segunda-feira, 26 de novembro de 2007

Drops - Novembro 2007

“Drops” é uma sessão de breves comentários que eu pretendo fazer sobre assuntos diversos, na mesma postagem. Comentem só o assunto que vocês quiserem, não precisa comentar tudo. Os drops serão mensais, vamos aos de Novembro:

Na terra deles é diferente

Eu nunca entendi direito o horário de verão. Até porque não há horário de verão no estado onde morei a vida toda. Sempre achei estranho o fato de as pessoas se comportarem como se fosse um horário, sendo que, na verdade, era outro. Finalmente, estou morando em São Paulo durante alguns meses do final do ano. Na prática, continuo sem compreender muito bem o tal horário de verão. Primeiro, quero dizer que aquela hora que sumiu, do nada, de domingo pra segunda, fez muita falta! Eu tinha prova na segunda! Foi uma hora a menos que dormi! Não me senti bem naquela prova... Depois, continuo achando estranho as pessoas fingirem que é um horário, quando sabem perfeitamente que é outro! Como assim, 19h e pouco?! Vocês não estão vendo o céu totalmente claro ainda?! Paulistas cínicos!

Dia desses...

No Jô, o Diogo Mainardi chamou o presidente Lula de anta – para a euforia da platéia. O colunista da Veja explicou que o adjetivo “anta” é pelo fato de Lula ter sido perseguido e conseguido escapar. Não era, portanto, uma ofensa à capacidade intelectual do presidente (aí a platéia não gostou). Bom, ninguém nunca mais vai poder insinuar que Lula tem tendências autoritárias... Jornalista fala o que quer e bem entende, até chama o presidente de anta em rede nacional. Além disso, a todo o momento, na nova novela das 20h, alguém “tira uma” com a cara do presidente. Coisa do tipo “não sabe nem falar inglês”, e por aí vai... Como se o povo tivesse votado sem saber que ele não fala inglês, ou como se não tivéssemos o direito de escolher um representante que não fala inglês. E o Jô – ainda na entrevista com o Mainardi – teve o cinismo de dizer que eles adotam uma postura “eqüidistante” dos partidos políticos. Aí eles chamaram de anta o povo brasileiro inteiro!

ACM Neto é um fanfarrão!

O “democrata” fazia um discurso, como sempre, inflamado, contra a Ditadura na Venezuela. Adorei a resposta do Ivan Valente / PSOL: “Quem está aqui criticando o governo da Venezuela são os que apoiaram o Regime Militar no Brasil”. Pedala, democrata!

Em tempo:

Sexta-feira (16), o Jornal da Globo fez uma matéria sobre a pesquisa que a ONG Latinobarômetro realizou em 18 países latino-americanos. O jornal abordou vários aspectos, mostrou vários gráficos e dados da extensa pesquisa. A idéia central da reportagem era, basicamente, demonstrar como os latinos apóiam a Democracia. Mais uma alfinetada no presidente da Venezuela. Se bem que os venezuelanos apareceram na pesquisa como uma das nações que mais prezam pelos valores democráticos. Parece que a questão é subjetiva... A matéria também ignorou completamente um dos resultados que eu considerei dos mais relevantes: “o presidente Luiz Inácio Lula da Silva é o líder político com melhor imagem na América Latina e o único a manter o posto nos últimos dois anos”. Qualquer site (IG, UOL, Terra) colocava esse dado logo no título do link. Mas, o Jornal da Globo resolveu ocultar descaradamente e insistir na sua picuinha com o Chavez. Aí eu pergunto: que direito tem a Globo de cobrar democracia de quem quer que seja, quando a postura que a emissora adota é das mais autoritárias?

domingo, 18 de novembro de 2007

"Quem financia a baixaria é contra a cidadania!"

Televisão é uma concessão pública, por isso deve prestar serviços à sociedade. A partir do momento em que a lógica mercadológica sobrepõe-se à formação crítica da audiência, aos conteúdos educativos e ao teor cultural, é porque os interesses privados estão prevalecendo sobre os públicos. A sociedade exerce controle social sobre a qualidade da saúde, da educação, segurança, entre outros serviços. Por que não sobre a comunicação? Discriminação da mulher, do negro, do homossexual, do indígena, do morador de periferia é violação de direitos humanos. Esses grupos são frequentemente excluídos nos meios de comunicação de massa, inferiorizados ou retratados de maneira caricata. Não que deva ser proibida qualquer forma de humor, mas as minorias precisam ser representadas também de maneira digna, democraticamente. Comunicação é direito humano reconhecido, e precisa estar a serviço das causas sociais.

