Lula”. Mas o tiro pode sair pela culatra, quando considerada a disputa política como um todo. É fato que qualquer polarização pública entre FHC e Lula serve monstruosamente ao projeto petista. Claro que isto não exime o PT da necessidade de elaborar uma resposta decente, mas a percepção que a população tem da gestão FHC é acentuadamente negativa. E não é à toa. Kennedy Alencar, em sua Pensata desta semana, lembra que, nos mandatos federais do PSDB, “os fundos de pensão das estatais foram usados politicamente para a formação de consórcios privados que arremataram empresas públicas” – o que tornou gente como Daniel Dantas verdadeiros magnatas. “O Estado, naqueles anos, atuou no limite da irresponsabilidade, como disse Ricardo Sérgio de Oliveira, ex-diretor da área internacional do Banco do Brasil que ficou muito rico nos anos FHC. A Força Sindical, hoje nos colos de Lula, era massa de manobra do PSDB. A aliança com o PFL, hoje DEM, não difere muito da firmada pelo PT com o PMDB”.

Kennedy foi preciso, mas eu iria mais longe. Por mais que o PMDB e outros partidos da base aliada de Lula abriguem em seus quadros verdadeiras escórias da política brasileira, como Renan, Collor ou Sarney; o PFL, além de ter políticos da mesma laia, é o grande herdeiro da Ditadura deste país! Isto nunca é discutido! O partido da Ditadura militar foi subdividido no PFL (hoje, DEM) e no PP (Partido Progressista). Mas o DEMocratas pode ser considerado “o filho preferido”, pois herdou as máquinas eleitorais do Nordeste – simbolizada pelo finado ACM – e o programa partidário da aristocracia sulista – capitaneada pelo Jorge Bornhausen. A diferença entre as alianças do PT com o PMDB e do PSDB com o PFL é que a primeira é diariamente crucificada pela Imprensa e pela classe média brasileira, enquanto a segunda é naturalizada e tomada por adequada Hoje, o PT carrega, de maneira generalizada, a marca da contradição, da incoerência e da permissividade; o PSDB / DEM posa de defensor da moralidade e combatente da corrupção.

Kennedy lembrou ainda que FHC nomeou um procurador-geral da República que ficou conhecido como engavetador-geral da República. Resumindo: quem é o Fernando Henrique para criticar Lula por não respeitar preceitos democráticos? O Governo do PT, em muitos aspectos, representa avanços nas práticas republicanas. Na mesma semana, Caetano Veloso, que declarou voto em Marina Silva, chamou o presidente Lula de analfabeto. Esse tipo de crítica, realmente não tem como transigir. O presidente Lula, pode ter defeitos, mas é um dos grandes políticos brasileiros. Ataques como o de Caetano revelam preconceito e têm de ser colocados no seu devido lugar, o que foi feito pelos próprios jornalistas, em sua maioria. A melhor análise, por incrível que pareça, ficou por conta do Josias de Souza, que citou o próprio Caetano: “Quiseste ofuscar minha fama / E até jogar-me na lama / Só porque eu vivo a brilhar / Sim, mostraste ser invejoso / Viraste até mentiroso / Só para caluniar / Deixe a calúnia de lado / Se de fato és poeta / Deixe a calúnia de lado / Que ela a mim não afeta.

sábado, 31 de outubro de 2009

Especial Eleições 2010 - Possibilidades (Norte / Centro-Oeste)






CAMPO GOVERNISTA
Ana Júlia Carepa – PT (atual governadora)
+
Jader Barbalho – PMDB (deputado federal)

CAMPO OPOSICIONISTA
Simão Jatene – PSDB (ex-governador)
ou
Mário Couto – PSDB (senador)

Ana Julia terá dificuldade na busca pela reeleição, pois pode enfrentar dois candidatos muito fortes. Jader ainda pode ser dissuadido da disputa pelo executivo, disputando o Senado – ou mesmo a Câmara, em que teria eleição garantida. Entretanto, pesquisas para consulta interna de alguns partidos apontam Jader como líder nas preferências para o Governo. Ainda que estas pesquisas tenham validade, a rejeição ao cacique PMDBista é enorme, especialmente na capital, Belém. Isto pode inviabilizar a corrida de Jader por um cargo mais importante. Experiente, o deputado não desconsidera esta realidade, e pode abrir mão da candidatura ao executivo. Neste caso, o mais provável é que o PMDB apóie a governadora Ana Júlia. Do lado da oposição, os tucanos estão em clima de verdadeira guerra, para decidir entre o ex-governador Simão Jatene e o Senador Mário Couto. Almir Gabriel,
espécie de cardeal e primeiro governador do PSDB, trabalha fortemente por Couto. Este clima de disputa interna deve permanecer no ninho tucano paraense por mais um bom tempo. E não é possível descartar totalmente uma candidatura própria do DEM, no estado. Valéria Pires Franco seria o nome dos DEMocratas. Entretanto, o mais provável é que os dois partidos oposicionistas caminhem juntos.

