sexta-feira, 30 de abril de 2010

Dos pesos e das medidas da mídia neste início de eleição

Eu juro pra vocês que eu adoraria ser mais moderado. Usar discursos polidos, suaves, meio blasé. Pessoas poderiam dizer “ah, que rapaz sensato, centrado, desapegado a paixões, vê todos os lados das questões.” Não consigo. Correndo o risco de beirar a histeria para alguns, eu só consigo chamar certas coisas de crime. Pensei em eufemismos, mas pra mim não tem outro nome, é crime mesmo. Ou dá pra chamar de outra coisa o que a Folha fez quando atribuiu à Dilma uma ofensa que ela não proferiu? É difamação pura e simples. Em discurso no ABC, Dilma disse: “Eu não fujo quando a situação fica difícil. Eu não tenho medo da luta.” A Folha publicou exatamente estas frases, seguidas de: “disse ela, em referência à ditadura, quando foi para a clandestinidade. Serra, também opositor ao regime militar, se exilou no Chile”. Já o Estadão publicou: “A declaração de Dilma Rousseff em referência à luta armada contra a ditadura militar, [...] na tentativa de atingir o adversário José Serra, criou polêmica.” A Imprensa criou polêmica, não a candidata.

As declarações de Dilma até remetiam mesmo à Ditadura, pois este foi um momento marcante da vida da candidata. Mas não foi o único, Dilma falou em termos genéricos, de sua vida como um todo, e não fez referências a terceiros. Publicar que ela estava alfinetando Serra por ele ter se exilado é de uma distorção brutal! A Folha manteve a versão em outras matérias: PPS critica comentário de Dilma sobre exilados da ditadura. Nem um “supostamente sobre exilados”, nem um “outro lado” ao longo da matéria, só desqualificação. O texto é objetivo e totalitário. O jornal decreta que era em Serra que Dilma estava pensando quando fez a declaração e ponto final. A Folha chegou a publicar: Após polêmica, Dilma nega ter criticado exilados políticos da ditadura. Ou seja, além de ter proferido um disparate que acabou gerando polêmica, agora a petista “quer negar”. Na verdade, a Folha chegou a alterar as frases da Dilma, entre aspas. Na seção Erramos: “Em parte dos exemplares, foi publicado erroneamente que a pré-candidata do PT à Presidência disse, em evento em São Bernardo no último sábado: ‘Eu não fugi da luta e não deixei o Brasil’.”

Após um bom tempo, o jornal admitiu que a candidata “não se referiu em nenhum momento a pessoas que tiveram de deixar o país em qualquer circunstância”. A Folha admite o erro, para em seguida cometer outros ainda mais graves. Não apenas a Folha, como outros órgãos de Imprensa fizeram um estardalhaço com a foto de Norma Bengell no site de Dilma, que leva os internautas a confundirem uma pela outra. De fato, também penso que foi uma artimanha amadorística e condenável. Pois bem, os jornalistas não mediram as palavras e atacaram a presidenciável petista moralmente, ainda que o erro tenha sido mais da coordenação da campanha. Ainda assim, a responsável em última instancia é a candidata, e a mídia cobrou com rigidez. José Nêumanne Pinto, em artigo no Estadão, atacou Dilma com virulência. Mais do que isso, a Folha chegou crucificar a própria Norma Bengell, depois que a atriz declarou que não se importava com a utilização da foto pelo site da Dilma e acrescentou que quer mais que a petista ganhe as eleições. A Folha, em 28 de abril, publicou carta de um leitor com a seguinte acusação:


https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEh1ZUQ5vWoj3vk8l5lDNh3V-xPT5ytnkvGn__J_YdJ2cespudehbEcRWHcZfyuaUhwocFcnjdcEU5vDwtySxE5b-R0doAKfLUcDHorssUrLHVaCWvz42lPRPTPrjCUappD9OGkQwDVdRoZa/s1600/ScreenHunter_01+Apr.+28+15.31.gif

Toda esta história da foto no site de Dilma, por pior que seja, é mais grave que a campanha de natureza fascista que o PSDB vem desenvolvendo este ano na Internet? Nunca se viu um nível de baixaria tão institucionalizado e organizado, como a que os tucanos têm praticado. Eduardo Graeff, tesoureiro do PSDB e estrategista da campanha de Serra, foi descoberto como responsável por sites apócrifos, destinados a pura baixaria eleitoral. Domínios como "petralha.com.br" ou “gentequemente.org.br”, que o PT já denunciou à Justiça. A Folha tratou do caso também! Mas, aí o texto perde aquele tom assertivo e totalitário, e adota cautela: “Petistas acusam coordenador de Serra de comandar "guerra suja" na internet.” A princípio, é apenas uma “acusação petista”. Ao longo do texto, agora sim, o “outro lado”, com o devido direito à defesa. E tudo isso só no primeiro ato do espetáculo eleitoral. Tenho cada vez mais dificuldade em pensar uma forma pacifica e civilizada de convivência com determinados veículos de comunicação. Liberdade de expressão é sagrada, desde que não funcione como álibi para práticas antidemocráticas e até mesmo criminosas.