A regulamentação da mídia é encarada com muita naturalidade em países dos mais desenvolvidos, como Inglaterra, Suécia e Estados Unidos. Infelizmente, no Brasil, toda a discussão sobre controle da programação televisiva é imediatamente rotulada de censura. Muitas vezes, esta resistência surge da própria indústria da mídia, que utiliza seus instrumentos de influência sobre a sociedade, para sabotar qualquer avanço. Enquanto isso, as programações exibem conteúdos inadequados para crianças e adolescentes, em qualquer horário. Se, por um lado, cabe aos pais a responsabilidade de determinar quais conteúdos são apropriados para seus filhos; por outro, está mais do que comprovado que a ausência de regulamentação leva as emissoras a exibirem uma programação aberta marcada pela baixaria e pela perseguição de lucro a qualquer custo.

É justamente para proteger os direitos das crianças e adolescentes, que a sociedade civil precisa de organização para acionar mecanismos de constante avaliação dos produtos midiáticos. É difícil mensurar até que ponto vai a participação do Estado, nesta problemática. De toda forma, as decisões não podem ser tomadas a despeito dos direitos coletivos. ONG's, entidades, pesquisadores acadêmicos, estudantes, universitários, sites, blogs e os próprios programas de TV, dentre outros, precisam, cada vez mais, provocar este debate e estimular a sociedade a fiscalizar, não apenas a qualidade das programações, como também os processos de distribuição de concessões públicas na comunicação.

Uma matéria jornalística, por exemplo, na BBC, dura 6, 7 minutos, em média, e procura contextualizar as informações. Em emissoras brasileiras, muitas matérias não passam de 30 segundos. Ao invés de oferecer vários aspectos sobre uma questão, permitindo que o espectador forme a sua própria conclusão, boa parte da mídia no Brasil quer oferecer as respostas, assumindo um posicionamento totalmente tendencioso e unilateral. É muita opinião disfarçada de informação! Parte do público, infelizmente, está condicionada a adotar as informações da mídia como uma verdade inquestionável e que deve ser absorvida automaticamente; quando, na verdade, qualquer mensagem jornalística é uma VERSÃO dos fatos. Liberdade de imprensa deve ser respeitada, mas não pode funcionar como álibi para este autoritarismo. Pluralidade deveria ser a palavra de ordem em um veículo de comunicação de massa.

Ela reina, inabalável.

É impressionante como as pessoas têm uma necessidade irreversível de sentirem-se inseridas em algum grupo. Outro dia, um amigo questionou por que todos os médicos têm uma caligrafia indecifrável. Comecei com a minha filosofia de botequim, e disse que era pela necessidade deles sentirem-se parte de uma comunidade. Uma comunidade que implica práticas e códigos que precisam ser compartilhados pelos seus integrantes, e a caligrafia bizarra seria um dos requisitos básicos para o reconhecimento de um membro legítimo. Tão importante quanto ser médico é parecer médico. Logo, que espécie de receita seria escrita com uma letra apreciável? O médico tem o direito adquirido de dificultar a leitura do paciente, sem ser questionado!

Em relação à letra do médico, pensei em voz alta. Mas, naquilo que diz respeito às bebidas, estou convencido. A maioria das pessoas bebe para sentir-se inserida no grupo. É óbvio que alguns, de fato, apreciam o sabor da bebida. Aliás, outro dia teve um happy hour na casa de um professor, e lá tinha um vinho muito saboroso! Italiano. Meu professor sempre viaja para a Itália, nasceu lá, por isso sempre traz dessas bebidas. Com um vinho daqueles, qualquer um fica alegre sem nem perceber. Mas, salvo raríssimas exceções, as pessoas estão mesmo preocupadas com que os outros vão pensar.

