terça-feira, 18 de maio de 2010

Dedicando a vitória de Lula no Irã...

A vitória não é minha, mas eu gostaria de dedicar. Gostaria de dedicar a vitória do Lula nas negociações com o Irã ao advogado Ives Gandra da Silva Martins. Este senhor foi ao programa do Jô há dois meses, principalmente para desconstruir o Plano Nacional de Direitos Humanos. Mas, dentre várias coisas tipicamente de direita, Ives Gandra também desqualificou o diálogo que Lula mantém com líderes esquerdistas da América Latina e com Mahmoud Ahmadinejad. Para o advogado, não faz bem ao Brasil ter relações de proximidade com regimes como o cubano, o venezuelano, e muito menos o iraniano. Ives Gandra colocou ainda que, com esse tipo de relação, Lula estaria maculando sua carreira política, ameaçando o prestigio internacional que construiu nos últimos anos, e anulando as chances de ganhar um Prêmio Nobel da Paz (que seriam altas, não fossem estas companhias).

Pois bem, dois meses depois, verificamos que foi exatamente o diálogo que Lula insistiu em manter com o presidente do Irã que garantiu uma das vitórias diplomáticas de maior destaque dos últimos tempos. Lula aumentou mais ainda seu prestígio que já era enorme, e cacifou-se como um dos players da maior importância da geopolítica mundial. Gostaria de dedicar esta vitória também à Imprensa brasileira. Não foram apenas as nações mais ricas do mundo que viram com todo ceticismo e contrariedade as investidas de Lula no Irã. Também a direita e a mídia brasileiras, a todo o momento tratavam as negociações como uma piada. Inúmeras vezes vi jornalistas aqui fazerem o mesmo diagnóstico de Gandra sobre as relações entre Brasil e Irã: que seriam prejudiciais para nós, não trariam nenhum resultado e custariam a Lula o Prêmio Nobel da Paz.

Para ser mais preciso, cito João Domingos, do Estado de São Paulo, e o Cristiano Romero, do Valor Econômico, em participações no Fatos e Versões da Globo News. Mas estas interpretações foram absolutamente disseminadas nas análises midiáticas, até o momento em que Lula voltou com a vitória. Aliás, vejam a manchete de hoje do Estadão:”Brasil festeja acordo com Irã, mas para os EUA não muda nada”. Do Globo: “EUA insistem em sanções ao Irã apesar do acordo”. Sintomáticas. Os caras ficam remoendo esse ranço, essa má vontade para com a imensa maioria das conquistas do Governo. Não espero uma louvação, uma aclamação ufanista a Lula. Mas os jornais não abrem mão dessa rabugice, não dão o braço a torcer. O jornalismo brasileiro tem seguido o padrão do “mas”, do “apesar de”. “Emprego bate recorde, MAS impostos são altos”. Esta tem sido a tônica. Não beira o infantil?

Em relação a esta vitória diplomática de Lula, claro que é preciso ainda esperar maiores desdobramentos. Questões importantes, como a forma com que se dará a fiscalização por parte da agencia nuclear da ONU, ainda precisam ser mais bem esclarecidas. Mas esse tom amargurado na cobertura jornalística acaba ofuscando a própria função didática que teve a investida de Lula. O nosso presidente provou a eficiência de outra metodologia diplomática: apostar no diálogo para abordar países difíceis, como o Irã. O Oriente Médio é sempre, sumariamente, desqualificado, desacreditado como parte legítima para negociações. Não damos, a nós e a eles, a oportunidade de experimentar outro recurso que não o enfrentamento. O Irã sempre foi visto pela direita ocidental como um alvo a ser combatido e destruído; uma verdadeira afronta a todos os nossos valores modernos mais fundamentais e intocados. Lula quer mostrar a viabilidade de outro caminho, o da superação das diferenças, o da paz.

Correção (25 de maio): Por sugestão do leitor Charles, preciso corrigir que não foi o Cristiano Romero quem criticou o diálogo entre Brasil e Irã, no Fatos e Versões. Foi o Gustavo Paul, do O Globo, no mesmo programa em que o Cristiano participou (do dia 20 de março). As palavras do Gustavo Paul foram "Resolver problemas onde ninguén vai, isso é muito complicado, porque também pode dar com os burros n'água. Quer dizer, se esse Ahmadinejad resolve de fato implementar uma bomba atômica, e criar um problema, o Brasil vai ficar como o amigo do doido."

Link para esta edição do programa:
http://video.globo.com/Videos/Player/Noticias/0,,GIM1233509-7823-SERRA+ADMITE+CANDIDATURA+A+PRESIDENCIA,00.html


3 comentários:

  1. Sr. Crápula,
    Permita associar-me ao senhor na dedicatória da conquista do presidente Lula, ao TFPista-mor, o nazi-facista Gandra Martins. Sujeito asqueroso, a quem se aplica muito bem a fala de Cristo: "Raça de víboras, sois sepulcros caiados por fora e cheios de podridão por dentro"! Obrigada!

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  2. Companheiro,

    eu vi, por pura coincidencia, o Fatos & Versoes em que o Cristiano Romero comentou a questao do Ira e foi totalmente diferente do que voce diz. Eu ateh achei corajoso da parte dele dizer que essa questao eh mais complexa do que se vem dizendo, afinal, o Brasil ve no Ira a si proprio, ou seja, um pais que tambem, vez ou outra, ver questionada a sua ambicao de explorar a tecnologia nuclear. Sua critica estah nesse caso. Mr. Crapula, deslocada.

    Saudacoes.

    Charles.

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  3. Olá, Charles. Você tem razão.

    Revi este momento do programa e, realmente, não foi o Cristiano Romero quem criticou o diálogo entre Brasil e Irã. Foi o Gustavo Paul, do O Globo, no mesmo programa em que o Cristiano participou (do dia 20 de março). As palavras do Gustavo Paul foram "Resolver problemas onde ninguén vai, isso é muito complicado, porque também pode dar com os burros n'água. Quer dizer, se esse Ahmadinejad resolve de fato implementar uma bomba atômica, e criar um problema, o Brasil vai ficar como o amigo do doido."

    Obrigado,

    Crápula.

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