terça-feira, 10 de novembro de 2009

Lula: subperonista, autoritário popular e analfabeto

O presidente Lula nada de braçada na política, de maneira que, como causa ou como conseqüência, a oposição mostra-se tímida, desarticulada e sem agenda. Por incrível que pareça, os principais candidatos oposicionistas à sucessão do atual Governo não assumem a linha de frente das críticas à gestão petista. Ao contrário, raramente Serra ou Aécio assumem um papel de antagonistas do Governo Federal, a não ser que estejam falando para dentro do PSDB. Publicamente, nenhum quer fazer frente ao presidente. Isso tem uma razão evidente: a popularidade de Lula, que intimida qualquer adversário. Assim, o papel da oposição, muitas vezes, é exercido pelos líderes do PSDB / DEM no Congresso; por órgãos como o TCU – que barrou obras importantes do mais badalado Programa do Planalto, o PAC – pela Imprensa; ou ainda pelo presidente do STF, Gilmar Dantas. Para reforçar o coro, o ex-presidente Fernando Henrique publicou artigo em O Globo e no Estadão, fazendo duras críticas ao Lula.

FHC acredita que o PT conduz o Brasil para um autoritarismo popularesco ou “subperonista”, com partidos e sociedade civil neutralizados, organizações sociais cooptadas e empresariado dependente do capital controlado pelo Estado. O líder tucano diz ainda que Lula não aceita críticas, e tentar matar moralmente os adversários. O jornalista Alon Feuerwerker escreveu em seu Blog que o PT caiu como um pato na armadilha de FHC, uma vez que respondeu ao artigo, praticando exatamente aquilo que foi objeto da crítica: os petistas “armaram o pelotão de fuzilamento”, buscaram a todo o momento desqualificar moralmente o adversário e não ofereceram argumentos ao mérito do debate. O próprio Lula afirmou que FHC é movido pelo inconformismo com o sucesso do Governo. Por pior que tenha sido a reação do PT, as críticas de FHC realmente me parecem por demais abstratas, vagas e de difícil assimilação pela maioria da população. O texto não trata de questões específicas, materiais ou que possam ser percebidas no cotidiano do brasileiro, é tudo muito intelectualizado.



O discurso pode surtir efeito sobre os públicos dos jornais – que já são majoritariamente “anti-Lula”. Mas o tiro pode sair pela culatra, quando considerada a disputa política como um todo. É fato que qualquer polarização pública entre FHC e Lula serve monstruosamente ao projeto petista. Claro que isto não exime o PT da necessidade de elaborar uma resposta decente, mas a percepção que a população tem da gestão FHC é acentuadamente negativa. E não é à toa. Kennedy Alencar, em sua Pensata desta semana, lembra que, nos mandatos federais do PSDB, “os fundos de pensão das estatais foram usados politicamente para a formação de consórcios privados que arremataram empresas públicas” – o que tornou gente como Daniel Dantas verdadeiros magnatas. “O Estado, naqueles anos, atuou no limite da irresponsabilidade, como disse Ricardo Sérgio de Oliveira, ex-diretor da área internacional do Banco do Brasil que ficou muito rico nos anos FHC. A Força Sindical, hoje nos colos de Lula, era massa de manobra do PSDB. A aliança com o PFL, hoje DEM, não difere muito da firmada pelo PT com o PMDB”.

Kennedy foi preciso, mas eu iria mais longe. Por mais que o PMDB e outros partidos da base aliada de Lula abriguem em seus quadros verdadeiras escórias da política brasileira, como Renan, Collor ou Sarney; o PFL, além de ter políticos da mesma laia, é o grande herdeiro da Ditadura deste país! Isto nunca é discutido! O partido da Ditadura militar foi subdividido no PFL (hoje, DEM) e no PP (Partido Progressista). Mas o DEMocratas pode ser considerado “o filho preferido”, pois herdou as máquinas eleitorais do Nordeste – simbolizada pelo finado ACM – e o programa partidário da aristocracia sulista – capitaneada pelo Jorge Bornhausen. A diferença entre as alianças do PT com o PMDB e do PSDB com o PFL é que a primeira é diariamente crucificada pela Imprensa e pela classe média brasileira, enquanto a segunda é naturalizada e tomada por adequada Hoje, o PT carrega, de maneira generalizada, a marca da contradição, da incoerência e da permissividade; o PSDB / DEM posa de defensor da moralidade e combatente da corrupção.

Kennedy lembrou ainda que FHC nomeou um procurador-geral da República que ficou conhecido como engavetador-geral da República. Resumindo: quem é o Fernando Henrique para criticar Lula por não respeitar preceitos democráticos? O Governo do PT, em muitos aspectos, representa avanços nas práticas republicanas. Na mesma semana, Caetano Veloso, que declarou voto em Marina Silva, chamou o presidente Lula de analfabeto. Esse tipo de crítica, realmente não tem como transigir. O presidente Lula, pode ter defeitos, mas é um dos grandes políticos brasileiros. Ataques como o de Caetano revelam preconceito e têm de ser colocados no seu devido lugar, o que foi feito pelos próprios jornalistas, em sua maioria. A melhor análise, por incrível que pareça, ficou por conta do Josias de Souza, que citou o próprio Caetano: “Quiseste ofuscar minha fama / E até jogar-me na lama / Só porque eu vivo a brilhar / Sim, mostraste ser invejoso / Viraste até mentiroso / Só para caluniar / Deixe a calúnia de lado / Se de fato és poeta / Deixe a calúnia de lado / Que ela a mim não afeta.

Um comentário:

  1. Aí, depois, Caetano tenta se explicar dizendo que não teve o objetivo de ofender Lula... além de cair mais uma vez do palco, rs! Quanto a FHC, desde os tempos em que escrevia sobre sociologia o Millôr Fernandes zoava com o estilo academicamente rebuscado (e muita vezes vazio) de seus textos.

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