sábado, 27 de dezembro de 2008

Drops - Dezembro

Drops mais longos que o de costume. Vamos lá!

Maitê I

Saia Justa é um programa da GNT, atualmente composto pela jornalista Mônica Waldvogel, a filósofa Márcia Tiburi e as atrizes Betty Lago e Maitê Proença. O Saia Justa vai ao ar às quartas-feiras e é reprisado aos sábados. Em uma das edições de Dezembro, as integrantes comentavam sobre a morte do ex-marido de Susana Vieira, Marcelo Silva. Não faltaram críticas ao rapaz. Até aí, tudo bem. Não é porque o cara morreu que merece ser canonizado. O deplorável foi a avaliação da Maitê: “Não podia se imaginar um final mais propício para esta história. [...] Não podia imaginar um desfecho melhor.” É claro que ela falou mais que isso, tentou justificar que seria melhor para a Susana Vieira e para a amante, mas eu não vou me preocupar em remontar a versão da Maitê, até porque nada justificaria tamanha morbidez. Foi muito mais que um comentário infeliz, foi execrável. Márcia e Mônica fizeram um contraponto no programa. Pelo menos isso. Talvez seja humano desejar a morte de alguém. Não sei, sinceramente nunca desejei. Mas celebrar isso em um programa?! E o que é pior: não em nome de uma espontaneidade de pensamento, mas em nome de um corporativismo bizarro; um maniqueísmo insustentável que endeusa uma das partes, como se fosse livre de erros, enquanto a outra parte personificaria tudo de ruim, merecendo a própria morte como punição. Foi de embrulhar o estômago!

Maitê II

Isso porque, na edição anterior a esta, Maitê já teria feito um comentário que garantiria a ela presença nos Drops deste mês. Ao comentarem sobre o episódio em que o presidente utiliza a expressão “Sifu”, o quarteto feminino da GNT demonstrou indignação. A princípio, eu acho toda esta discussão bem idiota, irrelevante, inócua. Ninguém fica tão escandalizado por causa de um “sifu”! Não é possível! Ninguém é puritano a esse ponto. Dos pseudo-moralismos este é o mais hipócrita. O problema da Maitê é que a expressão partiu do presidente. Segundo ela, “faltou vocabulário”. Provavelmente! Mas e daí? É assim que vão reagir ao presidente que prescinde de vocabulário? Vamos voltar ao debate do “este presidente não é sociólogo doutor”? Eu acho extremamente temerário! As pessoas esperam uma liturgia, um cerimonialismo em tempo integral dos governantes. Que significa o quê? Que serve a quem? O Lula não falou “sifu” do nada, não foi uma agressão gratuita a ninguém, foi em um contexto, na construção de um argumento. Se as pessoas discordam deste argumento, pois bem! Sempre discordam mesmo! Mas que se mantenha o debate no plano do conteúdo e não da forma. A forma com que o presidente vai falar, em muitos momentos, vai ser determinada pela sua forma de ser. E Lula não pode deixar de ser quem é, só para agradar Maitês e cia.

Santa Catarina

Em Santa Catarina, as coisas que já eram horríveis ficam piores pela inoperância do Governo do Estado. Aqui a gente poderia retomar aquela discussão da presença ou ausência do viés político nas discussões que a mídia faz. Quando a tragédia envolve o Governo Federal, ou aliados, há imediata responsabilização dos políticos. Já neste caso de SC, os jornais desdobram-se, criando um fenômeno climático novo a cada semana, para fazer crer que foi uma tragédia meramente natural. Não pretendo aqui fazer o mesmo jogo sujo da mídia, para culpar este ou aquele político. O Governador de SC, Luiz Henrique, é de um PMDB tucano, apoiou Alckmin para a presidência em 2006. Mas é evidente que ele não causou, nem desejou a tragédia. Agora, há que se discutir como aquelas pessoas foram parar (e permaneceram) naqueles terrenos de risco. As prefeituras não retiraram as famílias porque ganham mais mantendo elas lá e arrecadando IPTU. O Governo do Estado regularizava esta situação, e ainda foi incrivelmente lerdo e desorganizado na pós-tragédia. Mantimentos são roubados, há indícios de que roupas doadas foram abandonadas, e falta espaço para donativos! A Defesa Civil do Estado chegou a interromper o recebimento de doações por quase um dia inteiro! É inacreditável! Na mídia, silêncio sepulcral. A melhor cobertura da tragédia foi feita pelo Profissão Repórter, do Caco Barcellos. Mas o programa é curto e não se propõe a fazer discussões sobre aspectos mais profundos. Infelizmente, toda esta inoperância vai passar batida.

Feliz Ano Novo!

No mais, feliz 2009 aos leitores do Crápula Mor! Ano que vem continuaremos com o Blog, firmes e fortes!

T+

sexta-feira, 19 de dezembro de 2008

O malabarismo dos jornalistas

Os jornalistas dos veículos de comunicação mais tradicionais têm a mania de ensaiar o mesmo discurso para determinadas pautas. Isso não significa que eles marcam encontros na calada da noite para combinar o que vão falar sobre determinado assunto. Mas, na hora de fazer a notícia ou de construir opiniões, os jornalistas levam em conta não apenas as “fontes”, mas as próprias opiniões e impressões dos outros colegas jornalistas, dos editores-chefes, dos patrões, enfim, da categoria. Nesse processo, quase que automaticamente, as mesmas interpretações vão se proliferando dentre os especialistas da mídia. Isso, além da má vontade contra determinados grupos políticos, estando ou não no poder. Mas nem sempre se trata de uma partidarização, às vezes é puro corporativismo. Uma das pautas que gera discurso uníssono nos meios de comunicação é a avaliação sensacional do Governo Lula, agora no patamar dos 70%.

Nunca antes na história desse país um presidente foi tão bem avaliado. 73% de ótimo e bom, e o desempenho pessoal de Lula é aprovado por 84%, segundo o Ibope. O recorde anterior foi atingido por Sarney no ano de 1986. Quanto maior fica a aprovação da população ao Governo Lula, menos verossímil fica a versão da mídia para esses números. Os jornalistas atribuem os recordes históricos do Governo Lula a um mero reflexo da bonança econômica no mundo (ou seja, o velho discurso tucano do “céu de brigadeiro”), ou a uma capacidade comunicativa do Presidente, que de fato existe, mas não passa de uma abstração e não explica a satisfação da população. Para citar alguns mais recentes, verifiquei esta interpretação nos comentários da Cristiana Lôbo no Jornal das 10 da Globo News, em seu blog, nos comentários de Sardenberg, também no Jornal das 10, e de Nêumane Pinto, no Jornal do SBT. Mas já vi a mesma linha de raciocínio ser desenvolvida por outros especialistas, em outros lugares.

Há uma clara resistência em reconhecer os méritos do Governo, em admitir que ações federais muito concretas estão, cada vez mais, beneficiando milhões de brasileiros. Daí a utilização de abstrações e escapismos na hora de analisar a voz que vem das ruas, nas pesquisas de opinião. Por um lado, os jornalistas estão corretos ao falarem da bonança econômica, pois de fato a produtividade mundial cresceu no período lulista, mas essa é apenas parte da explicação. O Governo reduziu impostos para setores estratégicos; diminuiu sistematicamente (ainda que pudesse ter diminuído mais) a taxa básica de juros; adotou uma política sólida de câmbio flutuante, valorizando o Real; investiu fortemente na área social, o que fomenta o crescimento econômico; dentre outras medidas. Logo, o bom momento brasileiro não é mera sorte, nem fortuito. Quando especialistas falam que a população é levada por frases do Presidente como “Pergunta para o Bush (sobre a crise)”, subestimam, não o Governo, mas a própria capacidade da população de avaliar um mandato.

É possível que a aprovação recorde deva-se, dentre outros fatores, justamente à forma como o Governo vem reagindo à crise. No último domingo, no programa Manhattan Connection, da GNT (da Globosat), o economista Ricardo Amorim afirmou que, se fosse feita uma escala da crise, a Finlândia, maior vítima, seria atingida em um nível 10; os EUA, também fortemente afetados, estariam no 8; o Canadá ficaria em torno de 6; e o Brasil, 1. Isso mesmo, 1! Ricardo falou ainda que, em 2009, o saldo de empregos brasileiro será positivo, com mais geração do que perdas. Brincaram com o economista, dizendo que ele precisava abrir os olhos. Ele respondeu que é contrário: basta abrir os olhos, ver o que está acontecendo aqui, para perceber tudo isso. Diogo Mainardi, colunista da Veja que também compõe a mesa do Manhattan, quase teve um infarto ao lado do economista, por motivos que vocês podem imaginar. É direito e dever da mídia criticar o Governo, mas distorcer análises apenas para omitir méritos é muito sujo.

sábado, 13 de dezembro de 2008

Entrevista esclarecedora de Protógenes Queiroz

Na última quarta-feira, o delegado da Polícia Federal, Protógenes Queiroz, deu uma entrevista extremamente esclarecedora ao programa Brasília Ao Vivo, da Record News. Antes da entrevista, a apresentadora informa que Protógenes já enviou para a cadeia pessoas como Lao Kin Chong, Hildebrando Pascoal e Paulo Maluf. Já na primeira resposta, o delegado deixou claro que a decisão de transferi-lo da diretoria de inteligência para a direção de departamento de pessoal foi unilateral e difícil de aceitar. Há expectativa de uma nova transferência, possivelmente para a coordenadoria de defesa institucional, área na qual o delegado não é especialista (suas especialidades são crimes financeiros e estratégias de inteligência). Esta nova transferência ainda não foi comunicada oficialmente. Protógenes comenta também sobre a inversão de valores feita quando, após divulgação da Operação Satiagraha, os alvos de ataques passaram a ser ele próprio, o Juiz Federal Fausto De Sanctis e o Procurador do Ministério Público Rodrigo De Grandis. Inversão de valores esta que foi tema de postagem neste blog.

