Até poucas semanas atrás, existia uma especulação de que Dilma seria a candidata de Lula em 2010. Mas, até então, nada estava confirmado. Até porque a Ministra tinha míseros 5% nas pesquisas. Falava-se em Patrus Ananias (pai do Bolsa-Família), em Ciro Gomes (mais conhecido dois candidatos governistas), até mesmo em Aécio Neves (caso vá para o PMDB). Ou seja, existiam muitas especulações e não um alvo-preferencial. Veio a reviravolta: o Presidente anuncia Dilma como "Mãe do PAC" (por PAC, leia-se: programa do Governo com obras em todo canto do Brasil). Além disso, o Presidente resolve pegar a Ministra pelo braço e sair Nordeste à fora, tornando-a mais conhecida. Finalmente: sai pesquisa Sensus dando aumento da aprovação do Lula pra 68%. Duas semanas depois sai a do Ibope falando em 73%! Aí, caros leitores, oposição/mídia concluíram: o caminho das pedras é esse aqui...
Começou. VEJA: Governo prepara Dossiê contra FHC e sua esposa. Dois dias depois, FOLHA: Dossiê veio da Casa Civil. Um dia depois, GLOBO joga pro país inteiro: Dilma se explicando e FHC indignado. Um dia depois, ESTADÃO: cientista político decreta que candidatura Dilma está morta. ??? No caso do Estadão, o analista avaliou que “com as denúncias, Dilma enfraqueceu e agora virou a madrasta do dossiê" [1]. Que mudança súbita, não? De mãe para madrasta. O jogo de comadre mídia x oposição ficou por conta do líder tucano Arthur Virgílio. O Senador afirmou em plenário que “a ministra Dilma começa a virar um pato manco, ou ‘lame duck’, como se diz nos Estados Unidos. Ela começa a se arrastar no cargo até cair. Não é mais a Dilma imaculada de antes". O presidente do Democratas, deputado Rodrigo Maia (RJ), disse que a situação da Ministra no governo ficará “insustentável” caso ela não apresente uma explicação satisfatória [2]. Tudo muito conveniente...
Em questão de dias, a possibilidade de uma candidatura que mal tinha nascido já estaria morta e enterrada. Estaria? A mídia tem mesmo todo este poder? Quando tudo vai bem para o Governo, repentinamente surge um “dossiê”, que vira o jogo. E nós somos obrigados a acreditar que o tal dossiê veio do próprio governo e não da oposição, a maior beneficiada com tudo isso. Nas eleições 2006, Lula tinha chances reais de vencer no primeiro turno, Mercadante avançou 5 pontos em apenas 2 semanas, nas pesquisas de SP, e ameaçava levar o pleito ao segundo turno. Serra que começou com 59%, estava com 48% [3]. Os tucanos gritaram: e agora quem poderá nos defender? Apareceu o famigerado dossiê! É claro que outros fatores contribuíram para o bom desempenho de Alckmin naquela eleição, e Serra podia mesmo ser eleito no primeiro turno. Mas que o imprevisto foi providencial para o PSDB, isso foi!
De volta para 2008: o Governo tem aprovação recorde. Nas pesquisas espontâneas para a sucessão presidencial em 2010 (ou seja, naquelas em que o pesquisador não apresenta candidatos), Lula aparece em primeiro lugar com folga. Mas, o fato é que Lula não disputará 2010, e nem tem um nome competitivo do PT. Se o Presidente quiser fazer seu sucessor, precisa construir um nome desde já. Novamente, surge um dossiê inviabilizando esta possibilidade. Desta vez, entretanto, aparecem evidências de ligações da oposição com o caso. O senador Álvaro Dias (PSDB-PR) admitiu ter recebido o suposto dossiê com informações sobre gastos sigilosos do ex-presidente Fernando Henrique Cardoso, mas não confirmou nem desmentiu ter sido o responsável por enviá-lo à imprensa [4] (por “imprensa”, leia-se: Revista Veja). Arthur Virgílio (do 'lame duck') já sabia do banco de dados que deu origem ao documento, como comprovou o deputado Paulo Teixeira [5].
