segunda-feira, 18 de abril de 2011

As distinções que não podemos ignorar


"Mais uma vez a oposição e, sobretudo, o PSDB não entenderam o argumento de Fernando Henrique. O ex-presidente escreveu um excelente artigo na revista Interesse Nacional, que deve sair amanhã. A Folha de São Paulo publicou. Eu e algumas pessoas que recebemos a revista fomos brindados com a íntegra do artigo por antecipação. Fernando Henrique continua um estupendo analista. Não perdeu a mão como analista político, como sociólogo."


"O ex-presidente é amigo pessoal e uma espécie de guru do sociólogo Manuel Castells, da Universidade Southern California, nos Estados Unidos, um dos maiores estudiosos da nova sociedade civil que vem se organizando através das novas mídias ... "
Merval Pereira – O Globo


"Crivado de flechas impiedosamentecomo o São Sebastião da música de Chico Buarque –, o ex-presidente da República Fernando Henrique Cardoso anda atônito e desolado. [...] O mais espantoso: o fogo cerrado começou imediatamente depois do presidente honorário do PSDB produzir – em tempo de muita intriga e pensamento ralo e rasteiro – um dos mais brilhantes, completos e elevados textos políticos em forma e conteúdo sobre os descaminhos e equívocos das oposições no Brasil."
Vitor Hugo Soares – Blog do Noblat


"O artigo divulgado esta semana foi escrito pelo sociólogo Fernando Henriquenão pelo político semi-aposentado que ele é. [...] Como presidente da República, Fernando Henrique provou na pele a dor pelo que não disse. E também a dor pelo que disse e acabou interpretado de outra forma. Ele não disse "esqueçam o que escrevi". Mas a frase foi posta em sua boca e ali permanece até hoje. Ele chamou de "vagabundos" servidores que abusavam de artifícios para se aposentar antes do tempo. Ficou que ele chamara os aposentados de "vagabundos."

Ricardo Noblat – Blog do Noblat

É, não precisa ser um PhD em análise de discurso pra perceber a verdadeira euforia com que FHC é defendido por certos segmentos da mídia brasileira. Incompreendido, sacrificado, brilhante, são alguns dos termos com que o ex-presidente tucano foi tratado. A idolatria que jornalistas dedicam a Fernando Henrique chega ao absoluto ridículo, provoca constrangimento alheio ao leitor. Indisfarçável como o objeto maior da veneração jornalística é a formação sociológica do tucano. Nada surpreendente numa mentalidade em que bom político é o que tem formação canônica, erudita, aquela que pode distinguir a análise política da análise ‘científica’. E somos obrigados a ler isto mesmo após o governo do metalúrgico, que acabou aclamado por 85% dos brasileiros. Mas este, é claro, continua sem “méritos”, aos olhos dos esclarecidos – posto que nem fundamental completo tem, quanto mais doutoramento em sociologia para compreender as entranhas do povo, ora.

Só acho pouco digno não admitir que existe lado nos espaços de maior alcance da mídia brasileira. Não são todos os colunistas, não são todos os veículos, nem todas as análises feitas estão engajadas num complô. Mas, as figuras proeminentes do colunismo nos veículos de maior audiência, claramente, apresentam simpatias, preferências, aproximações com um determinado campo político. É importante persistir neste ponto, porque há: 1) uma tentativa de desqualificar esta percepção, alegando mania de perseguição dos “petistas”, incompreensão da heterogeneidade daquilo que seria a mídia, ou afins; e ainda 2) uma tentativa de dizer o inverso: que a mídia é enviesada num sentido que favoreceria o PT. Esta última tese, por bizarra que é, defendida apenas por lunáticos da estirpe de Diogo Mainardi e Reinaldo Azevedo. Aliás, em texto recente, Azevedo identifica um “petismo jornalístico, sobretudo na TV”.




Ainda sobre o artigo em que Fernando Henrique sugere que o PSDB não deve ter muito sucesso se tentar conquistar as classes mais baixas (ou seja, o povão), Lula deu uma resposta simplesmente precisa e eloqüente: a de que o “povão” deve ser a própria razão de ser do Brasil. A diferença é abissal: uma postura, mais estratégica, avalia o que seria eleitoralmente mais proveitoso, foca a crescente e já majoritária classe média brasileira e se permite o luxo de não priorizar as classes mais baixas – as quais, neste raciocínio, estariam "aparelhadas" ou "cooptadas"; a outra postura adota os estratos mais pobres, não apenas como prioridade, mas como propósito central, a própria razão da existência política. Outra coisa: o que seria aparelhamento da sociedade ou "cooptação eleitoral" é, na verdade, instrumento de promoção da cidadania, obrigação política, econômica e humanitária do poder público. É isto que sintetiza a resposta brilhante de Lula, que, apesar dos muitos títulos honoris causa que o cara tá ganhando, carrega um tipo de brilhantismo que não precisa de doutorado.

Um comentário:

  1. Acabei de ler o artigo. E, pra dizer a verdade, me surpreendeu. Posso ter me enganado em certos aspectos (tanto que vez ou outra julgava o texto esquizofrênico), mas eu o entendi fundamentalmente como um guia de estratégia eleitoral, incluindo desmoralização do governo anterior e a importância de conquistar o público (incluindo apelo emocional... viu por que eu sentia que o autor do artigo nem sempre era a mesma pessoa? rs). Vou precisar ler de novo.

    Mas, sobre seu post, o penúltimo parágrafo resume bem o comportamento da imprensa. É uma tentativa quase ridícula de disfarçar preferências, o que entra em dissonância com trechos do artigo do FHC. A insistência de haver um complô midiático contra a oposição, por assim dizer, é no mínimo forçar a barra de uma observação mais apurada, principalmente em tempos de internet, que FHC considera justamente um reduto de salvação da influência petista na mídia...

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