O delegado da PF falou que já esperava retaliações, uma vez que investigava um bandido da estatura de Daniel Dantas. Mas foi surpreendido pela extensão desta retaliação, que chegou a atingir até mesmo seus familiares. Protogenes está convicto dos crimes do banqueiro, ao qual sempre se refere como “o bandido, Daniel Dantas”, um homem que construiu um verdadeiro império e tem contatos poderosos – o que dificulta a reunião de provas para os crimes – mas que há 20 anos pratica corrupção usualmente, prejudicando a sociedade. Para ilustrar o poder de manipulação de Dantas, Protógenes dá o exemplo do escândalo fabricado, a mando do banqueiro, por meio da “Revista” Veja, inventando que o Presidente Lula e o diretor da Abin, Paulo Lacerda, mantinham contas no exterior, destinadas a movimentar recursos sem origem declarada, o que durante a investigação ficou provado ser uma armação. Isso para citar uma de muitas falcatruas, um de inúmeros crimes.

O delegado federal entende que os recursos da defesa do banqueiro não irão prosperar, que dificilmente o bandido Daniel Dantas terá sucesso nas instâncias superiores da Justiça brasileira e que a nova equipe que está à frente da Satiagraha é capacitada tecnicamente e saberá conduzir a operação. Além disso, Protógenes esclarece que, durante a gestão de Paulo Lacerda, não houve espetacularização do trabalho da polícia, e sim uma prestação de contas à sociedade sobre os crimes cometidos com dinheiro público. O delegado confirma que houve pressão por parte da nova direção da PF para que ele deixasse o caso e que ele nunca quis abandonar a Satiagraha para fazer um curso. Outro importante esclarecimento do delegado é no sentido de negar peremptoriamente o uso de grampos ilegais com quem quer que seja, o que compromete a versão largamente noticiada de que a PF e a Abin interceptaram o presidente da Suprema Corte e o Senador Demóstenes Torres do DEM. Este ponto da entrevista é crucial! Vocês lembram do termo “grampolândia” e do que ele tentou demonstrar?

Partidos de oposição, óbvio, em parceria com a grande mídia, tentaram passar a impressão de que tanto a Polícia Federal quanto a Abin estavam fora de controle, fazendo grampos indiscriminadamente, ameaçando até mesmo o Estado de Direito brasileiro e que qualquer um de nós poderíamos ser a próxima vítima da perseguição promovida pelos agentes federais e de inteligência brasileiros. À época, eu comentei neste blog o absurdo que foi esta empreitada contra as instâncias investigativas deste país. Quem é beneficiado quando o trabalho da polícia é tolhido? Não é à toa que esta empreitada veio imediatamente após a investigação de Daniel Dantas, este é um homem extremamente influente, inclusive na Imprensa, como demonstrou o episódio da Veja. Nas palavras do delegado Protógenes: “com este carnaval que foi feito com a operação Satiagraha, provocados por atos insanos do bandido banqueiro Daniel Dantas, ele conseguiu destruir o sistema brasileiro de inteligência. [...] O nosso país hoje, te digo francamente, é um país desprotegido”. Ou seja, em certa medida, Daniel Dantas x Oposição x Mídia atingiram um dos seus objetivos.

É bom registrar que, durante o escândalo da “grampolândia”, o Senador do DEM / PI, Heráclito Fortes, pediu a prisão de Protógenes e o Globo News, para citar um exemplo, fez uma edição do programa PAINEL sobre “As diversas formas de abuso de poder do Estado sobre o cidadão brasileiro” com especialistas que denunciaram as “atrocidades” da Abin. É falso pensar, no entanto, que a influência de Dantas está apenas sobre a mídia e os partidos da oposição. O banqueiro bandido tem tentáculos no governo atual, tanto que o delegado Protógenes sofreu constantes retaliações por parte do comando da PF enquanto tentava investigar Dantas, precisou recorrer à Abin, com a cumplicidade de Paulo Lacerda, até que ambos terminaram afastados de seus cargos. Por outro lado, também é verdadeiro que foi neste governo atual que Dantas tornou-se alvo de operação federal (coisa que jamais aconteceria no Governo FHC – ao contrário, na gestão demo-tucana, Dantas virou um magnata das comunicações). Hoje, o banqueiro tem grandes chances de ser punido e devolver aos cofres públicos boa parte do dinheiro que roubou. A Polícia Federal trabalha como nunca antes na história deste país.

terça-feira, 9 de dezembro de 2008

Tudo tem limite.

Poucos episódios seriam tão oportunos para suceder a comemoração de 1 ano do Blog. Em compensação, esta a única vantagem de ter que escrever sobre o que ocorreu. Vou frisar novamente algo que já falei no texto anterior: este espaço está inserido em um movimento da chamada “blogosfera” que busca demonstrar a partidarização de segmentos importantes da mídia de massa. Muito mais do que um mero blog, eu encaro este espaço como algo que, pra mim, é um verdadeiro projeto de vida, porque eu acho que há muito mais em jogo, muito mais do que poder ou “política” (entendida como um fim nela própria), está em jogo um bem maior, coletivo, está em jogo o meu país. Por isso, mesmo quando não estou tão disposto ou com tempo, procuro levar a sério estas questões. Geralmente, tenho um impulso imediato para criticar, contradizer ou desmentir certas verdades da mídia. Desta vez, sinto repulsa. É como se eu estivesse descendo ao mesmo nível, ou legitimando algo que merece desprezo.

O Portal IG, na seção Educação, criou uma categoria intitulada “Presidentes Pioneiros”. Nela, estão: George Washington, Marechal Deodoro da Fonseca, Isabelita Perón, o novo presidente americano Barack Obama, Nelson Mandela, Evo Morales e, dentre outros, Lula da Silva. A princípio, uma bela homenagem! Entretanto, o problema aparece na descrição dos presidentes. O boliviano, por exemplo, tem a seguinte legenda: “Evo Morales venceu com maioria absoluta as eleições para presidente na Bolívia, tornando-se o primeiro presidente de origem indígena”. Ao lado da foto de Obama temos o seguinte texto: “Recém-eleito, o democrata Barack Obama será o primeiro presidente negro dos Estados Unidos quando assumir o posto na Cassa Branca em janeiro”. Lula foi assim descrito: “Em janeiro de 2003, Luiz Inácio Lula da Silva tomou posse no Palácio do Planalto como o primeiro presidente analfabeto funcional do mundo”. O que é isso? Onde é que nós estamos? Que espécie de brincadeira de péssimo gosto foi esta? Tudo tem limite!

Analfabeto funcional é alguém que consegue decodificar as letras, reconhece as palavras, mas tem dificuldade para interpretar textos mais longos e fazer operações matemáticas simples. Além de uma clara ofensa ao presidente, isso é uma ofensa aos seus eleitores! Particularmente, eu considero o presidente um homem inteligente, com uma incrível capacidade comunicativa e um profundo conhecedor dos problemas brasileiros. Mas, ainda que não fosse nada disso! Analfabeto funcional?! Dêem um tempo! Se um dia eu precisar escolher entre um sociólogo doutor da direita, conservador, reacionário, comprometido com o mercado, e um analfabeto da esquerda, comprometido com os avanços sociais, ah, não tenham dúvida, voto e faço campanha pro analfabeto! Mas não foi o caso, não é o caso de Lula. Isso é uma provocação, um deboche, um escárnio, não apenas com Lula, mas comigo, com seus milhões de eleitores! Se o presidente resolvesse entrar com um processo, na minha opinião, estaria coberto de razão.

Lula é pioneiro por muitos motivos... sindicalista, operário, retirante nordestino, sem formação universitária, dentre outras coisas. Também é pioneiro por investir em dezenas de milhares de empreendimentos de famílias pobres, que hoje consomem alimentos e eletrodomésticos; por dar a oportunidade de cursar o ensino superior a centenas de milhares de jovens pobres; por retirar milhões de brasileiros da pobreza e da miséria. Além de inúmeros outros indicadores sócio-econômicos que eu poderia vomitar aqui, mas que já são bastante conhecidos. Eu vi esta galeria do IG no último sábado, dia 06. Na segunda-feira, o texto já não estava mais lá. O novo texto é “o primeiro presidente sindicalista e operário do país”. Tudo está registrado nos prints abaixo (clique para ver ampliado). Lula, frequentemente, é tachado de ditador, anti-democrático, afeiçoado a censuras ou desrespeitoso com a Imprensa. Logo ele! Um presidente que já foi chamado de anta e petralha por figurinhas carimbadas da mídia, e agora é classificado como “analfabeto funcional”. Poderíamos crer que foi um erro conceitual, um deslize. Infelizmente, há um padrão.

A versão original:


A segunda Versão:


A desculpa esfarrapada:




sexta-feira, 28 de novembro de 2008

Aniversário de 1 ano do Blog

É com muita satisfação que escrevo este texto de "comemoração" de 1 ano do Blog do Crápula Mor. Quando decidi criar este blog, eu estava passando uma temporada em São Paulo, morando sozinho pela primeira vez na vida, fazendo uns cursos de pós-graduação em Comunicação na USP. Foi uma época muito difícil. Várias frustrações, um sentimento de solidão e uma dificuldade tremenda para me adaptar a este ritmo louco, frenético, da cidade da garoa. Naquela época, senti vontade de voltar a escrever. Um hábito que exerci em alguns momentos da minha vida, mas que sempre acabei abandonando, cedo ou tarde. Como sempre, costumo escrever sobre aquilo que me revolta ou indigna. Percebi, e ainda percebo, que muitas coisas precisam ser ditas. Especialmente, como vocês sabem, sobre política e mídia. Agora, por pura coincidência, estou de novo em São Paulo. Mas, desta vez, apenas de passagem e mais feliz.

