quarta-feira, 8 de junho de 2011

O caso Palocci

Do papel da mídia

Pressão da oposição, por si, não derruba ninguém. Pressão da oposição, o Governo sofre permanentemente, em vários pontos do mandato. Sem a decisiva contribuição da mídia, um episódio como o do Palocci jamais tomaria estas proporções. Mas, convenhamos, um Ministro chave que teve seu patrimônio multiplicado por 20 em alguns anos é algo que para ser amplamente explorado não precisa de mídia golpista, precisa de mídia. Qualquer veículo de comunicação verá neste tipo de episodio um prato cheio – pela relevância do acusado, pela possibilidade de uso do tom alarmista ao qual a mídia predispõe-se, pela intensa movimentação gerada, pela atenção que chama etc. De maneira geral, o jornalismo tem se utilizado destes expedientes, como estratégia de sobrevivência mesmo. A entrevista que Palocci concedeu a Jornal Nacional, por exemplo, garantiu excelentes índices de audiência.

Agora, é evidente que houve exageros e precipitações ao longo de toda a cobertura feita do caso – seja pelo alarmismo de praxe, seja pelas simpatias políticas de quem comenta. Após o ex-Ministro ter falado ao JN, Cristiana Lôbo comentou, no Jornal das 10, que sem a entrevista,”nós estaríamos aqui discutindo os nomes que substituiriam Palocci na Casa Civil”. Pois foi exatamente o que a colega dela, Renata Lo Prete, tinha feito dois blocos antes.E o que a própria Cristiana tinha feito no Fatos Versões do sábado anterior. O que dá bem o tom da precipitação que contaminou a cobertura sobre do tema, desde o começo. E é claro que a cobertura ostensiva, em todos os principais espaços midiáticos, já garante o prolongamento e agravamento do caso, ainda que não haja concretamente um fato novo. Não se trata, portanto, de movimentos ou avaliações exclusivas do mundo político.

Do mérito

Um caso como este manifesta avaliações diametralmente divergentes: desde aquelas que enxergam um delito gravíssimo, que exala tráfico de influência e faz da presença de Palocci no Governo algo que prejudica o país; até aquela que descarta qualquer possibilidade de crime, e reduz tudo ao embate político. Respectivamente, os discursos da oposição e do governo. Diante de um espectro tão amplo de leituras, e considerando a contaminação política que de fato existe, o melhor parece mesmo recorrer à análise do mérito. E, neste caso, o mérito é jurídico. Até o momento, o Procurador Geral da República optou pelo arquivamento do caso, alegando que não há indícios mínimos de atividade criminosa tipificada pela lei.

Considerando os valores estratosféricos que as empresas estão dispostas a pagar – e falamos aqui de algumas das maiores empresas do país – não é de se estranhar a evolução patrimonial de Palocci. É bastante comum que o setor privado invista valores vultosos para atividades de consultoria, palestras etc. O questionamento que pode ser elaborado é no sentido da promiscuidade deste trânsito entre a atividade empresarial e a política, quando certos atores migram de uma para a outra ou conciliam diferentes interesses. A questão é válida, mas seria um trabalho árduo repensar esta relação, na medida em que a maioria dos deputados exerce atividades privadas ou comerciais.

Do desfecho

A presença de Palocci no Governo tornou-se politicamente desvantajosa. O parecer do procurador proporcionou um discurso para a base aliada, e até poderia manter o Ministro na Casa Civil. Porém, isto representaria um custo muito grande. A oposição teria mais respaldo para aprovar a convocação de Palocci ao Congresso e até para conquistar mais assinaturas para uma CPI. A mídia teria justificativa para manter o assunto aquecido. O Governo teria imensa dificuldade para construir o que se denomina “agenda positiva”. Seria muito inviável.

Da imagem de Dilma

Retomando a idéia de que um episódio como este não torna a mídia brasileira golpista, avalio que o tratamento jornalístico concedido à Dilma continua até bastante simpático – profundamente diferente daquele concedido ao Lula. Fora algumas exceções mais afobadas (tipo Merval Pereira), tem sido comum a interpretação de que Dilma tratou o caso com discrição e sobriedade. Claro que algum desgaste é inevitável. Perder o principal Ministro com 5 meses de Governo é um duro golpe. Mas nada que não possa ser dissipado ao longo do tempo, ou que prejudique de forma grave a avaliação da presidenta.

Da alternativa




Glesi é um quadro político em ascensão, inteligente, bem articulada, e defensora competente do Governo. Foi secretária no governo do Mato Grosso do Sul e na prefeitura de Londrina, além de diretora de finanças de Itaipu. É advogada, com especialização em Gestão e Administração Financeira. Politicamente, participou da equipe de transição de Lula, em 2002, e foi presidente do PT no Paraná. Eleitoralmente, concorreu ao Senado em 2006, quando perdeu para Álvaro Dias (apesar do favoritismo do adversário, Gleisi obteve votação expressiva); concorreu ainda à prefeitura de Curitiba em 2008; e foi eleita a senadora mais votada do Paraná, no ano passado, mesmo disputando contra o Governador Roberto Requião (que ficou com a segunda vaga), e com os candidatos da chapa de Beto Richa, do PSDB, que foi eleito Governador. Tem opiniões um pouco mais conservadoras que a média do PT para temas como aborto e direitos de homossexuais. O pouco envolvimento da senadora com o mundo político de Brasília pode ser um mérito. Espera-se de Gleisi Hoffman um trabalho mais técnico, de gestão e menos político, como é a proposta da própria Dilma na presidência. A escolha fortalece muito um quadro petista de grande potencial.

Um comentário:

  1. Por que Palocci?

    Antonio Palocci caiu por falta de apoio político. Sua nomeação equivocada para um cargo estratégico, a resistência de setores influentes do PT e a inabilidade no trato com a base aliada selaram seu destino desde muito cedo. A disputa pelos cargos nos diversos níveis governamentais, as derrotas do Planalto em votações polêmicas e os preparativos para as eleições municipais de 2012 apressaram o desfecho do imbróglio. O enriquecimento do ex-ministro serviu apenas como o pretexto “republicano” que faltava ao discurso dos adversários.

    Se houvesse lídima preocupação ética no debate, o público já saberia que a lista dos misteriosos clientes de Palocci envolve financiadores da própria mídia corporativa e de muitas campanhas eleitorais, inclusive de petistas célebres. A imprensa oposicionista, que num passado recente se chocou diante de certos “dossiês”, elucidaria o vazamento nebuloso dos dados que fundamentaram as acusações. E a curiosidade acerca do crescimento patrimonial alheio provocaria uma febre de estudos comparativos sobre centenas de parlamentares, ministros, governadores e prefeitos.

    Por que apenas Palocci deve tais explicações ao eleitorado? A esquerda precisa que a Folha de São Paulo alavanque seus escrúpulos morais? Vamos investigar, companheiros?

    É impossível aceitar a idéia de que os fundamentos do Direito não cabem no universo político. Mesmo que a presunção da inocência pareça irrelevante para o caso específico, a rapidez com que ela foi desprezada revela apenas um autoritário pendor para o linchamento e nenhum anseio real de justiça. É o pior exemplo que o STF poderia conseguir às vésperas de julgar os acusados do tal “mensalão”.

    Questionar a fragilidade e o oportunismo dos ataques a Palocci não significa defendê-lo. Em vez de refugiar-se nas acusações de patrulhamento ideológico, a blogosfera que ajudou a fritá-lo poderia ao menos evitar o maniqueísmo reducionista dos veículos tradicionais.

    http://www.guilhermescalzilli.blogspot.com/

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