Senado: Jader, caso não dispute o Governo, pode disputar o Senado. Pelo PT, o deputado federal Paulo Rocha, provavelmente buscará tornar-se Senador. Pela oposição, caso Mário Couto seja o candidato ao executivo, Jatene pode tentar o Senado. Valéria, que dificilmente buscará o Governo, também pode entrar nesta disputar.





CAMPO GOVERNISTA
Alfredo Nascimento – PR (senador e Ministro dos Transportes)
+
Omar Aziz – PMN (atual vice-governador)

CAMPO OPOSICIONISTA
Serafim Corrêa – PSB (ex-prefeito de Manaus)

O Governador Eduardo Braga, do PMDB, buscará fazer um sucessor. O candidato pode ser o Ministro dos Transportes e Senador licenciado, Alfredo Nascimento, do PR. O Planalto Central trabalha por esta candidatura. Hoje, o Ministro tem um bom desempenho nas pesquisas, apesar de não liderar. O desempenho do prefeito de Manaus, Amazonino Mendes, é superior, mas Amazonino já declarou que não disputará o governo, e que considera Alfredo preparado para administrar o Amazonas. Considerando as popularidades do prefeito, do Governador e de Lula, no Amazonas, Alfredo teria grande potencial. Entretanto,o prefeito Amazonino é imprevisível; e muitos afirmam que o próprio Governador pode abandonar o Ministro e lançar o seu vice, Omar Aziz, do PMN. Neste caso, Alfredo Nascimento ficará bastante dependente do PT, para aumentar seu tempo de televisão e viabilizar-se. O destino dos petistas dependerá de quem vencer as eleições internas para o diretório estadual, que acontecem em novembro. Uma ala do PT prefere caminhar com o PMDB, mesmo que o candidato seja o vice-governador, outra ala está mais alinhada com o Ministro do PR, conforme preferência do Governo Federal. PSDB / DEM / PPS estarão do lado oposto para oferecer uma alternativa ao Governo do estado e levantar um palanque para Serra. Entretanto, estes três partidos não contam com um nome de peso para a disputa. Por isso, o candidato da oposição pode ser o ex-prefeito de Manaus, Serafim Corrêa, que é do PSB. Especula-se também que o Governador Eduardo Braga pode entrar em um acordo com Serra. Assim, PSDB / DEM / PPS fechariam com o vice-governador, Omar Aziz, que apoiaria o presidenciável tucano. Na minha avaliação, esta possibilidade é remota.

Senado: Eduardo Braga será mais um governador a tentar o Senado, é o líder das pesquisas e deve ter uma vitória tranqüila. Arthur Virgilio Neto, líder do PSDB, buscará a reeleição. Estes são os grandes favoritos para as duas vagas, até agora. Mas a deputada federal pelo PC do B, Vanessa Grazziotin, também almeja o Senado, e tem um desempenho razoável nas pesquisas, próximo ao desempenho do tucano. Se a deputada conseguir articular sua candidatura entre grandes partidos, pode acirrar a disputa. Entretanto, como o PC do B é um partido menor, pode ser que outras legendas fiquem com as vagas das chapas com maior potencial.





CAMPO GOVERNISTA
Agnelo Queiroz – PT (ex-deputado federal, ex-Ministro dos Esportes)
+
Gim Argello – PTB (senador)

CAMPO OPOSICIONISTA
José Roberto Arruda – DEM (atual governador)
+
Joaquim Roriz – PSC (ex-governador, ex-senador)

Arruda governa o Distrito Federal sem maiores turbulências, e é o grande favorito para 2010. A preço de hoje, o ex-PMDBista Roriz é quem ainda consegue fazer frente ao favoritismo do governador. Entretanto, o
cacique trocou a maior legenda brasileira pelo nanico PSC, depois que o PMDB do DF passou a mostrar maior fidelidade a Arruda. Isto tem implicação direta no tempo de televisão de Roriz. Claro que o futuro candidato pelo PSC tem um grande reduto eleitoral, e uma força política que independe do partido, mas o espaço nas grandes mídias tem determinado os desempenhos dos candidatos. Por isso, acredito que a candidatura de Roriz, ainda que comece por cima, tenderá a minguar durante a disputa. Assim, se o candidato do PT não conseguir crescer, pode ser que Arruda feche a conta no primeiro turno.

