quinta-feira, 7 de fevereiro de 2008

Tapioquinha indigesta!

R$ 8,30. Este foi o valor gasto pelo Ministro dos Esportes, Orlando Silva, em uma tapiocaria, utilizando o cartão corporativo. Tem problema? É lógico que sim! Não pelos oito reais, em si. Mas, pelo precedente que este tipo de comportamento pode gerar. Se gasta uma mixaria hoje em um lanche, por que não gastar R$ 50,00 em uma farmácia, amanhã? O que vai impedir de abastecer R$ 100,00 de gasolina na semana que vem? Por que não pagar um jantar de R$ 300,00 para empresários chineses em um evento qualquer? Não demora muito, podemos receber a notícia de que mais de R$ 400,00 em despesas num Free Shop foram custeados com dinheiro público. Eu posso até acreditar que foi apenas um ato falho do Ministro, que foi pego desprevenido. Mas não aceito! O problema é antigo: esta mania de ignorar a linha que separa o público do privado.

Esta confusão é inadmissível! E quanto mais assistimos a notícias como estas, menor fica a nossa tolerância. É exatamente por isso que o cartão é providencial. As despesas são rastreáveis, transparentes, e permitem maior controle e fiscalização. Ninguém vai fazer desvio de dinheiro público, por meio de um cartão! O que acontece são abusos, ainda assim, todos são detectados e possivelmente denunciados, como vem acontecendo. Além disso, desta vez, o Governo responde com agilidade: demitiu, pediu esclarecimentos, investigou, restringiu o uso, proibiu saques em dinheiro na maioria dos casos e dialogou abertamente com a imprensa. Segundo a Controladoria-Geral da União, as despesas com suprimentos de fundos (que envolvem o uso dos cartões corporativos) caem significativamente desde 2003 ¹.

2007 foi um ano atípico, em que as despesas foram altas, em função da realização de dois censos pelo IBGE (censo agropecuário e contagem da população nos pequenos e médios municípios), de ações de inteligência da Abin (visando a segurança durante os jogos Pan-americanos) e da intensificação das operações especiais da Polícia Federal. As despesas da Presidência da República, especificamente, segundo o Ministro da CGU, Jorge Hage, caíram de R$ 5,3 milhões em 2006 para R$ 5 milhões no ano seguinte. Alguns Ministérios também reduziram gastos, como o do Meio Ambiente, da Integração Nacional e das Comunicações. Acontece que o problema vai muito além da administração federal: funcionários da Marinha, do INMETRO e, até mesmo, de Universidades ², apresentam despesas “questionáveis”.

Pra que servem os cartões corporativos? Exatamente para isso; pequenas despesas públicas (chamadas ‘contas do tipo B’). Às vezes, insignificantes. De qualquer forma, sempre realizadas com dinheiro do contribuinte. É por isso que o uso, necessariamente, deve ser seguido por um procedimento ético. Não importa se o servidor público ou o Ministro estava “desprevenido”, não é esta a questão. Ética não é uma conveniência, ou uma comodidade, é uma praxe. Ao menos, deveria ser. A despeito do valor em questão. A oposição, naturalmente, já gritou três letras: “CPI”. O Governo respondeu do mesmo modo: “FHC”. Tanto faz! Senado não esclarece nem as suas próprias contas, quanto mais as dos outros! Pra que servem as investigações no parlamento brasileiro? Exatamente para isso; palanque político, disputa acéfala pelo poder e satisfação de egos que estão mais preocupados em aparecer às câmeras do que trabalhar pelo país.

¹ http://www.cgu.gov.br/Imprensa/Noticias/2008/noticia00508.asp#a.conteudo

² http://www1.folha.uol.com.br/folha/brasil/ult96u370214.shtml


7 comentários:

  1. Adorei o texto, principalmente quando vc diz que ética não é conveniência e sim uma praxe e é exatamente isso que estamos precisando, desenvolver valores morais e sentimentos como respeito, solidariedade, compaixão, que devem partir de casa, da família, dos pais, através de exemplos, só assim poderemos ter uma sociedade melhor, mas justa, do contrário viveremos sempre nisso uns querendo se dar bem a custa do governo ou de outrem, o que importa é ganhar, se dar bem na parada. Um gd abraço.

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  2. Gostei muito do texto, principalmente do final que diz que CPI serve para político ficar famoso. O melhor exemplo que eu lembro é do deputado Josè Eduardo Cardoso que era um vereador comum que provavelmente jamais conseguiria galgar cargos de maior relevância, mas, teve um papel vistoso na CPI que derrubou o prefeito (de são paulo) Celso Pitta e com isso se tornou o deputado estadual mais votado na eleição seguinte.

