quarta-feira, 30 de janeiro de 2008

A Geração Y

Sempre que vou buscar meu irmão no cursinho pré-vestibular, vejo a turma saindo, entrando nos carros dos pais e fico impressionado com a jovialidade destes garotos e garotas que já precisam tomar a decisão mais importante das suas vidas. Lembro que quando eu estava na 7º série, os estudantes do terceiro ano já eram moças e rapazes com aparência e postura de adultos. Quando cheguei ao final do Ensino Médio, minha turma já parecia bem mais jovem. Hoje, é uma coisa de louco! Praticamente, meninos e meninas escolhendo seus futuros. Na universidade, perde-se a referência. Tem gente que entra logo, tem gente que só entra depois de anos, alguns interrompem o curso e demoram a voltar, tem quem faça várias vezes, enfim! Numa turma da faculdade, geralmente, tem pessoas de várias faixas etárias. Mas, na frente de um cursinho pré-vestibular, você tem o perfeito retrato desta “jovialidade” que dura cada vez mais.

Em compensação, só PARECEM muito novos. Tão impressionante quanto este aspecto quase infantil, é a precocidade das crianças e adolescentes de hoje. Namoram, formam opiniões, desenvolvem personalidade, conhecem diversos assuntos, cultivam expectativas e ambições, cada vez mais cedo. Acima de tudo, informam-se com tremenda facilidade. É bem nítido que, atualmente, as instituições clássicas que compõem a coletividade estão se decompondo. Família, Escola, Bairro, Igreja (às vezes), já exercem um papel pouco relevante na vida de muitos destes jovens, no sentido de que a percepção de mundo que constroem já recorre a outras fontes de “verdade”. O que um pai diz para seu filho, hoje, pode ser confrontado pelo que este filho conhece na TV aberta, nos canais a cabo, nas letras das músicas das bandas do momento, nas várias revistas especializadas nos mais variados assuntos, e obviamente na Internet.

Os inúmeros amigos virtuais, os fóruns, os sites, os blogs (aê!), toda sorte de interatividade reforçando ou alterando pontos de vista. Talvez, pela primeira vez na História, conhecemos uma geração que é mais bem informada que os próprios pais. Buscar informação não é mais um desafio. Ao contrário, é preciso discernimento diante de um volume informacional tão intenso. As fontes, quando não são novas, são mais diversificadas. Esta juventude conhece a informática desde sempre! Estão totalmente acostumados com as inovações tecnológicas, e sentem-se perfeitamente à vontade quando ligam computador, assistem à TV, jogam games eletrônicos, escutam música – tudo ao mesmo tempo, se for preciso. Conseguem encontrar saídas para problemas, utilizando cartão de crédito, telefone celular ou Google. Boa parte dos seus amigos está espalhada pelos lugares mais distantes, e nunca se viram pessoalmente.

O mundo tornou-se um mundo digital. A natureza passou a ser mediada pela técnica. Definitivamente, mais informados! Mais maduros? Aí, acho que a coisa muda de figura. É bem verdade que maturidade e juventude nunca combinaram. Mas, acredito que nunca vivemos uma realidade tão fugaz. Nada é sólido, estável, constante. A contemporaneidade ainda gera mais perguntas do que respostas, mais conflitos do que soluções. Se as instituições clássicas entraram em crise, onde estes novos jovens podem ancorar-se? Quais suas certezas? Com que referências podem contar? As orientações, as ideologias, as “verdades”, as convicções políticas, os grupos, os estilos, são efêmeros ou fragmentados. Arrisco dizer que, por enquanto, esta avalanche de informação e possibilidades é mais utilizada para satisfazer necessidades e prazeres momentâneos. Raramente, utilizam-se esses recursos em nome de um projeto para o futuro, o que se poderia considerar “responsável”.

É difícil precisar exatamente qual será a capacidade desta geração de se adaptar às mudanças e transformações aparentemente inesgotáveis. Enquanto a Geração X (nascidos até o final dos anos 70) optou por um estilo descompromissado, despojado, “largadão”, e contentava-se com a TV; a Geração Y (muitos já falam em Geração Z) é multifacetada e está em permanente conexão. Vale o “aqui e agora”, a experiência vivida, uma busca incessante pelo instante eterno, pelo prazer. Hedonismo e valorização do presente são a tônica desta época. Um velho mundo entra em crise e um novo, se apresenta. Talvez esta seja a geração que vai buscar novos caminhos e oferecer novos modelos. Tarefa árdua! A despeito disto, os mais novos têm dado conta do recado e demonstram, mais do que qualquer outra coisa, animação diante das inovações. Que continue assim!


