sexta-feira, 18 de setembro de 2009

Juca de Oliveira fala muita baboseira

Em recente entrevista à Marília Gabriela, Juca de Oliveira soltou os cachorros. Mostrou furiosa indignação para com todos os descalabros da política, citou exemplos, deu nome aos bois, fez referências a frases inadmissíveis proferidas pelo Presidente da República. Dentre outras coisas, o ator repudia o fato de que Lula – supostamente – considerou o Caixa 2 “uma coisa normal”, pediu para procuradores “tomarem cuidado” ao analisarem o caso Sarney, e ainda afirmou que nem todos os brasileiros são iguais perante a lei. Na verdade, o presidente não disse nada disso nesses termos. Mas, vá la. Foi como os episódios foram tornados públicos. E esta postura sustentada pelo Juca é extremamente comum entre uma parcela importante da população brasileira. Especialmente, aquele segmento da sociedade considerado “mais esclarecido”, “mais informado”. Não podia ser diferente, considerando que a cobertura jornalística sobre temas políticos é sempre no sentido de salientar o lado mais decrépito e nojento da política. Coisa que eu denuncio aqui neste blog, postagem, sim, na outra, também.

É o caso de questionar a própria condição de cidadão “bem informado”.
Informação não é uma pedra, que o jornalista pega daqui e bota pra lá, "levam ao público", como eles gostam de dizer. A informação sempre vem inserida em uma versão, uma leitura, uma interpretação dos fatos. Na minha avaliação, o cidadão que busca informação nos principais espaços midiáticos encontra uma cobertura em que predomina: primeiro, uma generalização dos políticos como pilantras; segundo, enquadramentos que valorizam o discurso da oposição. Não é à toa que tantos brasileiros mais interessados no noticiário sempre pensam na política como um balaio de safados, e com freqüência atribuem isso ao Governo Lula, ao PT, ao PMDB, dentre outros aliados. A generalização é péssima pelo motivo óbvio: transforma em farinha do mesmo saco, tanto o político profissional, quanto aquele político decente. Claro que não é simples separar heróis de vilões, sempre dependerá de pontos de vista, de critérios. Mas então que se adote algum critério! Esta fábrica de escândalos é que não pode continuar.

Por exemplo, no escândalo das passagens, a mídia retratou ao país uma “farra das passagens”. Quase sempre o caso era colocado nestes termos (para variar, generalizantes). Isso serve a quem? Ao político pilantra, claro! Aquele deputado que comprou dezenas de passagens com dinheiro público para passear em Miami e na Europa vai receber o mesmo tratamento que aquele político que viajou para o melhor exercício do seu mandato! Por que? Porque não houve critério. Ao invés de tratar a coisa na base da “farra das passagens” (o que insinua que tava todo mundo na mesma patifaria), podia-se informar que metade, ou 40%, ou 60%, quanto fosse, do Congresso usou passagens indevidamente. Isso é ter algum critério, pode não ser o melhor, mas evita a generalização. Depois o público teria como procurar saber se o seu deputado estava no meio da sacanagem, ou se agiu direito. Já o alinhamento com a oposição pode desequilibrar a disputa, o que não me parece democrático. Mais grave ainda: omite do público aspectos importantes para compreensão e análise dos casos.

Mas, voltando às declarações do Juca. Eu não tenho porque duvidar da boa intenção deste ator que, aliás, muito contribui com a produção artística / cultural brasileira. Acho até que os artistas devem compor uma esfera de constante indignação, reflexão, pensamento crítico. Então, qual o meu problema com o Juca? Primeiro, que ele parece reproduzir – acriticamente – esta cobertura enviesada. Segundo, que, em meio às críticas, ele afirma que este é “o pior momento” da política brasileira, ou seja, de maior deterioração dos valores públicos (vídeo abaixo). Isso é inadmissível. Aí eu fico indignado com o discurso do Juca tanto quanto ele fica com o presidente. Não se pode cinicamente esquecer que, quando eleito, o FHC aliou-se ao PFL, uma escória política do mesmo nível de Collor ou Sarney. O PFL, hoje DEM, é o maior herdeiro da Ditadura, partido das políticas paliativas e exploratórias do Nordeste, o que existe de mais coronelista e oligárquico unido ao que existe de mais elitista e aristocrático neste país. Foi com esta gente que o PSDB se abraçou pra governar.

Nem todas, mas muitas das incoerências são próprias do sistema, não são particularidades do Lula. Eu não estou argumentando para inocentar qualquer incoerência do Governo atual, que serão julgadas pela população e terão respostas nas urnas. Mas estas conclusões disseminadas, de que o Governo Lula representa um agravamento do problema da corrupção, de que o PT é o partido mais desapegado a valores éticos, de que este é o momento de maior decadência moral, são distorções com endereço político-eleitoral. Não nos enganemos. Outro dia, o Marcelo Tas falou no CQC que esta legislatura parlamentar deve ser a pior da história do Brasil. O diretor do Ibope deu uma entrevista à Veja dizendo que o PT perdeu o encanto, portanto Lula não poderá eleger Dilma. Tenho amigos que pensam a política como um permanente quadro do Casseta e Planeta, ou seja, uma caricatura viva. Não é de se espantar. Louco é quem pensar o contrário. Indiferença ou ojeriza à política leva à fragilização da Democracia. E a nossa Democracia é muito recente e importante demais para estar em lugar tão desprestigiado, não podemos nos dar ao luxo de correr o risco de perdê-la.




2 comentários:

  1. "Isso é ter algum critério, pode não ser o melhor, mas evita a generalização. Depois o público teria como procurar saber se o seu deputado estava no meio da sacanagem, ou se agiu direito."

    Seria bom mesmo. Mas, claro, antes disso a maioria dos eleitores precisa lembrar para qual candidato a deputado deu seu voto e criar o hábito de acompanhar seu trabalho. Também precisa entender alguns vícios da cobertura midiática sobre política e não se ligar somente no que artistas dizem... Enfim, essas coisas muito fáceis de fazer, rs. Mas as tentativas continuam.

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  2. Mais um convidado pra reproduzir o que a grande mídia informa há tempos. Trata-se apenas de uma transferência de responsabilidade discursiva. Ou seja, "é um outro que discursa, não eu" (Marília Grabriela/GNT/Globo).

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