sábado, 30 de maio de 2009

Drops - Maio

Ainda sobre o PMDB

Estes dias ouvi
de um jornalista político um comentário muito pertinente. Ele dizia que a pressa do PMDB em fechar logo um acordo com o Governo para as eleições 2010 é pelo fato de que, quanto mais o tempo passa, menos valor tem o apoio PMDBista. Faz sentido! À medida que Dilma cresce nas pesquisas, menos dependente do PMDB torna-se o governo. Hoje, o PMDB cobra muito caro pelo apoio, cobra até mesmo a cabeça de candidatos petistas extremamente competitivos. Até onde sei, parece que os principais alvos do PMDB são os candidatos do PT em Minas Gerais (Fernando Pimentel ou Patrus Ananias) e no Rio Grande do Sul (Tarso Genro). Nestes dois estados - ricos e politicamente importantes – o PMDB tem fortíssimos candidatos: o Ministro das Comunicações, Hélio Costa, em Minas; e o prefeito de Porto Alegre, José Fogaça ou o ex-governador, Germano Rigotto, no Rio Grande. Eu ainda penso que, em troca ao apoio à Dilma, o que o PMDB pode reivindica é que o presidente não faça campanhas apenas para os petistas nos estados (ou não faça para ninguém). Pedir para o PT rifar candidatos estaduais competitivos é pedir demais. Até porque o PMDB também quer ter a liberdade para romper com o PT e lançar candidatura própria em alguns estados, Bahia e Pará, por exemplo.

Por falar no crescimento da Dilma...

Este mês, o PT divulgou pesquisa realizada pelo Instituto Vox Populi que mostra avanço da Ministra nas intenções de voto para 2010. Em um dos cenários, Serra tem 36%; Dilma, 19%; Ciro, 17%; e Heloísa, 8%; Branco, Nulo ou Não Sabe, 19%. A pesquisa também mostra que a maioria da população está satisfeita ou muito satisfeita com o país (67%), que o PT é – com folga – o partido com a maior preferência popular (29%; em segundo lugar vem o PMDB com 8%. PSDB tem 7%); e que o Governo Lula voltou a recuperar sua avaliação positiva. O cenário é muito promissor para o Governo. Ainda falta muito para 2010, mas as perspectivas governistas para a sucessão presidencial são boas. O que poderia atrapalhar, na minha visão, seria esta chapa Serra x Aécio, alardeada pelo Kennedy Alencar como um furo de reportagem. Norte, Nordeste, Rio de Janeiro e Espírito Santo tendem a fechar com a candidata de Lula; São Paulo, Sul e (com ressalvas) Centro-Oeste tende a ficar com os tucanos. O fiel da balança será Minas, segundo maior colégio eleitoral do país. Se Aécio for consagrado em uma chapa PSDBista puro sangue, ele deve atrair a maioria dos mineiros. Entretanto, se Aécio for rechaçado pelo seu partido, os mineiros podem migrar para Dilma, que, aliás, também é de Minas. De toda forma, já na semana seguinte, Kennedy tangiversou, mudou a conversa e disse que a super chapa tucana subiu no telhado. Melhor para os petistas!

Lucia Hippolito e um tal de 30%

Lucia Hippolito falou esses dias na CBN que o presidente está “há quase dois anos” construindo a candidatura da Ministra Dilma, e que mesmo assim a Ministra ainda não atingiu os tais "trinta por cento históricos do PT”. Assim, para Lucia, caso Dilma não possa concorrer, fica complicado construir uma alternativa, pois “talvez não haja tempo”. Meu Deus, quanta baboseira! Tantos candidatos chegam às vésperas das eleições com qualquer coisa em torno de 5% nas pesquisas, começam a aparecer no horário eleitoral, crescem e ganham até no primeiro turno. E essa história de “30% histórico do PT” é típico de tucano enrustido que quer menosprezar o desempenho de algum petista. Isso não procede! Onde estavam estes 30% nas eleições do ano passado, em Belém (candidato do PT terminou com 17%), no Rio (candidato do PT patinou nos 5%), em Curitiba (a candidata conquistou 15% do eleitorado), dentre tantas outras cidades? E se o argumento for que este patamar histórico vale apenas para a eleição presidencial, ele é mais improcedente ainda. O PT teve apenas um candidato presidencial durante toda a sua história, o presidente Lula! Vão querer comparar o Lula com uma candidata que nunca disputou eleição?!

