sexta-feira, 5 de setembro de 2008

Impeachment, o samba de uma Nota só.

Pretendo falar sobre o caso dos grampos revelados pela Revista Veja, envolvendo conversas entre o presidente do STF, Gilmar Mendes, e Senadores. Mas como ainda não foi definitivamente esclarecido quem é o autor dos grampos e quais os exatos objetivos da interceptação, prefiro esperar dados mais conclusivos antes de entrar no mérito da questão. Não há elementos que comprovem a responsabilidade da Abin nas gravações, mas também não é possível desacreditar totalmente a matéria da Veja. Não sei se as investigações que estão em andamento serão produtivas, também não é possível prever quando conheceremos a verdade sobre os fatos. De qualquer forma, é prudente esperar um pouco, para que se tenha mais elementos. Por enquanto, quero comentar sobre algo bem concreto: PSDB, PFL e PPS divulgaram uma Nota conjunta (inédita, até então, neste Governo). A tríade oposicionista, basicamente, responsabiliza Lula pelos grampos, mesmo sem nenhuma prova concreta. Um trecho da Nota diz o seguinte:

“O presidente Luiz Inácio Lula da Silva recebia relatórios periódicos baseados nesses grampos ilegais. A mera hipótese de que esse fato venha a permanecer não-esclarecido, impune, faz girar para trás vinte anos a roda da democratização do Brasil, que tem no Supremo Tribunal Federal e no Congresso Nacional seus principais guardiões.”

Primeiro que os congressistas em questão não têm nenhum interesse em “guardar” a Democracia brasileira. Ao contrário, são grupos inconformados com a escolha soberana da população em eleger Lula presidente da República. Eleito, reeleito e cada vez mais popular. Não conseguindo superar o adversário nas urnas, por vias democráticas, estes grupos políticos lançam mão de outros recursos para atingir seus objetivos. O PSDB quer potencializar suas chances de voltar à presidência. Hoje, os tucanos lideram as pesquisas para 2010. Mas se Lula conseguir transferir votos, ele faz seu sucessor. O DEM vem definhando há várias eleições em praticamente todos os cargos analisados, e perdeu sua principal máquina eleitoral: o Nordeste, que vem optando por grupos de esquerda, aliados a Lula. O PPS pretende ocupar o espaço que eles supõem ter sido abandonado pelo PT, um partido de centro-esquerda, reconhecidamente “moral” e ético. Ainda na Nota, estes grupos avaliam que Lula é “frouxo”:

“O PSDB, o DEM e o PPS, manifestam sua extrema preocupação com violações tão graves e declaram sua indignação diante da reação frouxa do Presidente da República e de seus auxiliares imediatos.”

Eu imagino qual seria a reação ideal, na concepção dos três partidos... A renúncia? O presidente nacional do DEM, deputado Rodrigo Maia (RJ), declarou o seguinte: "Ou o presidente toma uma atitude rápida e aponta os responsáveis pelo grampo, ou, se continuar calado e omisso como está, ficará como responsável perante a sociedade e terá de responder por isto com base na lei do impeachment". Para impeachmar Lula são necessários 3 fatores: respaldo jurídico, articulação política e pressão popular. É possível que o presidente do STF, Gilmar Mendes (último Ministro indicado na era FHC) endosse uma investida contra Lula. Mas não é possível prever quais seriam os posicionamentos dos outros integrantes da casa. No Congresso, apesar do forte empenho dos 3 principais partidos de oposição, predomina a base aliada ao Governo. A população, segundo qualquer pesquisa mais recente, está majoritariamente ao lado de Lula.

É pouco provável que a oposição tenha aquilo roxo o suficiente para pedir o impeachment do presidente. Apesar de, tecnicamente, ser o mais coerente com o discurso adotado pelos três partidos. Mas sabem aquele jogo do “se colar, colou”? Pois é. Eles vão levando pra ver no que dá. No mínimo é mais uma oportunidade para desgastar o Governo. Especialmente em época de eleição, oportunidades deste tipo vêm a calhar.
Esse samba de uma nota só, a gente já conhece bem.

Um comentário:

  1. A oposição está ridicularizando a si própria. Essa invenções "políticas" contra o governo estão fazendo da base oposicionista um grupo de palhaços. É uma pena que partidos tão grandes precisem, a todo o momento, criar fatos para derrubar a fantástica aprovação do presidente. Entre o "cansei" e o "peidei", lançado pelo lobão, eu não vejo grande diferença. No fundo, ambos estão sem propostas concretas, só querem bagunçar tudo.
    Ao invés da criação de novas propostas, de mudanças estruturais nos partidos de oposição, o que se vê são tentativas frustradas de desmoralização do governo. A verdade é que o efeito está sendo inverso.

    ResponderExcluir