terça-feira, 17 de junho de 2008

É isso que eu chamo de jornalismo unilateral

É possível que um telejornal faça a cobertura de determinadas denúncias, sem adotar um viés político. Opte por não citar nomes, nem partidos, preservando os envolvidos, talvez partindo do pressuposto de que todo mundo é inocente até que se prove o contrário. É justo, certamente é um posicionamento editorial mais sóbrio e contido. Por outro lado, se o jornal preferir, também pode dar nomes aos bois, estampar a cara de governantes mesmo sem haver nenhuma prova concreta, e com isso desestabilizar um Governo ou um político individualmente. Basta deixar claro que ainda é uma denúncia e não uma sentença. É uma postura mais agressiva, mas não necessariamente condenável, já que muitas vezes trata-se de dinheiro público e a audiência tem o direito de saber o que se passa, com todos os detalhes. O que não pode é mudar o tipo de cobertura de acordo com o partido em questão.

Devido às denúncias envolvendo a venda da Varig, a Ministra Dilma Rousseff voltou a ganhar espaço na mídia. As acusações partem de Denise Abreu, ex-presidente da Anac, que está desempregada desde o Caos Aéreo e é tida por muitos como ressentida com o Governo [1]. Existe ainda a especulação sobre um encontro que Denise Abreu teria tido com Tasso Gereissati (ex-presidente e político influente do PSDB) antes de tornar públicas as suas denúncias [2]. Para Lula, Dilma virou “vidraça” para os ataques da oposição, porque supõem que ela pode ser “candidata a alguma coisa” [3]. De qualquer forma, a denúncia está aí, e neste caso bastou um boato para a Dilma voltar à berlinda nos telejornais da Globo. Tá certo, o boato não parte de uma qualquer, parte da ex-presidente da Anac. Mas foi o suficiente para, no mesmo dia, o caso ganhar toda a visibilidade a que tem direito.

Já no caso Alstom, o Jornal Nacional só levou ao ar uma reportagem sobre o assunto meses depois que o Wall Street Journal deu o furo falando em subornos da empresa francesa em vários países da América Latina. O periódico americano já havia publicado matéria específica sobre o Brasil citando os valores envolvidos na obra de extensão do metrô de São Paulo. Há desde denúncia da justiça suíça até investigação judicial na procuradoria de Paris. Serra apressou-se, já declarou que não precisa de CPI, existem “outras medidas de investigações” [4], que essa tentativa de inquérito na Assembléia Legislativa de SP é operação do “Kit PT”, ou seja, é “eleitoralismo” [5]. Eu só queria saber se o Wall Street Journal também está incluído neste “Kit PT” citado pelo Serra. A despeito dessas disputas políticas muito previsíveis, as denúncias são sérias!

Mas a questão aqui não é os méritos das investigações, é a diferença no tratamento que elas recebem da principal emissora de televisão do país. O que justifica um posicionamento editorial com viés marcadamente político, rendendo diversas pautas, no caso da Varig; e uma reportagem insossa [6], que não cita nome de político nenhum, tão pouco partido (a não ser o PT, que acusa), no caso da Alstom? A pergunta não é sarcástica. Eu sinceramente preciso de uma explicação. É por que um caso envolve o Governo do país e o outro envolve o Governo de um Estado? Mas, poxa, o caso Alstom tá ganhando repercussão internacional! É por que não há nada de concreto envolvendo governantes? Mas também não há no caso da Varig, até então! Afinal, que critério é esse?! É difícil de entender! Se alguém tiver uma explicação, por favor...


[1] http://clipping.planejamento.gov.br/Noticias.asp?NOTCod=435982

[2] http://www.projetobr.com.br/web/blog?entryId=7717

[3] http://www.estadao.com.br/nacional/not_nac188393,0.htm

[4] http://www1.folha.uol.com.br/folha/brasil/ult96u408285.shtml

[5] http://www1.folha.uol.com.br/folha/brasil/ult96u407945.shtml

[6]http://video.globo.com/Videos/Player/Noticias/0,,GIM837997-7823-JUSTICA+QUESTIONA+CONTRATO+DA+ALSTOM+COM+O+METRO,00.html

2 comentários:

  1. Explicação? Ainda não vi convicente.

    Mas lembrei de uma frase, do Groucho Marx, se não me engano, que parece encaixar neste caso

    "Seja o que for [do governo], eu sou contra!"

    [nota: alteração minha]

    ResponderExcluir
  2. O pior é que eles usam uma concessão pública. Algo nosso para fazer isso.

    Vou adicioná-lo no blog http://www.arenapublica.wordpress.com

    ResponderExcluir