Senado: O Senador Cristovam Buarque, do PDT, disputará a reeleição, e pode compor tanto a chapa do Governador DEMocrata, quanto a dos petistas. O deputado Tadeu Filippelli, do PMDB, um dos maiores responsáveis pela “traição” a Roriz, pode disputar o Senado, apesar de que seu nome também é cogitado para vice de Arruda. Quadros do DEM, como o do Senador Adelmir Santana e do deputado distrital Alberto Fraga, também têm interesse na vaga. Pelo PT, o deputado federal Geraldo Magela deve entrar na disputa.





CAMPO GOVERNISTA
Íris Rezende – PMDB (atual prefeito de Goiânia)
+
Alcides Rodrigues – PP (atual governador)

CAMPO OPOSICIONISTA
Marconi Perillo – PSDB (senador, ex-governador)

O atual governador, do PP, está unindo forças com o prefeito de Goiânia e ex-governador, Íris Rezende, do PMDB, para derrotar o tucano Marconi Perillo.
Alguns apostam até na possibilidade de o governador abrir mão da sua reeleição para apoiar Íris Rezende já no primeiro turno. Atualmente, Perillo, que governou Goiás de 1998 a 2006, figura como favorito na disputa.

Senado: Os três senadores de Goiás são do Campo Oposicionista. Um deles é Marconi Perillo, os outros dois são Demóstenes Torres, do DEM, e Lúcia Vânia, do PSDB, que buscarão a reeleição. São os favoritos neste momento. O Presidente do Banco Central, Henrique Meirelles, também disputará o Senado, pelo PMDB.

Especial Eleições 2010 - Possibilidades (Nordeste)






CAMPO GOVERNISTA
Cid Gomes – PSB (atual governador)

CAMPO OPOSICIONISTA
Tasso Jereissati – PSDB (senador)
ou
Alexandre Pereira – PPS (empresário)

A eleição no Ceará está entre as mais previsíveis. Cid Gomes não enfrentará maiores dificuldades para se reeleger. Até mesmo porque não há nome na oposição com o mínimo de envergadura política para fazer frente ao Governador. Os adversários que Cid enfrentará surgirão muito mais pela necessidade de palanques para os candidatos à presidência, do que por um real movimento oposicionista. Cid tem na sua base aliada o PT, que tem o vice-governador, e o PSDB, bastante fiel ao executivo cearense. Diante disso, os tucanos só abandonarão o barco do Governador por circunstâncias externas, ou seja, pela necessidade de montar um palanque para fortalecer a candidatura de Serra no estado. Não há nomes fortes para isso. Será uma candidatura para “cumprir tabela”. Tasso Jereissati, tucano mais proeminente do Ceará, pode disputar o Governo (é quem mais tem condições de disputar com Cid), mas me parece mais provável que Tasso busque a reeleição ao Senado. Outro nome cogitado pela aliança PSDB / DEM / PPS, para disputar o executivo, é o do empresário Alexandre Pereira, do PPS. O PT sofre um dilema parecido. Se Ciro for lançado pelo PSB à presidência, claro que terá o apoio do irmão. Por isso, o PT – a contra gosto – pode ter que lançar candidato próprio para fazer o palanque de Dilma. Um nome petista cotado para esta missão é o de Ilário Marques. A maior estrela do PT no estado, a prefeita de Fortaleza, Luizianne Lins, já avisou que não disputará o Governo, por lealdade a Cid Gomes. O Ministro da Previdência, José Pimentel, também do PT, almeja o Senado. Há um coringa na sucessão cearense: o prefeito de Maracanaú, Roberto Pessoa, do PR. Pessoa dialoga com o bloco PSDB / DEM / PPS para ser o candidato de Serra; mas o PR é aliado do Governo Federal, sendo mais natural um apoio do prefeito à Dilma. Em Ciro saindo à presidência, e o PT precisando de um palanque para Dilma, poderia ocorrer uma aliança dos petistas com o candidato do PR.

