sexta-feira, 29 de fevereiro de 2008

Drops - Fevereiro

Pra quem não lembra ou não sabe, Drops é a postagem em que eu falo sobre vários assuntos. Pode demorar, mas os Drops vão aparecer todo mês! Eis os de fevereiro:

Quanto vale um dedo?


O mecanismo de rebatimento do banco traseiro do VW Fox decepou parte do dedo de cerca de oito proprietários do VW Fox, VW CrossFox e VW SpaceFox, na versão sem banco bi-partido. Isto nos casos mais graves. Peritos afirmam que há outras situações de perigo em potencial, incluindo riscos de esmagamento das mãos e dos dedos, como o caso de outro proprietário que teve três dedos seriamente feridos ao efetuar a mesma manobra. A montadora alemã, que se recusa a fazer um recall, diz que as instruções no Manual são claras. Podem ser perfeitamente claras, o problema é: o ser humano erra! Às vezes, eu leio uma coisa e entendo outra, interpreto de uma maneira diferente, não entendo uma palavra, simplesmente não compreendo da maneira de deveria. Quem nunca errou? O erro, nem sempre é culpa da empresa. Mas, se 8 pessoas já perderam o dedo, e outras já se feriram, o procedimento não é tão simples assim. Bela forma de demonstrar preocupação com os consumidores! A Volkswagen merece um dedo. O do meio, bem esticado.

É cada uma...

Na coletiva de imprensa do filme Sexo com Amor, José Wilker fez a seguinte declaração: "Estou extremamente insatisfeito com a TV brasileira. Acho um desrespeito com a classe artística permitirem que pessoas sem o menor preparo deixem o 'Big Brother' e participem de novelas e outros programas. Por isso, prefiro me dedicar ao cinema, que leva a arte dramática mais a sério" ¹. Se dedicar ao cinema?!!! Ele tá insatisfeito com a Rede Globo e vai se dedicar a um filme estrelado por Reynaldo Gianecchini, Carolina Dieckmann, Malu Mader, e dirigido pelo Wolf Maya?! Não tem alguma incoerência nisso, não? Centenas de projetos pelo Brasil afora, com roteiros originais, relevantes, inteligentes, profundos, desesperados por uma oportunidade para serem produzidos, e ele vai se dedicar ao cinema por meio de uma baboseira repleta de pratas da casa?! Vai enganar outro! É A PRÓPRIA Rede Globo quem mais divulga este filme! Sexo com Amor é mais uma vitrine pros protagonistas das novelas globais, supérfulo, meramente comercial, descartável. Esta declaração do Wilker é tão hipócrita, que a única explicação que eu vejo para ela é: tentativa de chamar atenção.

¹ http://www.tvcanal13.com.br/noticias/ator-jose-wilker-alfineta-a-rede-globo-e-o-big-brother-12289.asp

Tropa de Elite 2 x O Ano em que meus pais saíram de férias 0

O filme Tropa de Elite, de José Padilha, foi premiado no dia 16 de fevereiro no Festival de Berlim com o Urso de Ouro de melhor filme, durante a cerimônia de encerramento da 58ª edição da Berlinale. "Era um prêmio que eu, sinceramente, não esperava", disse José Padilha. A última vez que um filme brasileiro ganhou o Urso de Ouro foi em 1998, com "Central do Brasil", de Walter Salles Jr.. A atriz Fernanda Montenegro, protagonista do filme, conquistou na época o Urso de Prata de melhor atriz pelo papel de Dora, que escreve cartas para analfabetos. O Ano em que meus pais saíram de férias teve uma oportunidade de dar o troco, quando concorria a uma indicação ao Oscar. Comentei aqui no Blog, “numa época em que só se fala de Tropa de Elite no Brasil, concorrer à estatueta lavaria a alma de Cao Hamburger". Tropa de Elite não recebeu nenhum troco no Oscar, e ainda acabou demonstrando que não é a preferência apenas do público, mas da crítica especializada também.

Unidos, na saúde e na doença, na alegria e na tristeza.