José Serra e a Gripe Suina



Finalmente, o famigerado vídeo do José Serra falando sobre a Gripe Suína foi veiculado. Aconteceu no programa do Jô, em uma das edições de quarta-feira, com as Meninas do Jô. O vídeo é imbatível no quesito vergonha alheia! Recomendações da OMS, ações coordenadas de Governos pelo mundo, controle da temperatura do corpo humano em aeroportos, tudo isso é dispensável. Providencia elementar, para o Serra, é “ficar longe dos porquinhos quando eles espirram”. Impagável! Até então, isto não tinha sido exibido em nenhum lugar... nem no CQC! Nem no Pânico! O programa do Jô deu uma demonstração de que, no mínimo, não é pré-orientado. Outro exemplo disso, também bastante recente, foi quando Jô Soares falou sobre a prisão da dona da Daslu, Eliana Tranchesi. Depois de uma longa e elaborada introdução sobre como a pena tinha sido exagerada, Jô passou a palavra a Lilian Wite Fibe. A jornalista foi categórica: os trambiques de Eliana (reincidentes) são um tapa na cara dos empresários sérios deste país, e precisam ser exemplarmente punidos. O entrevistador ficou visivelmente desconcertado. Quando, eventualmente, Jô e suas Meninas adotam discursos alinhados com a oposição e raivosos contra o PT e o Governo é porque, de fato, estes ângulos de abordagem são muito comuns, tanto na classe média quanto da mídia brasileira. Paciência...

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sábado, 23 de maio de 2009

Dilma, o linfoma e 2010

Fazer qualquer relação entre a doença da Ministra Dilma e a sucessão presidencial de 2010 é algo muito temeroso. Primeiro, porque há muito achismo, muita opinião pessoal e muita torcida nestas análises. Depois, porque se trata de um momento muito delicado, muito duro, pelo qual a Ministra está passando. Quem sabe Dilma não somatizou neste câncer todas as pressões para a candidatura que ela vêm sofrendo com tanta intensidade nos últimos meses? O que era apenas uma possibilidade encantadora tornou-se subitamente uma gigantesca cobrança. Logo que começaram a divulgar as notícias sobre a doença, vi este comentário do Alexandre Garcia, no Bom Dia Brasil, que até me fez pensar que a Globo seria mais cuidadosa, na abordagem do tema. Alexandre dizia que o linfoma trazia “indefinição nas cabeças dos políticos”, mas que “antes de haver uma candidatura em jogo, (...) está em jogo uma pessoa humana”. O comentarista desejou ainda que Dilma tenha êxito no seu tratamento, como tantas pessoas já tiveram. “Pô, bonito! É isso mesmo!”, pensei eu.

Mas, parece que este jornalismo mais humanizado vai ficar só por conta do Alexandre mesmo. No último dia 19, Dilma sentiu fortes dores nas pernas (sintoma da quimioterapia), foi hospitalizada, mas já no dia seguinte recebeu alta e falou com os jornalistas na frente do Hospital. A Ministra explicou porque sentiu as dores, falou sobre a interferência do tratamento no seu ritmo de trabalho e classificou como “de muito mau gosto” misturar a doença com questões políticas. No finalzinho da coletiva, Dilma confessou que estava usando uma peruca, em função da quimioterapia. Eu fui ingênuo o suficiente pra acreditar que, durante todo o tratamento de Dilma, a Imprensa não usaria esta carta. Já tinha lido que a Ministra estava usando peruca em alguns blogs, mas, talvez por influencia das palavras de Alexandre Garcia, sinceramente achei que o Jornal Nacional não abordaria a questão por este ângulo. Pois foi precisamente este o único trecho da fala da Ministra que apareceu no JN.



