quinta-feira, 13 de dezembro de 2007

Uma data cheia de simbolismo.

No dia 10 de dezembro, comemorou-se o dia internacional dos direitos humanos, mesma data do aniversário da menina que ficou encarcerada com mais de 20 homens no Pará. Em São Paulo, não se falava em outra coisa. Foi, realmente, um escândalo nacional. Alguns paraenses sentem-se injustiçados por verem sua terra retratada de maneira tão pejorativa. Quase toda a exposição que fazem do Pará envolve algo grotesco, primitivo. O caso da missionária Dorothy Stang repercutiu por todo o país, demonstrando que em algumas regiões do nosso estado prevalece uma lógica selvagem. Outros conterrâneos percebem que, mais do qualquer má intenção da mídia, existe de fato uma conjuntura calamitosa.

Ao mesmo tempo em que notícias como estas nos envergonham, chocam menos. "Exclusão" ganha um sentido muito mais profundo quando nos referimos a determinadas áreas do Brasil. Mais do que uma segregação sócio-regional, o interior do Norte e Nordeste parou no tempo. Dá a sensação de que décadas passaram apenas para o Centro-Sul. O progresso ignorou estes municípios. Não falo apenas de um desenvolvimento tecnológico, mas também de avanços na área política, econômica, social, cultural etc. Cadeia serve para deter criminosos, mas ainda deveria ser um espaço que abriga seres humanos. Não é esta a mentalidade que predomina em muitas localidades. Estado, leis, direitos humanos, das mulheres, das crianças ou adolescentes, inexistem nestas regiões.

Que proteção, indenização ou punição serão capazes de “ressarcir” o dano causado a esta adolescente? A situação é, em alguma medida, reversível? Bem, na postagem “A barbárie com requintes de crueldade”, em seu Blog¹, Lucia Hippolito avalia que há respaldo para o impeachment da Governadora, Ana Júlia Carepa. “Nesses dias, a governadora deu uma declaração. Disse, mais ou menos assim, que infelizmente, esses casos de mulheres presas em celas com homens existem mesmo no Pará. Se já tinha conhecimento de outras barbáries como estas e não tomou providências para impedir que voltassem a acontecer, a governadora incorreu em crime”, raciocinou Lucia.

A observação da jornalista foi lida em plenário, pelo Senador Mário Couto (PSDB / PA), que parece ter alguma dificuldade para raciocinar por conta própria e, obviamente, concordou com o parecer de Lucia. Mário Couto também conclamou outros senadores a tomar uma atitude. Mão Santa, Senador pelo Piauí, foi mais longe. Afirmou que o PT não sabe governar, nem o Pará, nem o Brasil. Apesar de ser do PMDB, Mão Santa sempre faz oposição ao Governo. Sua excelência levou uma surra do petista Wellington Dias, em seu estado, perdendo a eleição de 2006 para o cargo de governador em primeiro turno. Por aqui, presidiárias paraenses afirmam que a “cela mista” é comum há anos. Algumas chegaram até a engravidar, mais de uma vez².

As pessoas estão sempre muito dispostas a punir, encarcerar, vigiar, agredir. Considerando a situação da insegurança pública, é natural... Mas o problema da criminalidade não será resolvido apenas com a construção de novos presídios, repressão policial, redução da maioridade penal ou atitudes paliativas deste tipo. A violência é uma das várias crises geradas pela profunda concentração de renda. Se os cidadãos excluídos não têm direitos básicos atendidos, por que cumprir com os deveres? A sociedade precisar compreender que a questão da insegurança perpassa necessariamente pela questão social, e respeitar os direitos humanos é uma etapa imprescindível deste processo. Enquanto isto não acontece, plantamos casos como desta menina de 15 anos e colhemos cada vez mais violência.

¹ http://www.luciahippolito.globolog.com.br/">http://www.luciahippolito.globolog.com.br/
² http://www1.folha.uol.com.br/folha/cotidiano/ult95u349653.shtml

2 comentários:

  1. A tendência maior das pessoas, movimentadas pelos conflitos de sistemas, será focalizar em problemas políticos e econômicos. É de se concordar que muito da impunidade e da violência que se estabelece em interiores do Norte e do Nordeste do Brasil, é proveniente da formação histórica do Brasil, uma herança. Bom, isso já tá batido. A mudança partindo de uma melhor distribuição de renda, vigilância, até mesmo educacional dos mais desfavorecidos, aconteceria e mostraria resultados, quem sabe, com muitos anos de instalação. Particularmente, acredito muito que a a época de revoluções ou luta por mudanças político-econômicas já se passou. A revolução maior, afirmo novamente, em minha opinião, seria social, uma implantação de um sistema que procurasse desenvolver mais o altruísmo, o compartilhamento da alegria, do bom humor e a solidariedade. Um investimento maciço nisso, ocasionaria mudanças eternas, iria na "raiz" do problema que se desenvolve há muito tempo decorrente da eterna luta por poder, seja dinheiro, terras, etc. Essa luta que mostra o quanto o homem briga, o quanto é ambicioso. É claro que as mudanças econômicas são fundamentais e dependentes das políticas. Com a mudança do coração e propagação da solidariedade, as outras mudanças viriam naturalmente. Eu sei, parece utópico, mas só parece...

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  2. A tendência maior das pessoas, movimentadas pelos conflitos de sistemas, será focalizar em problemas políticos e econômicos. É de se concordar que muito da impunidade e da violência que se estabelece em interiores do Norte e do Nordeste do Brasil, é proveniente da formação histórica do país, uma herança. Bom, isso já tá batido. A mudança partindo de uma melhor distribuição de renda, vigilância, até mesmo educacional dos mais desfavorecidos, aconteceria e mostraria resultados, quem sabe, com muitos anos de instalação. Particularmente, acredito muito que a a época de revoluções ou luta por mudanças político-econômicas já se passou. A revolução maior, afirmo novamente, em minha opinião, seria social, uma implantação de um sistema que procurasse desenvolver mais o altruísmo, o compartilhamento da alegria, do bom humor e a solidariedade. Um investimento maciço nisso, ocasionaria mudanças eternas, iria na "raiz" do problema que se desenvolve há muito tempo decorrente da eterna luta por poder, seja dinheiro, terras, etc. Essa luta que mostra o quanto o homem briga, o quanto é ambicioso. É claro que as mudanças econômicas são fundamentais e dependentes das políticas. Com a mudança do coração e propagação da solidariedade, as outras mudanças viriam naturalmente. Eu sei, parece utópico, mas só parece...

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