domingo, 25 de abril de 2010

Dros - Abril

Moral

Duas matérias que levantam a bola do Brasil de maneira espetacular. O Wall Street Journal publicou artigo cuja idéia centra é a seguinte: para o Brasil, que é tido como o país do futuro, o amanhã chegou. O artigo começa dizendo o seguinte: "No último século, o Brasil foi uma terra de grande potencial – mas com poucos resultados. Com inflação descontrolada e uma estratosférica dívida nacional, o país era uma bagunça que ninguém poderia levar a sério em escala mundial. Como os tempos mudaram!" O texto segue destacando o bom desempenho do Brasil frente à crise, o crescimento de 6% esperado para este ano e a onda de consumo que atinge os brasileiros. O Bird, por sua vez, divulgou relatório para dizer que vê “avanços dramáticos” na redução da pobreza e da miséria no Brasil. "Enquanto as desigualdades de renda se agravaram na maioria dos países de renda média, o Brasil assistiu a avanços dramáticos tanto em redução da pobreza quanto em distribuição de renda", diz o relatório. O texto destaca ainda que “a taxa de pobreza do Brasil caiu de 41% no início da década de 90 para entre 33% e 34% em 1995. Depois de se manter nesse nível até 2003”, voltou a cair para 25% em 2006. Claro que falta muito, mas estamos ou não no caminho certo?

Dora Kramer soltando as frangas

Se alguém ainda tinha dúvidas sobre as preferências partidárias de Dora Kramer, basta ler sua coluna intitulada “Gente insolente”, em que ela não perdoa os tucanos por terem vergonha ou quererem esconder o Farol. Sim, o ex-presidente FHC, o qual é descrito por Dora nos seguintes termos: “não foi o rei do espetáculo, mas ajudou a mudar o perfil do País. Fez reformas, privatizou a telefonia, profissionalizou as estatais, organizou as contas públicas, acabou com a inflação, devolveu a moeda ao País, inseriu o Brasil no mercado mundial, conquistou respeito internacional, continua sendo dos mais argutos pensadores e observadores da cena nacional. [...] Com diagnósticos precisos”. “E o surpreendente é que os ditos correligionários fazem pior: o ignoram”, diz a especialista. Agora, isso é uma sinuca de bico pros tucanos, porque se eles mostram o FHC desagradam a população brasileira, que não tem boa lembrança da Governo do PSDB. Se deixam de mostrar, desagradam a Dora Kramer e são xingados de insolentes...

Meiguice do Serra

Os seres humanos vêem as coisas da maneira que melhor convém... A meiguice do Serra, retratada (ou fabricada) pela Veja, foi disseminada pela Internet, por meio de pessoas que adotaram a mesma pose do careca em suas fotos pessoais. De fato, tornou- um viral. A motivação é que não está muito clara, provavelmente por não haver uma única. Evidente que a capa tem sido usada pela militância do PSDB, e pelos simpatizantes de Serra, para reforçar a candidatura tucana. Do outro lado, os simpatizantes do PT aproveitam para atacar o adversário. Tem representante dos dois grupos entre os que reproduzem a imagem. Mas, a maioria das pessoas, que não tem um posicionamento partidário prévio, apenas ridiculariza a foto, exatamente em função da meiguice artificial e surgida em tempos de eleição. O saldo é negativo. Eu não ia querer isso pro meu candidato... Ajuda a mobilizar a militância, mas esta já tinha seu voto definido. Os indecisos, que ainda podem ser conquistados por um ou outro candidato, estranham mais do que se aproximam do Serra, com esta capa da Veja. Aliás, a própria revista reforça seu estigma de partidarizada neste episódio.


Imagens do www.naosalvo.com.br






quarta-feira, 21 de abril de 2010

Para Imprensa, QUALQUER ato de Dilma é desastre.

No nosso país, jornalista tem o dom da clarividência, como vocês já devem saber... As notícias e as colunas jornalísticas ficam prontas antes dos fatos. Portanto não haveria de ser problema para os jornalistas veicular um início desastroso da trajetória da Dilma até a eleição de outubro. Ainda que isto não tenha acontecido na realidade. O importante é continuar construindo as bases do discurso da oposição, e isso perpassa por desconstruir a imagem de Dilma. Até por uma questão de coerência, os jornalistas precisam continuar retratando pejorativamente a figura pública da Dilma, como alguém inábil, uma liderança artificial, capaz de desmoronar a qualquer momento. Qual a interpretação que predominou nas análises midiáticas nesses últimos anos, sobre a candidata petista? Quem acompanha minimamente os programas especializados em política, as colunas, os editoriais, sabe. Dilma foi majoritariamente retratada como uma marionete do Lula, alguém sem brilho próprio, sem “jogo de cintura”, sem carisma, sem jeito, durona e até mesmo grosseira.