Senado: O Senador Tasso Jereissati deve disputar a reeleição. O cacique tucano já foi governador do Ceará por 3 vezes, e é sempre um candidato muito forte. Entretanto, os candidatos do Governador Cid Gomes devem crescer fortemente durante a campanha. A princípio, eles são Eunício Oliveira, deputado federal pelo PMDB, e José Pimentel, do PT, Ministro da Previdência. O apoio de Cid, somado ao apoio de Lula, têm um apelo quase que invencível. O ex-governador, Lúcio Alcântara, também pode participar deste pleito. A Senadora Patrícia Saboya, do PDT, deve buscar um mandato na Câmara Federal.





CAMPO GOVERNISTA
Eduardo Campos – PSB (atual governador)

CAMPO OPOSICIONISTA
Jarbas Vasconcelos – PMDB (senador)
ou
Mendonça Filho – DEM (ex-governador)
ou
Raul Henry – PMDB (deputado federal)

Em Pernambuco, Eduardo Campos, do PSB, também não deve encontrar grandes dificuldades para sua reeleição. Quem pode fazer um contraponto mais forte ao Governador é o Senador Jarbas Vasconcelos, do PMDB. Jarbas tem resistido à candidatura, mas a pressão para que ele dispute será grande. Na última hora, o Senador pode ceder às circunstâncias. Outros nomes que podem disputar o executivo pela oposição são: Raul Henry, do PMDB, e Mendonça Filho, do DEM. O PT, em Pernambuco, sofre o mesmo dilema que o PT do Ceará. Caso Ciro seja candidato à Presidência, é possível que os petistas tenham que levantar um palanque para Dilma. Neste caso, o nome natural seria o do ex-prefeito de Recife, João Paulo (hoje, secretário de Eduardo). Entretanto, acho este cenário improvável, pela proximidade de Eduardo com o Planalto e com o próprio João Paulo.

Senado: Considerando que o PT não disputará o Governo de Pernambuco, João Paulo deve tentar eleger-se Senador. Humberto Costa, também do PT, está trabalhando para ser o candidato do partido, mas a popularidade do ex-prefeito da capital deverá ter peso decisivo na escolha do candidato ao Senado. Assim, Humberto Costa disputa a Câmara Federal. Armando Monteiro Neto, do PTB, deputado federal e presidente da CNI, será o outro candidato ao Senado da chapa do Governador. Pela oposição, dois senadores buscarão a reeleição: Sérgio Guerra, presidente do PSDB, e Marco Maciel, do DEM. Alguns dizem que, diante do quadro desfavorável, Maciel pode buscar um mandato na Câmara. De qualquer forma, a disputa pelo Senado, em Pernambuco, será das mais acirradas e emocionantes de 2010.





CAMPO GOVERNISTA
Jacques Wagner – PT (atual governador)
+
Geddel Vieira Lima – PMDB (Ministro da Integração Nacional, deputado federal)

CAMPO OPOSICIONISTA
Paulo Souto – DEM (ex-governador)

Eleito em 2006 com o apoio do PMDB, Wagner poderá ter que enfrentar os antigos aliados. Existirão pressões dos diretórios nacionais para que Geddel apóie a reeleição do Governador petista, mas os PMDBistas baianos parecem bastante convictos da pertinência de uma candidatura própria. Lula já declarou publicamente que não concorda com a movimentação do Ministro, mas não pode impedi-lo de disputar o executivo estadual. Pela oposição, PSDB / DEM / PPS apostarão em Paulo Souto, ex-governador carlista.

Senado: Caso Geddel seja dissuadido de disputar o governo da Bahia, pode disputar o senado, pela chapa de Wagner. Como isto é improvável, os candidatos ao Senado, com o apoio do Governador, podem ser Lidice da Mata, do PSB, e Walter Pinheiro, do PT, ambos deputados federais. Como o PT já tem o principal cargo da chapa, pode ser que Walter Pinheiro dê lugar a outro partido. César Borges, do PR, tentará ser reeleito. ACM Júnior (que assumiu o cargo após a morte do seu pai) também pode buscar a reeleição.