Nenhuma pessoa com suas faculdades mentais em dia vai pensar que isso foi mais uma “alopração” do PT, uma traição interna ou uma série de coincidências. Não estou em nenhuma medida surpreso com o que aconteceu. Só não esperava que as armações fossem tão descaradas... Eu já não tenho mais adjetivos pra comentar a mídia brasileira. Não tenho mais condições de classificar o ponto em que chega a partidarização dos veículos de comunicação. Sobre este assunto, um comentário feito neste blog, pelo Edinho, resume muito bem o que está por trás desta partidarização: “com a taxa de analfabetismo na casa dos 20% e a linha de pobreza ainda beirando os 50%, acesso à mídia não é pra qualquer um - muito menos a mídia escrita e a Internet. E a mídia, ao mesmo tempo em que "informa", escuta - e muito bem - o que seus leitores querem. Ela tem de fazê-lo, afinal sua receita vem deles”. Concordo plenamente. Mas, com o maior acesso dos pobres a eletrodomésticos, e com a popularidade crescente de Lula, não será surpresa se este posicionamento da mídia de massa mudar ou, no mínimo, ficar mais flexível. Com sempre, tudo dependerá daquilo que for mais conveniente.
Começou. VEJA: Governo prepara Dossiê contra FHC e sua esposa. Dois dias depois, FOLHA: Dossiê veio da Casa Civil. Um dia depois, GLOBO joga pro país inteiro: Dilma se explicando e FHC indignado. Um dia depois, ESTADÃO: cientista político decreta que candidatura Dilma está morta. ??? No caso do Estadão, o analista avaliou que “com as denúncias, Dilma enfraqueceu e agora virou a madrasta do dossiê" [1]. Que mudança súbita, não? De mãe para madrasta. O jogo de comadre mídia x oposição ficou por conta do líder tucano Arthur Virgílio. O Senador afirmou em plenário que “a ministra Dilma começa a virar um pato manco, ou ‘lame duck’, como se diz nos Estados Unidos. Ela começa a se arrastar no cargo até cair. Não é mais a Dilma imaculada de antes". O presidente do Democratas, deputado Rodrigo Maia (RJ), disse que a situação da Ministra no governo ficará “insustentável” caso ela não apresente uma explicação satisfatória [2]. Tudo muito conveniente...
Em questão de dias, a possibilidade de uma candidatura que mal tinha nascido já estaria morta e enterrada. Estaria? A mídia tem mesmo todo este poder? Quando tudo vai bem para o Governo, repentinamente surge um “dossiê”, que vira o jogo. E nós somos obrigados a acreditar que o tal dossiê veio do próprio governo e não da oposição, a maior beneficiada com tudo isso. Nas eleições 2006, Lula tinha chances reais de vencer no primeiro turno, Mercadante avançou 5 pontos em apenas 2 semanas, nas pesquisas de SP, e ameaçava levar o pleito ao segundo turno. Serra que começou com 59%, estava com 48% [3]. Os tucanos gritaram: e agora quem poderá nos defender? Apareceu o famigerado dossiê! É claro que outros fatores contribuíram para o bom desempenho de Alckmin naquela eleição, e Serra podia mesmo ser eleito no primeiro turno. Mas que o imprevisto foi providencial para o PSDB, isso foi!