É claro que isto não é interessante do ponto de vista eleitoral. Ainda que a condição clínica de Dilma não ofereça maiores riscos, que a doença esteja controlada, a imagem da Ministra sem cabelos remete a estranheza e a fragilidade, o que provavelmente trabalha contra a candidatura governista. Entretanto, esta relação da doença com a sucessão é apenas mais um achismo da minha parte. Pode ser que ocorra o oposto, pode ser que as pessoas solidarizem-se ainda mais com a Dilma, e isto a aproxime da população. É que, a despeito de tudo isso, me soa tão agressivo este tipo de exposição, tão carniceiro da parte dos jornalistas. Assumir que perdeu os cabelos é algo que deixa qualquer pessoa, especialmente uma mulher, extremamente vulnerável. Achei que poupariam a Ministra, que dariam este mínimo de privacidade a ela. Ledo engano.

Aí creio que operou menos um “anti-governismo” e mais uma lógica midiática de valorização do incomum. Não dizem que quando um cachorro morde um homem não é noticia, mas se um homem morder um cachorro passa a ser? Pois é. A Ministra dando explicações técnicas sobre medicamentos, falando sobre o seu volume de trabalho, repudiando o uso político da doença etc. não é tão interessante quanto ela confessando que está usando “uma peruquinha básica”. Não tem bom senso nem respeito à privacidade que prevaleça. De qualquer forma, falta muito para 2010, e o Governo ainda tem tempo para construir outra imagem de Dilma diante da população. O PT não tem porque pensar em um plano B, tampouco procedem as insinuações de que ganha força a hipótese do terceiro mandato. A Ministra tem ótimas chances de se recuperar, e nas eleições ela pode usar um corte mais curto, moderno, como o de Marta Suplicy e tantas outras. Uma mulher que venceu a tortura e vencerá um câncer tem tudo para tirar de letra esta peruquinha básica.

sábado, 16 de maio de 2009

PMDB, a noiva mais cobiçada.

Para as eleições de 2010, tanto Governo quanto oposição cobiçam o PMDB, partido que conta com o maior número de políticos em todos os cargos, possui densa capilaridade distribuída por todo o território brasileiro e pode acrescentar um generoso tempo de TV no Horário Político. Mas para onde pende o maior partido brasileiro? Dilma / Lula ou José Serra? Alguns comentaristas políticos afirmam que o PMDB está mais próximo do Presidente, outros entendem ser mais provável uma aproximação dos PMDBistas com o candidato tucano. Neste post faço uma análise de alguns estados, destacando onde o PMDB está mais próximo de Lula, e onde está mais próximo do PSDB. Estas considerações valem para a sucessão presidencial, ou seja, não quer dizer que, no estado em que os PMDBistas estiverem mais próximos do Presidente, haverá necessariamente uma aliança com o PT na disputa regional. Nem todos os estados foram incluídos na análise, selecionei apenas aqueles com maior peso político ou que possuem articuladores importantes, seja para o Governo, seja para a oposição.




Maranhão
Alguns dos mais importantes caciques PMDBistas, defensores do Governo, estão no Maranhão. Sarney, político extremamente habilidoso, além de ser aliado do Governo, tem boa relação com a Ministra Dilma. O PMDB é, antes de qualquer coisa, um partido fragmentado, com lideranças eminentemente regionais. Mas, se há vozes influentes para o partido como um todo, Sarney seguramente é uma delas. Além dele, a filha, Roseana, e o Ministro de Minas e Energias, Edson Lobão, também articulam a favor do Governo.

Rio de Janeiro
Outro grande nome do PMDB (possivelmente o quadro do partido com o principal cargo atualmente) é o Governador do Rio de Janeiro, Sérgio Cabral. Cabral faz uma abastada parceria administrativa com Lula. O Presidente faz uma clara e estratégica opção pelo Rio de Janeiro, na distribuição dos recursos federais. Além disso, o Governador carioca tem excelente relação pessoal com Dilma, tanto que foi um dos primeiros entusiastas da candidatura da Ministra ao Planalto. Sem dúvidas, Sérgio Cabral trabalhará para aproximar o PMDB da candidata petistas em 2010.