Eu realmente me considero apto pra falar porque acompanho assiduamente o noticiário e as opiniões publicadas sobre política. Também era ponto pacífico entre os “especialistas” que a Dilma passaria agora por um período sombrio. Longe de Lula, longe do Governo, da máquina, sem a “exposição” que garantiu a ela o crescimento verificado até agora nas pesquisas. Como sobreviveria a petista sem todas essas regalias? Agora é a Dilma por ela mesma, caminhando com as próprias pernas... E como tem sido a cobertura sobre esta nova fase? Pasmem! Pessoal não tem gostado... Cada viagem que Dilma faz é um “desastre!” para os entendidos. A candidata mal dá um passo sem cometer a pior das gafes. Em viagem à Minas, Dilma teria feito uma bela besteira com o tal “Dilmasia”, voto do mineiro no candidato do PSDB ao Governo do Estado, Anastasia, e na petista para a presidência – uma referência ao “Lulécio” de 2002 e 2006.

Merval Pereira, da GloboNews deu logo o diagnostico: é a falta de experiência que coloca tudo a perder... “A agressividade com que a candidata oficial, Dilma Rousseff, estreou na sua campanha solo, longe dos cuidados do padrinho Lula, demonstra uma ansiedade própria dos que, sem experiência pessoal anterior, querem fazer tudo ao mesmo tempo, colocando a perder o que já têm.” Bingo! A bem da verdade, não foi a Dilma que propôs o tal “Dilmasia”, foi o jornalista quem perguntou o que ela achava, e ela sinalizou que isso era possível. A bem da verdade, Dilma disse que candidato não escolhe eleitor. E acrescentou que aceitaria os votos de quem eventualmente votasse também no Anastasia. A bem da verdade, o que Dilma disse é uma obviedade: claro que eleitores votam em candidatos a governador e a presidente de campos políticos diferentes, sem qualquer constrangimento, no Brasil inteiro. A bem da verdade, não houve problema nenhum.

Impressionante a novela que fizeram do ocorrido. O PSDB passou semanas repetindo que “Minas é Serra e Anastasia”. Os jornalistas fizeram um esforço homérico pra causar intriga com os candidatos da base do Lula em Minas. O máximo que conseguiram foi uma declaração de Hélio Costa, do PMDB mineiro, falando em “Serrélio”. Tudo isso impedirá mineiros de votarem de forma cruzada? Evidente que não, como acontecerá no Brasil inteiro. Aliás, no nosso país, a idéia de partido praticamente não existe, votar em candidatos de campos políticos diferentes sequer é visto como contradição. Mas a seqüência de desastres é mais longa. Dilma foi ao Ceará. É nisso que consiste o desastre, ninguém se preocupou em desenvolver a idéia. Para Lauro Jardim, “nem Eunício Oliveira - ex-ministro de Lula e cacique do PMDB no Ceará - foi consultado sobre a desastrosa ida de Dilma Rousseff a seu estado”. Ah, tá! Realmente, um crime! Ainda o Lauro, em outro post: “É enorme a preocupação dos peemedebistas com as seguidas escorregadas de Dilma Rousseff”.
A inabilidade de Dilma vai custar até o apoio do PMDB, vejam vocês!

Dilma é uma bomba de candidata! Isso é que é checagem jornalística! Noblat ironizou: “o responsável pelo roteiro de viagens de Dilma deveria ser premiado com um aumento de salário.” Para o Noblat, a viagem ao Ceará foi desastrosa porque há aliados da base que não se entendem... Bom, por esse argumento, as viagens da Dilma iriam se restringir a 3 ou 4 estados brasileiros, no máximo. Um colunista da Época, por sua vez, saiu em célere defesa de Serra, quando Dilma associou a passagem do tucano pelo Ministério do Planejamento (FHC) ao apagão: “naturalmente, a tese de que um ministro do Planejamento tenha provocado uma crise de energia não é verossímil nem à beira da piscina. As duas áreas mal se cruzam...” E o jornalista da Época acrescenta: “na corrida presidencial, o discurso de Dilma promete um espetáculo à parte. E o show está só começando.” Só começando! Não disse aí? Jornalista brasileiro prevê o futuro!

domingo, 11 de abril de 2010

Começou a baixaria de 2010!

