sexta-feira, 21 de março de 2008

Pax Americana: imperialismo moderno

A Pax Americana pode ser definida, basicamente, como o triunfo do Capitalismo. Antes da queda do Muro de Berlim, o mundo era divido em dois blocos econômicos: de um lado, os países capitalistas, liderados pelos Estados Unidos, e do outro lado, os países socialistas, influenciados pelo regime da União Soviética. A Alemanha conviveu com os dois modelos econômicos até 1989. Em Berlim, o país era dividido em República Federal da Alemanha (capitalista) e República Democrática Alemã (socialista). Após a queda do Muro, houve um intenso movimento de refugiados em direção ao mundo ocidental. A Pax Americana, para o doutor em Direito Internacional, Guilherme Sandoval Góes [1], é “um conceito geopolítico, cujo significado é a imposição de um cenário internacional unipolar com predominância cêntrica norte-americana em todos os campos do poder nacional (político, econômico, militar, cultural e tecnológico)”. Ou seja, na condição de líder do bloco triunfante, os Estados Unidos poderiam impor ao mundo seu modelo econômico-social.

Certamente, a idéia de que vivemos submetidos à Pax Americana é questionável. Os Estados Unidos não tem condições de unificar ou polarizar todas as diferentes culturas das diversas nações. Por outro lado, o Capitalismo é mesmo a Ordem Econômica Vigente na maior parte do mundo e determina um estilo de vida para a maioria dos seres humanos. Também é inegável a superioridade militar americana e a interferência política de Washington em diferentes pontos do globo. Na América Latina, onde boa parte da população é vítima do sistema capitalista, muitos governos de esquerda surgem com a missão de corrigir injustiças históricas e, muitas vezes, contestando o regime americano. São governos socialistas, no sentido de priorizarem a questão social, almejando uma sociedade mais equânime. Atualmente, os Governos de Brasil, Chile, Argentina, Equador, dentre outros, assumem claramente o compromisso com crescimento econômico, para distribuir melhor as riquezas destes países. Venezuela, Bolívia e Panamá, hoje, geram grandes preocupações para a administração Bush.

Na Colômbia, entretanto, a situação é outra. O Governo Álvaro Uribe já recebeu apoio americano em diversas ocasiões [2]. Este mês, no maior confronto recente entre países latinos, o exército da Colômbia entrou em território equatoriano, sem pedir permissão, numa investida contra as Forças Revolucionarias da Colômbia. Na ação, 17 guerrilheiros foram mortos, dentre eles, Raúl Reyes, porta-voz tido como o número dois das Farc, que se empenhou nas recentes libertações de reféns políticos. O presidente do Equador, Rafael Correa, declarou que “o território equatoriano foi ultrajado e bombardeado por um ataque aéreo e a posterior incursão de tropas estrangeiras”, considerou que esta foi “a pior agressão que o Equador já sofreu da Colômbia”, e solicitou uma reunião de emergência da Organização de Estados Americanos (OEA) e da Comunidade Andina de Nações (CAN). Correa não aceitou as explicações e o pedido de desculpas de Uribe, expulsou o embaixador colombiano do Equador e enviou tropas para defender as fronteiras [3].

No Brasil, Lula avaliou que o presidente da Colômbia violou a soberania territorial do Equador [4], mas acredita que o problema deve ser solucionado por vias diplomáticas [5]. Já nos EUA, Bush posicionou-se enfaticamente ao lado de Uribe [6]. Hoje, penso que os EUA têm menos interferência sobre os países latinos – com exceção da Colômbia, é claro, que continua recebendo assistência e treinamento militar norte-americano, alegando que precisa combater o tráfico de drogas. Sendo que Álvaro Uribe é acusado de ter, ele próprio, ligações com narcotraficantes, como mostrou matéria do Fantástico [7]. De todo modo, não podemos esquecer que, no passado, esta mesma interferência de Washington em nosso continente já esteve a serviço das Ditaduras Militares. Com o discurso de promover desenvolvimento, defender os valores católicos e proteger a população da ameaça diabólica do comunismo, uma onda ditatorial alastrou-se sobre os países latinos, na segunda metade do século XX, sempre com o suporte dos Estados Unidos.