Bahia
A principal liderança do PMDB baiano é Geddel Vieira Lima, Ministro da Integração Nacional do Governo Lula. Geddel é aliado do governador petista Jacques Wagner. Entretanto, especialmente depois das eleições municipais de 2008 (em que petistas e PMDBistas enfrentaram-se até o segundo turno) as relações entre estes partidos, na Bahia, estão bem estremecidas. Pode ser que Geddel rompa com Wagner, e seja candidato a Governador em 2010. Não é impossível que Geddel faça, até mesmo, uma aliança com o Carlismo baiano. Mas, esta alternativa é improvável, exatamente pela boa relação que Geddel possui com Lula e Dilma. Ainda que rompa com o governo estadual, o PMDB da Bahia está mais próximo de Dilma Rousseff. Neste caso, a Ministra teria dois palanques, assim como Lula fez em vários estados, em 2006.

Pará
Um exemplo de estado em que Lula teve dois candidatos a Governador foi o Pará. Em 2006, Lula fez campanha para Ana Júlia, do PT, e para Priante, do PMDB. Chegou a subir no palanque com os dois ao mesmo tempo. Ana Júlia venceu as eleições, e hoje a relação da Governadora com o PMDB do Pará é péssima. Apesar de possuírem cargos no Governo paraense, os PMDBistas devem romper com o PT e lançarem candidatura própria na hora H. No Pará, como se sabe, o cacique do PMDB é Jader Barbalho. Jader pode, com a maior tranqüilidade, optar pelo que for politicamente “mais lucrativo”, seja Serra, seja Dilma. Entretanto, Jader vai pensar duas vezes em se alinhar com Serra, quando lembrar que isso liberaria Lula para fazer campanha apenas para a reeleição de Ana.

Minas Gerais
Quem aproxima o PMDB mineiro de Lula é o Ministro das Comunicações, Hélio Costa. Além de Ministro, Hélio Costa é principal nome PMDBistas e o favorito (até agora) para suceder Aécio Neves. O PT de Minas também deve lançar candidato próprio à sucessão estadual em Minas, contrariando a vontade dos apoiadores de Hélio Costa, que preferiam o PT na mesma chapa, ocupando a vice ou indicando alguém ao Senado. Apesar deste atrito regional, o mais provável é que Dilma tenha, também em Minas, dois palanques.

Ceará // Rio Grande do Norte // Amazonas // Goiás
No Ceará e no RN, os governadores são Socialistas. Ambos são aliados de primeira hora de Lula. Nestes estados, o PMDB faz parte dos Governos estaduais e deve estar na mesma chapa que o PSB e o PT, nas eleições de 2010. Portanto, naturalmente, os PMDBistas destes estados estão mais próximos de Dilma. No Amazonas, o Governador, Eduardo Braga, é do próprio PMDB, e é extremamente próximo de Lula. Em Goiás, a principal liderança PMDBista é o prefeito de Goiânia, e ex-governador, Íris Resende, que tem um vice do PT na prefeitura e deve disputar o Governo do estado em 2010, apoiando Dilma Rousseff.






São Paulo // Pernambuco // Rio Grande do Sul // DF
No estado com o maior colégio eleitoral e de maior peso político, o PMDB é tucano. Por obra de Orestes Quércia, os PMDBistas de São Paulo já fecharam com Serra. Agora, Quércia trabalha para atrair lideranças de outros estados para a candidatura tucana. Em Pernambuco, Jarbas também já declarou apoio a José Serra. O PMDB pernambucano faz oposição ao governador Eduardo Campos, do PSB, aliado de Lula. No RS, O PMDB polariza com o PT, estes são os partidos que têm mais chances na sucessão de Yeda. Apesar de alguns PMDBistas gaúchos preferirem Dilma, o mais provável hoje é que eles componham com os tucanos. No Distrito Federal, o ex-governador Joaquim Roriz empenhou-se pela campanha de Alckmin, em 2006, mais do que muitos tucanos. Hoje, Roriz é oposição ao Governo do DEM, que é apoiado pelos tucanos. Mas, em 2010, ainda que o PMDB do DF esteja em lado oposto ao do PSDB na disputa estadual, é mais provável que apóiem Serra à presidência.







