segunda-feira, 13 de abril de 2009

A Folha de SP às voltas com a Ditadura

A Folha de São Paulo do dia 05 deste mês trouxe, em primeira página, a seguinte chamada “Grupo de Dilma planejou seqüestro de Delfim Netto”. A chamada era para uma reportagem das páginas A8 a A10, cujo conteúdo afirma que Dilma Rousseff tinha conhecimento do suposto atentado. A Ministra, no entanto, nega. O jornal baseou as informações da reportagem em entrevista com o professor Antônio Roberto Espinosa, que foi o responsável nacional pelo setor militar da organização VAR-Palmares (em que Dilma militou), e em um suposto mapa que teria a localização de Delfim, à época do planejamento do seqüestro. A matéria vem “do nada”, cai de pára-quedas, retira um passado distante do seu contexto, com o propósito aparente de agredir gratuitamente Dilma Rousseff, que vem consolidando uma candidatura de continuidade ao Governo petista. Mas a Folha foi além, omitiu fatos da maior relevância e deliberadamente distorceu informações, para prejudicar ao máximo a Ministra.

Em carta posterior à matéria, Espinosa declarou-se chocado com a edição da entrevista, cujo conteúdo divergiu gravemente do que foi declarado a uma jornalista que o professor sequer conheceu pessoalmente, apenas conversou por telefone e e-mail. Segundo Espinosa, o tal mapa era na verdade um croqui, que só foi liberado para a reportagem em função de autorização por escrito concedida pelo professor junto ao Superior Tribunal Militar. Concedida, para que a jornalista conhecesse melhor a atuação de resistência política praticada POR ESPINOSA, não por Dilma. De qualquer forma, o entrevistado disse que jamais tinha visto o desenho. Portanto, era impossível que se tratasse de um planejamento da VAR-Palmares para seqüestrar Delfim, já que o responsável por estes tipos de ações não reconheceu o material. Note-se que Espinosa autorizou a liberação de documentos pelo STM à jornalista, recomendou que o croqui fosse mostrado ao próprio Delfim e é defensor histórico da abertura dos arquivos da Ditadura.

Ao contrário do que foi publicado, o entrevistado desmentiu ter dito que Dilma sabia do planejamento do seqüestro. Aliás, Espinosa falou precisamente o contrário: que Dilma sempre teve uma militância somente política, ou seja, jamais participou da execução ou do planejamento de ações militares, e que, como responsável por tais ações, assume a responsabilidade moral e política das iniciativas do grupo. “Jamais eu diria a qualquer pessoa, mesmo do comando nacional, algo tão ingênuo, inútil e contraproducente como ‘vamos seqüestrar o Delfim, você concorda?’”, declarou Espinosa na carta. O entrevistado também desmentiu o jornal no que se referiu a um detalhamento do plano e à definição de data e local, desafiando os editores a mostrar a gravação em que ele teria dito isto à repórter. Para Espinosa, “os editores da Folha transformaram um não-fato de 40 anos atrás (o seqüestro que não houve de Delfim) num factóide do presente (iniciando uma forma sórdida de anticampanha contra a Ministra)”.

Eu ainda encontro dificuldades para entender este episódio. Será que alguém conseguiria ver esta matéria como o exercício de um jornalismo “isento”, simplesmente combativo e fiscalizador dos integrantes do Governo vigente? É possível supor que esta postura aguerrida diante da Ministra Dilma também é desferida pela Folha contra políticos de outros partidos e outros Governos, como o Governador José Serra, por exemplo? Estavam os editores chefes e a repórter que produziram esta matéria apenas trabalhando para levar as melhores informações possíveis para os seus leitores? Não é mais sequer razoável sustentar esta tese... É evidente que qualquer entrevista será editada, nenhum jornal publicaria na integra. Isto é perfeitamente compreensível, natural, diria até inevitável. Mas o que sucedeu foi uma forte distorção das declarações do entrevistado, e pior: com objetivos políticos e – diante do quadro que se desenha – objetivos eleitorais. Agora a Folha vive às voltas com a Ditadura. Primeiro aquele editorial babaca da Ditabranda, agora essa demonização daqueles que combateram (quando não morreram) um dos mais terríveis momentos da nossa História.

Um comentário:

  1. É só mais uma comprovação de que a nossa "grande mídia" age de acordo com os seus próprios interesses. Imparcialidade? Isso já foi deixado de lado há muito tempo.
    Há mais de um ano das eleições, já estamos vendo matérias eleitoreiras...e isso é só o início.

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