CAMPO GOVERNISTA
Iberê Ferreira – PSB (vice-governador)
+
Robinson Faria – PMN (deputado estadual)
ou
João Maia – PP (deputado federal)

CAMPO OPOSICIONISTA
Rosalba Ciarlini – DEM (senadora)

No Rio Grande do Norte, o Campo Oposicionista já está fechado em torno do nome da Senadora Rosalba Ciarlini, que hoje é favorita. Os partidos do Campo Governista, aliados tanto de Lula quanto da Governadora Wilma de Faria – PSB, pretendem unir-se em torno de uma candidatura única, mas enfrentam dificuldade para encontrar um nome de consenso. A governadora não parece disposta a abrir mão da candidatura de seu vice, Iberê Ferreira, do mesmo partido. Mas o bloco composto por PMDB, PP e PMN - denominado Unidade Potiguar - está entre Robinson Faria e João Maia. Diante do impasse, pode ser que surja uma terceira via, ou seja, uma disputa entre uma candidata de oposição, o vice-governador buscando a reeleição (já que Wilma deixará o cargo para concorrer ao Senado) e um projeto alternativo, fruto da ruptura da base. Aqui, novamente, o cenário estadual depende muito de Ciro Gomes. Caso Ciro dispute a presidência, o natural para a Governadora será apoiar o presidenciável da sua legenda. Mas não é essa a vontade de Wilma de Faria, que precisa do apoio do PT, que aumentaria o tempo de televisão e agragaria musculatura à chapa do seu vice. Obviamente, o PT estará no palanque que faça campanha por Dilma. Caso não haja consenso entre a base da Governadora, e Ciro permaneça candidato à presidência, o palanque de Dilma poderá ser a terceira via. Com PMDB, PT, PP, dentre outros partidos, esta “terceira via” terá enorme potencial de crescimento. É tudo que a Governadora não quer.

Senado: Wilma buscará o Senado, com grandes chances. Garibaldi Alves, PMDBista, ex-presidente da Casa, buscará a reeleição, e pode ser considerado o favorito na disputa. José Agripino Maia, líder do DEM, também buscará renovação do mandato. Aqui também, a disputa pelo Senado será das mais emocionantes de 2010.

domingo, 18 de outubro de 2009

Especial Eleições 2010 - Possibilidades (Sudeste / Sul)


Estamos há um ano das próximas eleições. Em outubro de 2010 conheceremos o (a) próximo (a) presidente da república, além dos governadores dos estados, senadores, deputados estaduais e deputados federais. Nesta postagem, demonstrarei os possíveis cenários para as eleições, dividindo os candidatos entre o campo alinhado com o Governo Federal (Campo Governista) e o campo alinhado com a Oposição (Campo Oposicionista). Respectivamente, palanques de Dilma e Serra. Muita coisa ainda está indefinida, e só é possível cogitar alguns dos nomes mais importantes. Além disso, considerando a “flexibilidade” de grande parte dos políticos brasileiros, nada impede que um nome que esteja, hoje, de um lado, passe para o lado oposto sem maiores dificuldades até o dia da eleição. Estes são os cenários que vêm se desenhando, atualmente:





CAMPO GOVERNISTA
Ciro Gomes
– PSB (deputado federal, ex-governador do Ceará, ex-ministro da Fazenda, ex-ministro da Integração Nacional)
ou
Paulo Skaf – PSB (presidente da FIESP)
+
Antônio Palocci – PT (deputado federal, ex-prefeito de Ribeirão Preto, ex-ministro da Fazenda)
ou
Emídio de Souza – PT (prefeito de Osasco)

CAMPO OPOSICIONISTA
Geraldo Alckmin
– PSDB (secretário do Desenvolvimento, ex-governador)
ou
Aloysio Nunes Ferreira – PSDB (chefe da Casa Civil, ex-deputado federal, ex-vice governador)

Em São Paulo, tradicional reduto do tucanato, as eleições caminham para uma vitória tranqüila do candidato da situação. Alguns apostam em um desgaste do PSDB, depois de 4 mandatos no poder. Ainda que haja algum desgaste, eu creio que os tucanos ainda podem reunir maioria do eleitorado, para iniciar o quinto mandato. Alckmin tem um argumento bastante eloqüente para sacramentar sua candidatura: léguas de vantagem nas pesquisas de intenção de votos. Entretanto, o preferido do Governador José Serra é Aloysio Nunes Ferreira, que mal aparece nas intenções de voto. Seja partindo de um desempenho pífio ou da dianteira das pesquisas, o PSDB é o grande favorito. Aloysio é desconhecido, mas o horário eleitoral resolveria este problema. Parte do PT busca uma aliança com Ciro Gomes, o que facilitaria a vida de Dilma Rousseff e traria um nome de peso para a disputa paulista. Este movimento é liderado por petistas de peso, como José Dirceu e José Genoino. O problema é a ala do petismo que torce a cara para uma aliança com um “forasteiro eleitoral”, e pretende emplacar candidatura própria - como é do feito do PT. No caso de candidatura própria, o PT deve apostar em Antônio Palocci. Outra possibilidade é Emídio de Souza, prefeito de Osasco. Neste cenário, o PSB apresentaria o presidente da FIESP, Paulo Skaf, recém filiado.

