sábado, 27 de dezembro de 2008

Drops - Dezembro

Drops mais longos que o de costume. Vamos lá!

Maitê I

Saia Justa é um programa da GNT, atualmente composto pela jornalista Mônica Waldvogel, a filósofa Márcia Tiburi e as atrizes Betty Lago e Maitê Proença. O Saia Justa vai ao ar às quartas-feiras e é reprisado aos sábados. Em uma das edições de Dezembro, as integrantes comentavam sobre a morte do ex-marido de Susana Vieira, Marcelo Silva. Não faltaram críticas ao rapaz. Até aí, tudo bem. Não é porque o cara morreu que merece ser canonizado. O deplorável foi a avaliação da Maitê: “Não podia se imaginar um final mais propício para esta história. [...] Não podia imaginar um desfecho melhor.” É claro que ela falou mais que isso, tentou justificar que seria melhor para a Susana Vieira e para a amante, mas eu não vou me preocupar em remontar a versão da Maitê, até porque nada justificaria tamanha morbidez. Foi muito mais que um comentário infeliz, foi execrável. Márcia e Mônica fizeram um contraponto no programa. Pelo menos isso. Talvez seja humano desejar a morte de alguém. Não sei, sinceramente nunca desejei. Mas celebrar isso em um programa?! E o que é pior: não em nome de uma espontaneidade de pensamento, mas em nome de um corporativismo bizarro; um maniqueísmo insustentável que endeusa uma das partes, como se fosse livre de erros, enquanto a outra parte personificaria tudo de ruim, merecendo a própria morte como punição. Foi de embrulhar o estômago!

Maitê II

Isso porque, na edição anterior a esta, Maitê já teria feito um comentário que garantiria a ela presença nos Drops deste mês. Ao comentarem sobre o episódio em que o presidente utiliza a expressão “Sifu”, o quarteto feminino da GNT demonstrou indignação. A princípio, eu acho toda esta discussão bem idiota, irrelevante, inócua. Ninguém fica tão escandalizado por causa de um “sifu”! Não é possível! Ninguém é puritano a esse ponto. Dos pseudo-moralismos este é o mais hipócrita. O problema da Maitê é que a expressão partiu do presidente. Segundo ela, “faltou vocabulário”. Provavelmente! Mas e daí? É assim que vão reagir ao presidente que prescinde de vocabulário? Vamos voltar ao debate do “este presidente não é sociólogo doutor”? Eu acho extremamente temerário! As pessoas esperam uma liturgia, um cerimonialismo em tempo integral dos governantes. Que significa o quê? Que serve a quem? O Lula não falou “sifu” do nada, não foi uma agressão gratuita a ninguém, foi em um contexto, na construção de um argumento. Se as pessoas discordam deste argumento, pois bem! Sempre discordam mesmo! Mas que se mantenha o debate no plano do conteúdo e não da forma. A forma com que o presidente vai falar, em muitos momentos, vai ser determinada pela sua forma de ser. E Lula não pode deixar de ser quem é, só para agradar Maitês e cia.

Santa Catarina

Em Santa Catarina, as coisas que já eram horríveis ficam piores pela inoperância do Governo do Estado. Aqui a gente poderia retomar aquela discussão da presença ou ausência do viés político nas discussões que a mídia faz. Quando a tragédia envolve o Governo Federal, ou aliados, há imediata responsabilização dos políticos. Já neste caso de SC, os jornais desdobram-se, criando um fenômeno climático novo a cada semana, para fazer crer que foi uma tragédia meramente natural. Não pretendo aqui fazer o mesmo jogo sujo da mídia, para culpar este ou aquele político. O Governador de SC, Luiz Henrique, é de um PMDB tucano, apoiou Alckmin para a presidência em 2006. Mas é evidente que ele não causou, nem desejou a tragédia. Agora, há que se discutir como aquelas pessoas foram parar (e permaneceram) naqueles terrenos de risco. As prefeituras não retiraram as famílias porque ganham mais mantendo elas lá e arrecadando IPTU. O Governo do Estado regularizava esta situação, e ainda foi incrivelmente lerdo e desorganizado na pós-tragédia. Mantimentos são roubados, há indícios de que roupas doadas foram abandonadas, e falta espaço para donativos! A Defesa Civil do Estado chegou a interromper o recebimento de doações por quase um dia inteiro! É inacreditável! Na mídia, silêncio sepulcral. A melhor cobertura da tragédia foi feita pelo Profissão Repórter, do Caco Barcellos. Mas o programa é curto e não se propõe a fazer discussões sobre aspectos mais profundos. Infelizmente, toda esta inoperância vai passar batida.

Feliz Ano Novo!

No mais, feliz 2009 aos leitores do Crápula Mor! Ano que vem continuaremos com o Blog, firmes e fortes!

