quinta-feira, 24 de setembro de 2009

Observações sobre a pesquisa Ibope

Quando a Crise finalmente chegou ao Brasil, encolhendo a produção, destruindo postos de trabalho e travando investimentos, a pesquisa Ibope de março deste ano registrou uma queda na aprovação do Governo da ordem de 9 pontos. Neste mês de setembro, o Ibope saiu a campo novamente. O Lauro Jardim registrou o dia específico em que o instituto saiu às ruas, 10 de setembro. Coincidentemente, foi um dia antes da divulgação pelo IBGE do crescimento de 1,9% do PIB e de 2,1% da Indústria, no segundo trimestre de 2009. A pesquisa ibope pegou em cheio a euforia em torno da nossa economia. Estava decretado, oficialmente, o início da recuperação brasileira (muito antes do que se podia imaginar). O clima no noticiário era radicalmente diferente daquele do início do ano. O discurso apocalíptico deu lugar a um discurso quase ufanista. Os números, apesar de parecerem pequenos, eram enfáticos na demonstração de que a Crise, de fato, ficou mais para marolinha do que qualquer outra coisa.



O Jornal Nacional mostrou um país com várias indústrias retomando o fôlego, investimentos sendo retomados, consumo aquecido, e identificou o desconto do IPI (feito pelo Governo) como uma das principais causas da recuperação. Lula encerrou a matéria dizendo que o país sobreviveu, e que de fato o Brasil estava mais preparado que todo o mundo desenvolvido. Eu vi a Mônica Waldvogel declarando, em um dos seus programas, que o Governo iria cobrar da Imprensa a conta pelo pânico criado. No Fatos e Versões, da Cristiana Lôbo, os convidados colocaram que o Brasil foi um dos últimos países a entrar na Crise, e um dos primeiros a sair. O Kennedy Alencar, em sua pensata, fez um mea-culpa, disse ser certo ele “dar o braço a torcer”, e reconhecer que “o presidente Luiz Inácio Lula da Silva acertou quando disse no ano passado que a crise econômica mundial chegaria ao Brasil como uma marolinha”. Diante disto tudo, a avaliação positiva do Governo Lula cresceu. Foi de 68 para 69%.

Eu acho que este aumento de 1% nem pode ser considerado, já que a margem de erro é de 2 pontos. Quando se verificou que a Crise chegou, o presidente foi ridicularizado, o discurso da marolinha não recebeu credibilidade, e a popularidade do Governo caiu 9 pontos. Quando se “dá o braço a torcer”, admite-se que a Crise por aqui ficou mais para marolinha mesmo, e vêm os números que demonstram o início da recuperação, a aprovação do Governo sobe 1 ponto. Era de se esperar que a avaliação positiva voltasse aos níveis pré-crise, acima da casa dos 70 pontos. Mas, parece que para cair é fácil, subir é mais difícil. O que também pode ter impedido a total recuperação da popularidade do Governo é a recente Crise política envolvendo o Senado. Apesar de envolver todo o Senado (inclusive segmentos da Oposição, como o DEM), a Crise foi enquadrada de maneira que ônus político ficou apenas com o Sarney e com Governo, com o PMDB e com o PT.

Sobre a sucessão presidencial, o Ibope mostra queda nas intenções de voto em Serra e Dilma, e crescimento de Ciro. O motivo pode ser o programa partidário nacional do PSB, que foi ao ar dias antes do Ibope ir a campo. Mas o próprio Ciro tem outra versão bem interessante: “Contra a Dilma há um fenômeno que já aconteceu comigo, que é uma desequilibrada agressão contra ela, um processo de difamação contra ela permanente, grave, que é só a tentativa de obstruir a projeção da liderança do projeto que o Lula representa”. Como Ciro e Dilma disputam eleitorado parecido, a queda de um ajuda o outro diretamente. E a candidata petista também sofreu com enquadramento tendencioso do caso Lina Vieira. Interessante também que a taxa de rejeição da Dilma é superior a sua própria taxa de conhecimento. Segundo o Ibope, 32% dos entrevistados conhecem a candidata do Planalto, mas 40% não votariam nela de jeito nenhum. Este 40% é simbólico, é a margem em que os analistas consideram que a candidatura tornou-se inviável, sem chances de vitória.

Se este cenário persistir até o final do ano, a candidatura do PT terá maiores dificuldades para atrair outros partidos para a sua chapa. O PMDB tem interesse no poder, e oferece maior resistência a uma candidatura cambaleante. Os outros partidos de esquerda, como PDT, PSB e PC do B, podem ver em Ciro uma alternativa mais segura. Sem contar outras legendas importantes ainda disponíveis, como PTB, PR, PP. Eu continuo achando que um candidato que representa um Governo muito bem avaliado (como é o de Lula) e com o maior tempo de TV (o que PT + PMDB garantem), pode sair de um dígito nas pesquisas para a vitória em primeiro turno, com apenas 2 meses de campanha. Neste momento, a pesquisa fotografa um cenário composto por elementos que serão bruscamente deslocados, quando tiverem início as campanhas. Acontece que os partidos fazem leituras imediatistas e não gostam de correr riscos. Por mais inúteis que sejam, estas pesquisa podem interferir nas alianças partidárias, que por sua vez serão determinantes para as eleições de fato.

3 comentários:

  1. Indico a entrevista do Ciro no Canal Livre do último domingo. Ele é um excelente candidato, muito bem preparado, lulista e inteligente. Combateu os "3 porquinhos" do PIG de maneira veemente.

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  2. Vou fazer um comentário meio q nada a ver, mas esse teu post me lembrou aquela época em que trabalhamos naquele projeto de Mídia e Política na Faculdade... Fui fazer entrevistas sobre intenções de voto na eleição de 2006!
    Acho que pesquisas de opinião como o IBOPE são muito traiçoeiras... Há um indicativo das intenções de voto, mas é tudo mto instável. Eu sempre ponho todas as minhas esperanças nas margens de erros, rsrsrs!!

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  3. Eu participei deste projeto que a Jessica citou acima... boa vontade total sair com um gravador e um ofício pelas ruas no domingo de eleições, rs. E também concordo com a opinião dela sobre as pesquisas do Ibope, embora não as considere tão traiçoeiras assim.

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