sexta-feira, 22 de fevereiro de 2008

Parece massa de bolo.

Senso de oportunidade. É mais ou menos assim... A última pesquisa que o IBOPE fez sobre a avaliação do presidente foi em Setembro, no auge da Crise Renan Calheiros. Lembro que o período em que as perguntas foram feitas coincidiu com (ou foi imediatamente após) a absolvição de Renan no Senado. O país estava perplexo, inconformado. Teria momento melhor? À época, a aprovação do Presidente caiu 3 pontos, para 63%. Este ano, a oportunidade que apareceu foi a Crise dos Cartões Corporativos. A CNT/Sensus arregaçou as mangas e foi às ruas. O resultado foi um surpreendente crescimento na aprovação de Lula e do Governo. Desde janeiro de 2003 esta administração não era tão bem avaliada [1]. O desempenho pessoal do presidente foi aprovado por 66,8% dos entrevistados, ante 61,2% na sondagem anterior, superado apenas pelos 69,9% no primeiro ano de mandato.

A pesquisa faz uma ressalva: dos 64,1% que conhecem o assunto, 10,9% aprovam a manutenção do uso do cartão corporativo; 83,1% desaprovam a prática e 3,4% aprovam, desde que regido por normas. O Estadão e a Folha/UOL não deixaram barato. O primeiro fez uma enquete em seu site, perguntando “Você está satisfeito com o governo Lula?” [2]. O resultado oscilou bastante, o “Não” largou na frente. O “Sim”chegou à casa dos 90%. Quando vi pela última vez, o “Não” estava de volta à liderança com 60%. Seja qual for, o resultado final não terá muito valor, porque pode ser adulterado com programinhas para votação automática [3]. Além disso, uma pesquisa técnica, criteriosa, proporcional às características da população, em nível nacional, obviamente, tem muito mais relevância do que a enquete do Estadão.

A Folha foi mais perspicaz, criou um “grupo de discussão on line[4]. No site do UOL estava devidamente esclarecido: “Quase 40% dos internautas do UOL discordam com avaliação positiva do governo: 28% concordam com os resultados da pesquisa, 39,6% não concordam com a avaliação recebida por Lula e 32,4% opinaram sem se posicionar a favor ou contra”. A troco de que dois veículos de comunicação criam uma enquete e um “grupo de discussão” logo após o resultado de uma pesquisa? Será que eles gostaram do resultado? Estas estratégias discursivas têm objetivos muito claros: primeiro, mostrar que os respectivos públicos são diferenciados, e não podem ser confundidos com “a massa”. Depois, é preciso esclarecer que existe um grupo de cidadãos (supostamente mais esclarecidos) que sustentam o posicionamento divergente. Logo, a pesquisa precisa ser “relativizada” (para usar um termo sutil).

Os meios de comunicação de massa, no Brasil, são mal acostumados. A mídia acredita revelar a verdade, e também acredita que algo está errado quando a audiência não codifica esta verdade da maneira que deveria. Mas, a verdade, como sempre, depende de um ponto de vista. E, nem sempre, o ponto de vista da mídia corresponde ao do público. Em certos momentos, surgem fatores relevantes, percebidos no cotidiano desta população, que confrontam ou pesam mais que os postulados da mídia. Neste conflito, é a opinião da maioria que prevalece. A despeito da pretensão midiática de determinar a opinião pública – o que em certa medida acontece mesmo – há resistência. É possível falar em influência dos meios de comunicação sobre a audiência, por razões óbvias. Mas não há manipulação. Não adianta! E, nestas circunstâncias, parece que se insistir é pior: quanto mais bate, mais cresce.

[4] http://noticias.uol.com.br/ultnot/2008/02/18/ult23u1191.jhtm

6 comentários:

  1. A má vontade da mídia com o governo Lula é antiga, mas discordo de algumas pessoas que vêem um tal PMG - "Partido da Mídia Golpista" - com pretensão de derrubar o barbudo a qualquer custo. Creio que por trás das tentativas da mídia de sempre olhar o "lado ruim" de tudo, chegando ao absurdo de contestar avaliações positivas do governo, existe uma motivação bem menos nobre e mais explítica que a de "derrubar um governo corrupto". Trata-se menos de ambições políticas e mais de pragmatismo e motivação pecuniária mesmo. O fato é que, pra dizer o óbvio, este NÃO É UM PAÍS PARA TODOS. Com a taxa de analfabetismo na casa dos 20% e a linha de pobreza ainda beirando os 50%, acesso à mídia não é pra qualquer um - muito menos a mídia escrita e a Internet. E a mídia, ao mesmo tempo que "informa", escuta - e muito bem - o que seus leitores querem. Ela tem de fazê-lo, afinal sua receita vem deles.
    Um grande filósofo disse certa vez que, quando um escritor passa a dar ouvidos a seus leitores, ele está perdido. Pois é isso que vejo acontecer com a mídia hoje. Ela mostra o que seus clientes querem ver. Não é novidade que a rejeição a Lula se concentra nos extratos mais ricos, bem estudados e "bem informados" da sociedade. Eles querem ver o lado ruim, e não concebem a hipótese de pessoas bem informadas ainda apoiarem o governo. Por isso enquetes esdrúxulas na internet ou jornais tais como "você confia nas avaliações do governo Lula?". Eles não querem saber se dois terços do país apóiam o governo do PT, eles querem é ter certeza que o seu terço - a tal elite intelectual, os bons, os informados - ainda está puro, ou seja, abominam Lula como sempre.
    E a mídia, "coitada" (como se não tivesse sua parcela de culpa), se perde nesse fogo cruzado entre incluídos e excluídos, bons e maus, "conscientes" e "acéfalos". Ela precisa contentar aos opositores de ontem, hoje e sempre, mas também precisa mostrar o óbvio (que o país está melhorando sim senhor e o povo percebe isso, e não somente os tais "iletrados", mas boa parte da Zelite também). Qual a saída? Veja e Estadão não querem saber, pois só escrevem pros seus leitores - os tais "puros". Já a Folha acha que sabe. Ela atira pros dois lados. Para cada manchete contrária ao governo, desencava uma notinha sobre uma maracutaia da oposição. Esta fica indignada, afinal não passa de "coisa requentada". E é mesmo. As maracutaias da dupla PSDB-Demo são antigas, os processos investigativos correm por aí até hoje mas ninguém quer saber mais. Por isso a Folha não tem trabalho pra encontrar munição. E assim agrada a gregos e troianos.

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  2. Na minha opinião, é sempre a mesma minoria que detém o poder temporal e conseqüentemente controla os meios de comunicação. Muitas vezes fazem verdadeiros alardes desnecessários, noticiando fatos irrelevantes para o cotidiano mundial, na medida em que o mesmo circula, por exemplo, por todos os telejornais diários e de diferentes horários e emissoras... Ou seja, pra que seja gerada tanta polêmica assim, é necessário que haja ALGUÉM MUITO GRANDE por trás disso tudo - alguém como o nosso "querido" Presidente da República, por exemplo.
    Ou seja, pra bom entendedor apenas meia palavra basta. ;-)

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  3. Não tenho muita esperança em relação à mídia e política. Tentar modificar os assuntos e a forma de fazer jornalismo me parece um sonho muito distante. É só observar o Lúcio Flávio. Vive nos fundos da casa da mãe lutando bravamente contra os poderes do Pará e o que ele ganha em troca são umas boas bofetadas. Todo mundo acha bonito o que ele faz, mas ninguém intervém a favor dele de modo muito expressivo. É aquele famoso 'apoio moral', inclusive de minha parte.
    Aí a gente fica sem confiar na mídia que tem interesse por trás dos números, sem acreditar nos políticos que vivem envolvidos em escândalos... O que fazer? Migrar para o jornalismo cultural =P. Beijos, ruan.

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  4. Ruan muito legal teu blog, somos parceiros na comunidade VIP. acabei acessando teu blog e achei ele fantástico se tu permitir gostaria de colocar entre os favoritos do meu.

    Abraço

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  5. "Em certos momentos, surgem fatores relevantes, percebidos no cotidiano desta população, que confrontam ou pesam mais que os postulados da mídia."

    É difícil mesmo a mídia aceitar que há grupos com bom nível de informação e educação que aprovam o atual governo (pelo menos quando a referência são as gestões passadas e fica no "não tá bom, mas tá melhor"). Mas, quanto à parcela pobre e/ou analfabeta, a questão vai além de ter formação intelectual para saber acompanhar ou nadar contra a maré da "verdade oficial" dos grandes órgãos midiáticos. Começa no cultivo ao pensamento de que os políticos estão além do povo e, por isso, este acha um asfaltamento de rua é favor especial, não obrigação de representante popular que lida com finanças públicas. Por favor especial, responde-se da melhor maneira possível nesse caso: aprovação e voto, ainda que todas as outras ruas estejam aos buracos (e violentas, sem saneamento básico etc). E vem o pensamento "Que órgão midiático pode com isso?". As tais noções de cidadania do ensino fundamental podem ajudar...

    E, por isso, a comparação é ótima: é uma massa de bolo!

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  6. Não vejo as coisas dessa forma como foi colocado no texto. Ao meu ver a mídia, em sua maior parte, não faz oposição ao governo Lula, afinal, ela tem uma caracteristica marcante que é a de se vender para quem está no poder. O governo tem suas armas, boa parte dos anunciantes são empresas estatais, só isso já basta.

    É claro que alguns veiculos como a Veja ainda fazem uma oposição golpista descarada, mas em geral, o que todos apoiam é a direita e como o governo Lula, aos poucos, vai para a direita, logo, eles passam a apoiar o governo Lula também.

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