T+

sexta-feira, 19 de dezembro de 2008

O malabarismo dos jornalistas

Os jornalistas dos veículos de comunicação mais tradicionais têm a mania de ensaiar o mesmo discurso para determinadas pautas. Isso não significa que eles marcam encontros na calada da noite para combinar o que vão falar sobre determinado assunto. Mas, na hora de fazer a notícia ou de construir opiniões, os jornalistas levam em conta não apenas as “fontes”, mas as próprias opiniões e impressões dos outros colegas jornalistas, dos editores-chefes, dos patrões, enfim, da categoria. Nesse processo, quase que automaticamente, as mesmas interpretações vão se proliferando dentre os especialistas da mídia. Isso, além da má vontade contra determinados grupos políticos, estando ou não no poder. Mas nem sempre se trata de uma partidarização, às vezes é puro corporativismo. Uma das pautas que gera discurso uníssono nos meios de comunicação é a avaliação sensacional do Governo Lula, agora no patamar dos 70%.

Nunca antes na história desse país um presidente foi tão bem avaliado. 73% de ótimo e bom, e o desempenho pessoal de Lula é aprovado por 84%, segundo o Ibope. O recorde anterior foi atingido por Sarney no ano de 1986. Quanto maior fica a aprovação da população ao Governo Lula, menos verossímil fica a versão da mídia para esses números. Os jornalistas atribuem os recordes históricos do Governo Lula a um mero reflexo da bonança econômica no mundo (ou seja, o velho discurso tucano do “céu de brigadeiro”), ou a uma capacidade comunicativa do Presidente, que de fato existe, mas não passa de uma abstração e não explica a satisfação da população. Para citar alguns mais recentes, verifiquei esta interpretação nos comentários da Cristiana Lôbo no Jornal das 10 da Globo News, em seu blog, nos comentários de Sardenberg, também no Jornal das 10, e de Nêumane Pinto, no Jornal do SBT. Mas já vi a mesma linha de raciocínio ser desenvolvida por outros especialistas, em outros lugares.

Há uma clara resistência em reconhecer os méritos do Governo, em admitir que ações federais muito concretas estão, cada vez mais, beneficiando milhões de brasileiros. Daí a utilização de abstrações e escapismos na hora de analisar a voz que vem das ruas, nas pesquisas de opinião. Por um lado, os jornalistas estão corretos ao falarem da bonança econômica, pois de fato a produtividade mundial cresceu no período lulista, mas essa é apenas parte da explicação. O Governo reduziu impostos para setores estratégicos; diminuiu sistematicamente (ainda que pudesse ter diminuído mais) a taxa básica de juros; adotou uma política sólida de câmbio flutuante, valorizando o Real; investiu fortemente na área social, o que fomenta o crescimento econômico; dentre outras medidas. Logo, o bom momento brasileiro não é mera sorte, nem fortuito. Quando especialistas falam que a população é levada por frases do Presidente como “Pergunta para o Bush (sobre a crise)”, subestimam, não o Governo, mas a própria capacidade da população de avaliar um mandato.

É possível que a aprovação recorde deva-se, dentre outros fatores, justamente à forma como o Governo vem reagindo à crise. No último domingo, no programa Manhattan Connection, da GNT (da Globosat), o economista Ricardo Amorim afirmou que, se fosse feita uma escala da crise, a Finlândia, maior vítima, seria atingida em um nível 10; os EUA, também fortemente afetados, estariam no 8; o Canadá ficaria em torno de 6; e o Brasil, 1. Isso mesmo, 1! Ricardo falou ainda que, em 2009, o saldo de empregos brasileiro será positivo, com mais geração do que perdas. Brincaram com o economista, dizendo que ele precisava abrir os olhos. Ele respondeu que é contrário: basta abrir os olhos, ver o que está acontecendo aqui, para perceber tudo isso. Diogo Mainardi, colunista da Veja que também compõe a mesa do Manhattan, quase teve um infarto ao lado do economista, por motivos que vocês podem imaginar. É direito e dever da mídia criticar o Governo, mas distorcer análises apenas para omitir méritos é muito sujo.

sábado, 13 de dezembro de 2008

Entrevista esclarecedora de Protógenes Queiroz

Na última quarta-feira, o delegado da Polícia Federal, Protógenes Queiroz, deu uma entrevista extremamente esclarecedora ao programa Brasília Ao Vivo, da Record News. Antes da entrevista, a apresentadora informa que Protógenes já enviou para a cadeia pessoas como Lao Kin Chong, Hildebrando Pascoal e Paulo Maluf. Já na primeira resposta, o delegado deixou claro que a decisão de transferi-lo da diretoria de inteligência para a direção de departamento de pessoal foi unilateral e difícil de aceitar. Há expectativa de uma nova transferência, possivelmente para a coordenadoria de defesa institucional, área na qual o delegado não é especialista (suas especialidades são crimes financeiros e estratégias de inteligência). Esta nova transferência ainda não foi comunicada oficialmente. Protógenes comenta também sobre a inversão de valores feita quando, após divulgação da Operação Satiagraha, os alvos de ataques passaram a ser ele próprio, o Juiz Federal Fausto De Sanctis e o Procurador do Ministério Público Rodrigo De Grandis. Inversão de valores esta que foi tema de postagem neste blog.