A TV Globo e o deputado federal Rodrigo Maia, presidente do DEM (ex-PFL), foram condenados a indenizar Luiz Carlos da Silva em R$ 100 mil por danos morais ¹. Ele foi exposto no caso do "mensalão" ao ter seu nome divulgado em uma lista de pessoas que estiveram na agência do Banco Rural situada no Brasília Shopping, onde eram realizados os supostos saques para pagamentos de deputados. A decisão é do juiz da 4ª Vara Cível de Brasília, Robson Barbosa de Azevedo. O autor da ação diz que, segundo as matérias veiculadas pela TV Globo em Julho de 2005, a lista de nomes de pessoas que compareceram à agência bancária na qual Marcos Valério realizava o depósito foi elaborada pelo deputado federal Rodrigo Maia. É como no caso do Dossiê, mídia e oposição estavam perfeitamente sincronizadas. O mais triste é que a mídia de massa realmente poderia exercer a função de aprofundar debates importantíssimos para a sociedade brasileira, mas prefere ficar neste jogo de comadre com os partidos de sua preferência, sobrevivendo de factóides, pautados da maneira mais conveniente.

¹ http://ultimainstancia.uol.com.br/noticia/47407.shtml

sexta-feira, 22 de fevereiro de 2008

Parece massa de bolo.

Senso de oportunidade. É mais ou menos assim... A última pesquisa que o IBOPE fez sobre a avaliação do presidente foi em Setembro, no auge da Crise Renan Calheiros. Lembro que o período em que as perguntas foram feitas coincidiu com (ou foi imediatamente após) a absolvição de Renan no Senado. O país estava perplexo, inconformado. Teria momento melhor? À época, a aprovação do Presidente caiu 3 pontos, para 63%. Este ano, a oportunidade que apareceu foi a Crise dos Cartões Corporativos. A CNT/Sensus arregaçou as mangas e foi às ruas. O resultado foi um surpreendente crescimento na aprovação de Lula e do Governo. Desde janeiro de 2003 esta administração não era tão bem avaliada [1]. O desempenho pessoal do presidente foi aprovado por 66,8% dos entrevistados, ante 61,2% na sondagem anterior, superado apenas pelos 69,9% no primeiro ano de mandato.

A pesquisa faz uma ressalva: dos 64,1% que conhecem o assunto, 10,9% aprovam a manutenção do uso do cartão corporativo; 83,1% desaprovam a prática e 3,4% aprovam, desde que regido por normas. O Estadão e a Folha/UOL não deixaram barato. O primeiro fez uma enquete em seu site, perguntando “Você está satisfeito com o governo Lula?” [2]. O resultado oscilou bastante, o “Não” largou na frente. O “Sim”chegou à casa dos 90%. Quando vi pela última vez, o “Não” estava de volta à liderança com 60%. Seja qual for, o resultado final não terá muito valor, porque pode ser adulterado com programinhas para votação automática [3]. Além disso, uma pesquisa técnica, criteriosa, proporcional às características da população, em nível nacional, obviamente, tem muito mais relevância do que a enquete do Estadão.

A Folha foi mais perspicaz, criou um “grupo de discussão on line[4]. No site do UOL estava devidamente esclarecido: “Quase 40% dos internautas do UOL discordam com avaliação positiva do governo: 28% concordam com os resultados da pesquisa, 39,6% não concordam com a avaliação recebida por Lula e 32,4% opinaram sem se posicionar a favor ou contra”. A troco de que dois veículos de comunicação criam uma enquete e um “grupo de discussão” logo após o resultado de uma pesquisa? Será que eles gostaram do resultado? Estas estratégias discursivas têm objetivos muito claros: primeiro, mostrar que os respectivos públicos são diferenciados, e não podem ser confundidos com “a massa”. Depois, é preciso esclarecer que existe um grupo de cidadãos (supostamente mais esclarecidos) que sustentam o posicionamento divergente. Logo, a pesquisa precisa ser “relativizada” (para usar um termo sutil).