Foi um ano de dedicação a uma causa em que eu acredito muito. Primeiramente, a política em si. Não como um fim nela própria, mas como um instrumento de transformação, de busca de um bem coletivo, nunca tão nítido, sempre questionável, mas que deve ser buscado por todos. Por maiores que sejam as nossas decepções com os políticos ou governos, a saída não é correr da política, mas correr PARA a política, participando, fiscalizando, debatendo, se informando, exercendo nossa cidadania. Não teremos o direito de cobrar do poder público se não cumprimos nosso dever básico de estar a par dos acontecimentos. Depois, procuro pautar outra discussão que considero igualmente importante: os posicionamentos da grande mídia. Os veículos de comunicação de massa possuem um trunfo bastante poderoso, a visibilidade social. Esta moeda de troca simbólica é extremamente valiosa nas negociações coletivas.

Não acredito em "manipulação" da audiência. Este é um termo recorrente nas discussões sobre mídia, mas deveras equivocado. As Teorias da Comunicação contemporâneas demonstram o quanto esta visão mecanicista do processo comunicativo é inadequada. As pessoas não são "manipuláveis". Ao contrário, moldam o conteúdo midiático de acordo com as suas visões de mundo, suas convicções, subjetividades. Não são isoladas, mas interagem com seus pares, inseridas em seus respectivos contextos, transformando e adaptando aquilo que recebem dos meios de comunicação. Esta é uma idéia da qual eu estou plenamente convencido. Entretanto, isto não invalida a percepção crítica da mídia. A cobrança que este blog faz, em conjunto com tantos outros, é por uma mídia plural, em que haja menos consenso e mais divergência. Que os "especialistas", comentaristas e editoriais não reproduzam em perfeita sincronia as mesmas opiniões, interpretações e conclusões, muitas vezes estapafúrdias.


A sociedade brasileira é extramente plural, seja do ponto de vista político, social ou cultural. A mídia de massa deveria refletir minimamente esta diversidade, e não reproduzir o pensamento de uma única corrente política, de maneira velada e cínica. Se há um alinhamento partidário por parte do veículo de comunicação, e consequentemente de seus jornalistas, que pelo menos isto fique claro e declare-se apoio a um ou outro candidato em período de eleição. É o mais honesto a se fazer. Infelizmente, neste país, esta idéia é absurda, pois a visão que se tem do jornalismo é de algo acima do bem e do mal, imaculado, "imparcial". Na verdade, não existe imparcialidade ou neutralidade. A linguagem não é neutra, as palavras e as idéias têm pesos, conotações, sugestões. Os jornalistas, antes de qualquer coisa, são seres humanos, com opiniões, convicções, posições. Se optarem por não estabelecer vínculo com nenhum grupo político, que permaneçam fiéis aos fatos nas notícias e sejam plurais nos editoriais. Não é isso que vemos!


É muito difícil defender esta tese! Na maioria das vezes, é algo sutil. Sempre, questionável e relativo. A proposta deste blog é demonstrar exemplos concretos e específicos da chamada "partidarização" da mídia. Em tempos de eleição - especialmente as presidenciais, como vimos no post anterior - este processo se intensifica, já que há muito em jogo. No entanto, cotidianamente verificamos excessos, mais ou menos graves. É isto que pauta este blog. Já recebi cobranças para postar mais vezes, mas não é sempre que tenho algo relevante para dizer. A idéia é que este espaço seja uma coluna, aproximadamente semanal. O máximo que eu poderia fazer seria aumentar as postagens para 5 ou 6 por mês. Também dependerá da minha disponibilidade de tempo no ano que vem. Para terminar, não posso deixar de fazer agradecimentos especiais a frequentadores assíduos deste blog. Sou grato a cada visita ou comentário feito, mas dedico este texto ao Briguilino, ao Igor (Interferente), ao Luís Augusto Seguin (grande amigo) e ao Danilo (que fez a arte do Blog). Obrigado! Espero "comemorar" muitos aniversários como este!

sexta-feira, 21 de novembro de 2008

Livro: "A mídia nas eleições de 2006"

Esses dias, terminei de ler o excelente “A mídia nas eleições de 2006”, uma coletânea de artigos organizada por Venício A. de Lima. O livro trata, como o nome já sugere, do trabalho da mídia na cobertura da eleição que deu a segunda vitória de Lula na busca pela presidência. A publicação parte do pressuposto de que o candidato eleito em 2006 não era o preferido dos principais veículos de comunicação, e demonstra isso com análises, exemplos, argumentos objetivos, gráficos, estatísticas etc. A tese central de “A mídia nas eleições 2006”, compartilhada por vários blogs (inclusive este), está clara e fartamente ilustrada ao longo dos 11 capítulos e importantes anexos. O livro é dividido em 3 partes: I – Como foi a cobertura das eleições na mídia?, II – Qual foi o papel da mídia e III – O que é necessário fazer? Os anexos também são interessantíssimos. Incluem, por exemplo, a Carta do jornalista global, Rodrigo Vianna, que revela o procedimento dos Marinho naquela eleição.

A primeira parte traz levantamentos feitos por 3 instituições de pesquisa independentes: o Observatório Brasileiro de Mídia – OBM / MWG (capítulo brasileiro do Media Watch Global); o DOXA – Laboratório de Pesquisa em Comunicação Política o Opinião Pública do Iuperj (Instituto Universitário de Pesquisa do Rio de Janeiro); e o CAEPM – Centro de Altos Estudos em Publicidade e Marketing da ESPM (da Escola Superior de Propaganda e Marketing). As metodologias utilizadas e os veículos analisados são diferentes, mas os resultados demonstram, com gráficos, como os principais grupos da mídia impressa, com destaque para Veja, O Estado de São Paulo, Folha e O Globo, fizeram uma cobertura majoritariamente positiva para Alckmin e majoritariamente negativa para Lula, tanto no que diz respeito à notícias, quanto no que diz respeito aos editoriais. Temos a comprovação científica deste processo de partidarização da mídia de massa. O último capítulo da primeira parte destaca a importância da Internet na campanha presidencial.

Na segunda parte, artigos analisam casos grotescos de incoerência da grande Imprensa. O do jornalista Renato Rovai, por exemplo, discute a insignificante repercussão que a mídia deu ao caso das compras de votos para a reeleição de FHC, em 1997. À época, o jornalista Fernando Rodrigues gravou conversas com parlamentares governistas do Acre, os quais admitiam a compra de votos por 200 mil reais. Ao invés de denunciar o caso em si, “o debate midiático ficou centrado na forma como as declarações do deputados foram obtidas”, totalmente diferente do que aconteceu com o caso do “mensalão”. Rovai lembra ainda do caso do dólar na cueca, em que as matérias invariavelmente traziam o PT já na manchete. Enquanto que o caso do assessor de Cássio Cunha Lima, candidato do PSDB ao governo de Alagoas, que portava um volume de dinheiro sem explicação clara, ganhou destaque no G1 da seguinte forma: “assessor de candidato da Paraíba é pego com R$ 42,9 mil”. Nenhuma referência ao partido.

Na terceira parte, Luís Felipe Miguel tenta responder à pergunta “o que é necessário fazer para aprimorar o funcionamento da mídia na democracia brasileira?”. O autor chega a importantes conclusões, muitas já apontadas por blogs. Em determinado trecho, lemos que “o debate público fica sumamente empobrecido e unilateral. É possível dizer, sem sombra de dúvidas, que a ampliação do pluralismo dos meios de comunicação é um dos desafios centrais para o aprimoramento da democracia brasileira”. Bandeiras e idéias já defendidas aqui, por exemplo, mas desenvolvidas de maneira mais rica em “A mídia nas eleições de 2006”. O livro contém ainda capítulos escritos por Paulo Henrique Amorim, Luís Nassif, além de vários jornalistas e pesquisadores, muitos deles acadêmicos de formação invejável. Todos trazem aspectos relevantes da questão, como a publicação de suspeitas sem a devida confirmação, alinhamento com determinados grupos políticos e criminalização de outros, a homogeneidade das análises dos comentaristas da mídia etc. Toda a leitura é extremamente esclarecedora, imperdível!

sexta-feira, 14 de novembro de 2008

Drops - Novembro

Convergência. A CNN, a repórter e o holograma.

Na cobertura da apuração das eleições americanas, uma repórter foi projetada para “dentro” do estúdio da CNN, via holograma. A imagem da repórter ainda apresentava aquele contorno típico de efeitos que ainda precisam ser aperfeiçoados, mas foi sem dúvidas um feito extraordinário e inédito. Quando esta tecnologia for mais bem desenvolvida e difundida, permitirá formatos e experiências televisivas revolucionárias. Jornalistas em diversos lugares do mundo poderão “aparecer” no mesmo estúdio, trazendo informações relevantes em perfeita sincronia. É a era da convergência, do casamento cada vez mais perfeito entre mídias eletrônicas e digitais. As trajetórias tecnológicas já não podem mais ser desassociadas, elas compõem um mosaico flexível e mutável, em que determinados elementos apresentam maior ou menor importância em dado momento histórico. Chegou a hora do digital.

Pesos e medidas. O caso Eloá, a mídia e o viés político.

Noblat, em seu blog, avalia que “não interessa quem atirou primeiro” no caso da operação policial que tentou resgatar Eloá do seqüestro em Santo André. Para o jornalista, “a polícia fez o que deveria ser feito, só que com atraso”. Acontece que este “atraso” fez toda a diferença. Se era pra arrombar o apartamento, que tivessem feito isso antes, e em um momento de vulnerabilidade do seqüestrador. E se decidiram esperar, que esperassem até que Lindemberg resolvesse se entregar. Enfim, uma operação desastrosa, com inúmeros equívocos, como o retorno de Nayara ao apartamento, dentre vários outros já apontados por especialistas. Mas, antes de tudo, uma fatalidade. Entretanto, fatalidades já foram alvo de debate político, como aconteceu com os acidentes de avião da GOL e da TAM, em que o Governo Lula foi responsabilizado pelas mortes, mesmo antes de qualquer evidência pericial. O programa Saia Justa chamou um psiquiatra para pedir a cabeça de Ministros. No caso Eloá, que envolve o Governo Serra, jornalistas operam uma verdadeira blindagem. Eu sei que seria irresponsável culpar Serra pela morte da menina, mas é interessante ver a troca do viés político por parte da mídia, dependendo do Governo em questão.

Selvageria. O Exército, o gás de pimenta e o cassetete elétrico.

Um jovem de 16 anos prestou queixa na delegacia alegando ter sido queimado depois de pular o muro de uma fábrica desativada do Exército, em Realengo, no Rio. De acordo com a Secretaria estadual de Saúde, o jovem apresenta uma grave lesão nos olhos e corre o risco de perder a visão. "Sei que eu estava errado, mas me barbarizaram", disse o jovem, que está internado no Centro de Tratamento de Queimados do Hospital Pedro II, em Santa Cruz, com queimaduras de primeiro e segundo graus nas pernas, braços e rosto. Provavelmente, as queimaduras foram causadas pelo uso de gás de pimenta combinado com cassetete elétrico. A freqüência com que estes casos surgem da mídia (que indicam uma freqüência ainda maior de ocorrência) sugere que este procedimento não é exceção, é regra na abordagem militar – especialmente no Rio de Janeiro. Não faz nenhuma diferença que este jovem seja usuário de maconha ou tenha pulado o muro. Um militar deve estar preparado para outro tipo de procedimento, de preferência, que não envolva tortura. Além de extremamente covarde, este tipo de “barbárie”, como bem classificou a vítima, revela uma mente doente, primitiva. Por que tipo humilhação estes militares passam em seus treinamentos para voltarem à sociedade deste jeito?

Desregulados. Os 3 jovens, o estupro e o vídeo.

Em Jaçobá / SC, 3 jovens – dois universitários de 18 anos e um estudante de ensino médio com 16 – agrediram e estupraram uma adolescente de 15 anos em uma festa. Não satisfeitos, os garotos filmaram o ato e publicaram na internet. São 3 os jovens que aparecem neste vídeo, mas 4, 5, 10, 50 possivelmente seriam capazes de realizar o mesmo crime. Quantas dezenas de outros jovens não assistiram ao tal vídeo na internet e acharam engraçado ou não viram nada de mais? A única certeza é a de que estes 3 jovens não são “doentes mentais” que por coincidência encontraram-se na mesma turma. Este caso não revela um distúrbio. Ao contrário, revela um padrão, é sintomático. Sintomático de uma dinâmica coletiva deturpada que impera principalmente entre adolescentes. Na busca por aprovação, aceitação, inserção, adolescentes aderem às regras do grupo e não conseguem reconhecer a sua própria identidade, suas preferências, suas convicções. O filtro que regula o que é eles e o que são os outros é desregulado. O adolescente perde sua capacidade de discernimento e o filtro não consegue mais reter nem mesmo o que é antiético ou imoral. Quem pode ajustar isso são os pais, com diálogo, acompanhamento e, acima de tudo, interesse pelos filhos.

Boas Novas. O Cacciola, a condenação e os tucanos.

Finalmente, Salvatore Cacciola foi condenado. Por unanimidade, o TRF (Tribunal Regional Federal) da 2ª Região manteve a condenação feita em 2005 de 13 anos de prisão para o ex-banqueiro, por crimes contra o Sistema Financeiro. Cacciola, ex-dono do Banco Marka, foi protagonista de um dos maiores escândalos do país. O caso atingiu diretamente o então presidente do Banco Central, Francisco Lopes, durante o Governo FHC. Prisões e, especialmente, condenações de homens como Cacciola instauram neste país um novo paradigma, em que crimes de colarinho branco são punidos. Hoje, isto é possível por causa de uma Polícia Federal, um Ministério Público, um Procurador Geral que servem para alguma coisa, diferentemente da época dos tucanos. A PF está produzindo um novo relatório da Satiagraha contra Daniel Dantas, ao que parece, mais sólido que aquele apresentado pelo delegado Protógenes. Aguardaremos ansiosos por um resultado parecido. Agora vai!

sexta-feira, 7 de novembro de 2008

Obama. É tudo isso mesmo?

Eu fico imaginando quantos americanos negros, agora, olham de maneira diferente para o mundo em que vivem. Especialmente os mais jovens, que construirão o dia de amanhã e podem não saber o que os espera. Ao testemunharem a eleição de Barack Obama, os jovens negros percebem que os seus sonhos são possíveis de serem alcançados. Não importa o quão distante possa parecer, não importa que as outras pessoas digam que não dará certo, não importa o tamanho dos desafios que eles precisarão enfrentar. Hoje, eles sabem, “yes, we can” (sim, nós podemos). Podem ser bem sucedidos, podem liderar, podem assumior cargos de chefia, podem ser médicos, advogados, professores, jornalistas, a profissão que quiserem. É claro que muitos negros já tinham esta consciência e alcançavam seus objetivos, mesmo antes da eleição de Obama. Mas até o último momento pairou a dúvida: para o cargo máximo da nação (talvez, do mundo), seria possível? Como disse Obama no seu discurso da vitória, “tonight is your answer” (esta noite é a sua resposta). A resposta para uma dúvida história. É este o extraordinário valor simbólico que Obama representa.

Ouço pessoas imaginando: será que é tudo isso mesmo? Não está havendo um exagero? A eleição de um negro para a presidência dos Estados Unidos pode não ser “tudo”, mas é muito! É um marco. É uma vitória inconteste da luta pelos direitos civis, é o resgate da auto-estima e o reconhecimento do valor de toda a comunidade negra, e é um exemplo de superação para todo o mundo, negros e brancos, ricos e pobres, americanos ou não. Tudo bem que o discurso de Obama nunca encarou a questão racial de frente. Ao contrário, a abordagem do democrata sempre foi no sentido de ignorar ou negligenciar as questões raciais (pelo que Obama foi cobrado por alguns cidadãos negros). Mas, aí que está! O que fica do resultado desta eleição é que, em uma democracia, a vontade da população é soberana e irreprimível. Na democracia, se o povo assim quiser, um negro pode, sim, ser o comandante de uma nação, mesmo diante da impossibilidade de adotar um posicionamento unânime sobre a delicada questão racial.

Os preconceitos, é óbvio, persistirão. Não apenas contra os negros e não apenas nos Estados Unidos. A situação dos afros-descendentes em países mais pobres, como o Brasil, é ainda mais grave. Aqui, como sabemos, há uma disparidade absurda entre negros e brancos no que diz respeito às condições sociais, aos níveis de escolaridade, à remuneração nos mesmos cargos, e à própria presença em muitas profissões. Na prática, a sociedade, o mercado, a ordem vigente não é nada democrática. Mas, pelo menos, na hora do voto, todos são iguais. E aí, dependendo do Governo escolhido e das políticas praticadas, este cenário de desigualdade entre negros e brancos, pobres e ricos, pode ser combatido gradativamente. A democracia liberta uma força, dá ao povo a oportunidade de escolher seu representante, avaliar resultados e mudar! É imprescindível que possamos mudar! Em países como o Brasil, em que pelo menos metade da população é afro-descendente e os níveis de miséria e pobreza até pouco tempo atrás também atingia mais de 50% dos cidadãos, a democracia é fundamental.

Os Estados Unidos demonstraram que o afro-descendente pode ser subestimado, ofendido, constrangido, maltratado, segregado, em inúmeras situações, pode ser preterido em uma empresa pela cor de sua pele, proibido de entrar em algum estabelecimento ou receber a indiferença de algum grupo social, mas hoje ele sabe que tudo isso pode ser superado. No Brasil, testemunhamos que um pobre, retirante nordestino, metalúrgico, sindicalista, contra tudo e contra todos, enfrentando preconceitos diariamente até hoje, pode ser consagrado pela população. Antes de encerrar este texto, faço questão de citar John McCain, por quem adquiri um novo respeito, depois do seu discurso de reconhecimento da derrota. McCain mostrou que, de fato, é um maverick, e não pode de maneira nenhuma ser confundindo com o “grosso” do partido republicano. Sua visão de mundo é, em muitos aspectos, humanizada. O candidato derrotado não foi apenas cordial, correto ou humilde, foi incrivelmente sincero, sensível, patriota e superior a muitos dos seus eleitores, que até ensaiaram uma vaia assim que o republicano citou o nome do presidente eleito.

Imediatamente, McCain reprimiu a reação e, durante o discurso, após ter reconhecido que “o povo americano manifestou-se, e manifestou-se claramente”, declarou: “Obama inspirou esperança em muitos americanos que, um dia, erroneamente acreditaram que tinham pouca influência na eleição de um presidente americano. É algo que eu admiro profundamente e cumprimento-o por ter conseguido”. McCain também fez uma menção à avó de Obama, que não viveu até aquele dia, e ainda afirmou que “apesar de muitas diferenças permanecerem, esses são tempos difíceis para o nosso país, e eu assegurei a ele (Obama) esta noite que farei tudo que estiver ao meu alcance para ajudá-lo a nos liderar através dos muitos desafios que enfrentamos. Eu conclamo todos os americanos que me apoiaram a juntarem-se a mim, não apenas congratulando-o, mas oferecendo ao nosso próximo presidente a nossa boa vontade e esforço para encontrar caminhos [...] Por favor, acreditem quando eu digo que nenhum interesse nunca significou mais pra mim do que este”. McCain deixou ainda mais belo este momento que entrará para a História.

sexta-feira, 31 de outubro de 2008

Drops - Outubro

Ode a Kassab (por Lucia Hippolito)

É incrível como os especialistas em política da mídia reproduzem exatamente o mesmo discurso, chegam às mesmas conclusões (que nunca são minimamente embasadas) e trocam suas posturas como quem troca de camisa. Comentaristas como Lucia Hippolito, Cristiana Lobo, Alexandre Garcia, Gilberto Dimenstein, Eliane Cantanhede, Josias de Souza, Noblat, enfim, as vozes dos veículos de comunicação de massa, exibem impressionante sincronismo nas suas interpretações. Apontam José Serra, ou a Oposição, como os vencedores das eleições 2008, mas nunca mostram um gráfico, uma estatística, algo concreto que respalde suas afirmações. Até porque, quando se recorre aos dados, o que vemos é aumento do PT e diminuição do PSDB e do DEM. Na Globo News, no programa Estúdio i, Lucia Hippolito, sempre tão combativa e crítica (?), teve a oportunidade de fazer uma pergunta a Gilberto Kassab. Lucia poderia fazer inúmeras perguntas que seriam do interesse do cidadão paulistano. Mas preferiu fazer a seguinte intervenção: “ Eu queria um pouco conversar com o Sr. sobre o peso da responsabilidade de ser o prefeito mais votado de toda a história de São Paulo!“ Vejam se tem cabimento! Pura babação de ovo em pleno canal de jornalismo. Vocês conseguem imaginar uma pergunta dessa ao Presidente Lula? “Presidente, como o Sr. se sente com esta aprovação recorde de 80%?” O máximo que os especialistas da mídia falam sobre a popularidade do presidente é que ela se deve aos programas assistencialistas do Governo.

Eu já sabia!

Muita gente ficou bastante surpresa com algumas reviravoltas destas eleições. Mas este blog já adiantou muita coisa inesperada! Por exemplo:

=> Gabeira no segundo turno:

Ainda em 16 de agosto, quando Crivella liderava as pesquisas com folga (28 pontos) e Jandira estava em segundo lugar, eu disse aqui: "... creio que o cenário eleitoral de hoje, no Rio de Janeiro, está maquiando o que acontecerá no dia da votação. Ao contrário do que muitos pensam, acho que o único realmente garantido no segundo turno é Eduardo Paes. [...] Crivella tem um eleitorado fiel (literalmente), no entanto, não deve apresentar crescimento. Digo isso baseado no tempo de propaganda eleitoral de que o Bispo dispõe: 1 min e 56 s. Muito pouco! A segunda colocada, Jandira Feghali, tem 2 min. e 32 s., por isso também deve cair cada vez mais até a votação. [...] Gabeira tem a segunda maior fatia de horário eleitoral, 4 min. e 50 s., é um bom tempo e pode alavancar a candidatura..." Depois, no dia 21 de setembro, reiterei que "... Gabeira ou Molon podem ser a grande surpresa destas eleições. O número de eleitores indecisos ainda é expressivo...“ Dava pra perceber que os indecisos iriam fazer a diferença na hora H, provocando uma surpresa. No caso, sempre é algum candidato novo (como Gabeira ou Molon). O que fez a diferença pro Gabeira foi mesmo o tempo de TV que era o segundo maior, perdendo apenas para o do Eduardo Paes.

=> Virada em Salvador:

Na capital baiana, tudo mudou! Existiam 4 candidatos competitivos (mais o do PSOL), os dois que começaram muito bem nas pesquisas foram colocados para trás (ACM e Imbassahy), e os dois que tinham pior desempenho inicialmente passaram para o segundo turno (João Henrique e Pinheiro). Entretanto, já em 16 de JULHO, antes mesmo de o horário eleitoral começar, eu disse: "É curioso que um candidato do PSDB e outro do DEM sejam tão fortes em uma região em que Lula é tão popular..." Os que tinham melhores condições de pregar uma parceria com Lula eram: o candidato do PT, por razões óbvias, e o candidato do PMDB, porque o partido uniu-se a Jacques Wagner para tirar o Carlismo do Governo da Bahia em 2006. Acabou que os partidos de oposição, mesmo tendo subitamente trocados seus críticas por elogios a Lula, ficaram de fora do segundo turno em Salvador.


=> Pseudo-liderança em Belém:

Em Belém, as pesquisas alastravam um cheiro fortíssimo de manipulação das brabas. Neste caso, não registrei minhas desconfianças no meu blog, mas fiz um comentário no Blog do Espaço Aberto, que depois foi publicado como uma postagem. Há menos de 3 semanas para o dia da votação, foi divulgada uma pesquisa Ibope em que Valéria Pires Franco, do DEM, liderava com 25% das intenções de votos, Duciomar tinha 23, Priante apareceu com 16 e Mário ficou com apenas 13. Depois, já na quase véspera da votação, o Ibope mostrou Valéria no segundo lugar, com 18 pontos (ainda assim, bem à frente de Priante e Mário, que apareceram com 12). Porééém, eu bem que alertei o seguinte: “Acho muito mais provável que Valéria tivesse algo em torno destes 18 pontos desde o começo, mas o veículo de comunicação/Instituto quis enfiar goela abaixo do público que a candidata do DEM estava nas alturas. Com a possibilidade de manipulação de até 8 pontos, graças à famigerada "margem de erro" (especialmente ampla em Belém), fica fácil montar diversos cenários. Quanto mais próximo do dia D, mais fiel à realidade precisam ser as pesquisas. De qualquer forma, não será nenhuma surpresa se o resultado do TRE for bastante diferente do que é alardeado pela ORM.

Os Tops das Eleições 2008

=> Top 5 - as maiores derrotas:
1. Geraldo Alckmin, PSDB (SP). Candidato à presidência há 2 anos, favorito absoluto e não chegou nem ao segundo turno.
2. ACM Neto, DEM (Salvador). Liderou a campanha inteira, ficou fora do segundo turno e mostrou que o Carlismo minguou na Bahia.
3. Fátima Bezerra, PT (Natal). Tinha o maior tempo de TV, apoio do atual prefeito, da Governadora e do Presidente Lula, mas foi derrotada no primeiro turno.
4. Valéria Pires Franco, DEM (Belém). Brigou pela ponta das pesquisas a campanha inteira, mas terminou em quarto lugar, com 13%, quase ultrapassada pelo candidato do PPS, que ficou com 11%.
5. César Maia, DEM (Rio). Depois de ter administrado o Rio por 3 vezes, César Maia não conseguiu eleger sua candidata (que ficou com 3% dos votos válidos, em sexto lugar), e deixa a prefeitura carioca rejeitadíssimo pelos eleitores.

=> Top 5 - as maiores surpresas:
1. Fernando Gabeira, PV (Rio). Começou a campanha com fraco desempenho nas pesquisas, mas não foi eleito por uma diferença mínima.
2. Leonardo Quintão, PMDB (Belo Horizonte). Forçou um segundo turno que parecia improvável na capital mineira e chegou a liderar as pesquisas contra o candidato do prefeito e do governador.
3. Kassab, DEM (São Paulo). Saiu de 8% de intenções de votos nas pesquisas para uma reeleição com mais de 60% dos votos válidos no segundo turno.
4. Flávio Dino, PC do B (São Luís). Chegou a registrar 4% nas pesquisas, mas apresentou forte crescimento e chegou ao segundo turno. Flávio Dino terminou com 44% dos votos válidos.
5. Priante, PMDB (Belém). Quando todos esperavam um segundo turno entre o atual prefeito, Duciomar, e a candidata do DEM, Valéria Pires Franco, Priante passou para o segundo turno na capital parense.

quinta-feira, 30 de outubro de 2008

A mídia nas eleições 2008

Eu imagino que seja muito difícil para os jornalistas fazer a cobertura de uma eleição. Ao falar dos candidatos, é obviamente importante que o jornalista não tome partido e possa informar o público de maneira isenta, sem vínculos com grupos políticos. É muito importante também sempre abrir espaço para os diferentes pontos de vista e não apenas reproduzir o discurso de algum candidato. Esses são preceitos básicos, não apenas do profissionalismo jornalístico, mas da própria Democracia. Os meios de comunicação precisam servir como fontes de informação independentes para os eleitores que ainda estão indecisos, e ao mesmo devem fazer com que eleitores de diferentes posicionamentos sintam-se dignamente representados. Tudo isso parece ser um consenso, mas nem sempre é possível observar na prática. Por um lado, é natural que um jornalista ou um comentarista político deixe transparecer suas preferências partidárias. Afinal, são seres humanos como qualquer um de nós, possuem suas opiniões e não podem abstrair-se delas. Por outro lado, muitos dos comentaristas políticos clássicos forçam a barra, tiram conclusões bizarras e não conseguem demonstrar razoavelmente o que estão afirmando. São exemplos deste último caso que eu procuro reunir neste texto.

Começo com exemplos nem tão graves, mas que revelam a quebra de um padrão. Considerando esta isenção especialmente necessária durante as eleições, é comum que a Imprensa especifique a autoria de determinada informação, ao invés de publicar como se fosse uma afirmativa do próprio jornalista. Por exemplo, dificilmente uma reportagem vai afirmar “Marta quebrou a prefeitura de São Paulo”. Uma reportagem fala: “Segundo Kassab, Marta quebrou a prefeitura de São Paulo”. E vice-versa: “Segundo Marta, Kassab recebeu a prefeitura com as contas em ordem”. Por mais que se trate de um assunto concreto – a situação fiscal de uma prefeitura – a Imprensa deixa explícita a autoria da afirmação, para respeitar as diferentes versões do mesmo fato. Isso faz parte da gramática jornalística. Em reportagem do dia 23.10, o UOL relata que manifestantes da Vila Formosa receberam o prefeito de São Paulo, Gilberto Kassab, com vaias e protestos, por causa de um CEU (Centro Educacional Unificado) que foi não foi entregue no prazo prometido. O texto refere-se a um “suposto atraso”, ou seja, não confirma se há de fato um atraso na obra ou não.