O delegado da PF falou que já esperava retaliações, uma vez que investigava um bandido da estatura de Daniel Dantas. Mas foi surpreendido pela extensão desta retaliação, que chegou a atingir até mesmo seus familiares. Protogenes está convicto dos crimes do banqueiro, ao qual sempre se refere como “o bandido, Daniel Dantas”, um homem que construiu um verdadeiro império e tem contatos poderosos – o que dificulta a reunião de provas para os crimes – mas que há 20 anos pratica corrupção usualmente, prejudicando a sociedade. Para ilustrar o poder de manipulação de Dantas, Protógenes dá o exemplo do escândalo fabricado, a mando do banqueiro, por meio da “Revista” Veja, inventando que o Presidente Lula e o diretor da Abin, Paulo Lacerda, mantinham contas no exterior, destinadas a movimentar recursos sem origem declarada, o que durante a investigação ficou provado ser uma armação. Isso para citar uma de muitas falcatruas, um de inúmeros crimes.

O delegado federal entende que os recursos da defesa do banqueiro não irão prosperar, que dificilmente o bandido Daniel Dantas terá sucesso nas instâncias superiores da Justiça brasileira e que a nova equipe que está à frente da Satiagraha é capacitada tecnicamente e saberá conduzir a operação. Além disso, Protógenes esclarece que, durante a gestão de Paulo Lacerda, não houve espetacularização do trabalho da polícia, e sim uma prestação de contas à sociedade sobre os crimes cometidos com dinheiro público. O delegado confirma que houve pressão por parte da nova direção da PF para que ele deixasse o caso e que ele nunca quis abandonar a Satiagraha para fazer um curso. Outro importante esclarecimento do delegado é no sentido de negar peremptoriamente o uso de grampos ilegais com quem quer que seja, o que compromete a versão largamente noticiada de que a PF e a Abin interceptaram o presidente da Suprema Corte e o Senador Demóstenes Torres do DEM. Este ponto da entrevista é crucial! Vocês lembram do termo “grampolândia” e do que ele tentou demonstrar?

Partidos de oposição, óbvio, em parceria com a grande mídia, tentaram passar a impressão de que tanto a Polícia Federal quanto a Abin estavam fora de controle, fazendo grampos indiscriminadamente, ameaçando até mesmo o Estado de Direito brasileiro e que qualquer um de nós poderíamos ser a próxima vítima da perseguição promovida pelos agentes federais e de inteligência brasileiros. À época, eu comentei neste blog o absurdo que foi esta empreitada contra as instâncias investigativas deste país. Quem é beneficiado quando o trabalho da polícia é tolhido? Não é à toa que esta empreitada veio imediatamente após a investigação de Daniel Dantas, este é um homem extremamente influente, inclusive na Imprensa, como demonstrou o episódio da Veja. Nas palavras do delegado Protógenes: “com este carnaval que foi feito com a operação Satiagraha, provocados por atos insanos do bandido banqueiro Daniel Dantas, ele conseguiu destruir o sistema brasileiro de inteligência. [...] O nosso país hoje, te digo francamente, é um país desprotegido”. Ou seja, em certa medida, Daniel Dantas x Oposição x Mídia atingiram um dos seus objetivos.

É bom registrar que, durante o escândalo da “grampolândia”, o Senador do DEM / PI, Heráclito Fortes, pediu a prisão de Protógenes e o Globo News, para citar um exemplo, fez uma edição do programa PAINEL sobre “As diversas formas de abuso de poder do Estado sobre o cidadão brasileiro” com especialistas que denunciaram as “atrocidades” da Abin. É falso pensar, no entanto, que a influência de Dantas está apenas sobre a mídia e os partidos da oposição. O banqueiro bandido tem tentáculos no governo atual, tanto que o delegado Protógenes sofreu constantes retaliações por parte do comando da PF enquanto tentava investigar Dantas, precisou recorrer à Abin, com a cumplicidade de Paulo Lacerda, até que ambos terminaram afastados de seus cargos. Por outro lado, também é verdadeiro que foi neste governo atual que Dantas tornou-se alvo de operação federal (coisa que jamais aconteceria no Governo FHC – ao contrário, na gestão demo-tucana, Dantas virou um magnata das comunicações). Hoje, o banqueiro tem grandes chances de ser punido e devolver aos cofres públicos boa parte do dinheiro que roubou. A Polícia Federal trabalha como nunca antes na história deste país.

terça-feira, 9 de dezembro de 2008

Tudo tem limite.