Nas disputas estaduais, o PMDB vai refletir o que é na sua essência: um gigantesco guarda-chuva, uma conferência de líderes regionais, sem compromisso com um projeto nacional. Portanto, é impossível que o PMDB esteja inteiro no apoio a um candidato a presidência. Mas, sem a lei da verticalização, isso não impede que o PMDB esteja em um chapa nacional. Pelo balanço feito, parece que, hoje, existem mais PMDBistas engajados nas articulações governistas. Portanto, parece que o partido pende mais para Dilma. Além de todos os cargos, diretorias e Ministérios no Governo Federal, a moeda de troca mais valiosa que Lula pode utilizar para atrair definitivamente a maior legenda brasileira, não está em algo que o presidente pode fazer a favor do PMDB, mas está em algo que o presidente pode não fazer contra o PMDB: usar sua incrível popularidade
exclusivamente em benefício dos candidatos petistas, nas eleições estaduais.

sábado, 9 de maio de 2009

Lista partidária, sim! Por favor!


Esta semana, o Congresso começou a negociar pontos da famigerada Reforma Política. Entraram em discussão as propostas de fidelidade partidária, financiamento público de campanha e voto em lista para os cargos legislativos. A última proposta tem o apoio do PMDB, do DEM, do PT e de parte do PSDB, as quatro maiores bancadas do Congresso, dentre outras legendas menores, como o PC do B. Apesar disso, é possível que o voto em lista não seja aprovado, dadas as fortes resistências na própria Câmara e na sociedade. Na verdade, a grande maioria das pessoas não está a par deste debate, e por isso não conhece sequer razoavelmente os possíveis benefícios ou prejuízos que podem advir desta mudança na lei eleitoral. Na Imprensa, tem gente radicalmente contra e alguns mais simpáticos à idéia. Pessoalmente, torço muito para a aprovação dos três itens: confirmação e regulamentação da fidelidade partidária (já estabelecida pelo STF), financiamento público de campanha e voto no partido.

Antes de explicar porque sou totalmente favorável à proposta de mudança, preciso dizer o que condeno na forma como as coisas acontecem hoje. Acredito que o principal problema da Democracia brasileira está no fato de votarmos em pessoas, e não em projetos. Acredito que isto seja o resultado de uma história política que, no Brasil, é marcadamente paternalista e personalista. Estamos sempre à espera de um messias, um pai, uma figura divina, que assumirá o poder e, sozinho, resolverá todos os nossos problemas, em todas as áreas: educação, saúde, segurança, saneamento, infra-estrutura, emprego etc. Como se isso fosse possível em um Regime com 3 poderes instituídos, e como se política não fosse praticada coletivamente. A política é necessariamente coletiva! Não apenas porque todo governante precisa de uma equipe, mas porque, na Democracia, é preciso dialogar com aqueles que não foram eleitos, compor com as diferentes forças políticas, negociar as ações etc. Mais de 30 anos depois da redemocratização, ainda votamos – e nos orgulhamos de votar – em pessoas, e não em projetos políticos.

Enquanto os brasileiros não aprenderem a votar em projetos, em idéias, em posicionamentos, em convicções, em programas, em conteúdos, estejam certos, não iremos muito longe. Aí você pode rebater “mas partido, no Brasil, não quer dizer nada! Não passa de uma sigla”. E você estará certo (a), em termos. Partidos como o PMBD, PTB, PP, de fato, não representam absolutamente nada! É cada um por si, e o todo que se dane! Entretanto, partidos como o PT, o PSDB, o DEM, o PSOL, o PSB, o PDT, dentre outros, têm sim um núcleo comum de idéias que representam o conjunto do partido. É claro que, em nenhuma dessas legendas, todos os integrantes pensam exatamente igual em todos os assuntos, mas há uma convergência de pensamentos, uma identidade ideológica, concepções políticas que reúnem os filiados. Recentemente, escrevi sobre um exemplo de partido bem resolvido ideologicamente. O que é preciso, muitas vezes, é comunicar com maior clareza, nos horários eleitorais, qual é esta identidade. Para que, tanto o eleitor, quanto todos os filiados conheçam as propostas do partido.

