segunda-feira, 31 de agosto de 2009

Drops - Agosto

Polícia Federal no Governo Lula

Li no Diário do Pará de 27 de julho de 2009, mas a coluna é daquelas publicadas em jornais do país inteiro: “‘O Lula tomou lambada como ninguém, mas não há quem possa reclamar que faltaram condições para a polícia trabalhar no governo dele’. A declaração é do presidente da barulhenta Federação Nacional dos Policiais Federais (Fenapef), Marcos Wink. Lula se distingue dos antecessores por liberar os recursos necessários e ter deixado a PF trabalhar livre de ingerências comuns em outros governos. Quando assumiu, o orçamento da PF, que era de R$ 1,8 bilhão, foi engordando e hoje é quase o triplo. É o único governante que teve um irmão (Vavá), um filho (Lulinha) e os companheiros petistas na mira da PF, mas não se intrometeu no órgão. [...] Em boa parte, diga-se, porque a PF amadureceu e conseguiu blindar as investigações. Wink não é um fã de Lula ou do PT. Diz, no entanto, que é razoável reconhecer que, se quisesse engessar a polícia, o Planalto teria cortado os recursos. Em governos anteriores a penúria era tão grande que os próprios policiais se viam forçados a desembolsar o dinheiro da gasolina para fazer a viatura rodar ou delegacias serem despejadas por não pagar aluguel”. Nada que a gente já não soubesse, mas nem quem não tem simpatia pelo governo pode negar: com o Gov. Lula, o Brasil avança no combate a corrupção.

Ainda sobre Lina Vieira e a desconstrução de Dilma

Sobre a celeuma envolvendo a ex-secretária da RF, o texto “Um mundo cheio de Linas e Tapiocas”, de Maria Inês Nassif, do Valor Econômico, foi preciso. Dentre outras coisas, Maria Inês diz: “pelo padrão do que tem sido a disputa política nos últimos sete anos, desde a posse de Lula, presume-se que, daqui até as eleições do ano que vem, as tapiocas se repetirão, numa mesma técnica: denuncia-se, o fato denunciado é alimentado por pequenos detalhes enquanto for possível, convoca-se comissões e acareações e o clima chega (pelo menos institucionalmente) ao limite da tensão”. Foi mais ou menos o que a Senadora Ideli Salvatti quis dizer com “é da unha do pé da galinha que estão fazendo a canja”. Sobre o episódio do Currículo Lattes de Dilma, lembro que o Jô Soares chegou a questionar as suas meninas, se não estavam fazendo tempestade num copo d’água. Ana Maria Tahan, editora-chefa do Jornal do Brasil, respondeu que a Dilma é candidata à presidência, logo a mídia tem que ficar em cima, e ir pegando aquilo que aprece! Não importa se é grave ou não. Vá lá! O problema é que metem os pés pelas mãos, invertem as coisas, omitem aspectos relevantes, tudo para manter este clima de tensão que a Maria Inês citou, tudo para fazer a disputa política e desgastar o governo. Aí vemos histórias gravemente distorcidas, e não vemos esta mesma postura combativa dos jornalistas diante do presidenciável do outro lado, o José Serra. Fica feio!

Pesquisas e previsões para 2010

Deu no Blog do Lauro Jardim que o Vox Populi fez uma pesquisa que traz duas informações relevantes. A primeira é que quase 50% dos eleitores ainda não sabem que Dilma é a candidata de Lula. A segunda: 25% dos brasileiros dizem que votariam num candidato indicado pelo presidente. E outros 44% responderam “talvez” quando perguntados sobre o assunto. E não é brincadeira o que tem de analista dizendo que a Dilma, com os 16% de intenções de voto que tem hoje, pode já ter atingido seu teto, que o Lula já transferiu o que tinha pra transferir, agora é a própria candidata que vai ter que mostrar serviço. Cristiana Lôbo, Kennedy Alencar, dentre vários outros, já fizeram este raciocínio. Como os jornalistas precisam vender a idéia de que o Lula está cometendo crime eleitoral, fazendo campanha antecipada pra Dilma, eles partem do pressuposto de que todo e qualquer brasileiro já sabe que a Ministra é a candidata petista à sucessão de 2010. Repetem tanto, que acabam acreditando. Na verdade, poucos brasileiros – apenas aqueles que têm maior interesse pelo noticiário político – sabem quem é a candidata do Lula. A grande maioria da população, ou não sabe, ou já ouviu falar, mas não tem certeza. A gente só vai conhecer o verdadeiro potencial da candidatura Dilma, quando, no horário eleitoral de 2010, o próprio Lula comunicar à população quem é a sua candidata e porque ela foi escolhida, por ele próprio. É perfeitamente natural que a Dilma não cresça nas pesquisas desde já. Aliás, o impressionante é ela já ter 16%, só com um aceno do presidente.

