segunda-feira, 17 de agosto de 2009

Marina Silva e 2010: Lula de saia ou Cristovam de saia?

Em sua coluna na Folha, Kennedy Alencar diz que Marina Silva pode ser um Lula de saia. Considerando a trajetória pessoal, pode ser. Mas o desempenho nas urnas dificilmente permitirá esta analogia. A senadora pelo PT do Acre pode vir a aceitar um convite do Partido Verde para ser candidata à presidência da República. O nome de Marina Silva tornou-se um verdadeiro ícone, de honestidade, superação, preparo, engajamento, idealismo, de luta. É, sem o menor resquício de dúvida, um dos quadros mais valiosos do PT. Se confirmada, a saída de Marina para o PV será uma enorme perda para os petistas. Podem falar o diabo da bancada do PT no Senado, mas toda crítica precisa ser relativizada quando se lembra o seguinte fato: Marina Silva faz parte desta bancada. Agora, a senadora de Acre parece seguir o mesmo caminho de Cristovam Buarque, outro senador de grande prestígio: deixa o PT e lidera um projeto nacional alternativo. Um projeto que não carregue o fardo das alianças que o Governo petista teve de fazer.

Mesmo dentro da base aliada de Lula, lideranças mais à esquerda envergonham-se e condenam acordos feitos com o PMDB, como este para segurar Sarney no comando do Senado. Presidenciáveis como a própria Marina, Cristovam Buarque e Ciro Gomes, apesar de pertencerem à base de apoio do Governo Federal, torcem a cara para o PMDB. Ciro continua defendendo o Governo Lula, a despeito de tudo e de todos. Mas pergunte o que ele pensa desta aliança do Governo com o que existe de pior no PMDB. Elogios, ele certamente não fará. No caso de Ciro, o motivo maior da insatisfação talvez seja que esta mega aliança esteja a serviço da candidatura Dilma, e não da candidatura dele (cada vez mais improvável). De qualquer forma, ver Lula protegendo Sarney é indefensável. Marina já tornou pública sua divergência com o Planalto, no que tange a Crise do Senado. Por estes e outros motivos, a senadora é respeita por boa parte dos eleitores. Entretanto, é improvável que a candidatura do PV obtenha sucesso na disputa presidencial.

Basicamente 3 motivos inviabilizam a candidatura de Marina: ausência de máquina governamental, ausência de palanques fortes nos estados e tempo de televisão reduzido. A máquina serve para que segmentos da população associem realizações públicas ao candidato. Todos os programas e projetos federais renderão capital eleitoral para Dilma. Serra tem a máquina do Governo de São Paulo em mãos, o maior colégio eleitoral do país. Marina tem apenas um discurso. Palanques fortes nos estados são fundamentais para divulgar um presidenciável, especialmente em municípios do interior. Tanto o PT quanto o PSDB já estão costurando acordos, para que Dilma e Serra estejam ao lado de candidatos fortes aos governos dos estados. Marina não terá esta vantagem política. Tempo de televisão tem se mostrado, cada vez mais, fator determinante nas eleições. O PV, com baixa representação na Câmara Federal, tem uma fatia reduzida no Horário Eleitoral. É improvável que os verdes consigam atrair legendas maiores para a sua chapa.

A candidatura Marina será um verdadeiro alívio para muitos brasileiros que não estavam nem um pouco confortáveis diante da dicotomia PT x PSDB. Muitos mesmo! Mas estes brasileiros, quando comparados com a totalidade da população, representam apenas uma pequena parcela da classe média, que acompanha a política e está farta das sujeiras e das mesmices. Votariam nulo, ou adiariam a (in)decisão o máximo possível, agora votarão em Marina. Entretanto, pelos motivos expostos, não vejo a candidatura verde fazendo frente à polarização atual, entre petistas e tucanos. Creio que Marina exercerá em 2010 um papel semelhante aquele exercido por Cristovam Buarque, do PDT, em 2006: uma candidatura que divulga um tema, mas com pouco potencial eleitoral. A bandeira da Educação, levantada por Cristovam, parece exercer maior apelo que a bandeira ambiental, simbolizada por Marina. Entretanto, ela tem prestígio ainda maior. Noves fora, o desempenho nas urnas tende a ser o mesmo. De qualquer forma, se eu estiver errado, estaremos em boas mãos.

5 comentários:

  1. "Mas estes brasileiros, quando comparados com a totalidade da população, representam apenas uma pequena parcela da classe média, que acompanha a política e está farta das sujeiras e das mesmices".... É uma pena que "estes brasileiros" ainda sejam a minoria na sociedade.
    Candidaturas "alternativas" como essa são mesmo o alívio de muitos eleitores, que podem ter a sensação de dever cumprido pelo menos no primeiro turno.
    Não fosse a pequena força política do PV... Acho que a Marina seria uma adversária a altura de Dilma.
    Viva as mulheres!! :)

    ResponderExcluir
  2. Voto de alívio mesmo. E a comparação com o Cristovam Buarque foi perfeita. Pena que pareça tão evidente a desvantagem destas candidaturas "alternativas", como disse a Jessica. Dá um certo desânimo nas eleições...

    ResponderExcluir
  3. A direita corre atrás de apelidos e nomes prá MS, q deixa o PT, c/ aqela cara de qem errou e nao tem volta.

    MS, outra q passa a ser digerda pelo PIG e, por q nao dizer, diluida, será 1 mix de Gagábeirando o Delírio + HH (Hiena Histérica). Qestao de tempo.

    Já vimos este filme, menos a direita, repare no tal Kenedy Qlqr Coisa.

    Inté,
    Murilo

    ResponderExcluir
  4. Caro Crápula Mor, acredito de fato no comportamento ilibado de Marina e no seu poder simbólico de conforto eleitoral, como bem explanado por ti, mas ocorre Marina quando deixa o PT, deixa também de se fazer próximo a um projeto parecido com o de Lula e passa a ficar muito próxima dos tucanos. O PV no plano nacional tem se fixado como parceiro muito bem adaptado a este "novo" aliado, com Gabeira isso se evidenciou drásticamente. Não creio em uma campanha monotemática de Marina, acho que ela, tal como Gabeira deve apresentar um discurso genérico e sistêmico à moda da visão ecológica (lato sensu). Gabeira já o fez no Rio. Não se assuste ao ver Marina, no ano que vem, com um discurso muito parecido com o dos tucanos, valorizando concepções de projetos e de quadros para a conformação de um "moderno", "novo", "renovado", "verde" modo de fazer política.

    ResponderExcluir
  5. A Marina deve ser respeitada por toda a sua história, tanto pessoal quanto política, mas concordo que ela não tem peso pra ser uma "presidenciável". Com isso, em meio à dicotomia PT x PSDB, eu ainda fico com o primeiro...mesmo com um grande quadro a menos.

    ResponderExcluir