terça-feira, 15 de janeiro de 2008

Desde já! Eleições presidenciais.

Em entrevista ao Estadão¹, FHC joga Aécio para escanteio e adota a estratégia “Serra 2010”.

O ex-presidente confirmou que não voltará mais a ser candidato em nenhuma eleição, negou que tenha grande influência sobre a política nacional, mas revelou suas preferências: Kassab para a prefeitura de São Paulo em 2008, Alckmin para o Governo de São Paulo em 2010 e José Serra para substituir Lula. Aécio já declarou que não aceita ser vice em uma eventual chapa puro-sangue. Caso não consiga lançar sua candidatura à presidência, o caminho natural do atual governador de Minas seria o Senado. Outro tucano candidatíssimo, preferido de FHC, é José Serra, que não esconde a ambição pelo planalto central em 2010. Recentemente, nas páginas amarelas da Veja, Arthur Virgílio também confessou que almeja a presidência². Com tantas indicações, o PSDB pode até mesmo adotar o sistema de prévias para definir seu presidenciável, coisa que partidos como PMDB, PT, PDT e DEM já fazem. Tradicionalmente, o nome PSDBista surge a partir da preferência dos mais influentes. Alguns argumentam que as prévias podem dividir demais o partido, outros acreditam que o caciquismo é antidemocrático. De toda forma, a briga no ninho tucano vai ser boa!

Arthur Virgílio, no máximo, conseguirá ainda mais projeção nacional. É impossível que esta seja a opção do partido. O Senador pelo AM perdeu (feio) as eleições para o Governo de seu estado em 2006, e ficou conhecido pela liderança insistente no caso da CPMF. Alckmin é um nome forte, mas improvável. Na política, existe uma coisa chamada “timing”. Ninguém encerra uma carreira política por causa de uma derrota, mas o momento para Alckmin é de ceder, procurar novos caminhos e permitir que o partido explore outras possibilidades. A briga principal deve ficar entre Serra e Aécio. Ambos possuem grande influência dentro da legenda e governam importantes redutos eleitorais. Particularmente, acredito que Aécio ameaça mais que Serra. Primeiro, por dividir votos em Minas (estado em que Lula ganha, ao contrário de São Paulo); segundo, por ser novidade. A vantagem de Serra é o reconhecimento nacional, mas isso Aécio consegue com a campanha na TV. De toda forma, os dois são mais fortes do que qualquer candidato governista. Por isso, o PSDB é favorito em 2010. Não acredito nos boatos de que algum deles troque de partido, caso não seja o escolhido.

Agora vamos atravessar a rua e ver como estão as coisas do outro lado. O Governo ainda tem três anos para mostrar serviço. Dependendo do serviço mostrado, as chances de Lula fazer um sucessor podem aumentar ou diminuir. De maneira geral, os ventos sopram a favor. O Brasil tem reservas cambiais recordes, vem fortalecendo seu mercado interno e está cada vez menos dependente do cenário internacional. É claro que nenhum país é imune a uma recessão americana, por exemplo. Mas o Governo tem condições de trabalhar e acumular capital político. Os programas sociais não garantirão muita coisa para o candidato lulista. Ao contrário do que muita gente pensa, as bolsas não têm impacto decisivo no jogo eleitoral (o próprio FHC admite, na entrevista ao Estadão). Vários outros fatores contribuem para a incrível popularidade de Lula, incluindo a sua origem, que faz com que muitos eleitores identifiquem no presidente um legítimo representante. E isso é um trunfo poderoso. Já ouvi cientistas políticos afirmando que Lula será eleito presidente, quantas vezes concorrer. Não por acaso, seu nome é cotado para 2014.

Assim, se por um lado é verdade que os tucanos são favoritos; por outro, eles ainda estão longe de poder cantar vitória desde já. Acontece com os tucanos algo parecido com o que acontece com os Democratas dos Estados Unidos. Estão tão certos da vitória do partido, que a briga pela candidatura já é a mais ferrenha possível. Confiança excessiva! Se Lula demonstrar capacidade de transferir popularidade, a disputa vai apertar. Do lado governista vejo dois nomes viáveis: Ciro – bem colocado nas pesquisas – e Dilma – porta-voz do Governo para as boas notícias (vide TV Digital e Bacia de Santos). Ciro é mais conhecido e tem a vantagem de ser do PSB (partido menos rejeitado que o PT). Dilma possui a confiança do presidente, é uma mulher com chances reais de vitória e tem a vantagem de dividir votos no Sul (região em que Lula perde). Penso que a decisão governista deve basear-se em quem teria menos rejeição, já que a popularidade pode ser fortalecida por Lula. Enquanto Ciro não tem grande aceitação fora do Nordeste, Dilma carrega a rejeição do PT. A pergunta é: qual problema é menos grave?