Dorothy Stang

O Discovery Channel exibiu o documentário Mataram Irmã Dorothy (2008), dirigido por Daniel Junge e com a narração de Wagner Moura. O documentário fala sobre as circunstâncias em que ocorreu o assassinato da freira católica de 73 anos, na Amazônia, em 2005. O advogado de defesa do fazendeiro Vitalmiro Bastos de Souza é um homem de aparência repugnante, e caráter ainda pior. A linha da argumentação da defesa, naquilo que poucas palavras permitem, consistia em mostrar que a freira foi vítima da violência que ela própria havia trazido para a região amazônica, na medida em que sua atuação atrapalhava uma atividade produtiva. Atividade esta que, como todos nós sabemos, é inconseqüente, ambientalmente destrutiva e criminosa. O advogado de defesa afirma ainda que Dorothy estava contaminada pelo DNA imperialista dos americanos, e que ela era uma agente enviada pelo Governo norte-americano. É inacreditável o nível a que o advogado desce, para ganhar seu dinheiro. A irmã, por sua vez, nas imagens anteriores ao crime, parecia certa de que ia morrer, e ainda assim continuou sua luta. Ameaças de morte ela já recebia há décadas. Poucos dias antes de ser assassinada, ela confessou ao irmão, por telefone, que pela primeira vez estava realmente com medo. A sensação é a de que Dorothy Stang estava pronta para o sacrifício que fosse necessário. Pois, nas palavras dela própria, “quando um cai, mil levantam-se”.

quinta-feira, 27 de agosto de 2009

Segundo jornalistas, pecha de mentirosa colou em Dilma

Na última versão dos Fatos e Versões, três jornalistas de veículos de comunicação de peso – Cristiana Lôbo (Globonews), Adriana Vasconcelos (O Globo) e Valdo Cruz (Folha) – chegaram à conclusão de que a pecha de mentirosa colou em Dilma Rousseff, pois já há um conjunto de episódios em que a Ministra teria sido contestada pelos fatos. Primeiro, o episódio do “dossiê da Casa Civil”, depois a questão do Currículo Lattes da Ministra e agora a desavença com Lina Vieira, ex-secretária da Receita Federal. Para o trio de jornalistas, apesar de Dilma ter tentado se esconder, a imagem da presidenciável foi novamente abalada. As perguntas que me vêm à mente são: a pecha de mentirosa colou em Dilma, na visão de quem? A quem interessa desconstruir a imagem da candidata do PT à sucessão de 2010? Qual a verdade por trás destes episódios que supostamente estão manchando a biografia de Dilma?

O episódio do dossiê da Casa Civil foi de uma esquizofrenia galopante por parte da mídia. Em dois anos de blog, poucas vezes eu tive que escrever sobre algo parecido com aquilo. Postei dois textos à época. Para não ter que escrever tudo de novo, vou resumir o caso com a frieza que o passar do tempo permite. Álvaro Dias, Senador malandrinho do PSDB, pediu para um dos seus funcionários de gabinete descolar algumas informações que eram gerenciadas na Casa Civil. O funcionário do tucano, André, tinha um conhecido de longa data na pasta de Dilma: José Aparecido. O Aparecido atendeu ao pedido e mandou as informações – referentes ao Governo FHC – para o e-mail do André. O Álvaro Dias repassou este material para a Veja, que publicou matéria dizendo que a Dilma passa seus dias no Planalto colecionando os trambiques do Fernando Henrique pra chantagear a oposição. Óbvio, Jornal Nacional e Cia repercutiram a Veja. O Álvaro Dias foi ao plenário do Senado no outro dia, se dizendo estupefato com a matéria, chocadíssimo, cobrando investigação imediata e jurando de pés juntos que não tinha idéia de quem poderia ter vazado as informações (quando na verdade ele tinha o nome do sujeito desde o começo). Depois, a Polícia Federal descobriu tudo, mas mídia só contou a parte que confirmava que o vazamento foi feito por um funcionário da Casa Cívil. A parte do Álvaro Dias na estória era “inoportuna”.