Sobre uma mulher que chamou o prefeito de mentiroso, a reportagem diz que ela “se identificou como dona-de-casa”. Novamente, a matéria não assume responsabilidade nem mesmo sobre a profissão da manifestante. Para não reproduzir as críticas da campanha de Marta Suplicy, a reportagem do UOL não afirma categoricamente se há atraso na obra, nem garante que a manifestante citada é de fato uma dona-de-casa, como a própria havia alegado. Entretanto, procedendo de maneira diferente, em matéria do dia 22.10, a Folha On Line (mesmo grupo do UOL) afirma – ela própria – que o atual prefeito de SP, Gilberto Kassab (DEM), ao pedir aos eleitores que não votem nele caso seja candidato em 2010, deu mais uma prova de que irá cumprir os quatro anos de mandato na prefeitura caso seja reeleito. O jornalista, sem transferir autoria, nas suas próprias palavras, afirma que o candidato deu uma prova (!!!) de que irá cumprir os 4 anos de mandato. Em primeiro lugar, é estranho que o jornalista simplesmente reproduza o discurso do DEM; depois, isso não é nenhuma prova, já que o próprio Serra em 2004 fez a mesma recomendação de que os eleitores poderiam não votar mais nele caso saísse da prefeitura, no entanto, em 2006 foi para o Governo do Estado.

Também verificamos imensa disparidade por parte da mídia na reação ao vídeo em que a campanha de Marta Suplicy questiona, dentre outras coisas, a vida pessoal de Kassab, perguntando se o eleitor sabe se ele é casado ou tem filhos. O número de reportagens, editoriais e comentários criticando a petista representaram uma verdadeira avalanche. Há quatro anos, o PSDB publicou em seu site uma nota falando em “Dona Marta e Seus Dois Maridos”, fazendo referência ao fato de Marta ter se separado do Eduardo Suplicy e se casado com Luis Favre. A mídia pouco comentou a atitude da campanha dos tucanos e, por muitas vezes, também invadiu a vida pessoal de Marta e seu novo marido. Tudo isso está ricamente demonstrado em uma postagem do blog O Biscoito Fino e a Massa. Eu sei que qualquer crítica à Imprensa, nestas circunstâncias, pode parecer uma defesa da campanha petista. É, realmente, uma linha tênue. O PT cometeu um ato abominável ao pautar a vida pessoal do adversário, promoveu um retrocesso no debate eleitoral. Isso é inquestionável, mas não posso deixar de registrar este episódio, que representa um dos maiores exemplos de partidarização da mídia já vistos.

Outra coisa que me incomoda bastante são as avaliações dos resultados das eleições 2008. É lugar comum entre os especialistas da mídia que Marta sofreu, mais que uma derrota eleitoral, uma derrota política. Porém, a versão é outra para Geraldo Alckmin, que era favorito absoluto para governar a capital paulista, já que Kassab começou a campanha com 8% das intenções de votos e Marta tem um teto muito claramente definido pela sua forte rejeição. Para a surpresa de todos, o tucano sequer chegou ao segundo turno. Entretanto, na análise de Dora Kramer, em editorial do Estado de São Paulo do dia 04.10, o tucano sai das eleições 2008 fortalecido, já que “se exibiu. De todo modo está na boca do povo”. Alckmin foi candidato à presidência há apenas 2 anos, contrapôs-se à uma administração que foi conquistada pelo seu próprio partido, e acabou sofrendo uma derrota retumbante! Mas, de todas as manifestações partidárias de profissionais da mídia, nenhuma foi tão acintosa quanto a de Alexandre Garcia no Jornal Hoje do dia 27.10. Outro lugar comum nas análises midiáticas sobre os resultados de 2008 é a conclusão de que José Serra foi um dos grandes vencedores (destaque de Lucia Hippolito em seu blog e de Gilberto Dimenstein em sua coluna, por exemplo).

Alexandre Garcia foi além, disse que “a oposição” ao Governo Lula sai fortalecida do pleito municipal, porque venceu em São Paulo. O comentarista disse ainda que essa eleição mostrou que o Presidente não transfere prestígio, citando exemplos de cidades em que Lula apoiou candidatos que saíram derrotados. Na realidade, tanto o DEM quanto o PSDB diminuíram a quantidade de prefeitura que administram, enquanto o PT ampliou. Certamente, São Paulo é a cidade mais importante do país, mas não é mais importante que centenas de outras cidades juntas! O Alexandre Garcia não menosprezou apenas o PT ou o PMDB, menosprezou principalmente as outras capitais e cidades. Os exemplos escolhidos pelo comentarista para medir a transferência de prestígio de Lula foram totalmente tendenciosos. Se Lula perdeu em várias cidades, ganhou em tantas outras. Além disso, praticamente NENHUM grande candidato este ano falou mal do Governo (nem mesmo Alckmin), o que confirma e realimenta a força do Presidente Lula. Alexandre ainda tenta confundir o eleitor ao misturar sucessão municipal com a presidencial, nas quais pesam questões totalmente diferentes. O mais irônico é que o comentarista conclui falando em “moralidade”. Simplesmente repulsivo!

quarta-feira, 22 de outubro de 2008

Eleições 2008 - Resultados

1) As Prefeituras
Quando consideramos os resultados das eleições 2008, três conclusões são bem nítidas: PMDB manteve e até ampliou a liderança no rank das prefeituras. O PT apresentou um forte crescimento, passando da 5º para a 3º posição. O DEM prossegue na sua trajetória declinante. Na lista abaixo, podemos acompanhar a evolução dos partidos na quantidade de prefeitos eleitos. Os números correspondem às eleições de 2000, 2004, 2008:

Número de prefeituras conquistadas por partidos:
Ano:-----------2000-------------------2004-----------------2008
1º PMDB:.....1.257..........=>..........1054.........=>........1.195
2º PSDB:..... ...990..........=>.............861........=>..........785
3º PT*:...........187..........=>.............399........=>..........548
4º PP:.............618..........=>............548........=>...........547
5º DEM:.......1.028..........=>............794........=>...........495

Fonte: UOL (Os números de 2008 ainda são referentes ao 1º turno, apenas. De acordo com a fonte utilizada, pode haver divergência nos números. Especialmente os registros referentes às eleições mais antigas apresentam algumas imprecisões. De qualquer forma, dá pra verificar as linhas declinantes ou ascendentes dos partidos).

*A terceira posição do Rank pertence ao PT, segundo o UOL. Mas nos dados do G1, a terceira posição é do PP (PP: 549 / PT: 547). Como a diferença entre estes dois partidos em 2008 é mínima (de 1 prefeitura no UOL e de 2 prefeituras no G1), dá pra colocar o PT a frente do PP com tranqüilidade, visto que o Partido dos Trabalhadores está melhor posicionado para o 2º turno. Portanto, mesmo no G1, o PP deverá ficar na 4º posição.

2) Total de votos recebidos
Considerando o total de votos recebidos por partidos, em 2008, para o cargo de prefeito, o PMDB novamente fica na liderança, o PT passa para o segundo lugar e o PSDB fica em terceiro. É importante destacar que, nos últimos pleitos municipais, PT e PSDB foram os que receberam mais votos neste quesito, já que são partidos mais fortes em grandes cidades. Entretanto, este ano, foram superados pelos PMDBistas.

Total de votos recebidos pelos partidos para o cargo de prefeito:
Ano: 2008
1º PMDB:__21.085.813
2º PT:____19.141.226
3º PSDB:__15.517.033
4º DEM:___11.659.434
5º PSB:____6.762.373
6º PP:_____6.301.901

Fonte: UOL

3) O G-79
Outro rank interessante é o do chamado G-79, ou seja, o conjunto das 79 cidades brasileiras mais importantes, incluindo as 26 capitais e 53 municípios com mais de 200 mil habitantes. Nesta amostra dos maiores municípios, o PT largou na frente no primeiro turno:

Número de prefeituras do G-79 conquistadas por partidos:
Ano: 2008 / primeiro turno
1º PT: 13 (disputam o 2º turno em primeiro lugar: 11; disputam o 2º em segundo lugar: 4)
2º PMDB: 9 (disputam o 2º turno em primeiro lugar: 7; disputam o 2º em segundo lugar: 4)
2º PSDB: 9 (disputam o 2º turno em primeiro lugar: 4; disputam o 2º em segundo lugar: 7)
4º DEM: 4 (disputam o 2º turno em primeiro lugar: 1; disputam o 2º em segundo lugar: 1)
5º PSB: 3 (disputam o 2º turno em primeiro lugar: 3; disputam o 2º em segundo lugar: 3)
5º PP: 3 (disputam o 2º turno em primeiro lugar: 11 ; disputam o 2º em segundo lugar: 4)

Fonte: Blog do Fernando Rodrigues

Além disso, considerando apenas as capitais, o PT largou na frente com uma boa folga no primeiro turno: elegeu 6 prefeitos. Em segundo lugar, empatados, estão PMDB, PSDB e PSB, com 2 capitais. O único partido que ainda tem condições de ultrapassar o PT nas capitais é o PMDB, dependendo do seu desempenho no segundo turno. De qualquer forma, estes dados desmoralizam por completo reportagens como a da Tribuna da Imprensa, que afirmou que o “PT deixa as urnas com face mais rural”, ou jornalistas como Políbio Braga, para quem “o PT virou o Partido dos grotões”. É verdade que o Partido dos Trabalhadores expandiu-se, também, para pequenos municípios, mas ainda figura como uma das principais legendas das capitais e grandes cidades, ao lado do PMDB. Mesmo quando não vence, freqüentemente, o partido do Presidente tem bons desempenhos nas regiões mais populosas.

4) Vereadores
Nas eleições para o Legislativo, PDMB, PT e PSDB, naturalmente, permanecem nas melhores posições. Geralmente, os partidos dos principais candidatos aos cargos majoritários são os que recebem mais votos para o legislativo. Neste quesito, os tucanos superam os petistas, mas os PMDBistas continuam na ponta do rank:

Total de votos recebidos pelos partidos para o cargo de vereador:
Ano 2008:
1º PMDB: 11.976.280
2º PSDB: 10.717.527
3º PT: 10.532.965
4º DEM: 8.000.480
5º PP: 7.246.502
6º PDT: 6.728.274
Considerando os vereadores eleitos apenas nas capitais, o PT está a frente com 79, o PMDB elegeu 76, o PSDB ficou com 73, o PSB tem 48 vereadores eleitos nas capitais e o DEM fica em quinto lugar, com 46.

