segunda-feira, 4 de abril de 2011

A democracia que queremos (uma resposta ao Noblat e ao Bolsonaro).

Nesta segunda, Noblat escreveu um artigo para defender a liberdade do deputado Bolsonaro de defender suas opiniões, e criticar os que se colocaram contra o parlamentar, os 'fascistas do bem'. Segundo o colunista, se não respeitamos as declarações de Bolsonaro, nos igualamos a eles, nos tornamos intolerantes também. Noblat incomoda-se com uma ‘patrulha estridente do politicamente correto’, que seria ‘opressiva, autoritária, antidemocrática’. Claro, o blogueiro também não perde a oportunidade de espinafrar Lula, por causa de uma piada que o ex-presidente fez com a cidade de Pelotas, décadas atrás. Noblat parte do seguinte pressuposto: “Nossa capacidade de tolerar os intolerantes é que dá a medida do nosso comprometimento para valer com a liberdade e a democracia”. É uma premissa absolutamente falsa!

Não é verdade que, em nome da liberdade de expressão ou da tolerância, qualquer discurso está justificado ou seja inimputável. Não é possível que rigorosamente todas as falas sejam aceitas, como partes legítimas do debate democrático, sob pena de nos igualarmos a um Bolsonaro da vida. É claro que as diversas opiniões podem ser defendidas, inclusive aquelas que são contrárias a direitos de minorias como as cotas raciais, casamento civil gay, adoção por casais homossexuais etc. Aliás, elas já o são, ao contrário do que insinua cinicamente o Noblat. O problema está no ataque proferido, na injúria, na discriminação, na perseguição praticada contra grupos historicamente excluídos sob vários aspectos. Não, nem toda opinião é parte legitima do debate, e isso não viola, mas fortalece a democracia.

Paulo Moreira Leite, da Época, é muito feliz quando cita o exemplo da França, em que a extrema direita defende seus posicionamentos, mas sem atacar outros grupos. Jean-Marie Le Pen defende a ‘França para os franceses’, mas toma cuidado para não agredir os imigrantes. É igualmente obscuro, mas qualitativamente diferente. Aqui, o ‘politicamente correto’ cumpre uma função primordial, na medida em que protege direitos. Este quadro é sintomático de uma democracia amadurecida, em que não há espaço para discursos intolerantes – os de verdade, não os fabricados por sofismas como os do Noblat. Paulo M. Leite argumenta que “a sociedade francesa não permite. A força das idéias democráticas naquele país é tal que não se aceita que as teses antidemocráticas sejam proferidas em público, de modo exibicionista e ofensivo, como faz Bolsonaro”.

Noblat deturpa argumentos, inverte valores e tenta igualar coisas muito diferentes, no afã de atacar Lula e a esquerda (sim, porque foi principalmente pessoas identificadas com a esquerda que se insurgiram contra Bolsonaro, seja na blogosfera, seja no Congresso, vide Jean Wyllys / PSOL, Manuela D’Ávila / PC do B e Brizola Neto / PDT). O guarda-chuva da tolerância não pode abrigar todos! Não pode abrigar, por exemplo, um neonazista, e também não tem espaço para os Bolsanaros. Ninguém pode reivindicar para si o direito de perseguir, constranger, condenar, agredir de qualquer forma, outro grupo, por ser diferente. É premissa jurídica básica que um direito termina onde começa outro. O exercício pleno da cidadania deve ser estendido a todos, sem distinções. Alguns defendem isto, outros não. É preciso escolher um lado, há muito que se avançar a este respeito no Brasil, e é neste sentido que devemos seguir, sem hesitações.

2 comentários:

  1. Olha, seu Crápula-Mor, assista novamente à entrevista do Bolsonaro no CQC. Para mim, pareceu que as suas respostas apenas refletiam opiniões conservadoras. Ele disse ser contra as cotas, pois defende a igualdade entre todos; que daria uma enérgica reprimenda num filho que usasse drogas; que não corre o risco de ter filho gay pois é um pai presente; que os gays são tolerados no Exército, desde que se mantenham na linha; que nem conta quantos chefes negros teve; e assim por diante. Bolsonaro só escorregou na pergunta da Preta Gil. Depois, disse que não entendeu a pergunta. Ora, será que o programa de entrevistas do CQC é uma prova de vestibular em que o enunciado faz parte da questão? Não valem nada as declarações do Bolsonaro negando ser racista? Dizem que Bolsonaro é intolerante, mas será que não estão sendo intolerantes com o Bolsonaro? Será que não bolsonaram o Bolsonaro?

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  2. Eu concordo com o comentário do Ilha,álias não foi em floripa que o pai da preta foi preso por drogas????ser a favor de filhos longe das drogas é errado?

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