Sobre o Currículo, em vários momentos, pessoas da mídia referiram-se ao episódio como se estivessem tratando do currículo comum, como esses de uma página que a gente distribui em empresas por aí. Distorceram o fato! São coisas completamente diferentes. Currículo Lattes não é algo simples ou resumido, é muito técnico. Trata-se de um histórico bastante detalhado das atividades do pesquisador. Eu mesmo, apesar de estar cursando um mestrado, só atualizo o meu Lattes quando realmente há necessidade. O meu, ainda magro, dá pelo menos 5 páginas. Outros pesquisadores podem até ser mais dedicados, mas o fato é que, se você não está diretamente envolvido com a área acadêmica, não é imprescindível estar com o Currículo Lattes rigorosamente em dia. Até entendo que, no caso da Ministra, não foram detalhes sem importância que causaram a confusão, foram os próprios títulos de Mestra e Doutora. Mas também não foi a Dilma que foi à população dizer “Olha, eu tenho mestrado e doutorado, por isso eu devo ser a próxima presidente! Votem em mim!”. Aliás, isto combina muito mais com outra banda política. Dilma Rousseff foi aprovada nas pós-graduações, começou a cursar as disciplinas, mas não concluiu suas pesquisas – justamente pelo volume de trabalho na administração pública. Em não estando mais envolvida com a pesquisa científica, a presidenciável não se preocupou em corrigir seu Currículo. Tudo muito longe da criminosa que a mídia pintou. Mas não passou muito tempo até a próxima tentativa.

A nova versão da ministra que os jornalistas tentam tornar pública é de uma mentirosa, que usa seu cargo federal para manipular os funcionários do Estado e blindar o clã Sarney. O mais engraçado é que o Jornal Nacional passou umas duas semanas fazendo matéria sobre o absoluto nada. Não surgia nenhum fato novo, e o JN remoendo a mesma história. Um Senador do DEM, depois um Senador do PSDB, no outro dia o Marco Aurélio Mello, iam se revezando para comentar o assunto. A Fátima Bernardes dizia que aumentou a pressão sobre a Dilma, a oposição chiava outra vez, e no outro dia tinha matéria de novo. O fato é que Lina Vieira teve sua competência profissional questionada pelo Governo, o que culminou com sua exoneração, realizada pelo Ministro Guido Mantega. Segundo funcionários da própria RF, Lina nomeou pessoas que atuavam no movimento sindical e tinham sua confiança, mas que não estavam capacitadas para servir ao Estado. O Governo não admitiu isso e reagiu. Se houve politização da máquina, ela partiu da própria Lina Vieira. A ex-secretária também foi incompetente no planejamento fiscal do período que administrou, o que comprometeu a arrecadação brasileira. Além disso, a Receita Federal de Lina Vieira não teve preparo técnico para lidar com o regime fiscal da Petrobras. Os questionamentos feitos pela Receita, que levaram à CPI criada pela oposição, estavam equivocados, segundo o ex-secretário da RF da época do Governo Fernando Henrique.

Os episódios envolvendo a Ministra Dilma, que são tornados públicos pela mídia, cada vez mais desconstroem a imagem da candidata, e cada vez menos têm qualquer fundamento. A insinuação da mídia de que o Planalto, através da Dilma, estaria pressionando Lina para inocentar o filho de Sarney soa anedótico para quem tem conhecimento técnico sobre o assunto. O Entre Aspas, da Globo News, fez um programa absolutamente esclarecedor sobre este tema. Os convidados foram unânimes na conclusão de que a gestão Lina Vieira foi deletéria para Receita Federal Brasileira. E mais: se, algum dia, ela teve alguma conversa inapropriada com Dilma Rousseff, devia ter denunciado de imediato, e não só depois de demitida. Mas estas as leituras não podem ser feitas pelos cidadãos que acompanham os jornais de maior audiência.

Edição do Entre Aspas sobre Lina Vieira:



sexta-feira, 21 de agosto de 2009

A opção do PT pelo pragmatismo

Não é possível governar sem concessões. No Brasil, os partidos de esquerda não reúnem nem 30% dos congressistas. Um Governo como o do presidente Lula, se quiser sobrevier, precisará atrair grupos de centro, e até de direita. Em ultima instância, isto significou livrar Sarney de ter que dar explicações sobre as graves denúncias que pesam contra ele. O comportamento do PT no Conselho de Ética conquista definitivamente o PMDB. Isto terá reflexo não apenas sobre o atual mandato presidencial, mas também sobre as eleições de 2010. Nunca pisei em Brasília, mas acho impossível que as negociações dos últimos dias entre os PMDBistas e o Planalto, acerca do destino de Sarney no Conselho de Ética, não tenham passado pela candidatura Dilma. E, para uma candidata desconhecida, dispor da capilaridade do maior partido brasileiro é vital. Há muito em jogo! A disputa é pelos recursos da nação. Talvez, o Governo Lula precisou fazer um sacrifício histórico. Talvez, as alianças escusas que Lula precisa fazer hoje sejam necessárias para demonstrar a viabilidade e a eficácia de um Governo de esquerda.

