segunda-feira, 13 de julho de 2009

Crise Política e ângulos de abordagem

Este blog faz uma opção por demonstrar distorções verificadas na cobertura jornalística sobre política. Se eu tiver que escolher entre falar sobre uma qualidade ou um defeito da mídia, eu fico com o segundo, porque é a isso que eu me proponho. Os blogs – e os veículos tradicionais – também têm que fazer opções por demonstrar estes ou aqueles aspectos, de uma determinada realidade; salientam uns, em detrimentos de outros. Os blogs são mais opinativos, e seus posicionamentos editoriais são mais perceptíveis. Os blogs mais alinhados com a esquerda optam sempre por salientar denúncias, falhas, erros de governantes do PSDB / DEM. Os blogs mais identificados com a direita, ou anti-PT / Lula, destacam ou atribuem maior gravidade às denúncias contra petistas. Há ainda blogs que focam na mídia o/ . Muitos políticos importantes têm blog, como o ex-prefeito César Maia. No caso dos blogs, este processo de seleção de aspectos a serem publicados é mais tranqüilo. Blog é a visão pessoal, subjetiva do seu autor. No caso da mídia, é mais complicado.

Os aspectos selecionados pelos jornalistas chegam ao público de massa. É uma responsabilidade muito grande. Por isso, nos veículos de comunicação, o ideal seria um equilíbrio entre os diversos lados das questões, uma espécie de arbitragem. Infelizmente, não é a isenção que predomina na cobertura sobre política. Ainda que alguns espaços sejam mais democráticos, prevalece um determinado modo de tratamento dos temas políticos. Peguemos como exemplo o programa As Meninas do Jô, que vai ao ar às quartas-feiras. Depois de já ter assistido a várias edições, digo com alguma tranqüilidade que o programa não é tendencioso. Na última edição, o próprio Jô falou com todas as letras que estão fazendo “tempestade em copo d’água” no caso do currículo lattes de Dilma Rousseff (constam no currículo da Ministra os títulos de mestra e doutora, quando na verdade Dilma apenas cursou as disciplinas e não concluiu suas pesquisas). Para o entrevistador, mais relevante na trajetória da Ministra foi a sua atuação no combate à Ditadura, sobre o que ninguém fala. Este momento demonstra que o programa não é unilateral.

Sobre a candidatura da Ministra à presidência, Lilian Wite Fibe observou que Dilma não terá problema em ser aceita pelo partido. Segundo a jornalista, “os petistas aceitarão a candidata com toda a facilidade. Aceitam até o Sarney...”. Na avaliação de Delis Ortiz, do Jornal Nacional, é o PT quem fica com o ônus da Crise Política do Senado. Delis Ortiz tem toda a razão. Uma análise mais fria leva inevitavelmente a este diagnóstico. O PT é quem está pagando esta conta. De fato, a bancada petista no Senado ficou dividida entre apoiar ou pedir a saída de Sarney. Mas não foi o PT o maior responsável pela chegada de Sarney ao comando do Senado. Foi o DEM quem reconduziu Sarney à presidência no início do ano, e foi o DEM que ocupou a primeira secretaria nos últimos anos – cargo diretamente envolvido com as questões administrativas. Entretanto, nenhum grande jornal faz cobranças aos Democratas; a grande maioria responsabiliza o Partido dos Trabalhadores diariamente. Mesmo em um programa que eu considero mais "isento", nenhuma Menina do Jô citou o DEM durante o debate sobre a Crise, mas o PT não foi aliviado, porque é este o ângulo de abordagem predominante que a mídia concede ao PT.


Neste sentido, a cobertura jornalística da grande mídia, na maioria das vezes, está mais próxima a de um blog tucano. Denúncias contra petistas ganham maior destaque, vão para os espaços de maior visibilidade, têm maior longevidade nos jornais, são publicadas sem maiores apurações, na base do offismo, ou ganham pechas e rótulos que ajudam a disseminar as denúncias (como os casos do “mensalão”, do “dólar na cueca”, dos “aloprados do PT”, “do dossiê da Casa Civil” etc.). Casos similares – ou até mais graves – quando envolvem outras legendas, não recebem o mesmo tratamento da mídia. Porém, é importante discernir cada caso, cada escândalo, cada crise. As atuais denúncias contra o Senado, por mais que estejam eventualmente contaminadas por uma cobertura enviesada, têm fundamentos. E mais: representam uma oportunidade histórica para depurar a Instituição. Isso é muito importante! São abusos e desvios de longa data, que finalmente estão vindo à tona. Tudo isso, graças à Democracia. Na época da Ditadura, certamente os abusos eram ainda mais graves, e permaneciam encobertos. O caminho é este mesmo: na Democracia, aprimorar as instituições. E, neste processo, apesar de todos os seus defeitos, a mídia é imprescindível.

4 comentários:

  1. "O caminho é este mesmo: na Democracia, aprimorar as instituições. E, neste processo, apesar de todos os seus defeitos, a mídia é imprescindível."

    Tem toda razão. E, como foi dito, é preciso saber separar tempestades em copos d'água e escândalos reais de "casa de horrores" pra melhorar a situação. Ficar do jeito que está é que não pode (nem piorar também...).

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  3. O que a midia faz neste caso se conhece no xavão comunicacional de "dá uma de João sem braço". Fazer de um fato que,por exemplo,tem peso 2,embora seja errado e passivel de punição, a midia, que não engole até hoje o caminho que o povo brasileiro escolheu em 2002, ela faz ficar com o peso 10. As pessoas que tem uma sensibilidade mais aguçada, percebem a verdadeira intenção por trás do "bom mocismo" da mídia, quando ela se traveste de "polícia eletronica brasileira".

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  4. De fato a maioria da mídia eletrônica é da direita, mas talvez esse seja um reflexo pelo fato da esquerda estar hoje no poder. Só poderíamos saber concretamente se a direita voltasse ao poder...(que ninguém me escute, por favor).

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