Poucos episódios seriam tão oportunos para suceder a comemoração de 1 ano do Blog. Em compensação, esta a única vantagem de ter que escrever sobre o que ocorreu. Vou frisar novamente algo que já falei no texto anterior: este espaço está inserido em um movimento da chamada “blogosfera” que busca demonstrar a partidarização de segmentos importantes da mídia de massa. Muito mais do que um mero blog, eu encaro este espaço como algo que, pra mim, é um verdadeiro projeto de vida, porque eu acho que há muito mais em jogo, muito mais do que poder ou “política” (entendida como um fim nela própria), está em jogo um bem maior, coletivo, está em jogo o meu país. Por isso, mesmo quando não estou tão disposto ou com tempo, procuro levar a sério estas questões. Geralmente, tenho um impulso imediato para criticar, contradizer ou desmentir certas verdades da mídia. Desta vez, sinto repulsa. É como se eu estivesse descendo ao mesmo nível, ou legitimando algo que merece desprezo.

O Portal IG, na seção Educação, criou uma categoria intitulada “Presidentes Pioneiros”. Nela, estão: George Washington, Marechal Deodoro da Fonseca, Isabelita Perón, o novo presidente americano Barack Obama, Nelson Mandela, Evo Morales e, dentre outros, Lula da Silva. A princípio, uma bela homenagem! Entretanto, o problema aparece na descrição dos presidentes. O boliviano, por exemplo, tem a seguinte legenda: “Evo Morales venceu com maioria absoluta as eleições para presidente na Bolívia, tornando-se o primeiro presidente de origem indígena”. Ao lado da foto de Obama temos o seguinte texto: “Recém-eleito, o democrata Barack Obama será o primeiro presidente negro dos Estados Unidos quando assumir o posto na Cassa Branca em janeiro”. Lula foi assim descrito: “Em janeiro de 2003, Luiz Inácio Lula da Silva tomou posse no Palácio do Planalto como o primeiro presidente analfabeto funcional do mundo”. O que é isso? Onde é que nós estamos? Que espécie de brincadeira de péssimo gosto foi esta? Tudo tem limite!

Analfabeto funcional é alguém que consegue decodificar as letras, reconhece as palavras, mas tem dificuldade para interpretar textos mais longos e fazer operações matemáticas simples. Além de uma clara ofensa ao presidente, isso é uma ofensa aos seus eleitores! Particularmente, eu considero o presidente um homem inteligente, com uma incrível capacidade comunicativa e um profundo conhecedor dos problemas brasileiros. Mas, ainda que não fosse nada disso! Analfabeto funcional?! Dêem um tempo! Se um dia eu precisar escolher entre um sociólogo doutor da direita, conservador, reacionário, comprometido com o mercado, e um analfabeto da esquerda, comprometido com os avanços sociais, ah, não tenham dúvida, voto e faço campanha pro analfabeto! Mas não foi o caso, não é o caso de Lula. Isso é uma provocação, um deboche, um escárnio, não apenas com Lula, mas comigo, com seus milhões de eleitores! Se o presidente resolvesse entrar com um processo, na minha opinião, estaria coberto de razão.

Lula é pioneiro por muitos motivos... sindicalista, operário, retirante nordestino, sem formação universitária, dentre outras coisas. Também é pioneiro por investir em dezenas de milhares de empreendimentos de famílias pobres, que hoje consomem alimentos e eletrodomésticos; por dar a oportunidade de cursar o ensino superior a centenas de milhares de jovens pobres; por retirar milhões de brasileiros da pobreza e da miséria. Além de inúmeros outros indicadores sócio-econômicos que eu poderia vomitar aqui, mas que já são bastante conhecidos. Eu vi esta galeria do IG no último sábado, dia 06. Na segunda-feira, o texto já não estava mais lá. O novo texto é “o primeiro presidente sindicalista e operário do país”. Tudo está registrado nos prints abaixo (clique para ver ampliado). Lula, frequentemente, é tachado de ditador, anti-democrático, afeiçoado a censuras ou desrespeitoso com a Imprensa. Logo ele! Um presidente que já foi chamado de anta e petralha por figurinhas carimbadas da mídia, e agora é classificado como “analfabeto funcional”. Poderíamos crer que foi um erro conceitual, um deslize. Infelizmente, há um padrão.

A versão original:


A segunda Versão:


A desculpa esfarrapada: