domingo, 19 de outubro de 2008

Lindemberg, dá um tchauzinho?

Daria para aceitar a hipótese de um crime motivado por amor – amor não seria o termo mais adequado, é a paixão que pode fazer uma pessoa sair totalmente do seu estado normal e cometer atos inconseqüentes – mas tendo terminado da forma que terminou, não dá mais pra cogitar esta hipótese. É possível que um rapaz desesperadamente apaixonado recorra às últimas conseqüências para conseguir conversar com a garota. Paixão e ódio são duas faces da mesma moeda, é relativamente fácil passar de um pro outro. Mas, mesmo nestas circunstâncias, se ele realmente gostasse dela, jamais seria capaz de machucá-la, seria o primeiro a impedir que algo de ruim acontecesse com a menina. Pelo contrário, Lindemberg assassinou Eloá. Pode ser que o sentimento de posse tenha falado mais alto, algo na linha “se eu não posso tê-la, ninguém mais terá”; pode ser que ele tenha se assustado com a bomba da polícia e atirado em um ato de desespero e medo; e pode ser que as coisas não tenham terminado da maneira que ele gostaria e, contrariado, resolveu descontar a raiva nas meninas.

O que mais me revolta neste caso é que o Lindemberg alegava que a menina, Eloá, havia o abandonado no momento em que ele mais precisava. A menina é menor de idade! Não é responsável nem por ela mesma, quanto mais por namorado! É praticamente uma criança! Tudo bem que com 15 anos, tecnicamente, é uma adolescente, mas na minha opinião está muito mais próxima de uma criança que de uma mulher! E ele falava como se fosse uma adulta, que deveria responder por sua falta de consideração. É claro que ele continuaria errado, mesmo que Eloá fosse mais velha. Mas o fato de ela ser tão nova é um tremendo agravante! Um homem de 22 anos na cara cobrando responsabilidades de uma menina de 15! Não tem o menor cabimento. Pra piorar, ele acaba atirando na moça e na amiga. Isso depois de já ter espancado e, possivelmente, torturado a ex-namorada por horas. A polícia pedia pra falar com as meninas por telefone, mas elas podiam perfeitamente falar apenas o que o seqüestrador mandava ou permitia. Ou seja, pode ser que todas as 100 horas tenham sido de sofrimento físico para Eloá. Não sabemos nem mesmo se os dois tiros foram dados apenas naqueles últimos momentos.

Mais uma vez, a postura da mídia foi uma brincadeira, uma verdadeira palhaçada, um circo. Espetacularização do que não é espetáculo, glamurização do que não é glamuroso, a famigerada busca incondicional por audiência. Um caso como esse, em que a cobertura da mídia pode prejudicar a ação da política, deve ser noticiado com todo o rigor, cuidado e formalidade. A coisa é muito séria! E nem todo mundo se dá conta disso. A entrevista da Record com o seqüestrador já havia sido extremamente inconseqüente e inadequada. No Hoje em Dia, da mesma emissora, o apresentador Brito, ficava anunciando de 5 em 5 minutos que o rapaz estava prestes a libertar as garotas (óbvio, pra segurar a audiência). E se o Lindemberg estivesse assistindo? E se tomasse aquilo como uma provocação? E se, de fato, estivesse prestes a libertar as meninas, mas só porque o cara da TV falou, não vai mais! Esse tipo de cobertura da mídia engrandece o criminoso, faz ele se sentir muito poderoso, dá a oportunidade de medir forças. O seqüestro estava em andamento! Isso faz toda a diferença, não dá pra brincar com a coisa.

Nada foi mais imperdoável do que a atitude da apresentadora Ana Hickmann. No afã de segurar a audiência, no ápice do sensacionalismo, na tentativa de vender essa ilusão de que eles estão “no controle da situação”, a modelo afirmou que o seqüestrador não faria mal às garotas. Para confirmar sua tese, Ana Hickmann pediu que Lindemberg acenasse da janela, tipo, desse um tchauzinho, caso estivesse prestigiando a Record naquele momento. Tem cabimento? Excessos são normais, profissionais de todas as áreas cometem erros. Mas, na mídia brasileira, o que deveria ser exceção é regra, é deliberado, de praxe. O problema não é um conjunto de falhas pontuais, é a postura. Falta responsabilidade, seriedade, critério. Muitos casos anteriores já mostraram este mesmo cenário, e nada mudou. Provavelmente voltaremos a falar tudo isso em casos futuros. O lado bom (se existir) é que tudo vai ficando mais flagrante, o público e pessoas da própria mídia vão percebendo que estes descalabros dos meios de comunicação têm conseqüências sérias. Pelo menos, pode servir para alertar que a mídia é, sim, passível de críticas, não está acima do bem e do mal e precisa ser observada de maneira crítica na sua relação com a sociedade.

6 comentários:

  1. Infelizmente no mundo de hoje muitas pessoas fazem tudo que puder para "aparecer". É preciso que valorizemos mais o ser que o ter.

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  2. Boa tarde!

    Seu blog é muito bom e achei o seu ponto de vista bem sensato.

    Numa situação como esta é normal haver uma comoção nacional e as pessoas começarem a agir de forma piegas e a mídia, sensacionalista.

    Não acho correto que os populares comecem a fazer comunidades no orkut para a garota como se ela fosse uma espécie de santa vítima da violência. Também não concordo com o circo conduzido dos meios de comunicação.

    O importante agora é respeitar o sentimento dessa família que está destruída.

    Sucesso para ti!

    http://garotapendurada.blogspot.com/

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  3. A mídia se meteu nessa caso de uma maneira...nossa, foi rídiculo. Já me bastava ter que ver a Ana Maria Braga ficar dando lição de moral para o sujeito (se ele estivesse assistindo, com certeza teria se irritado). Mas essa da Ana sei-lá-o-que eu não sabia.

    E esse é o Brasil, onde vc pode fazer o que quiser, não importando a situação.

    Abraços.
    ='-'=

    http://nerdezasaleatorias.blogspot.com/

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  4. Realmente...

    E vale ressaltar que o "pobre rapaz" (como enfatizou a mídia) namorava uma garota de 12 anos quando tinha 19...

    Na minha terra isso se chama pedofilia, mas enfim...

    Um abraço,

    Bruno Ganem
    www.ideiasdoganem.blogspot.com

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  5. A mídia transformou o que era um problema de polícia num reality show de horror.

    E nós todos temos responsabilidade, na medida que damos audiência à esse tipo de leitura irresponsável das coisas.

    muito boa a tua análise, abraço,

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  6. Um aspecto importante pouco foi levantado. A mídia televisiva mal mostrou a faixa no enterro que protestava pelos direitos das mulheres.

    Esse caso apenas reflete o machismo e a submissão da mulher. O Rapaz se sentia dono da menina, mas até ai nenhuma novidade já que o dono da familia inteira era o pai dela que decidiu não fazer um B.O. contra o Lindemberg porque tinha rabo preso com ele que já sabia do seu passado.

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