quinta-feira, 27 de agosto de 2009

Segundo jornalistas, pecha de mentirosa colou em Dilma

Na última versão dos Fatos e Versões, três jornalistas de veículos de comunicação de peso – Cristiana Lôbo (Globonews), Adriana Vasconcelos (O Globo) e Valdo Cruz (Folha) – chegaram à conclusão de que a pecha de mentirosa colou em Dilma Rousseff, pois já há um conjunto de episódios em que a Ministra teria sido contestada pelos fatos. Primeiro, o episódio do “dossiê da Casa Civil”, depois a questão do Currículo Lattes da Ministra e agora a desavença com Lina Vieira, ex-secretária da Receita Federal. Para o trio de jornalistas, apesar de Dilma ter tentado se esconder, a imagem da presidenciável foi novamente abalada. As perguntas que me vêm à mente são: a pecha de mentirosa colou em Dilma, na visão de quem? A quem interessa desconstruir a imagem da candidata do PT à sucessão de 2010? Qual a verdade por trás destes episódios que supostamente estão manchando a biografia de Dilma?

O episódio do dossiê da Casa Civil foi de uma esquizofrenia galopante por parte da mídia. Em dois anos de blog, poucas vezes eu tive que escrever sobre algo parecido com aquilo. Postei dois textos à época. Para não ter que escrever tudo de novo, vou resumir o caso com a frieza que o passar do tempo permite. Álvaro Dias, Senador malandrinho do PSDB, pediu para um dos seus funcionários de gabinete descolar algumas informações que eram gerenciadas na Casa Civil. O funcionário do tucano, André, tinha um conhecido de longa data na pasta de Dilma: José Aparecido. O Aparecido atendeu ao pedido e mandou as informações – referentes ao Governo FHC – para o e-mail do André. O Álvaro Dias repassou este material para a Veja, que publicou matéria dizendo que a Dilma passa seus dias no Planalto colecionando os trambiques do Fernando Henrique pra chantagear a oposição. Óbvio, Jornal Nacional e Cia repercutiram a Veja. O Álvaro Dias foi ao plenário do Senado no outro dia, se dizendo estupefato com a matéria, chocadíssimo, cobrando investigação imediata e jurando de pés juntos que não tinha idéia de quem poderia ter vazado as informações (quando na verdade ele tinha o nome do sujeito desde o começo). Depois, a Polícia Federal descobriu tudo, mas mídia só contou a parte que confirmava que o vazamento foi feito por um funcionário da Casa Cívil. A parte do Álvaro Dias na estória era “inoportuna”.

Sobre o Currículo, em vários momentos, pessoas da mídia referiram-se ao episódio como se estivessem tratando do currículo comum, como esses de uma página que a gente distribui em empresas por aí. Distorceram o fato! São coisas completamente diferentes. Currículo Lattes não é algo simples ou resumido, é muito técnico. Trata-se de um histórico bastante detalhado das atividades do pesquisador. Eu mesmo, apesar de estar cursando um mestrado, só atualizo o meu Lattes quando realmente há necessidade. O meu, ainda magro, dá pelo menos 5 páginas. Outros pesquisadores podem até ser mais dedicados, mas o fato é que, se você não está diretamente envolvido com a área acadêmica, não é imprescindível estar com o Currículo Lattes rigorosamente em dia. Até entendo que, no caso da Ministra, não foram detalhes sem importância que causaram a confusão, foram os próprios títulos de Mestra e Doutora. Mas também não foi a Dilma que foi à população dizer “Olha, eu tenho mestrado e doutorado, por isso eu devo ser a próxima presidente! Votem em mim!”. Aliás, isto combina muito mais com outra banda política. Dilma Rousseff foi aprovada nas pós-graduações, começou a cursar as disciplinas, mas não concluiu suas pesquisas – justamente pelo volume de trabalho na administração pública. Em não estando mais envolvida com a pesquisa científica, a presidenciável não se preocupou em corrigir seu Currículo. Tudo muito longe da criminosa que a mídia pintou. Mas não passou muito tempo até a próxima tentativa.

A nova versão da ministra que os jornalistas tentam tornar pública é de uma mentirosa, que usa seu cargo federal para manipular os funcionários do Estado e blindar o clã Sarney. O mais engraçado é que o Jornal Nacional passou umas duas semanas fazendo matéria sobre o absoluto nada. Não surgia nenhum fato novo, e o JN remoendo a mesma história. Um Senador do DEM, depois um Senador do PSDB, no outro dia o Marco Aurélio Mello, iam se revezando para comentar o assunto. A Fátima Bernardes dizia que aumentou a pressão sobre a Dilma, a oposição chiava outra vez, e no outro dia tinha matéria de novo. O fato é que Lina Vieira teve sua competência profissional questionada pelo Governo, o que culminou com sua exoneração, realizada pelo Ministro Guido Mantega. Segundo funcionários da própria RF, Lina nomeou pessoas que atuavam no movimento sindical e tinham sua confiança, mas que não estavam capacitadas para servir ao Estado. O Governo não admitiu isso e reagiu. Se houve politização da máquina, ela partiu da própria Lina Vieira. A ex-secretária também foi incompetente no planejamento fiscal do período que administrou, o que comprometeu a arrecadação brasileira. Além disso, a Receita Federal de Lina Vieira não teve preparo técnico para lidar com o regime fiscal da Petrobras. Os questionamentos feitos pela Receita, que levaram à CPI criada pela oposição, estavam equivocados, segundo o ex-secretário da RF da época do Governo Fernando Henrique.

Os episódios envolvendo a Ministra Dilma, que são tornados públicos pela mídia, cada vez mais desconstroem a imagem da candidata, e cada vez menos têm qualquer fundamento. A insinuação da mídia de que o Planalto, através da Dilma, estaria pressionando Lina para inocentar o filho de Sarney soa anedótico para quem tem conhecimento técnico sobre o assunto. O Entre Aspas, da Globo News, fez um programa absolutamente esclarecedor sobre este tema. Os convidados foram unânimes na conclusão de que a gestão Lina Vieira foi deletéria para Receita Federal Brasileira. E mais: se, algum dia, ela teve alguma conversa inapropriada com Dilma Rousseff, devia ter denunciado de imediato, e não só depois de demitida. Mas estas as leituras não podem ser feitas pelos cidadãos que acompanham os jornais de maior audiência.

Edição do Entre Aspas sobre Lina Vieira:



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