Pode ser que estes acordos, que fortalecem o Governo Federal, sirvam para fortalecer também a esquerda brasileira, de maneira geral. Embalados com o sucesso do presidente petista, grupos políticos comprometidos com as classes mais pobres poderão aumentar sua representação no parlamento. Com isso, pode ser que um próximo Governo esquerdista encontre um parlamento ideologicamente mais próximo, e não precise fazer alianças tão dramáticas. Algo como o que acontece nos Estados Unidos, em que tanto a esquerda quando a direita estão sempre bem representadas no Congresso. Um presidente americano tem sempre um índice razoável de apoio no legislativo. Ou seja, é possível que Lula esteja pagando um preço histórico, para garantir a viabilidade, não apenas da candidatura Dilma, mas da esquerda como um todo no poder. São especulações razoáveis. Com algum esforço, consigo entender tudo isto. Mas, por enquanto, são apenas especulações. O que temos de concreto hoje é uma forte ruptura do Governo com preceitos éticos.

Sarney deve satisfações à sociedade, as acusações feitas contra ele não são “invenções da mídia” (ainda que esta tenha seus interesses políticos), não é possível que toda crítica que se faça ao governo seja suprimida com o discurso de que estão tentando antecipar 2010. É claro que muitos estão! Muita gente tem interesse em ver o Governo desgastado para a próxima disputa presidencial, evidente. Mas isso não pode impedir a averiguação dos fatos e das denúncias! É inaceitável que todas as representações contra Sarney (ou contra qualquer senador) sejam arquivadas! Afinal, estamos falando do dinheiro de todos nós brasileiros. Não se pode aceitar nada que não seja o mais absoluto rigor, transparência, fiscalização e esclarecimento. Portanto, qual a minha posição? Penso que era o caso de dispensar o apoio do PMDB e enfrentar as urnas com o mínimo de coerência preservada, e outros aliados mais tradicionais. Tenho perfeita consciência de que, a essa altura, falar é fácil. Fazer é quase impossível. Mas uma coisa é ir os anéis, outra coisa é ir os dedos, a mão, o braço, o corpo todo.

Só não dá pra entender essas pessoas que cobram coerência e purismo do PT, indignam-se porque o PT trai seus princípios, alardeiam que o PT ficou igual a todos os outros, por isso não cogitam sob hipótese alguma votar em um petista, mas não vêem problema algum em votar “nos outros”. A cobertura jornalística cria um ambiente que sugere exatamente este esquema interpretativo: o PT representa o voto corrupto, os outros representam o voto ético. Ainda que o DEM seja diretamente responsável por todos os desmandos que poluíram o Senado, ainda que senadores do DEM, Heráclito Fortes e ACM Júnior, tenham fugido da votação no Conselho de Ética, para não serem publicamente responsabilizados, não importa. Afinal, é o PT o “fiel da balança”. É sobre o PT e os outros aliados do Governo Lula que recai toda a responsabilidade pela lama do parlamento brasileiro. O Arnaldo Jabor vem à TV para dizer que é “esta turma do PT e do PMDB” quem está desmoralizando a verdade e até a mentira. Como sempre, os jornais precisam apontar como responsáveis cabais, o PT e o Lula.

Desta maneira, em uma eleição altamente polarizada, Serra – o candidato tucano – torna-se automaticamente o candidato limpo, decente, ético. Ainda que o Governador paulista também tenha o PMDB como aliado em seu estado. Aliás, qual chefe do executivo pode prescindir do apoio do PMDB neste país? Pouquíssimos. Contamos nos dedos. E, no caso de Serra, a situação não é mais amena que a de Lula. Serra está de braços dados com Orestes Quércia, uma figura não menos obscura que José Sarney. Para garantir o apoio PMDBista a Kassab, nas eleições municipais do ano passado, Serra prometeu a Quércia uma das candidatura ao Senado, na chapa tucana de 2010. Quércia, do mesmíssimo PMDB, quando foi governador, era combatido pelos tucanos e hoje percorre o Brasil para conquistar apoio ao presidenciável do PSDB. Nada disso justifica o que fez o PT no Conselho de Ética no Senado. Mas, se quiserem tratar o problema na base dos éticos versus não-éticos, é bom saber que o buraco é mais embaixo. Quem fará os julgamentos será o povo. E é sempre a população mesmo quem tem os melhores critérios e balizadores para avaliar as opções dos governantes.

segunda-feira, 17 de agosto de 2009

Marina Silva e 2010: Lula de saia ou Cristovam de saia?