Senado: os tucanos devem indicar o cacique PMDBista Orestes Quércia para o Senado (acordo firmado ainda em 2008, quando, por intermédio de Serra, o PMDB apoiou Kassab para a prefeitura). Se o candidato ao governo for Aloysio, Alckmin também pode disputar o Senado. Se houver espaço na chapa, pode ser que o DEM apresente Afif Domingos, secretário do Trabalho. Pela esquerda, Mercadante buscará a reeleição. Gabriel Chalita, eleito vereador no ano passado pelo PSDB, deixou os tucanos e se filiou ao PSB, de Ciro, para tentar ser Senador. Acho que Chalita tem grandes chances, pois tem penetração no eleitorado dos tucanos, e pode receber o segundo votos destes eleitores (Quércia tem forte rejeição em SP). De toda forma, pelo menos um dos candidatos ao Senado, indicado pelo Governador Serrá, será eleito. Assim, surpreendentemente, Mercadante ficaria de fora. A conferir. Outro nome cogitado para o Senado é o do vereador e apresentador Netinho de Paula, pelo PCdoB.





CAMPO GOVERNISTA
Sérgio Cabral
– PMDB (atual governador)
+
Anthony Garotinho – PR (ex-governador)
+
Lindberg Faria – PT (prefeito de Nova Iguaçu)

CAMPO OPOSICIONISTA
César Maia
– DEM (ex-prefeito do Rio de Janeiro)
ou
Fernando Gabeira – PV (deputado federal)
ou
José Camilo Zito - PSDB (prefeito de Duque de Caxias)
ou
Ronaldo Cezar Coelho - DEM (ex-deputado federal)

O Governador Sérgio Cabral, fortalecido pela escolha do Rio para as Olimpíadas, tem boas chances de ser reeleito. A vida do governador seria bastante facilitada se o PT apoiasse sua reeleição. Acontece que o petista Lindberg Farias, prefeito de Nova Iguaçu, vive comprando brigas com Sérgio Cabral, e insiste na candidatura própria. O PT fará convenção em novembro, para escolher o presidente do diretório estadual. Dependendo de quem o PT escolher, saberemos o destino do partido em 2010, no Rio. Garotinho já é candidato ao Governo, pelo PR, e apoiará Dilma Rousseff. É o presidenciável tucano quem terá problemas para montar seu palanque neste estado. Gabeira, que seria o palanque natural da oposição no Rio, foi surpreendido pela filiação de Marina Silva ao seu partido. Agora, Gabeira pode ser candidato ao Governo apoiando dois candidatos à presidência. Mas, diante deste impasse, o deputado verde está inclinado a disputar o Senado. Serra poderá ter que bater na porta de César Maia, do DEM, para ter seu palanque carioca. Outros nomes cogitados pela oposição são o do prefeito de Duque de Caxias, pelo PSDB, José Camilo Zito; e o do empresário Ronaldo Cezar Coelho, do DEM.

Senado: Pelo Campo Governista, o senador Marcelo Crivella disputa a reeleição pelo PRB. Benedita da Silva, do PT, secretária do Desenvolvimento Social, também deve disputar o Senado. As chances da petista aumentam muito se ela estiver na chapa do Governador Sérgio Cabral. O PMDB deve lançar o deputado federal Leonardo Picciani para Senador. Pelo Campo Oposicionista, Gabeira deve ser candidato. Outras possibilidades são o próprio César Maia (se não disputar o Governo), e Denise Frossard, do PPS. Estes são apenas os nomes mais importantes.





