sexta-feira, 22 de janeiro de 2010

Onde está Bachelet?

No último domingo, José Piñera, candidato da direita, foi eleito presidente do Chile. A Concertación, que reunia vários partidos de centro e de esquerda, deixou o poder depois de eleger quatro presidentes. Dentre eles, Michele Bachelet, atual presidenta. No Chile, não há reeleição. Piñera é um mega empresário, trouxe os cartões de crédito para seu país e é um dos homens mais ricos do Chile. O candidato da direita é visto pelos adversários como um herdeiro da Ditadura de Pinochet. A bem da verdade, em 1988, Piñera votou 'não' no plebiscito sobre a permanência de Pinochet - o que abriu caminho para a democracia no Chile, e para as sucessivas vitórias da Concertación. Entretanto, o candidato chegou a declarar, em um debate, que “não é delito ter colaborado com Pinochet”. Há controvérsias! Fato é que o grupo político que assassinou Salvador Allende e implantou um regime totalitário no Chile apoiou Piñera durante toda a campanha, e certamente estará no próximo Governo. A situação da oposição no Chile é análoga a de José Serra, aqui.



O presidenciável tucano tem apoio incondicional do DEM, em qualquer esfera de poder em que esteja (municipal, estadual ou federal). O DEM, como se sabe, é o antigo PFL, filho da Ditadura. Acontece que, apesar de Piñera ter conseguido desvencilhar-se disto, os crimes do Regime Militar ainda são vividamente lembrados no Chile. No Brasil, por mais que a Ditadura seja lembrada em alguma medida, não se faz a relação com o presente. Não se busca compreender como muitos políticos daquela época sobrevivem nos dias de hoje. O DEM nunca é retratado, na cobertura jornalística, como tendo qualquer vínculo com o Governo dos militares. A grande maioria do eleitorado passa ao largo desta relação. É possível que a pecha que tentam colar na Dilma – de terrorista, guerrilheira, assassina – ainda faça mais barulho nas eleições deste ano, do que qualquer relação da oposição com a Ditadura brasileira. Até porque, para alguns “formadores de opinião”, por aqui só tivemos Ditabranda.

Mas, voltando às eleições chilenas. Bom, como qualquer um poderia prever, jornalistas de todos os cantos destacaram o seguinte sobre as eleições do Chile: “a presidenta, com mais de 80% de popularidade, não conseguiu fazer seu sucessor”, insinuando que o mesmo vai acontecer por aqui. De fato, a presidenta Bachelet tem mais de 80% de aprovação, como Lula. Mas traçar paralelos entre as eleições daqui e de lá é bastante frágil. E os motivos são vários. Primeiro: aqui, Dilma ainda é desconhecida ou conhecida superficialmente por boa parte da população, o que não ajuda, mas também não atrapalha. Lá, Frei já foi presidente da República, ou seja, já era bastante conhecido em todo o território nacional. Entretanto, terminou seu Governo com uma avaliação que deixava a desejar. Segundo: aqui, a esquerda está no poder há 8 anos. Lá, a Concertación já estava no poder há 20. É inevitável algum desgaste e fadiga de material.

Terceiro: Bachelet não deu as caras no programa de TV do Frei. Simples assim. Não sei exatamente o motivo. Assisti a vários programas, e a Bachelet apareceu num ou outro frame. Jânio de Freitas, da Folha, diz que, a presidenta “cumpriu sem desvio algum o preceito de que aos presidentes cabe presidir as eleições. Permitiu-se no máximo, já no segundo turno, uma palavra de eleitora favorável a Eduardo Frei, de cuja escolha como candidato Bachelet nem participou”. Questão de tradições de cada país... Alguém imagina o Lula não aparecendo no programa da Dilma? É capaz que apareça mais que a própria candidata! Ainda assim, Lucia Hippolito teve o descaramento de escrever que “do alto de sua popularidade, Michelle Bachelet atuou fortemente ao lado do candidato Eduardo Frei, sobretudo na reta final do segundo turno, mas não conseguiu transformar seu prestígio em votos”. Aí embaixo tem o último programa do segundo turno da campanha do Frei (que, aliás, achei ótimo). Quem achar a Bachelet ganha um doce.




2 comentários:

  1. Belo relato das eleições chilenas, meu amigo. Muito interessante o que aconteceu lá, serve inclusive de aprendizado para o que está por vir aqui...mas comparações aleatórias e invenções de última hora (sem comprovação nenhuma), como a grande mídia insiste em fazer, não ajuda muito...

    ResponderExcluir
  2. "Até porque, para alguns “formadores de opinião”, por aqui só tivemos Ditabranda". Fino sarcasmo, hehe. E gostei muito do post anterior com a crítica de Avatar!

    ResponderExcluir