terça-feira, 8 de dezembro de 2009

O que o escândalo no GDF representa?

A interpretação predominante que as pessoas têm feito do escândalo no Governo Arruda consiste em desacreditar ainda mais a atividade política (se é que era possível tornar a política ainda mais desacreditada). Não é raro ouvir de pessoas – sejam cidadãos comuns, especialistas ou pessoas com visibilidade na mídia – que a política brasileira como um todo não tem mais salvação, e que este escândalo só veio reforçar este dado. Tanto Governo quanto Oposição encenam um grande teatro, com o objetivo único e generalizado de avançar no bolso do contribuinte. Esta visão é rasteira, conveniente, freqüentemente mal informada e presta um desserviço enorme ao país. Por pior que seja a qualidade dos nossos representantes públicos, é evidente que não podemos generalizar casos de corrupção, nem desacreditar da atividade política como um todo. Estou convencido de que a forma como a mídia cobre estes escândalos tem papel essencial na predominância desta interpretação generalista. Isso significa culpar a Imprensa pela existência da corrupção? Evidente que não. Significa identificar o enquadramento midiático mais utilizado para retratar o objeto política.

Um enquadramento é um sistema hermenêutico, é a seleção de alguns aspectos de uma realidade com a omissão de outros; enquadrar é pensar, interpretar, retratar um objeto de determinada maneira. A expressão “Mensalão do DEM” é sintomática do enquadramento generalizante que a mídia emprega para pensar a política. Pelas minhas posições ideológicas, eu teria todo o interesse em embarcar nesta campanha de esquartejamento do DEMocratas. Iria contra tudo que eu sempre escrevi aqui. O Mensalão do GDF não é do DEM, mesmo! Se eu tenho todas as diferenças programáticas em relação ao DEM, preciso externá-las no debato limpo e republicano das idéias. A mídia riscou o PT da sua lista de partidos decentes e aptos a Governar, em 2005. Guardadas as devidas proporções, atribuiu ao PSDB o “começo de tudo”, no caso Azeredo – a corrupção brasileira encontrou seu episódio seminal. Agora, o DEM entra pro balaio do Mensalão, depois de um ano inteiro de campanha midiática contra o PDMB – como diria o Paulo Henrique Amorim: 50 anos depois, a mídia descobriu que o Sarney é o Sarney. Brilhante!



Enquanto nós ficarmos com uma listinha dos “partidos decentes”, riscando um por um a cada escândalo, acreditando que um dia nós acharemos o partido da ética ou o Messias que nos livrará de todas as agruras da política, quebraremos a cara permanentemente. Não podemos depender das condutas dos indivíduos, tampouco de um suposto partido santo, precisamos depende de instituições, que atuem de maneira livre e eficiente. Neste sentido, estamos avançando. Lula, em função da sua frase “as imagens não falam por si”, foi muito criticado por estimular a corrupção. A frase foi muito infeliz mesmo, mas a verdade é que, no Governo Lula, houve forte avanço institucional. Nos últimos dois mandatos presidenciais, a PF teve recursos e autonomia para atuar, seu orçamento foi mais do que triplicado, membros do Governo e familiares do presidente foram investigados em operações, coisa que não tinha a mais remota chance de acontecer no período tucano. Isto não é militância, nem ideologismo, são fatos concretos! Estamos falando de números, quantidades de operações e prisões, quantidade de agentes federais prestando serviços etc. Apesar disso, é evidente que muita coisa ainda precisa mudar.

O Brasil precisa, urgentemente, aperfeiçoar a legislação que trata da probidade na administração pública. As leis que deveriam combater os crimes de corrupção são anacrônicas. O judiciário, por sua vez, é de uma inércia assustadora! O Senador Azeredo tornou-se réu, pelo uso de dinheiro não contabilizado em suas campanhas, mais de uma década depois do crime! Por muito pouco o crime não prescreveu. Isso é medieval! Nenhum país pode pretender ser sério com este tipo de deficiência. Nos EUA, um Governador foi preso 8 meses depois da revelação do seus crimes. Entretanto, corrupção não é exclusividade nossa. Este ano, na Inglaterra, houve um escândalo político para brasileiro nenhum botar defeito. Parlamentares pediram e receberam reembolso por gastos considerados absurdos, como a limpeza do fosso de uma casa de campo, despesas de jardinagem, compra de estrume para adubo, limpeza de piscina, entre outros. O primeiro-ministro Gordon Brown e o líder da oposição David Cameron pediram desculpas em público pela conduta abusiva dos parlamentares. Apesar de todas as nossas graves carências, vejo um país que vem melhorando, e tem tudo para melhorar ainda mais no futuro.

Se a gente pensar em 15 anos atrás, meados da década de 90, nós tínhamos uma Polícia Federal completamente aparelhada, sucateada, defasada em recursos financeiros e humanos para agir no sentido de moralizar o país. A Imprensa noticiava escândalos, sim. Mas com menos ênfase, menos espaço, e menos know-how de jornalismo investigativo. E 15 anos mais pra trás ainda nos leva à Ditadura Militar, em que o jornalista era assassinado se escrevesse uma linha de crítica ao Governo. O grau de transparência era zero! Ou vocês acham que a Ditadura que ocultava cadáveres não tinha corrupção? Hoje, o escândalo do GDF foi desmontado pela Polícia e amplamente divulgado, o jornalismo investigativo vem aperfeiçoando-se, a sociedade está aturando cada vez menos casos definitivamente comprovados, e o Arruda está numa situação delicadíssima: trocou uma reeleição praticamente garantida por chances drasticamente reduzidas de continuar na vida pública (apesar de nada ser impossível). Espero que daqui a 15 anos, aconteça tudo isso, e o governante ainda vá preso em pouco tempo. Mas, olhando para a linha cronológica, eu vejo o meu país avançando.

4 comentários:

  1. Abaixo esse judiciário de bandidos togados!

    Inté,
    Murilo

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  2. Belo texto! Acredito que a internet também tenha sido uma ferramento muito importante para uma cobertura mais eficiente da imprensa (sim, ainda parcial e tendenciosa em vário pontos, mas melhor do que há 15 anos). E é bom mesmo atentar para a morosidade do Judiciário: impunidade é um dos piores males do Brasil.

    ah, não sei se é problema do meu notebook, mas não consegui acessar o link para a notícia do escândalo na Inglaterra... Mas já li a respeito,rs!

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  3. O link realmente estava errado, já consertei.
    Valeu pelo aviso! Acho que agora dá pra acessar.

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  4. Triste é o eleitor de Brasília, que vivencia uma situação alarmante, tendo que conviver com políticos do DF, que deveriam representar o cidadão, com ética e decore. Infelizmente, o que podemos cobrar, deste políticos. Nada, nada mesmo. Eles continuaram com os conchavos políticos, pulando de um partido para outro, e nas próximas eleições, retornaram como se nada tivesse acontecido.
    Pior ainda, é saber que temos eleitores, que apoiam estes políticos, que fazem uso da máquina administrativa, para roubar, roubar mesmo, sem o pingo de ética e respeito, pelos eleitores de Brasília, que os elegeram esperando que estes infelizes cumpram o seu papel político e social.
    Ter uma Cämara Legislativa no DF, onde o roubo (pecultato), desvio de verba pública, tornou-se uma constante.
    Pergunto! qual é o papel do político do DF, falsear informações, mentir, roubar, utilizar dos cofres públicos, para abrir empresas de faixadas, nomear amigos (laranjas), que sem o mínimo de escrupulo, enchem as pastas, sacolas, meias, cuecas e bolsas de dinheiro, como se os fatos apresentados fossem normal. O que falta mais no DF.
    Estranho ainda, é saber que o Mestre do Roubo o Mister Durval, vem utilizando este esquema desde a épocado Governo Roriz.
    Pergunto. Em que acreditar. Inacretitavel ouvir fitas ondes a palavra de Deus é usada para roubo, caso este com o Deputado Brunelli. Fico imaginando a decepção não só dos envangélicos, mas de todas as religiões.
    Há tempo de falar, e se calar. Bela frase da Deputada Eurides Brito, do MPDB.
    E o povo aceita, continua votando nesta criatura horripilante, recebendo o apoio total e irrestrito do MPDB.
    O Govenador José Roubando Arruda, fazendo-se de vítma da situação. Esqueceram de mim 2 (o painel eletrönico, aquele painel onde o esperto, fraudou e jurou em nome de Deus, que era inocente).
    O benício, um tetrapleginico numa cadeira de rodas, que não anda, mas a mão alcança o fruto do roubo. O Berinaldo (mal entrou e começou a roubar), O Roney e outros, os bons samaritanos, que pregam uma política social e justa. Em contrapartida, a política social deles, é roubar, desviar verba pública, fazer conchavos, aprovar o que é ilicito, sujo e podre.
    E, os eleitores de Brasília, continuam votando nestes caras.
    De quem é a culpa, do político bandido (traficante de influëncias) ou, do cidadão de Brasília que volta.
    Antes e depois da diplomação do político, que diferença faz, ninguém respeita a Carta Magna.
    Pouco importa roubar antes, durante e depois, nada contece, o cenário podre, político continua o mesmo. Criticaram o Governo Militar, gritaram, exigiram democracia. Esta é a democracia, onde que rouba, desvia verba pública, sai impune, continua e continua roubando. Democracia! Que democracia. Certo seria falar em anarquia, onde todos tem o rabo no meio do formigueiro. Nada vai acontecer, eles continuaram usando da máquina pública, elaborando projetos de Leis, leis estas que beneficiam a empresas deles, e dos amigos bandidos. O Prudente pode informar, pois é o lobo do esquema.
    Brasília, uma cidade construída apenas para um sonho. Político ladrão, e eleito pela população.
    Sistema de freios e contrapesos entre os poderes, harmonicos entre si. Quando! a teoria existe, mas a prática é bem diferente.
    Volto a insistir, ainda existem eleitores que voltam neles. Vamos esperar um próximo Mister Durval no próximo Governo, uma nova Eurides, um novo Brunelli, Berinaldo, Roney, Prudente e outros.
    Os eleitores de Brasília, precisam destes políticos.

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