Todo mundo, em alguma medida, liga para o que os outros pensam. Isso é comum. Mas, algumas práticas sociais já estão impregnadas nas nossas mentes. A cultura do álcool é um dos maiores exemplos. Seja para impressionar os pais (grupo familiar), seja para impressionar os amigos (grupo social), os jovens começam a beber para receberem aprovação de determinado grupo. A maioria dos meus amigos não considera cerveja saborosa (no começo, pelo menos). No entanto, em cada uma das nossas saídas, lá está a Skoll no centro da mesa, soberana, indispensável. Não existe perigo para dirigir, ressaca ou mal estar que ameace o reinado dela. Mesmo precisando fazer um esforcinho para suportar o gosto, bebe-se!

A bem da verdade, outro motivo torna, particularmente os homens, reféns da necessidade de beber: o álcool torna-os mais desinibidos. E isso, nas noites, é moeda valiosíssima! Nada como uns gorós, antes de chegar na mulherada. De qualquer forma, tudo é parte de um ritual imposto pelo grupo. E quem não bebe? Não participa do brinde, não faz parte da bagunça, não tem a aprovação dos demais, enfim, fica de fora do ritual. No Pará, costumam dizer: "quem não bebe ou não fuma, não f***!" Seria o supra-sumo da ditadura do álcool?

Se nós parássemos para perceber a quantidade de coisas que fazemos, só porque os outros fazem, ficaríamos impressionados. Geralmente é assim... Mais fácil reproduzir os comportamentos e opiniões dos outros, do que pensar criticamente por si. Bebida pode ajudar a animar o clima, algumas são muito saborosas (ah! Vinho italiano!), fazer um brinde não mata ninguém. Mas, se não gosta de cerveja, fica 'malzão' depois, precisa dirigir, não quer gastar ou tá a fim de uma noite mais tranqüila, por que bebe?! Cuidado para não passar do limite nesta necessidade da aprovação dos outros e para não se tornar dependente de um estímulo artificial para conseguir se divertir.

Por que a mídia acha que eu sou doido?

A mídia insiste em me chamar de louco, achar que eu sofro de amnésia ou sou esquizofrênico. Não apenas a mim, mas o público como um todo. Em recente entrevista ao programa Entrevista Record, da Record News, o Djavan resolveu mostrar sua indignação para com a política. O cantor falou que perdeu a esperança no congresso e que, como congresso e governo são 'a mesma coisa', também se desiludiu com o governo. Falou também que o voto secreto é uma sacanagem, que tudo começa aí. No novo CD dele, tem uma música chamada imposto, na qual o artista desabafa.

Resumindo, o Djavan também cansou! Esse movimento dos cansados é bem por aí... Cansaram dos traficantes, dos impostos, da impunidade, da burocracia, das crianças nas ruas e não nas escolas, da corrupção, da violência... Ou seja, de problemas que o Brasil tem desde que eu me entendo por gente. Cansaram só agora?! Que estranho! O Djavan com toda a influência que possui, sendo um dos principais ídolos da classe média pseudo-intelectual metida a besta, poderia ter se manifestado, por exemplo, em 2003, quando o Senador Tião Viana (PT/AC) apresentou a PEC que propunha o fim das votações secretas.

Mas, não. Negativo! Não vi senhor Djavan, nem passeata dos universitários na paulista, nem capa de Veja, apoiando a causa. Aliás, a PEC (proposta de emenda constitucional) foi derrubada por 41 votos contrários versus 34 a favor, mais 3 abstenções. A emenda precisava de 49 votos para ser aprovada. E quem não permitiu o fim das votações secretas no congresso brasileiro? PSDBistas e PFListas. Isso mesmo! Os mesmos tucanos e demos que hoje vão às tribunas (e às câmeras) mostrar indignação para com o voto secreto, e posar de defensores da moralidade.

O Djavan cansou. Tadinho! Mas eu ainda tenho fôlego pra procurar o e-mail da jornalista que estava fazendo a entrevista. Preciso perguntar se ela acha que eu rasgo dinheiro, bato com a cabeça na parede ou chamo urubu de meu loro. A jornalista deve supor que sou doente mental ou que já esqueci a história do Brasil de 4 anos atrás. E olha que a Record ainda é a menos pior. Tem emissora que eu assisto só pra me irritar! Num próximo texto, eu cito nomes. Quero dizer, marcas. Isso dá muito pano pra manga. O governo precisa avaliar melhor pra quem entrega suas concessões públicas. Quanto a nós, não podemos esquecer que emissoras de rádio e TV receberam concessões PÚBLICAS, para poder funcionar.