Os meios de comunicação de massa, no Brasil, são mal acostumados. A mídia acredita revelar a verdade, e também acredita que algo está errado quando a audiência não codifica esta verdade da maneira que deveria. Mas, a verdade, como sempre, depende de um ponto de vista. E, nem sempre, o ponto de vista da mídia corresponde ao do público. Em certos momentos, surgem fatores relevantes, percebidos no cotidiano desta população, que confrontam ou pesam mais que os postulados da mídia. Neste conflito, é a opinião da maioria que prevalece. A despeito da pretensão midiática de determinar a opinião pública – o que em certa medida acontece mesmo – há resistência. É possível falar em influência dos meios de comunicação sobre a audiência, por razões óbvias. Mas não há manipulação. Não adianta! E, nestas circunstâncias, parece que se insistir é pior: quanto mais bate, mais cresce.

[4] http://noticias.uol.com.br/ultnot/2008/02/18/ult23u1191.jhtm

quinta-feira, 14 de fevereiro de 2008

A Crise americana. Na economia? Não, na TV.

FRIENDS, Frasier, Sex and the City, That 70’s Show, Everybody Loves Raymond, Will & Grace, The West Wing e, agora, The Sopranos. É oficial. All the greats are over! Não tem nenhuma grande série, nenhum grande clássico no ar. Só ER resiste, ou melhor, insiste. CSI e todas as suas franquias ainda marcam presença também. E Saturday Night Live não conta, já está há 3 décadas em exibição e, convenhamos, não faz mais o sucesso de antes. Mas a questão é que a TV americana, de maneira geral, está órfã. Muita coisa nova tem aparecido nos últimos anos, pouquíssimas sobrevivem. A ABC apareceu com as melhores soluções. LOST, Desperate Housewives, Grey’s Anatomy e, mais recentemente, Ugly Betty são as atuais queridinhas dos americanos. A NBC (mais prejudicada com a crise) conseguiu emplacar Heroes.

Em meio a tudo isso, para piorar, os roteiristas entraram em greve! Reality-shows nunca foram tão providenciais. Mas, depois de 3 meses de paralisação, parece que chegaram a um acordo com as grandes companhias do entretenimento (Disney, Sony, Time Warner, GE, News Corp, entre outras). A partir de agora, as produções serão retomadas e mais cedo ou mais tarde as séries voltarão ao ar, para alívio dos fãs. Das mais recentes, destaco Car Poolers, que consegue inserir diálogos bem elaborados e ousados, em contextos mais convencionais (Car Pool é uma espécie de serviço ou comodidade que beneficia um grupo de pessoas, no caso, um carro), e Big Day, que apresenta personagens excêntricos e muito engraçados – destaque para a organizadora do casamento, excelente atriz!

Nem tão recente assim, 30 Rock também merece ser citada pela criatividade e inteligência do texto. Till Death tinha tudo pra ser uma imitação de Everybody Loves Raymond. Não é. O protagonista conseguiu se desvencilhar do antigo personagem e deu uma cara nova para o programa, como um todo. Ele está sendo mais versátil do que eu esperava. Só fico me perguntando até quando este formato ‘típico casal americano’ vai continuar. Não vai saturar nunca? Deveria! Muito convencional, muito manjado, muito básico, muito CBS. Quero acompanhar melhor Brothers & Sisters, que parece ter um texto bem escrito e sensível, e vou ficar na expectativa para o desempenho de Private Practice, fruto do sucesso de Grey’s Anatomy, com direito a spin off e tudo. Ambas são da ABC.

Sempre gosto de citar The Comeback, da Lisa Kudrow, e Four Kings (com o mesmo protagonista de Big Day), injusta e equivocadamente canceladas. Mais uma coisa: The ALI G é brilhante! O Bruno enganando os caras na praia é hilário! “Sayin hi... WHAT?! Áustria Gay TV?!!!” Esse Sacha Baron Cohen é um dos melhores atores que eu conheço! O David Letterman perguntou como são agendadas aquelas entrevistas históricas como Ali G, mas ele não quis revelar. Disse que não podia. O Borat também é impagável! Tanto que rendeu um longa-metragem e um Golden Globe para o Sacha. Qualquer premiação para esse ator é mais do que merecida, ele se transforma em três pessoas completamente diferentes e, nos 3 casos, ficamos convencidos de que os personagens existem de verdade. Li em algum lugar que saiu um filme do Bruno também. Vou atrás! O cara é incrível!

quinta-feira, 7 de fevereiro de 2008

Tapioquinha indigesta!