    O que eu discorde é do trecho de que o governo apurou rápido. Na verdade ele tratou de limar os nomes que apareceram na mídia sem fazer a devida investigação. A Ministra Matilde da Igualdade racial por exemplo, gastou muito com locação de carros. No entanto ela não tinha direito de utilizar esses carros no seu trabalho? Imagino que ela tenha visitado muitas cidades interioranas para conhecer comunidades quilombolas. Ficaria mais caro se fosse transportado um carro oficial até o local para ela utilizar e não tem o menor cabimento uma ministra ter que viajar de busão ou em jipe do exército. Será que o que incomoda é ter uma Negra utilizando esse tipo de "luxo" que é andar de carro? Curiosamente o José Dirceu que já tava com a mão amarela foi defendido até o ultimo instante pelo governo até sua situação se tornar insustentável.

    Só pra complementar, o gasto no free shop, que foi bastante explorado, já havia sido devolvido antes das denúncias. Eu particularmente não acho que ela seja santa (afinal se é do PT certamente coisa boa não é), mas desconfio que tenha havido um tratamento diferenciado não só por ela ser mulher e negra, mas pelo fato do seu ministério não passar de uma fachada, para que o governo possa fingir que está dando a devida atenção aos negros.

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  3. Um adendo:

    Na verdade, o cartão não é tão transparente como dizem. Afinal, se mais da metade é sacado em dinheiro então para ter transparência deveriam ser publicadas no site oficial as notas fiscais de todos os gastos.

    Aproveito a deixa para comentar sobre o Cartão do governo de São Paulo:

    Assim que estourou essas denúncias o Jornalista representante do governo federal, o Paulo Henrique Amorim, astutamente publicou sobre o cartão paulista.

    O governador Serra, com uma cara de pau imensa, simplesmente disse que não existia cartão em São Paulo!

    Aqui também boa parte dos gastos foi em saques em dinheiro.

    Depois de uma semana o governador Serra anunciou suas atitudes. percebam como ele é mais ligeiro do que o Lula:

    Enquanto o governo Lula afirmou que vai tirar algumas informações do site alegando que elas comprometem a segurança o Serra declarou que o uso do cartão está suspenso até concluirem as investigações. Ele afirmou também que não mais poderão ser feitos saques em dinheiro.

    Ao mesmo tempo o governo federal informou uma série de atitudes subjetivas como, por exemplo: "vamos limitar os saques em dinheiro", limitar em quanto? e cadê a prestação de contas dos gastos feitos até então?

    Ai, pra não deixar barato conseguiram negociar com a oposição duas condições para a CPI:

    1- Vão investigar desde o governo FHC

    2- Nâo vão investigar gastos diretos dos presidentes.

    Será que vão assumir mesmo que a briga é pra provar quem rouba menos?

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  4. êêêêêêêêê...ruan, qnt tempo!...vi no seu msn que criou um blog aí resolvi dar um pulo aqui!! Claro que o assunto principal é política..é a sua cara...e acho ótimo poder saber da sua opinião...vc va ter q me ensinar a jogar carta de novo q eu já esqueci tudo!!! =P...bjs...te add no meu blog =***************

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  5. Realmente, é de dar vergonha mesmo tantos maus exemplos que vemos por aí. Assim como o pessoal acima, tbm gostei muito de quando disseste que a ética não é uma conveniência e sim uma praxe, assim como da maneira que tu introduziste teu texto, informando que não foi pelos 8 reais em si.

    A gente abre o jornal diariamente, e é de dai raiva o que vemos.Nos telejornais então, aí sim é que a coisa fica crítica.
    BELO TEXTO, RUAN! ABRAÇÃO!!! =)

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  6. Sabe, pode ser até ingenuidade miinha, mas juro que não acreditei logo de cara que era possível realizar saques em dinheiro com o cartão corpoartivo. É que pareceu tão evidente que, se o objetivo é transparência, então permitir saques desse tipo só vai atrapalhar o acompanhamento de tudo...

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  7. O governo agiu certo: limitou os saques, identificou rapidamente os abusos e não só permitiu a apuração através de CPI, como concordou com a idéia, só que ampliando para os anos do governo FHC tbm, que de santo não tem nada.
    O único problema é que não fica especificado com o que deve ser usado o cartão, o que, ao meu ver, deixa espaço para certos abusos.

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