domingo, 5 de julho de 2009

Criticar a mídia não inocenta Sarney

Eu entendo as críticas que são feitas à mídia. Acho que são críticas legítimas, fundamentadas, e fazem referência a distorções graves na cobertura jornalística. Sou o primeiro a estimular este debate. Certamente a atual Crise do Senado não se restringe à figura individual de Sarney. O Jornal Nacional repete diariamente que quem segura Sarney no cargo é o PT e o presidente Lula. O PSDB e o DEM posam de defensores da moralidade pública, partidos sensíveis ao clamor “popular”. Os jornais ignoram totalmente que durante todo este período em que o grupo político de Sarney esteve no comando do Senado, o DEM também estava! O DEM ocupa a primeira secretaria, que é justamente a responsável por essas questões administrativas. Hoje, o Primeiro Secretário é o Senador Heráclito Fortes, do PI. Seu antecessor foi o Senador Efraim Moares, da PB. Foram vários anos de gestões questionáveis - pra dizer o mínimo - dos DEMocratas. Hoje, o DEM é retratado como ícone da ética.

Qualquer brasileiro que peça a saída de Sarney pode estar coberto de razão. No caso do partido DEMocrata, isto não passa de pura demagogia. É completamente estapafúrdio, quando se considera a história e o contexto desta Crise. Mas isso é tudo que a mídia não faz no que se refere à política. A cobertura é, de maneira geral, superficial e localizada. Um debate mais amplo, aprofundado, que aborde as raízes estruturais do problema, nunca é feito. É claro que, no caso dos telejornais, o próprio tempo dedicado ao assunto é restrito, o que pode inviabilizar um debate mais profundo. Mas isso não justifica, já que a mídia impressa também opera com esse nível de superficialidade e a televisão abre bastante espaço para política, em tempos de “Crise”. Ou seja, ao invés de tornar públicos aspectos mais substanciais, a mídia faz em um jogo politiqueiro, vazio. Certo! Eu acho que estas críticas fazem todo o sentido. Mas nada disso ameniza a situação do presidente do Senado.

Irmão, netos, sobrinhas, primas, apadrinhados e cia, tirando proveito do poder público; auxílios e verbas utilizados de maneira irregular; e agora uma mansão de R$ 4 milhões não declarada à Justiça Eleitoral. O Planalto fez uma opção política por Sarney. Antes de fazer juízo de valor, estou apenas constatando que os fatores considerados pelo presidente, nesta opção, foram eminentemente políticos. Lula está preocupado com a possível chegada do tucano Marconi Perillo (atual vice) à presidência do Senado. Se a vida do Governo, no Senado, já não é das mais fáceis, com o PSDB no comando é que complicaria de vez. Lula ponderou principalmente as conseqüências para as eleições de 2010. Vocês lembram que eu vinha comentando sobre o alto preço que os PMDBistas pretendiam cobrar em troca do apoio à candidatura de Dilma? Pois bem, com este alinhamento a Sarney, o Governo pode sacramentar de vez a aliança eleitoral muito antes do que imaginava, e pagado baratíssimo! A gratidão do PMDB será incomensurável.

Difícil é descobrir o preço que o Governo terá de pagar, junto à população, por defender a permanência de José Sarney na presidência do Senado, em meio a uma Crise tão grave. Talvez, o preço não seja tão alto. Até 2010, pode ser que a população já tinha dissipado os efeitos das denúncias. O Governo pode perder mais apoio na classe média, que foi beneficiada por medidas como injeção de crédito no mercado, facilitação no financiamento de imóveis, redução de impostos de carros e eletrodomésticos, mas que é mais atenta e exigente no campo da moralidade. As classes mais baixas parecem priorizar questões materiais. De qualquer forma, são generalizações. É preciso aguardar para conferir as reais conseqüências políticas da opção de Lula por Sarney. Institucionalmente, na minha opinião, o Brasil perde.

Um comentário:

  1. "Ou seja, ao invés de tornar públicos aspectos mais substanciais, a mídia faz um jogo politiqueiro"... E isso acontece não só com a mídia, pois diferentemente da classe média, não são todos que ligam para moralidades... O apoio do atual Governo ao Sarney é jogo político, evidentemente! Concordo que o Brasil perde.

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