R$ 8,30. Este foi o valor gasto pelo Ministro dos Esportes, Orlando Silva, em uma tapiocaria, utilizando o cartão corporativo. Tem problema? É lógico que sim! Não pelos oito reais, em si. Mas, pelo precedente que este tipo de comportamento pode gerar. Se gasta uma mixaria hoje em um lanche, por que não gastar R$ 50,00 em uma farmácia, amanhã? O que vai impedir de abastecer R$ 100,00 de gasolina na semana que vem? Por que não pagar um jantar de R$ 300,00 para empresários chineses em um evento qualquer? Não demora muito, podemos receber a notícia de que mais de R$ 400,00 em despesas num Free Shop foram custeados com dinheiro público. Eu posso até acreditar que foi apenas um ato falho do Ministro, que foi pego desprevenido. Mas não aceito! O problema é antigo: esta mania de ignorar a linha que separa o público do privado.

Esta confusão é inadmissível! E quanto mais assistimos a notícias como estas, menor fica a nossa tolerância. É exatamente por isso que o cartão é providencial. As despesas são rastreáveis, transparentes, e permitem maior controle e fiscalização. Ninguém vai fazer desvio de dinheiro público, por meio de um cartão! O que acontece são abusos, ainda assim, todos são detectados e possivelmente denunciados, como vem acontecendo. Além disso, desta vez, o Governo responde com agilidade: demitiu, pediu esclarecimentos, investigou, restringiu o uso, proibiu saques em dinheiro na maioria dos casos e dialogou abertamente com a imprensa. Segundo a Controladoria-Geral da União, as despesas com suprimentos de fundos (que envolvem o uso dos cartões corporativos) caem significativamente desde 2003 ¹.

2007 foi um ano atípico, em que as despesas foram altas, em função da realização de dois censos pelo IBGE (censo agropecuário e contagem da população nos pequenos e médios municípios), de ações de inteligência da Abin (visando a segurança durante os jogos Pan-americanos) e da intensificação das operações especiais da Polícia Federal. As despesas da Presidência da República, especificamente, segundo o Ministro da CGU, Jorge Hage, caíram de R$ 5,3 milhões em 2006 para R$ 5 milhões no ano seguinte. Alguns Ministérios também reduziram gastos, como o do Meio Ambiente, da Integração Nacional e das Comunicações. Acontece que o problema vai muito além da administração federal: funcionários da Marinha, do INMETRO e, até mesmo, de Universidades ², apresentam despesas “questionáveis”.

Pra que servem os cartões corporativos? Exatamente para isso; pequenas despesas públicas (chamadas ‘contas do tipo B’). Às vezes, insignificantes. De qualquer forma, sempre realizadas com dinheiro do contribuinte. É por isso que o uso, necessariamente, deve ser seguido por um procedimento ético. Não importa se o servidor público ou o Ministro estava “desprevenido”, não é esta a questão. Ética não é uma conveniência, ou uma comodidade, é uma praxe. Ao menos, deveria ser. A despeito do valor em questão. A oposição, naturalmente, já gritou três letras: “CPI”. O Governo respondeu do mesmo modo: “FHC”. Tanto faz! Senado não esclarece nem as suas próprias contas, quanto mais as dos outros! Pra que servem as investigações no parlamento brasileiro? Exatamente para isso; palanque político, disputa acéfala pelo poder e satisfação de egos que estão mais preocupados em aparecer às câmeras do que trabalhar pelo país.

¹ http://www.cgu.gov.br/Imprensa/Noticias/2008/noticia00508.asp#a.conteudo

² http://www1.folha.uol.com.br/folha/brasil/ult96u370214.shtml