Os adversários do voto em lista, como o deputado Mendes Thame, do PSDB de São Paulo, alegam que com o voto em lista aumenta a distância entre o eleitor e o parlamentar, o que piora a representação política. O deputado Miro Teixeira (que concluiu a matéria do JN sobre o tema) acredita que o povo brasileiro não deve abrir mão do direito de escolher diretamente seu deputado. Ora, por favor... A grande maioria dos eleitores brasileiros SEQUER LEMBRA em quem votou para os cargos legislativos poucos meses depois da eleição. E olha que, hoje, o voto é uninominal! Não tem como a distância entre o representado e o representante ser maior do que já é. “Proximidade com o parlamentar” é um belo de um engodo. Ou, por acaso, a gente vira amigo íntimo e troca confidências com candidato depois que vota nele? Certamente, não. Mesmo porque o cidadão não tem que ser próximo da pessoa do deputado, meu Deus! Tem que ser próximo DAS IDÉIAS do deputado! Por isso mesmo, é menos importante se o meu representante é o fulano ou o beltrano; muito mais importantes são as idéias que eles estão defendendo.

Já para Lucia Hippolito, com o voto em lista fechada, “fortalece-se o poder dos caciques partidários [...] os bons deputados servirão de biombo para todo tipo de meliante que se candidata”. Os caciques partidários, o que há de pior na política brasileira, infelizmente, não precisam de biombo, nem se esconder em lista. Eles se elegem com toda a facilidade. Quem foi o deputado federal que recebeu mais votos em São Paulo (e no país)? Paulo Salim Maluf! No Pará, Jader Barbalho foi o campeão de votos. Na Bahia, foi o herdeiro do Carlismo, ACM Neto. Em Minas, o deputado do Castelo foi o terceiro mais votado, com uma diferença de 1% para o primeiro colocado. A trágica realidade é que nós precisamos levantar as mãos pros céus e agradecer quando estes caciques candidatam-se à Câmara Federal, pior é quando viram Governadores ou vão para o Senado. Vejam os casos de Renan e Collor, em Alagoas. Sarney, no Maranhão E no Amapá. Orestes Quércia será candidato ao senado por São Paulo. Roriz continua fortíssimo em Brasília para qualquer cargo majoritário, mesmo depois da renúncia para escapar da cassação. E César Maia, com toda a rejeição que carrega, elegeria-se deputado federal com toda a facilidade, e ainda puxaria uma bela bancada, pelo RJ.
É essa gente que vai se esconder nas listas, que precisa de "biombos"?!

A Reforma Política e a implantação do voto em lista vão mudar todo o atual cenário eleitoral e, do dia para a noite, introduzir uma cultura partidária e ideológica na sociedade brasileira? Não, evidente que não. Assim como a criminalização do aborto e da maconha não impendem que mulheres interrompam suas gestações e que jovens consumam drogas em todas as classes sociais. A pergunta que devemos responder é a seguinte: que tipo de Democracia nós queremos? Uma que esteja baseada em personalidades e messias, ou uma que esteja ancorada em projetos e idéias? O modelo de votação para o legislativo deve refletir esta resposta... Vejam os Estados Unidos, por exemplo. Mesmo que você não tenha idéia de quem são os candidatos em uma determinada eleição, a simples informação de a qual partido eles pertencem (Republicanos ou Democratas) já revela pelo menos 50% do perfil do candidato. Ninguém precisa inventar a pólvora. As questões estão dadas, os posicionamentos também. É muito mais inteligente e viável reunir pessoas que pensam de maneira parecida para que elas possam, por meio da política, colocar estas idéias em prática. É exatamente esta a função do partido! No Brasil, ela é sabotada.