5) Balanço Final:
Nas eleições para as prefeituras deste ano, o PMDB confirmou sua posição de maior partido brasileiro: maior bancada no Senado, maior bancada na câmara federal, maior número de Governadores eleitos e, agora, mantém o maior número de prefeitos e vereadores eleitos.

O PT apresentou um forte crescimento no número de prefeituras que administra, o que converge com o crescimento dos petistas no Congresso. Entretanto, o Partido que ocupa hoje a presidência ainda perde para os tucanos, tanto no número de Governadores (6 a 5, para o PSDB), quanto no número de prefeitos eleitos. Se a tendência permanecer nas eleições municipais de 2012, pode ser que os petistas superem os tucanos na esfera municipal.

Naquilo que diz respeito à diminuição da oposição ao Governo Lula, certamente, a tragédia do DEM é a maior. Hoje, a legenda está com menos da metade do número de prefeituras que já teve em mãos. O mesmo pode ser afirmado a respeito da bancada do ex-PFL na câmara federal. Dentre os governadores, apenas 1 é do DEM (o do Distrito Federal). A vitória de Kassab em São Paulo vai impedir o sepultamento da legenda, e o número de Senadores ainda é expressivo. Entretanto, o DEM (irmão siamês do PP, ambos frutos da antiga Arena, partido da Ditadura) perde cada vez mais espaço na Democracia brasileira.

domingo, 19 de outubro de 2008

Lindemberg, dá um tchauzinho?

Daria para aceitar a hipótese de um crime motivado por amor – amor não seria o termo mais adequado, é a paixão que pode fazer uma pessoa sair totalmente do seu estado normal e cometer atos inconseqüentes – mas tendo terminado da forma que terminou, não dá mais pra cogitar esta hipótese. É possível que um rapaz desesperadamente apaixonado recorra às últimas conseqüências para conseguir conversar com a garota. Paixão e ódio são duas faces da mesma moeda, é relativamente fácil passar de um pro outro. Mas, mesmo nestas circunstâncias, se ele realmente gostasse dela, jamais seria capaz de machucá-la, seria o primeiro a impedir que algo de ruim acontecesse com a menina. Pelo contrário, Lindemberg assassinou Eloá. Pode ser que o sentimento de posse tenha falado mais alto, algo na linha “se eu não posso tê-la, ninguém mais terá”; pode ser que ele tenha se assustado com a bomba da polícia e atirado em um ato de desespero e medo; e pode ser que as coisas não tenham terminado da maneira que ele gostaria e, contrariado, resolveu descontar a raiva nas meninas.

O que mais me revolta neste caso é que o Lindemberg alegava que a menina, Eloá, havia o abandonado no momento em que ele mais precisava. A menina é menor de idade! Não é responsável nem por ela mesma, quanto mais por namorado! É praticamente uma criança! Tudo bem que com 15 anos, tecnicamente, é uma adolescente, mas na minha opinião está muito mais próxima de uma criança que de uma mulher! E ele falava como se fosse uma adulta, que deveria responder por sua falta de consideração. É claro que ele continuaria errado, mesmo que Eloá fosse mais velha. Mas o fato de ela ser tão nova é um tremendo agravante! Um homem de 22 anos na cara cobrando responsabilidades de uma menina de 15! Não tem o menor cabimento. Pra piorar, ele acaba atirando na moça e na amiga. Isso depois de já ter espancado e, possivelmente, torturado a ex-namorada por horas. A polícia pedia pra falar com as meninas por telefone, mas elas podiam perfeitamente falar apenas o que o seqüestrador mandava ou permitia. Ou seja, pode ser que todas as 100 horas tenham sido de sofrimento físico para Eloá. Não sabemos nem mesmo se os dois tiros foram dados apenas naqueles últimos momentos.

Mais uma vez, a postura da mídia foi uma brincadeira, uma verdadeira palhaçada, um circo. Espetacularização do que não é espetáculo, glamurização do que não é glamuroso, a famigerada busca incondicional por audiência. Um caso como esse, em que a cobertura da mídia pode prejudicar a ação da política, deve ser noticiado com todo o rigor, cuidado e formalidade. A coisa é muito séria! E nem todo mundo se dá conta disso. A entrevista da Record com o seqüestrador já havia sido extremamente inconseqüente e inadequada. No Hoje em Dia, da mesma emissora, o apresentador Brito, ficava anunciando de 5 em 5 minutos que o rapaz estava prestes a libertar as garotas (óbvio, pra segurar a audiência). E se o Lindemberg estivesse assistindo? E se tomasse aquilo como uma provocação? E se, de fato, estivesse prestes a libertar as meninas, mas só porque o cara da TV falou, não vai mais! Esse tipo de cobertura da mídia engrandece o criminoso, faz ele se sentir muito poderoso, dá a oportunidade de medir forças. O seqüestro estava em andamento! Isso faz toda a diferença, não dá pra brincar com a coisa.

Nada foi mais imperdoável do que a atitude da apresentadora Ana Hickmann. No afã de segurar a audiência, no ápice do sensacionalismo, na tentativa de vender essa ilusão de que eles estão “no controle da situação”, a modelo afirmou que o seqüestrador não faria mal às garotas. Para confirmar sua tese, Ana Hickmann pediu que Lindemberg acenasse da janela, tipo, desse um tchauzinho, caso estivesse prestigiando a Record naquele momento. Tem cabimento? Excessos são normais, profissionais de todas as áreas cometem erros. Mas, na mídia brasileira, o que deveria ser exceção é regra, é deliberado, de praxe. O problema não é um conjunto de falhas pontuais, é a postura. Falta responsabilidade, seriedade, critério. Muitos casos anteriores já mostraram este mesmo cenário, e nada mudou. Provavelmente voltaremos a falar tudo isso em casos futuros. O lado bom (se existir) é que tudo vai ficando mais flagrante, o público e pessoas da própria mídia vão percebendo que estes descalabros dos meios de comunicação têm conseqüências sérias. Pelo menos, pode servir para alertar que a mídia é, sim, passível de críticas, não está acima do bem e do mal e precisa ser observada de maneira crítica na sua relação com a sociedade.

terça-feira, 30 de setembro de 2008

Drops - Setembro

Fim da hegemonia da Globo.

Não é mais nenhuma surpresa que a audiência da Rede Globo vem caindo acentuadamente nos últimos anos. A emissora ainda é a líder, com boa folga, mas a concorrência vem crescendo. Recentemente, reparei em outro indício da decadêndia global... Há pouco tempo atrás, seria impensável uma campanha nacional com um artista que não fosse da Globo. O máximo que se via eram comerciais com artistas de outras emissoras também. Entretanto, duas campanhas quebraram esta gramática. Uma é a campanha contra a Rubéola, realizada pelo Ministério da Saúde (portanto, pelo Governo Federal). Apesar de contar com artistas da Globo, a campanha contra a Rubéola dá destaque à Karina Bacchi, Nathália Rodrigues e Preta Gil, todas da Record. A foto oficial da campanha traz as três moças em destaque, e o Mobiliário Urbano utilizado para representar todos os outros é o de Karina. Além disso, a musa das eleições 2008, eleita pelo TSE, é Lavínia Vlasak, outra estrela da Record. Foi-se o tempo em que apenas globais participavam de campanhas "oficiais", pelo menos neste Governo...


Sara Pailing

A vice da chapa republicana para as eleições presidenciais dos EUA já causou bastante polêmica, apesar de ter sido apresentada ao público há pouco tempo. Sarah Pailing começou empolgando a miltância, mas já deu algumas entrevistas desastradas. O próximo desafio da candidata a vice será protagonizar, junto a Joe Biden, um dos debates mais esperados, possivelmente, de toda a história da Democracia americana. O embate deve quebrar recordes de audiência, e muito especialistas apontam um potencial de gafes, de ambos os lados. Particularmente, o que mais me incomoda na Sarah, assim como em todos os republicanos, é essa defesa explícita à Guerra no Iraque. Pailing tem um filho com idade para ser chamado ao combate, e tenho certeza que ela seria a primeira a enviar o rapaz pro meio da Guerra. É esse patriotismo bizarro que, muitas vezes, custa a vida de muitos jovens. Milhares de rapazes e moças morrem, ou voltam para casa amputados, mutilados, deformados, incapazes... Algumas medalhas são distribuídas, rios de dinheiro são pagos em indeniza
ção, algumas homenagens são feitas, e fica por isso mesmo. Por mais incrível que pareça, a família chega até a sentir orgulho da situação. Talvez seja melhor mesmo sentir "orgulho". Revolta ou indignação não teriam onde caber.

O que é notícia? E a quem a notícia interessa?

Jornalista tem mania de dizer que mostra tal coisa porque "é notícia". Lógica complicada. Não passa a ser notócia exatamente porque o jornalista mostra? Enfim... A Folha de São Paulo encomendou uma pesquisa ao Datafolha, para saber qual programa político dos candidatos de SP era melhor avaliado pelo eleitor. Resultado: o prgorama de Marta Suplicy apresentou o melhor desempenho. Qual foi a notícia da Folha? "Programa de TV de Maluf tem pior avaliação, segundo Datafolha". Pra mim, parece óbvio que o destaque deveria ser para o melhor colocado no levantamento. A não ser que aparecesse outro fato inusitado, muito relevante. Qual critério justifica o destaque para o pior colocado? Ao longo do texto, os resultados são detalhados. Mas, se fosse outro o candidato que tivesse seu programa melhor avaliado, acredito que isso seria colocado no título da matéria. A Marta é, de longe, a figura pública da política mais perseguida pela mídia. Muito mais que o Lula, por exemplo. Há muitos excessos e distorções (vários registrados neste blog) contra o Governo e contra o PT. Animosidade mesmo é contra a Marta.

AVISO

Estou viajando e só voltarei para casa em Dezembro. Farei o possível para continuar atualizando o blog durante este período, mas não sei se, quando e como poderei fazer isso. É provável que as formatações de alguns textos mudem, já que utilizarei máquinas diferentes. Se alguém tiver problemas para ler as postagens, por favor, avise nos comentários. Devo demorar a responder, mas farei isso assim que der.

