quinta-feira, 10 de setembro de 2009

Tem espaço para o Blog do Planalto na Rede? e na Mídia?

Antes de o Blog do Planalto entrar no ar, o jornalista Lauro Jardim publicou em seu blog que “Assim como na maior parte do dia de ontem, quando estreou, o Blog do Planalto está fora do ar neste momento. Ainda que seja por excesso de acessos, como informa o governo, é sinal de falta de planejamento. Salvo o dinheiro público gasto em algo que não consegue funcionar, de qualquer forma o leitor não está perdendo nada de interessante…”. O Globo procurou “analistas” que criticaram a falta de espaço para comentários e o possível uso político da ferramenta. Apesar da recepção hostil por parte da mídia, acho importante perguntar: o blog é realmente necessário? Não bastaria a cobertura jornalística que já é feita pela Imprensa? A princípio, eu penso que em uma Democracia a Imprensa deve ser cada vez mais fortalecida, e um canal de comunicação direta entre Governo e população pressupõe uma espécie de disputa pela cobertura dos temas políticos, o que poderia ser uma função exercida exclusivamente pelos jornalistas. Afinal, são profissionais formados para isso.


O blog do Planalto é uma das respostas ao sentimento de desconfiança nutrido pelo Governo Federal. Governo este que foi legitimamente eleito pela população e conta com altos índices de aceitação. De fato, há enfraquecimento da Imprensa, na medida em que muitos leitores poderão optar pelo site do Planalto, em detrimento de veículos de comunicação. É claro que empresas, estatais, instituições em geral, e até políticos, com freqüência, possuem blogs, e isso não representa prejuízo à Imprensa ou à Democracia. Entretanto, o uso desta ferramenta online pelo próprio Planalto Central ganha uma dimensão muito maior. Trata-se do principal poder instituído pela sociedade abdicando (ou, no mínimo, concorrendo) com o trabalho exercido pelos jornalistas. É qualquer coisa relevante. Mas é preciso analisar que circunstancias levaram a isso. O sentimento de desconfiança em relação à Imprensa, nutrido pelo Governo e compartilhado por uma parcela importante da população (que cada vez mais usa a Internet para se manifestar), tem procedência na medida em que a cobertura jornalística é marcada por um forte viés partidário.

Particularmente, eu não acho que os veículos de comunicação deveriam mostrar “coisas boas” e “coisas ruins” sobre o Planalto. Isto seria uma simplificação grave. Na impossibilidade de desenvolver um debate mais aprofundado, no mínimo, espera-se que uma matéria tenha, pelo menos, a visão do Governo e a visão da Oposição, o que configura a simplificação, mas é o mais democrático. Entretanto, o papel principal da Imprensa não é apenas "mostrar os dois lados da moeda", mas de problematizar, contextualizar, aprofundar os temas políticos, para que o cidadão possa informar-se da melhor maneira, posicionar-se criticamente, e ter embasamento para construir uma reflexão a partir do jornalismo. É muito mais do que “mostrar os dois lados da moeda”, ou satisfazer os interesses da Oposição e do Governo de plantão, é cuidar para que o telespectador tenha a visão mais enriquecida possível sobre o assunto. Não é o que têm praticado a Imprensa brasileira. Os exemplos desta cobertura partidarizada são diários, mas podemos citar um mais recente: o caso Lina Vieira.

Nos últimos dias, o Sensus divulgou pesquisa que mostra queda na popularidade do presidente (que continua muito alta – veio de 81 para 76%). A pesquisa mostra ainda que Dilma teve queda nas intenções de voto, mas Serra permaneceu estável. Para o diretor da Sensus, Ricardo Guedes, o Governo e a Dilma tiveram de enfrentar uma Agenda negativa, e o efeito Lina, Senado e a questão da saúde, com a gripe suína, foram predominantes. No caso específico de Lina Vieira, a cobertura dos principais jornais mostrou apenas os aspectos que interessavam à Oposição. A ex-secretária da RF posou de vítima da tirania da Ministra Dilma. A mesma pesquisa Sensus mostra que 35,9% dos entrevistados acreditou na versão de Lina, ao passo que apenas 23,6% acreditou na Ministra. Questões como o silêncio de Lina à época do suposto pedido e a manifestação apenas depois da demissão foram ignoradas. Como mostra uma das edições do Entre Aspas, especialistas como um funcionário da Receita, um advogado tributarista e o ex-secretário da RF da época do Governo Fernando Henrique (ou seja, alguém cujas analiss não tenderiam a beneficiar o Governo Lula), foram unânimes ao concluir que o caso Lina foi um factóide, e que sua gestão foi deletéria para a Receita Federal.

Estes aspectos são importantes, não porque convém ao Governo, mas porque contribuem para contextualização e compreensão do caso. Acima de tudo, o telespectador tem o direito de conhecer estes outros pontos de vista. Entretanto, só são contempladas as interpretações que se alinham com determinado grupo político. Eu estou bastante convencido de que a cobertura midiática não determina a visão política ou o voto da maioria dos cidadãos. Mas é inegável que os espaços da mídia são importantes para, no mínimo, agendar e dar visibilidade a determinadas interpretações. E isso, em alguma medida, pode desequilibrar a disputa político-eleitoral, como sugere a pesquisa Sensus. É destas circunstancias que surge a pertinência do Blog do Planalto. As críticas sobre a falta de espaço para comentários não me convencem. Já há espaço para críticas e sugestões, e muitos dos blogs dos próprios jornalistas, programas ou veículos de comunicação, são “abertos” para comentários e, no entanto, por diversas vezes eu perdi meu tempo elaborando uma opinião, que foi censurada. No Blog do Planalto, pelo menos ninguém será enganado.

Um comentário:

  1. Usar a internet como ferramenta de comunicação para ampliar o contato com os clientes/cidadãos é uma tendência irreversível, seja uma instituição pública, como a Petrobrás, ou o congresso nacional.

    A população merece mais clareza nos fatos. Ou, pelo menos, uma outra versão deles.

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