7 comentários:

  1. Um problema dessa facilidade e rapidez no acesso a um colosso de informações é a perda de referências no assunto. Tantas fontes, tão rápido, tão mastigado, que não há incentivo em buscar mais solidez no assunto. Talvez isso seja efeito da universidade e sua insistência (correta, é claro, e irritante em alguns momentos) em buscar referências, clássicas e inovadoras, para fundamentar nosso ponto de vista.

    Como foi dito em uma conversa recente com a Luana, há um legado cultural que atravessa os anos para abrir caminho às novas formas de arte. E esse legado está arquivado, mas não está sendo recordado. A cultura da geração Y parece querer se basear no rápido e raso, pode chegar num ponto em que animação pode virar alienação. Como você disse, é preciso discernimento. Ou então, usando um exemplo verídico que usei na referida conversa, pode chegar um garoto e acha 'Gladiador' inovador e revolucionário até saber que muitos anos antes houve 'Spartacus', 'Ben-Hur'... (isso sem falar dos livros que inspiraram os filmes, da mitologia etc)

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  2. Garotos e garotas cada vez mais jovens estão entrando nas universidades, no mercado de trabalho e na rotina de uma vida pensada para pessoas mais maduras.
    A internet é uma fonte fatástica de comunicação e informação, porém a sua eficácia depende muito do uso de cada um. Um uso irresponsável desse meio pode causar consequências perigosas.
    E, como o conteúdo é livre, é preciso educar esses jovens a como utilizar e absorver o imenso conteúdo presente na internet.

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  3. Não vejo a menor possibilidade não não ver evolução nisso. Tudo bem que é preciso garimpar os dados para se aproveitar pouca coisa que presta. Mas antes não existia essa possibilidade. O que se escrevia em uma enciclopédia virava verdade e não tinha muito como discordar.

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  4. Tem uma coisa engraçada nessa situação que estamos vivenciando atualmente.

    Essa quantidade de informação não chega a ser tão eficiente, quando não se têm alguma experiência no assunto. É só ver as estatísticas decomo mais pessoas continuam contraindo o virus da AIDS, mas adolescentes continuam engravidando.

    E não é só no âmbito do sexo, para se montar uma empresa hoje, é preciso muito mais do que curso superior, pós-graduação em administração, curso de empreendedorismo etc., muitos ainda sucumbem por não ter aquela experiência de vida, por não ter errado antes, por não saber que a vida é muito menos unilateral como eles pensam.

    Hoje vemos esses jovens que entram com 17, 16, ou até 15 anos na faculdade e realmente não sabem o que querem, não sabem ainda que rumo tomar, não pensam que a escolha do curso pode mudar o rumo da vida deles, e aí o que acontece: vão escolhendo cursos no "automático" - direito, medicina, direito - medicina. Só eu conheço inúmeros casos de pessoas que largam esses cursos pra realmente fazerem o que gostam.

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  5. OLá, Ruan. Meu primeiro post no seu blog. Demorei, mas aqui estou. Sabe, não estou tão impressionado com esta velocidade de aprendizado e do ecletismo destes estudantes. Analisando mais a fundo, essa velocidade ganha compromete a qualidade do conhecimento, pois se você tem uma veolcidade elevada na obtenção de informação, é claro também que você tem uma velocidade limitada para a digestão e internalização de um conhecimento gerado por esta informação. Realmente, os jovens de hoje, com sua quantidade enorme de informações poderiam dizer muitas coisas sobre muitos assuntos, mas falar sobre não é pensar sobre. Devido ao privilégio que nossa sociedade dá para as informações tempos por exemplo a relativização do conhecimento. Se as informações, que muitas vezes podem ser contraditórias (afinal são informações e não conhecimento), são tratadas como conhecimento, o pensar e o conhecer também são relativizados. Não há mais reflexão sobre as ações e moral, não há mais reflexão sobre política e outros assuntos do cotidiano. No curso de Geografia, por exemplo, altamente crítico e social, não encontro bons questionamentos, apenas senso comum, que é relativo às informações sociais obtidas pelos estudantes (comunismo x capitalismo, exploração do trabalho x cooperação). Não há preocupação em se aprofundar no conhecimento dos mecanismos que geram a exclusão/segregação social, que geram a fragmentação do trabalho. Então, para mim, esta grande quantia de informações e a velocidade de aprendizado dos nossos jovens de hoje, não é necessariamente um bom sinal. É necessário não confundir conhecimento com informação.

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  6. Ruan, acabei de ler esse artigo, que acho que contribui para a discussão do tema.

    http://ultimosegundo.ig.com.br/bbc/2008/02/04/eficiencia_de_geracao_google_na_internet_e_mito_diz_estudo_1177926.html

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  7. http://ultimosegundo.ig.com.br/bbc/2008/02/04/eficiencia_de_geracao_google_na_internet_e_mito_diz_estudo_1177926.html

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