Esses dias um amigo me enviou um e-mail com um material sobre os presidenciáveis (vejam abaixo). O material é aquele típico caso de campanha apócrifa, contra a Dilma. Engraçado isso porque o pessoal do PSDB adora se vangloriar de que eles falam verdades, que o pessoal do PT é quem espalha mentiras, e que eles não são dados a baixarias... O próprio Serra falou isso ontem, no lançamento de sua candidatura. E os militantes tucanos vivem repetindo. É, tô vendo! A idéia do e-mail é comparar “currículos” e “históricos de vida”, pra vender a Dilma como alguém profissionalmente / politicamente (?) despreparada, já que nunca participou de uma eleição, e com um histórico de vida suspeito. Levantaram a velha história do uso de armas, participação em seqüestro etc. etc. Já o Serra colocaram como alguém de origem humilde, esforçado e que tem uma boa “formação”.

Não conheço com detalhes as vidas pessoais dos candidatos, até porque acho isso bem irrelevante e, na forma como está posto no e-mail, bem baixo. De maneira geral, a única que realmente teve uma origem humilde, veio de família pobre, é a Marina. Os outros três vieram de famílias, pelo menos, com o mínimo de condições. O Serra pode já ter morado num “quarto e sala” com os pais, mas não passou necessidade. Dizer que a Dilma morava num "luxuoso apartamento" em BH é de uma forçação de barra cavalar. Aliás, querer taxar a pessoa de elitista pra em seguida dizer que ela “passou a comandar uma célula comunista” é, digamos, paradoxal. Essa coisa de puxar o currículo dos candidatos também é de uma inversão de valores absurda! As pessoas querem tratar Governo como se fosse empresa! Qual a especialização que o Presidente tem que ter no currículo? Comunicação de Negócios? Finanças Corporativas? Que babaquice!

Presidência é um cargo POLÍTICO! O cara que chegar lá vai ter que tomar decisões, escolher prioridades, adotar linhas de ação, administrar demandas, conciliar interesses. Qual a “formação acadêmica” que ensina isso? O presidente não reflete a sua formação catedrática, reflete a sua formação político-ideológica, a sua visão de país, de sociedade, de mundo. Para os cargos técnicos, vão ter os especialistas em saúde pública, em educação, em engenharia, em urbanismo, em meio ambiente, em Justiça, em segurança pública etc. É absurdo querer escolher alguém com base em formação técnica, porque ninguém teria formação técnica ampla o suficiente pra interferir diretamente em todas essas áreas. Por trás disso tem duas coisas: incompreensão do que seja a atividade política por um lado, e inversão de valores mesmo. Não tenham dúvida: a classe média alta valoriza formações acadêmicas, escolares, canônicas, tecnicistas, convencionais, porque é ela própria quem tem maior acesso a tudo isso!

É, antes de tudo, uma conveniência! A classe média alta acha que está onde está por mérito, e não por todas as circunstâncias sociais e históricas que concentraram nas mãos dela inúmeros privilégios! Macaco enrola o rabo, senta em cima e esquece que tem! O problema é que agora essa gente tem que engolir um presidente que veio do fim do mundo, pendurado num pau de arara, torneiro-mecânico, com fundamental incompleto, português defeituoso, mas que tá fazendo um Governo incomparavelmente melhor que o do sociólogo doutor. Simples assim. E agora os caras ainda voltam com essa conversa de puxar currículo?! Beira a canalhice isso. Acontece que um segmento da sociedade não aceita enxergar os avanços do Governo Lula, e o mesmo ódio que nutriam (e nutrem) pelo Lula agora eles canalizam pra Dilma, porque ela representa o mesmo lado, na disputa política que se avizinha. Só mudou o objeto do ódio, as estratégias discursivas - de desqualificação - são as mesmas.

O resultado são e-mails apócrifos como esse que tão espalhando... Não sei, não, mas eu acho especialmente calhorda essa coisa de atacar, hoje, quem lutou contra a Ditadura. Foi uma geração que arriscou a própria vida pra salvar o Brasil do mais horrendo dos regimes! A Dilma foi torturada com 19 anos! Não tem como a minha geração sequer imaginar o que é isso. Ela participou de grupos de esquerda, sim, mas não pegou em armas. Se tivesse pego, certamente teria cumprido pena maior quando foi presa, e teria registro disso. Mas, mesmo os caras que pegaram! Era uma situação extrema! Como querem comparar o poder de um Estado Militar com de grupos de insurgentes?! Ditadura é um câncer! Aniquila a liberdade de expressão, a liberdade artística, o debate limpo e esclarecedor, que são vitais pra qualquer nação. Nós seremos eternamente devedores da generosidade da geração que lutou contra os militares. Ver as pessoas inverterem isso – como mesmo os jornalistas fazem hoje em nome de politicagem – é realmente de virar o estômago.



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