CAMPO GOVERNISTA
Fernando Pimentel
– PT (ex-prefeito de Belo Horizonte)
ou
Patrus Ananias – PT (Ministro do Desenvolvimento Social, ex-prefeito de Belo Horizonte)
+
Hélio Costa – PMDB (Ministro das Comunicações, senador)

CAMPO OPOSICIONISTA
Antônio Anastasia
– PSDB (atual vice-govermador)

Em Minas, o PT está dividido entre o Ministro Patrus Ananias e o ex-prefeito Fernando Pimentel. Pimentel enfrenta alguma resistência no PT por ter se aliado a Aécio nas eleições municipais do ano passado, em que a controversa aliança elegeu Márcio Lacerda, do PSB, prefeito de BH. Provavelmente, os petistas mineiros terão de enfrentar prévias para escolher seu candidato. As lideranças nacionais do PT e do PMDB gostariam de ver estes partidos unidos em Minas, mas é muito difícil que isto aconteça, visto que nenhum dos lados quer ceder a cabeça de chapa. Se Patrus for o candidato do PT, Hélio Costa poderia cogitar sair da disputa. Com Pimentel, o diálogo é mais truncado. De qualquer forma, é difícil que Hélio Costa ceda, em função da grande vantagem que o Ministro apresenta nas pesquisas. Pelo PSDB, Antônio Anastasia é “a Dilma do Governador Aécio”. Com perfil mais técnico e desconhecido pela população, o vice-governador terá ao seu favor a grande aprovação da gestão mineira, e deve crescer bastante durante a campanha.

Senado: Aécio já está eleito Senador por Minas Gerais. O Senador Eduardo Azeredo, também do PSDB, sofreu desgaste com o caso do Mensalão mineiro, e pode disputar a câmara federal, em 2010. Até porque dificilmente os tucanos ficarão com as três vagas principais da chapa. Ao lado de Aécio, o ex-presidente Itamar Franco pode disputar o Senado, pelo PPS. Pelo PT, se Pimentel não for o candidato ao Governo poderá concorrer a uma das vagas de Senador. Patrus já declarou que só tem interesse na disputa pelo executivo. O suplente de Hélio Costa, Wellington Dias, desta vez, pode participar da disputa como titular. Outros nomes surgirão na disputa pelo Senado mineiro.





CAMPO GOVERNISTA
Tarso Genro
– PT (Ministro da Justiça, ex-prefeito de Porto Alegre)
+
Beto Albuquerque – PSB (deputado federal)


CAMPO OPOSICIONISTA
Yeda Crusius – PSDB (atual governadora)
+
José Fogaça – PMDB (prefeito de Porto Alegre)
ou
Germano Rigotto – PMDB (ex-governador)

A primeira dificuldade aqui é tentar identificar se o candidato do PMDB (seja Rigotto ou Fogaça) estará no Campo Governista ou Oposicionista. Os PMDBistas gaúchos são anti-petistas tradicionais, mas em função do acordo das cúpulas partidárias, em nível nacional, pode ser que Fogaça ou Rigotto apóie Dilma. Neste caso, Serra ficará em situação extremamente difícil no Rio Grande do Sul, pois só restará ao presidenciável tucano a barca furada de Yeda Crusius. Os candidatos do PMDB aparecem em segundo lugar nas pesquisas, com desempenhos muito parecidos. Tarso Genro, do PT, vem liderando as intenções de voto, mas o Ministro da Justiça enfrentará grande dificuldade no segundo turno, pois eleitores do PMDB e do PSDB devem se unir para impedir a vitória do petista. Se Beto Albuquerque, do PSB, hoje com fraco desempenho nas pesquisas, conseguir reunir um bom numero de partidos em torno de sua candidatura, terá grande potencial de crescimento. A candidatura do socialista no Rio Grande do Sul está fortemente vinculada à candidatura de Ciro, do mesmo partido. Se o presidenciável do PSB insistir em permanecer na disputa nacional, Beto deve levantar o palanque da legenda no estado.

Senado: Os principais candidatos ao Senado, pelo RS, são Sérgio Zambiasi, do PTB, Paulo Paim, do PT, e Germano Rigotto, do PMDB (caso o candidato a Governador seja Fogaça). No caso de Rigotto disputar o executivo, é improvável que Fogaça deixe a prefeitura da capital.





