Inominável, é parte da reação da Imprensa ao Blog Fatos e Dados, da Petrobras. Ao ver-se envolvida no lamaçal de uma CPI, a principal empresa da América Latina decidiu por criar um blog em que (segundo a própria empresa) serão apresentados “fatos e dados recentes da Petrobras e o posicionamento da empresa sobre as questões relativas à Comissão Parlamentar de Inquérito”. Não é positivo para a imagem de nenhuma empresa, instituição, partido ou figura política, ser o centro de uma investigação parlamentar, em que toda sorte de dúvidas, ilações e suspeitas serão ventiladas (com razoável repercussão na mídia, cabe acrescentar). Mas, sem entrar no mérito da criação da CPI em questão, esta é uma prerrogativa legitima do Congresso (especificamente, da oposição). Diante do fato consumado, a Petrobras optou por também abrir um espaço em que poderá expor as suas versões dos fatos. O que também me parece uma prerrogativa legitima! Mas, não foi assim que boa parte da Imprensa brasileira entendeu.
Na minha opinião, a Petrobras está demonstrando que, não apenas possui profissionais de Comunicação antenados com as novas tecnologias midiáticas, mas que também soube reagir rápida e estrategicamente à inadvertida instalação da CPI. Entretanto, para o Kennedy Alencar, da Folha, a decisão da Petrobras é “antiética e burra”. O articulista político argumenta, dentre outras coisas, que “a decisão da Petrobras quebra uma relação de confiança, digamos assim, necessária à liberdade de imprensa e ao direito de a empresa expor o contraditório”, e que não haveria necessidade para o blog, já que “existe uma Justiça no Brasil que tem sido cada vez mais rápida e dura com a imprensa na concessão de direitos de resposta e reparações materiais”. A Imprensa deve mesmo ser livre para publicar o que quiser! Caso o objeto da reportagem sinta-se prejudicado, pode de fato acionar a Justiça. Mas esta análise está equivocada sobre o Blog da Petrobras porque distorce em que consiste a própria mídia.
Na visão de Kennedy, parece que há, de um lado, uma Imprensa “do bem”, séria, profissional, que apura antes de publicar e concede a oportunidade do contraditório caso cometa equívocos; e, do outro lado, existiria uma Imprensa “do mal”, antiética, “cheia de estúpidos e imparcial” (para usar os termos do próprio Kennedy). Provavelmente há estes dois tipos de jornalistas mesmo! Mas absolutamente não é nisso que consiste a mídia, e não é isso que está em jogo no blog da Petrobras. O que me parece mal compreendido pelo editorial da Folha, e por vários outros veículos de comunicação, é que mesmo o mais sério, mais profissional, mais ético e democrático dos jornalistas produz SEMPRE uma VERSÃO dos fatos. Não há um jornalista bonzinho que traz a pura realidade, de maneira imparcial; e um jornalista mauzinho que traz a mentira, a realidade distorcida, de modo maquiavélico e ardiloso. Jornalista não é Deus para reproduzir o real, o que a mídia traz é UM ASPECTO do real (mesmo que seja de forma isenta e plural), mas este aspecto é necessariamente uma versão, uma interpretação, um enquadramento, um ângulo de abordagem dos fatos.
Aliás, o próprio Kennedy sugere em sua coluna que, apesar de haver parcialidade em alguns veículos, outros tantos são imparciais (ou seja, objetivos, neutros). Uma pessoa sem formação na área de comunicação dizer isso é compreensível, mesmo porque este é um clichê atribuído à mídia pelo senso comum, de que ela é “imparcial”. Mas, uma pessoa que, além de ter formação na área, trabalha em um dos principais jornais do país, valer-se deste tipo de lugar comum, é de matar! O Blog da Petrobras é importante porque permite à empresa publicar a sua versão dos fatos, enquadramentos e ângulos de abordagem que, eventualmente, não foram privilegiados nos veículos de comunicação com maior audiência. É simplesmente isso. A Petrobras deveria acionar a Justiça e processar um jornalista que teve uma interpretação diferente da sua?! Na lógica do Kennedy, seria isso. Mas não é o caso, não se trata de faltar com a verdade, mentir ou distorcer. Trata-se de divergência de interpretações.
O Jornal da Globo também fez matéria sobre o assunto, mostrou os dois lados da questão, mas o enquadramento principal foi negativo. Entretanto, o principal alvo da crítica do Jornal era a disposição do blog em publicar perguntas enviadas por jornalistas e as respostas da empresa, antes da publicação na mídia. Mas a Petrobras já voltou atrás neste ponto, o que eu achei mais adequado mesmo. O jornalista deve ter a prerrogativa de ser o primeiro a publicar o que está apurando. O jornal O Globo (impresso) foi mais longe, e tirou da cartola um “especialista em ética” (Ótima essa profissão, né?), professor da Unicamp, pra dizer que o Blog intimida o Congresso, intimida a Imprensa, e faz “terrorismo de Estado”. Vejam que esdrúxulo! Por que opiniões diferentes intimidam a Imprensa?! O que há pra ser intimidado?! O que um mísero blog pode fazer contra verdadeiras máquinas midiáticas?! O Globo foi pescar esse especialista pra dizer o que o jornal pensa. Pra alguns, a liberdade de expressão é propriedade da mídia! Não serve pra nenhum outro campo, instituição ou agente social! É um paradoxo grosseiro! Querem monopolizar a livre informação.