Obrigado! T+

domingo, 21 de setembro de 2008

Eleições 2008 - Considerações





1) São Paulo – Kassab x Alckmin

Em São Paulo, Kassab está fazendo o que parecia impossível no início da campanha e pode deixar Alckmin fora do 2º turno. Para o PSDB, seria uma derrota retumbante, totalmente imprevisível. O DEM já vem diminuindo a uma velocidade impressionante nas últimas eleições. Em 2008, pode não ganhar em nenhuma capital. Perder a prefeitura de São Paulo intensificaria a declínio DEMocrata.

2) Porto Alegre – Manuela x Rosário
Em Porto Alegre, o eleitor mais à esquerda está dividido principalmente entre Manuela d’Ávila, do PC do B, e a petista Maria do Rosário. Manuela tem maior aceitação entre os jovens, Rosário tem uma militância mais tradicional no Rio Grande do Sul. O último debate que a Band realizou na capital gaúcha demonstrou que as candidatas da esquerda vão deixar o atual prefeito um pouco de lado para concentrar esforços na briga entre si.

3) Salvador – João Henrique Carneiro x Pinheiro
Em Julho, comentei que era estranho que as duas candidaturas melhor posicionadas em Salvador fossem de partidos da oposição ao Governo Lula, já que o presidente é bastante popular na Bahia. À época, ACM Neto do DEM e Imbassahy do PSDB lideravam as pesquisas. Dois meses depois, o tucano passou ao quarto lugar, agora quem disputa a vaga no 2º turno é o prefeito João Henrique do PMDB e o candidato do PT, Walter Pinheiro. Difícil prever quem será o adversário de ACM Neto.

4) Natal – Micarla x Fátima Bezerra
Micarla, do PV, era apontada como a grande favorita à prefeitura no início do pleito. Hoje, o quadro aponta para forte polarização. Na última pesquisa Datafolha, Micarla ainda fatura a eleição no primeiro turno, mas há uma clara tendência para a segunda etapa da disputa. Um candidato desacreditado que consegue forçar um segundo turno fica bastante fortalecido. Em Natal, a única certeza é a vitória de uma mulher.

5) Rio de Janeiro – Crivella x Jandira x Gabeira x Molon.
Semanas atrás, quando Crivella ainda liderava as pesquisas com até 28% dos votos, adiantei que o único candidato realmente garantido no segundo turno carioca era Eduardo Paes. Hoje, as pesquisas confirmam isso. Entretanto, a outra vaga ainda está em aberto. Crivella cai, mas ainda pode chegar ao dia da eleição em segundo lugar. Jandira pode atrair o voto estratégico da esquerda. Gabeira ou Molon podem ser a grande surpresa destas eleições. O número de eleitores indecisos ainda é expressivo.

=> O que seria melhor para a Marta? Enfrentar Alckmin ou Kassab?

Por um lado, Kassab vem em um forte crescente e não dá pra dizer até onde ele pode chegar. Por outro lado, o PSDB tem muita força em São Paulo e Alckmin foi um Governador bem avaliado. Além destes fatores mais abrangentes, é necessário analisar os desempenhos dos dois candidatos especificamente nestas eleições. Desde que o horário eleitoral começou, Kassab praticamente triplicou suas intenções de votos, saiu de 8% para 22% na última pesquisa. Já Alckmin começou com mais de 30%, e hoje briga para permanecer na casa dos 20. Apesar disso, acredito que Alckmin tem mais chances contra Marta em um segundo turno. Aliás, acho que Marta só tem chances de ganhar se enfrentar Kassab. O candidato do DEM cresce principalmente por desfrutar da maior parte do Horário Eleitoral: mais de 8 minutos. A coligação do PSDB tem praticamente metade deste tempo. Além de quantidade, a questão também é qualidade. Kassab apresenta uma campanha eficiente e atrativa, animando seus eleitores e atraindo doações. Alckmin começou sem sal, sem críticas, sem destaque, desanimou a militância e doadores. Se for para o segundo turno, Alckmin trocará seus 4 minutos no horário eleitoral por 10, a militância ganhará estímulo e investimentos certamente virão ao encontro da campanha. Soma-se a isso o baixo índice de rejeição do tucano, o que faz toda a diferença em um segundo turno. Kassab
colocou em prática suas melhoras armas, já mostrou todo o seu arsenal. Alckmin não teve esta oportunidade, ainda não esgotou seu verdadeiro potencial eleitoral. De qualquer forma, a disputa no 2º turno de São Paulo será das mais acirradas.





Os candidatos Governistas levam ampla vantagem nas eleições municipais deste ano. O PT será o partido que sairá mais fortalecido de 2008. As expectativas de vitória para aliados de Lula, no primeiro turno, apresentam-se da seguinte forma:

Candi
datos do PT: Vitória, Recife, Fortaleza, Rio Branco, Porto Velho e Palmas.
Vice do PT: Goiânia, Belo Horizonte* e Aracajú.
Candidatos governistas: Boa Vista (PSB), João Pessoa (PSB) e Maceió (PP).

* Apesar de ter um vice do PT, o candidato do PSB, que lidera as pesquisas em Belo Horizonte, também é apoiado pelo Governador Aécio Neves, do PSDB. Portanto, a vitória do candidato é tanto uma vitória do PT quanto da oposição.





O único partido de oposição ao Governo com bom desempenho nas capitais é o PSDB. O cenário das prováveis vitórias oposicionistas, para o primeiro turno, é esse:

Candidatos do PSDB: Curitiba, Teresina e São Luís.
Candidatos oposicionistas: Campo Grande (PMDB).

sábado, 13 de setembro de 2008

Indignação seletiva - grampo x privacidade

Desde que a Veja publicou matéria acusando a Abin de fazer escutas ilegais nos telefones do presidente do STF, Gilmar Mendes, e de Senadores, a Agência tem sido alvo de sindicância e avaliações. Sua diretoria foi afastada definitivamente, após a revelação de que havia 52 agentes da Agência Brasileira de Inteligência na Operação Satiagraha, da Polícia Federal. Deduz-se que ajudar um delegado da Polícia Federal não pode ser uma das atribuições da Abin. Como pano de fundo de todo esta imbróglio está uma discussão maior: até onde vai o direito de agentes federais de fazer grampos telefônicos? Entrou em pauta a defesa das garantias individuais, dos direitos humanos e do respeito à privacidade. O Estado não pode mesmo devassar a vida particular de um cidadão, indiscriminadamente. Entretanto, é impossível, hoje, em uma sociedade tecnologicamente conectada, que a polícia abra mão de interceptações. Grampos precisam ser regulamentados, mas são indispensáveis.

Eu estranho, em primeiro lugar, que esta indignação contra a violação de garantias individuais surja, justamente, depois da prisão de um banqueiro poderoso, maior colarinho branco do Brasil. Toda esta investida contra a Polícia Federal não aconteceu depois do episódio dos grampos publicado pela Veja. Não, não! De cara, assim que a Operação Satiagraha foi divulgada, o delegado Protógenes e o Juiz De Sanctis começaram a ser enquadrados. O Senador Heráclito Fortes (DEM/PI) chegou a pedir a prisão de Protógenes. Muito antes da matéria da Veja, lá no dia 9 de agosto, a Globo News fez uma edição do Painel (programa do William Wack, excepcionalmente apresentado pela Mônica Waldvogel) cujo tema foi “As diversas formas de abuso de poder do Estado sobre o cidadão brasileiro”. Eu me pergunto: qual cidadão brasileiro? O Estado abusa diariamente de muitos cidadãos brasileiros. Incontáveis cadeias pelo país a fora não obedecem aos padrões estabelecidos pela ONU. Mulheres, menores de idade e homens são acomodados de qualquer jeito, muitas vezes, na mesma cela.

Claro, nesses casos, os indivíduos são pobres, não tiveram oportunidades decentes e não têm consciência dos seus direitos. Eu não quero cair numa demagogia barata. Violação de direitos humanos é grave e inadmissível em qualquer caso. Contra pobres ou ricos, suspeitos ou condenados. Aliás, esta é a principal luta dos direitos humanos: esclarecer que mesmo quem está dentro de uma cadeia é ser humano e tem direitos (até mesmo o Daniel Dantas). A Abin e a Polícia Federal NÃO estão acima da Lei. Muitas das críticas feitas são pertinentes, SIM. Há excessos que precisam ser corrigidos, certamente. Entretanto, os posicionamentos de vários políticos, do presidente do STF, e de parte da mídia contra as instituições investigativas podem jogá-las no descrédito, e até mesmo restringir os recursos utilizados por elas no exercício das suas funções. O que me assusta é essa possibilidade de a Polícia Federal ser tolhida. Quem ganha com isso? Quem tem a ganhar quando o trabalho de agentes da polícia é dificultado?

Parece que há uma indignação seletiva. Não é estranho que esta empreitada contra a Polícia Federal e Abin esteja acontecendo após a prisão de Dantas? Nós estamos falando do homem que mais corrompeu as instituições da Democracia brasileira. Dantas tem braços no PT, no PSDB, foi posto no mapa político pelo PFL, dá as cartas em setores do Governo Lula, tornou-se um magnata da comunicação com as privatizações de FHC, é protegido pelo presidente do STF, suborna agentes da Polícia Federal, tem verdadeiros escudeiros em veículos de comunicação de massa e, no Congresso, existe a famigerada “bancada Dantas”. Tudo isso pode ficar impune. A movimentação contra a Polícia Federal e Abin ajuda muito a defesa de Dantas nos julgamentos que ele terá de enfrentar. Os advogados do banqueiro já avisaram que vão pedir a anulação da Satiagraha. É evidente que todos os excessos e irregularidades das investigações federais devem ser punidos pelo Governo. Mas ver Daniel Dantas sair impune será, além de uma tremenda frustração, um das maiores derrotas da Democracia brasileira.