CAMPO GOVERNISTA
Osmar Dias
– PDT (senador)
+
Orlando Pessuti – PMDB (atual vice-governador)

CAMPO OPOSICIONISTA
Beto Richa
– PSDB (prefeito de Curitiba)

No Paraná, o PT trabalha para compor com Osmar Dias, por avaliar que este seria um forte palanque para Dilma. Para isso, os petistas precisarão romper a aliança que mantêm com o Governador Roberto Requião, do PMDB. O Governador paranaense pretende eleger o seu vice, Orlando Pessuti, e contava com o apoio do PT. O problema é que, enquanto Osmar Dias disputa a ponta das pesquisa com Beto Richa, o vice-governador tem desempenho bastante fraco. Há ameaças de que o PMDB do Paraná apóie Serra, caso os petistas não componham com Pessuti. Eu avalio que dificilmente os PMDBistas liberarão Lula para fazer campanha apenas para Osmar Dias. De qualquer forma, o Paraná é um daqueles estados em que tudo pode acontecer. E, se Beto Richa for candidato ao Governo, é muito difícil que não seja eleito.

Senado: Requião deve disputar o Senado, e é forte candidato, como qualquer governador em exercício de mandato. Pelo PT, Gleise Hoffman é a candidata, com boas chances. Mas, é muito difícil que o candidato ao Senado da chapa de Beto Richa não seja eleito. O PSDB deve indicar o deputado federal Gustavo Fruet. Outros nomes, com menores chances, participarão da disputa.





CAMPO GOVERNISTA
Ângela Amim
– PP (deputada federal, ex-prefeita de Floripa)
+
Ideli Salvatti – PT (senadora)

CAMPO OPOSICIONISTA
Eduardo Moreira – PMDB (presidente estadual do PMDB)
ou
Leonel Pavan – PSDB (atual vice-governador)
ou
Raimundo Colombo – DEM (senador)

Primeiramente, é preciso explicar que os três candidatos do Campo Oposicionista pretendem estar unidos no pleito de 2010. De maneira que apenas um deve ser candidato, com apoio dos outros dois. Mas, ainda há impasse na escolha do nome que será o cabeça de chapa. De qualquer forma, a disposição dos partidos (PMDB, PSDB e DEM) é permanecerem juntos em Santa Catarina. É um dos estados em que o PMDB não apoiará Dilma, a despeito de qualquer pressão. O atual governador, o PMDBista Luiz Henrique da Silveira, sofre pressão do seu partido para lançar o presidente estadual da legenda, Eduardo Moreira. Entretanto, o vice-governador, Leonel Pavan, é do PSDB. Como o governador deixará o cargo para disputar do Senado, o PSDB estará com a caneta na mão, durante a campanha, buscando a reeleição. Já os DEMocratas tentam emplacar o Senador Raimundo Colombo. Na oposição, a Ideli Salvatti pode desistir da reeleição para o Senado (em que teria chances razoáveis) para tentar o Governo (com chances reduzidas, na minha avaliação). Ângela Amim tem maiores condições de levar o pleito para o segundo turno, contra o candidato da situação (que me parece ser favorito, seja quem for). A eleição catarinense está bastante indefinida, por enquanto.

Senado: o Governador PMDBista, Luiz Henrique, deve disputar o Senado, com grandes chances. O PP deve lançar Esperidião Amim, que também é um nome com densidade eleitoral. Com menores chances, PT aposta no deputado federal Cláudio Vinhati.





CAMPO GOVERNISTA
Ricardo Ferraço
– PMDB (atual vice-governador)
+
Renato Casagrande – PSB (senador)

CAMPO OPOSICIONISTA
Luís Paulo Velloso Lucas - PSDB (deputado federal, ex-prefeito de Vitória)

Há uma grande aliança no Espírito Santo para eleger o atual vice-governador, Ricardo Ferraço, do PMDB. O grande fiador desta aliança é o Governador Paulo Hartung, também do PMDB. O PT, liderado pelo prefeito de Vitória, João Coser, buscará compor com o Governador, para montar um forte palanque para Dilma no estado. Ricardo é o favorito para a disputa. Quem ameaça romper esta aliança é o senador Renato Casagrande, do PSB, que é mais conhecido que o vice-governador, e atualmente está na frente nas pesquisas. Novamente, a candidatura estadual do Socialista depende muito da candidatura de Ciro. Pela oposição, o deputado Luís Paulo Velloso Lucas fará o palanque de Serra.

Senado: o senador Magno Malta, do PR, buscará a reeleição, com boas chances de vitória. O governador Hartung é fortíssimo candidato a uma das vagas para o Senado. Pela oposição, quem tem maiores chances é a deputada federal Rita Camata, que trocou o PMDB pelo PSDB este ano.