terça-feira, 12 de abril de 2011

Da liturgia do cargo: os 100 dias de lua de mel do Governo

Completados 100 dias de Governo, começam a proliferar pela mídia – impressa e televisiva – opiniões, editoriais, análises ou debates sobre o desempenho de Dilma à frente do executivo. Evidente, há avaliações negativas e críticas sobre determinados tópicos, como a inflação. Mas, de modo geral, o mandato da primeira mulher presidente tem sido elogiado - quase sempre por seu estilo vsto como 'discreto' e 'mais técnico'. Pode-se mesmo dizer que os especialistas midiáticos estão numa espécie de lua de mel com o Governo, especialmente se compararmos à cobertura jornalística que se deu ao longo dos mandatos de Lula. Uma inflexão e tanto! O último IBOPE sobre avaliação presidencial também trouxe um quadro muito positivo para Dilma Rousseff. Pela pesquisa, 56% consideram o Governo ótimo ou bom. Este patamar de aprovação é superior aos que FHC e Lula conseguiram, nestes momentos dos respectivos mandatos de cada um. Se a avaliação do Governo foi boa, a da pessoa da presidenta foi ainda melhor: ela é aprovada por 73% dos entrevistados.

Pelo menos as opiniões encontradas nos principais veículos de comunicação dão-se mais acerca de uma imagem pública da presidenta, um estilo identificado, atributos e valores mais subjetivos. Questões práticas e administrativas não têm sido a tônica das avaliações. Do ponto de vista da imagem pública, alguns fatores ajudam a entender os números tão favoráveis ao Planalto. O próprio cargo de presidente da república e a liturgia em torno dele já conferem ao seu ocupante alguma altivez, prestigio, e até certo carisma. Obviamente, isto em uma conjuntura favorável e com uma agenda pública que beneficie a imagem do presidente. Este primeiro ano do mandato de Dilma continua marcado pelo bom momento do país – consumo aquecido, desemprego muito baixo, indústria reagindo etc. A sensação de bem-estar predominante contribui para que o chefe do principal cargo da república seja visto de forma positiva pela população. Além disso, estes primeiros meses do mandato foram marcados por episódios interessantes para a imagem da presidenta.

A visita de Obama, por exemplo, sintetiza de maneira muito clara o prestígio do Brasil neste momento. As cerimônias de recepção, a aparições públicas ao lado do americano, e os mecanismos jornalísticos que tornam especiais eventos como este, agregaram valor à figura da governante. Outros momentos mais midiáticos de Dilma foram as aparições nos programas de Ana Maria Braga e Hebe Camargo. Participações em programas com este perfil aproximam Dilma de um público mais popular, com grande percentagem de mulheres, e que espera conhecer aspectos mais humanos dos políticos. Trabalhar publicamente aspectos mais humanos é importante para que a maior parte da população seja aproximada do governante. Lula sempre foi visto pelos brasileiros de forma muito humanizada, em função da própria trajetória de vida que criava uma conexão e uma empatia direta com a maior parte dos brasileiros, e também por uma personalidade mais aberta, informal e extrovertida. Dilma ainda precisa construir esta ponte. Por isso, iniciativas midiáticas que explorem seu lado mais ‘comum’, descontraído ou leve, são pertinentes.

Mesmo o estereotipo de “durona” sofreu alguns abalos com a emoção que Dilma demonstrou no discurso de posse no congresso e agora com a tragédia em realengo. O falecimento do ex-presidente, José Alencar, também trouxe uma carga de pessoalidade à presidenta. Este elo com a população, mais multifacetado, em várias dimensões – políticas, ideológicas, e também mais humanizadas – é fundamental para a construção de uma imagem positiva sólida e disseminada. Por isso, as lamentações de uma parte da esquerda pela visita de Dilma às apresentadoras, além da presença no aniversário de 90 anos da Folha, não faz muito sentido. A presidenta governa para todos os brasileiros e deve estar aberta ao diálogo com os mais variados segmentos da sociedade. As estratégias de comunicação do Planalto devem pretender-se amplas e conciliadoras. O Governo Federal e a presidenta devem continuar aparecendo bem cotados nas próximas pesquisas, mantidos o cenário sócio-econômico favorável, uma agenda pública bem pensada, e uma cobertura midiática que não seja muito hostil – o que vem ocorrendo, ao contrário do que houve com Lula. De toda forma, o prognostico inicial para a presidenta não poderia ser muito melhor do que isto.


Nenhum comentário:

Postar um comentário