De volta para 2008: o Governo tem aprovação recorde. Nas pesquisas espontâneas para a sucessão presidencial em 2010 (ou seja, naquelas em que o pesquisador não apresenta candidatos), Lula aparece em primeiro lugar com folga. Mas, o fato é que Lula não disputará 2010, e nem tem um nome competitivo do PT. Se o Presidente quiser fazer seu sucessor, precisa construir um nome desde já. Novamente, surge um dossiê inviabilizando esta possibilidade. Desta vez, entretanto, aparecem evidências de ligações da oposição com o caso. O senador Álvaro Dias (PSDB-PR) admitiu ter recebido o suposto dossiê com informações sobre gastos sigilosos do ex-presidente Fernando Henrique Cardoso, mas não confirmou nem desmentiu ter sido o responsável por enviá-lo à imprensa [4] (por “imprensa”, leia-se: Revista Veja). Arthur Virgílio (do 'lame duck') já sabia do banco de dados que deu origem ao documento, como comprovou o deputado Paulo Teixeira [5].
Nenhuma pessoa com suas faculdades mentais em dia vai pensar que isso foi mais uma “alopração” do PT, uma traição interna ou uma série de coincidências. Não estou em nenhuma medida surpreso com o que aconteceu. Só não esperava que as armações fossem tão descaradas... Eu já não tenho mais adjetivos pra comentar a mídia brasileira. Não tenho mais condições de classificar o ponto em que chega a partidarização dos veículos de comunicação. Sobre este assunto, um comentário feito neste blog, pelo Edinho, resume muito bem o que está por trás desta partidarização: “com a taxa de analfabetismo na casa dos 20% e a linha de pobreza ainda beirando os 50%, acesso à mídia não é pra qualquer um - muito menos a mídia escrita e a Internet. E a mídia, ao mesmo tempo em que "informa", escuta - e muito bem - o que seus leitores querem. Ela tem de fazê-lo, afinal sua receita vem deles”. Concordo plenamente. Mas, com o maior acesso dos pobres a eletrodomésticos, e com a popularidade crescente de Lula, não será surpresa se este posicionamento da mídia de massa mudar ou, no mínimo, ficar mais flexível. Com sempre, tudo dependerá daquilo que for mais conveniente.
[1] http://www.estadao.com.br/nacional/not_nac147897,0.htm
[3] http://datafolha.folha.uol.com.br/po/ver_po.php?session=294
Concordo com sua tese, e por isso vou criar um link para este post. Parabéns, muito boa a analise.
ResponderExcluirÉ realmente lamentável o que a "grande" mídia anda fazendo. São tentativas e mais tentativas de desestabilizar o presidente e tudo o que vem dele. Como diria um grande pensador alemão: os meios de comunicação são a maior fonte de informação da sociedade, o que não quer dizer que sejam fontes de conhecimento.
ResponderExcluirNão sei se é bom ou não uma grande parte da população não ter acesso a esses veículos parciais de comunicação. è uma pena dizer isso, mas é a situação da grande mídia.
A oposição ainda não percebeu que o Lula é muito mais forte que essas "intrigas" criadas constantemente...que bom.
Crápula, vim lá da República Vermelha para comentar no seu blog. Muito boa sua análise. Ah!, o blog já está nos meus favoritos.
ResponderExcluirEssa estratégia de Dossiê é muito velha e não funciona há décadas. Não entendo porque sempre a repetem.
ResponderExcluirMas, seria interessante que a Dilma fosse candidata do PT pq ela nem cara de PT tem. Ela tem cara de direita. Isso é bom pq vai fazer o PT se assumir mais explicitamente.
É, Ruan. A mídia reluta ainda em abandonar o posto que assumiu quando foi criada e que, desde aquele momento (a Ditadura), vem perdendo força. Já não pode mais censurar, ignorar, jogar confetes, elevar ao céus pessoas, fatos, e versões sem debater com os seus leitores, que agora não precisam ter suas cartas selecionadas e publicadas em uma sessão do jornal. Acredito que o fenômeno da internet e dos blogs é bem menor do que apregoam, mas está aí para rivalizar com a grande imprensa, que vive de fazer notícia e não de noticiar os acontecimentos.
ResponderExcluirgostei. são assuntos atuais.
ResponderExcluiraqui será (também) uma fonte de pesquisa. gostei muito.