Segundo o documentário “The War On Democracy” [8] (John Pliger, 2007), desde 1946, os EUA já tentaram derrubar 50 governos, muitos deles eleitos democraticamente pelas suas populações. Durante este processo, 40 nações foram atacadas, invadidas e bombardeadas, causando incontáveis mortes. Na América Latina, dezenas de países sofreram interferência política dos Estados Unidos, direta ou indiretamente, o que levou ditadores ou líderes pró-americanos aos governos destas nações. Neste período, os países latinos modernizaram-se e as diferenças sociais foram intensamente aprofundadas. Os direitos humanos eram constantemente violados e milhares de cidadãos foram assassinados ao questionarem estes regimes. Ainda hoje, o Governo americano lança mão de estratégias político-econômicas para alimentar seu imperialismo nas regiões mais pobres do mundo. Entretanto, a Democracia liberta uma força, a força de uma gigantesca população que luta diariamente por uma vida mais digna. Esta força não pode ser derrotada!


[1] Doutorando em Direito Internacional pela UERJ. Professor de Direito Constitucional da Universidade Estácio de Sá.

[2] http://noticias.uol.com.br/ultnot/efe/2007/04/20/ult1808u90339.jhtm

[3]http://www.brasildefato.com.br/v01/agencia/especiais/equador-colombia/colombia-detona-crise-no-continente-em-operacao-contra-as-farc

[4] http://noticias.uol.com.br/ultnot/brasil/2008/03/04/ult1928u5355.jhtm

[5] http://www1.folha.uol.com.br/folha/brasil/ult96u378875.shtml

[6]http://www.jornaldamidia.com.br/noticias/2008/03/12/Mundo/Bush_ratifica_apoio_a_Uribe_e_cri.shtml

[7] http://br.youtube.com/watch?v=_idSpsS19RQ

[8] http://crapula-mor.blogspot.com/2008/03/pax-americana-imperialismo-moderno.html


6 comentários:

  1. Muito bom este artigo. Serei um visitante assiduo do teu blog e tambem vou inclui-lo nos meus preferidos.
    Abraço.

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  2. É sempre assim, os EUa sempre se metendo onde não são chamados e ainda por cima apoiando tudo q é causa doida e errada! E com esse problema financeiro, só me resta estar com medo por não saber até q ponto isso pode ou não influenciar o mundo! Mas fazer o que? eles são a potência né? A gente tem mais é que esperar, e esperar e esperar....

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  3. Os atuais governos sul-americanos incomodam muito os Estados Unidos. E eu acho bom que vários governos subdesenvolvidos, num mesmo continente, mostrem força contra a hegemonia americana. Não sei ao certo se chegam a ser uma ameaça, mas, só de incomodar um pouco os tão temidos USA, já vale a pena.

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  4. RRPVAMGPZNConheço esse termo "pax americana", que não é nem sombra do que foi a pax romana. Jamais terá a mesma grandeza, pois nem mesmo a pequena Europa voltou a ser unificada na forma preconizada pelos antigos césares, que deixo como herança na medieval e modernas Europa os kaiser e os czares.

    Após a queda do socialismo que realmente existiu nos moldes burocráticos do socialismo, elegeram os narcotraficantes e os islâmicos e terroristas como novos inimigos. Mesmo sabendo que para derrotar as milícias dos Panteras Negras na década de 70, usaram das drogas, que Cuba pré-Fidel era um bordel a céu aberto regado pelos narcotraficantes e que Uribe tem mais de tráfico de drogas que as FARC.

    Pax americana seria mais honesto ser continua guerra amaerciana...

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  5. Otimo trabalho de pesquisa para desenvover esse artigo. Só achei que você foi superficial na conclusão. Afinal, pre supõe que o que temos na maior parte do mundo é uma verdadeira democracia.

    Refletindo um pouco mais e analisando a história desse termo "democracia" penso que, talvez, o que temos hoje seja de fato isso (democracia), mas o que precisamos é algo muito mais avançado do que isso, afinal, liberdade de voto onde os votantes são conduzidos a um pensamento uniforme e pausteurizado não nos serve de nada. Liberdade de voto quando as opções são todas iguais eu dispenso.

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  6. só pra complementar:

    O correto seria Pax-Capitalista já que o imperialismo não é propriamete só dos EUA, mas sim do sistema economico e social que o mundo inteiro adota.

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