Na minha opinião, a Petrobras está demonstrando que, não apenas possui profissionais de Comunicação antenados com as novas tecnologias midiáticas, mas que também soube reagir rápida e estrategicamente à inadvertida instalação da CPI. Entretanto, para o Kennedy Alencar, da Folha, a decisão da Petrobras é “antiética e burra”. O articulista político argumenta, dentre outras coisas, que “a decisão da Petrobras quebra uma relação de confiança, digamos assim, necessária à liberdade de imprensa e ao direito de a empresa expor o contraditório”, e que não haveria necessidade para o blog, já que “existe uma Justiça no Brasil que tem sido cada vez mais rápida e dura com a imprensa na concessão de direitos de resposta e reparações materiais”. A Imprensa deve mesmo ser livre para publicar o que quiser! Caso o objeto da reportagem sinta-se prejudicado, pode de fato acionar a Justiça. Mas esta análise está equivocada sobre o Blog da Petrobras porque distorce em que consiste a própria mídia.
Na visão de Kennedy, parece que há, de um lado, uma Imprensa “do bem”, séria, profissional, que apura antes de publicar e concede a oportunidade do contraditório caso cometa equívocos; e, do outro lado, existiria uma Imprensa “do mal”, antiética, “cheia de estúpidos e imparcial” (para usar os termos do próprio Kennedy). Provavelmente há estes dois tipos de jornalistas mesmo! Mas absolutamente não é nisso que consiste a mídia, e não é isso que está em jogo no blog da Petrobras. O que me parece mal compreendido pelo editorial da Folha, e por vários outros veículos de comunicação, é que mesmo o mais sério, mais profissional, mais ético e democrático dos jornalistas produz SEMPRE uma VERSÃO dos fatos. Não há um jornalista bonzinho que traz a pura realidade, de maneira imparcial; e um jornalista mauzinho que traz a mentira, a realidade distorcida, de modo maquiavélico e ardiloso. Jornalista não é Deus para reproduzir o real, o que a mídia traz é UM ASPECTO do real (mesmo que seja de forma isenta e plural), mas este aspecto é necessariamente uma versão, uma interpretação, um enquadramento, um ângulo de abordagem dos fatos.
Aliás, o próprio Kennedy sugere em sua coluna que, apesar de haver parcialidade em alguns veículos, outros tantos são imparciais (ou seja, objetivos, neutros). Uma pessoa sem formação na área de comunicação dizer isso é compreensível, mesmo porque este é um clichê atribuído à mídia pelo senso comum, de que ela é “imparcial”. Mas, uma pessoa que, além de ter formação na área, trabalha em um dos principais jornais do país, valer-se deste tipo de lugar comum, é de matar! O Blog da Petrobras é importante porque permite à empresa publicar a sua versão dos fatos, enquadramentos e ângulos de abordagem que, eventualmente, não foram privilegiados nos veículos de comunicação com maior audiência. É simplesmente isso. A Petrobras deveria acionar a Justiça e processar um jornalista que teve uma interpretação diferente da sua?! Na lógica do Kennedy, seria isso. Mas não é o caso, não se trata de faltar com a verdade, mentir ou distorcer. Trata-se de divergência de interpretações.
O Jornal da Globo também fez matéria sobre o assunto, mostrou os dois lados da questão, mas o enquadramento principal foi negativo. Entretanto, o principal alvo da crítica do Jornal era a disposição do blog em publicar perguntas enviadas por jornalistas e as respostas da empresa, antes da publicação na mídia. Mas a Petrobras já voltou atrás neste ponto, o que eu achei mais adequado mesmo. O jornalista deve ter a prerrogativa de ser o primeiro a publicar o que está apurando. O jornal O Globo (impresso) foi mais longe, e tirou da cartola um “especialista em ética” (Ótima essa profissão, né?), professor da Unicamp, pra dizer que o Blog intimida o Congresso, intimida a Imprensa, e faz “terrorismo de Estado”. Vejam que esdrúxulo! Por que opiniões diferentes intimidam a Imprensa?! O que há pra ser intimidado?! O que um mísero blog pode fazer contra verdadeiras máquinas midiáticas?! O Globo foi pescar esse especialista pra dizer o que o jornal pensa. Pra alguns, a liberdade de expressão é propriedade da mídia! Não serve pra nenhum outro campo, instituição ou agente social! É um paradoxo grosseiro! Querem monopolizar a livre informação.
É isso mesmo. A grande mídia sempre mergulha em contradições. Ela acredita que a Petrobras não precisa ter medo de uma CPI, pois se não há nada errado, consequentemente não há nada a esconder. Porém, com relação ao blog da Petrobras, é a mídia quem fica com medo...por que, tem algo a esconder?
ResponderExcluirHahahaha, não tinha visto essa do especialista em ética! Parece remanescente da Grécia Antiga, rs. Quanto ao blog, é a polêmica mais interessante sobre a mídia que vi em alguns meses. Liberdade de informação, interesses, política, internet... E ética! Afinal, tem que ter espaço pra todos os tipos, hehehe
ResponderExcluirmuito boa Ruan, gostei da perspectiva de comentário em que vc trabalhou. Isso só fortalece a nossa real necessidade de barrar qualquer tipo de restrição que alguém venha a impor no uso das tecnologias virtuais.
ResponderExcluirCrápula, "As Organizações Globo sempre estiveram um passo atrás da "turba", de olho no "choque"; este, lá adiante, no meio da rua, pronto para baixar a ripa."
ResponderExcluirLeia no Assaz Atroz
Abraços