Muitos dizem que a Ministra Chefe da Casa Civil, apesar da boa administração, não emplacaria como candidata, por não ter carisma, nem magnetismo pessoal suficientes. Mas o FHC também não tinha, e deu no que deu. A eleição de Hillary Clinton seria um bom presságio para um nome feminino. Dilma viabiliza definitivamente sua campanha, se chegar ao final de 2009 com uma margem mínima de 10, 15% das intenções de votos nas pesquisas. Caso contrário, a melhor opção será mesmo Ciro. Neste caso, fugiríamos da polarização PT x PSDB, o que seria positivo para a esquerda e para a multiplicidade do quadro partidário brasileiro, como um todo. O difícil vai ser o PT admitir que precisa ceder e largar o osso. Porém, ninguém poderá contrariar os números. A decisão deverá ser pragmática, acima de tudo. Uma coisa é certa: a estratégia de procurar “um novo Lula” já está fadada ao fracasso. O presidente atual é apontado como o mais popular dos últimos 20 anos³. Um fenômeno de popularidade não pode ser facilmente substituído. O sucessor, venha de onde vier, precisará mostrar méritos próprios, personalidade e soluções claras para os gargalos que impedem o avanço brasileiro.

¹ http://www.estadao.com.br/nacional/not_nac108576,0.htm

² http://oglobo.globo.com/pais/noblat/post.asp?cod_post=86646

³ http://www.dci.com.br/noticia.asp?id_editoria=7&id_noticia=207729&editoria=

6 comentários:

  1. As eleições de 2010 serão apertadas. Há muitos candidatos com força suficiente para crescerem com a falta de um realmente popular.
    Não haverá um novo Lula, mas passar de um Lula para um totalmente oposto, é difícil de engolir.
    Se carisma e popularidade são tão importantes, deixando de lado o perfil político, a eleição de um Serra seria um desvio de 180 graus.

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  2. A minha previsão é que o Serra vai ser preterido no PSDB e vai mudar para o PT, se candidatar e ganhar como sucessor do Lula.

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  3. É inegável, que o PSDB larga na frente na eventual impossibilidade de LULA se candidatar, certamente apenas por isso, Não é à toa, que LULA é apontado como maior Presidente depois da ditadura. Se evidentemente o PSDB ganhar essa eleição, ficará sob forte pressão e possivelmente fracassará se vier a cortar tudo o que LULA sacramentou em seu governo e que se tornou decisivo para o mais que provado crescimento e desenvolvimento do Brasil nesses últimos anos, se fizer isso, LULA é o grande nome em 2014 novamente, mas antes disso, há uma etapa importante, agora, em 2008 mesmo, as eleições municipais, as quais definem os representantes diretos das bases eleitorais de contato com a população(Prefeitos) e nessas eleições há uma grande expectativa de crescimento do PT e dos aliados, se nem elas derem conta, é apostar em Ciro Gomes, mas é esperar pra ver.

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  4. O texto tá perfeito, não tem o que tirar nem por! Só fazendo uns adendos. Obviamente Ciro é mais forte que Dilma, mas pesa contra ele o fato de o PT não engolir sua candidatura de jeito algum. O fato é que Lula se tornou maior que o PT, assim como Ciro é maior que o PSB. O PT teme enfraquecer-se com uma candidatura assim. O partido lança candidato próprio mesmo sem chances, pois na opinião de seus líderes se trata de afirmar a força do partido. Pessoalmente, acho que seria bom para a esquerda do país ter alguém de fora do PT - Dilma é um excelente nome, e não é do PT de SP (ufa!), mas ainda assim, creio que o PT precisa de "um tempo no chuveiro" pra repensar seus valores e se reaproximar da esquerda. Na minha opinião, o ideal pro país seria uma chapa Ciro-Dilma, acredito que seria imbatível. Mas o PT precisa aprender a ser governo de esquerda, e talvez o melhor remédio pra isso seja abrir mão da presidência.

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  5. Já do lado do PSDB, a grande incógnita é Alckmin. O partido inteiro está manobrando a favor de Serra e da dobradinha PSDB-PFL, o que deixa a prefeitura pra Kassab e o Estado em 2010 pra Alckmin. Mas o Alckmin sabe que seu futuro político está em jogo - caso o Aécio emplaque sua candidatura a presidência, o Serra não vai abrir mão do osso em SP, e Alckmin será escanteado por anos. Além disso, a vitória de Kassab em 2008 não está de modo algum assegurada, e Alckmin sabe que tem mais chances e que poderia usar a prefeitura como trampolim pra saltos mais altos no futuro. Pelo andar da carruagem, os tucanos vão acabar politicamente fazendo merda de novo. Vão lançar Alckmin em 2008 sem apoio do partido, e vão perder a eleição municipal pra Marta. Daí vai haver todo aquele ressentimento e o Aécio vai se ouriçar todo em Minas. Depois vai ser a vez dele, e quando ouvir o nome de Serra lhe sendo empurrado garganta abaixo, ele vai querer sair do partido e voltar pros braços do seu amado PMDB. Se saírem os dois em 2010 - Serra e Aécio - os votos ad direita serão divididos e a esquerda ganha fácil. Mas tudo é speculação ainda. A prefeitura de SP será o primeiro round dessa disputa.

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  6. Eu acredito que o Serra sairá como candidato pelo PSDB e que Aécio pode ser aproximar ainda mais de Lula e sair como candidato pelo PMDB, em uma eventual troca de partido. Já analisando o lado governista, Ciro e Dilma são bons nomes para a sucessão de Lula, mas eu não descartaria a possibilidade da candidatura de Jacques Wagner que rompeu com o carlismo na Bahia e conseguiu bom reduto eleitoral (falta-lhe apenas mais notoriedade midiática, nada que uma boa campanha não resolva). E em relação às "bolsas", acredito que os programas assistencialistas do governo Lula lhe renderam boa quantidade de votos, especialmente nas classes mais baixas, mas isto é assunto para outro post. :)

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