Em sua coluna na Folha, Kennedy Alencar diz que Marina Silva pode ser um Lula de saia. Considerando a trajetória pessoal, pode ser. Mas o desempenho nas urnas dificilmente permitirá esta analogia. A senadora pelo PT do Acre pode vir a aceitar um convite do Partido Verde para ser candidata à presidência da República. O nome de Marina Silva tornou-se um verdadeiro ícone, de honestidade, superação, preparo, engajamento, idealismo, de luta. É, sem o menor resquício de dúvida, um dos quadros mais valiosos do PT. Se confirmada, a saída de Marina para o PV será uma enorme perda para os petistas. Podem falar o diabo da bancada do PT no Senado, mas toda crítica precisa ser relativizada quando se lembra o seguinte fato: Marina Silva faz parte desta bancada. Agora, a senadora de Acre parece seguir o mesmo caminho de Cristovam Buarque, outro senador de grande prestígio: deixa o PT e lidera um projeto nacional alternativo. Um projeto que não carregue o fardo das alianças que o Governo petista teve de fazer.

Mesmo dentro da base aliada de Lula, lideranças mais à esquerda envergonham-se e condenam acordos feitos com o PMDB, como este para segurar Sarney no comando do Senado. Presidenciáveis como a própria Marina, Cristovam Buarque e Ciro Gomes, apesar de pertencerem à base de apoio do Governo Federal, torcem a cara para o PMDB. Ciro continua defendendo o Governo Lula, a despeito de tudo e de todos. Mas pergunte o que ele pensa desta aliança do Governo com o que existe de pior no PMDB. Elogios, ele certamente não fará. No caso de Ciro, o motivo maior da insatisfação talvez seja que esta mega aliança esteja a serviço da candidatura Dilma, e não da candidatura dele (cada vez mais improvável). De qualquer forma, ver Lula protegendo Sarney é indefensável. Marina já tornou pública sua divergência com o Planalto, no que tange a Crise do Senado. Por estes e outros motivos, a senadora é respeita por boa parte dos eleitores. Entretanto, é improvável que a candidatura do PV obtenha sucesso na disputa presidencial.

Basicamente 3 motivos inviabilizam a candidatura de Marina: ausência de máquina governamental, ausência de palanques fortes nos estados e tempo de televisão reduzido. A máquina serve para que segmentos da população associem realizações públicas ao candidato. Todos os programas e projetos federais renderão capital eleitoral para Dilma. Serra tem a máquina do Governo de São Paulo em mãos, o maior colégio eleitoral do país. Marina tem apenas um discurso. Palanques fortes nos estados são fundamentais para divulgar um presidenciável, especialmente em municípios do interior. Tanto o PT quanto o PSDB já estão costurando acordos, para que Dilma e Serra estejam ao lado de candidatos fortes aos governos dos estados. Marina não terá esta vantagem política. Tempo de televisão tem se mostrado, cada vez mais, fator determinante nas eleições. O PV, com baixa representação na Câmara Federal, tem uma fatia reduzida no Horário Eleitoral. É improvável que os verdes consigam atrair legendas maiores para a sua chapa.

A candidatura Marina será um verdadeiro alívio para muitos brasileiros que não estavam nem um pouco confortáveis diante da dicotomia PT x PSDB. Muitos mesmo! Mas estes brasileiros, quando comparados com a totalidade da população, representam apenas uma pequena parcela da classe média, que acompanha a política e está farta das sujeiras e das mesmices. Votariam nulo, ou adiariam a (in)decisão o máximo possível, agora votarão em Marina. Entretanto, pelos motivos expostos, não vejo a candidatura verde fazendo frente à polarização atual, entre petistas e tucanos. Creio que Marina exercerá em 2010 um papel semelhante aquele exercido por Cristovam Buarque, do PDT, em 2006: uma candidatura que divulga um tema, mas com pouco potencial eleitoral. A bandeira da Educação, levantada por Cristovam, parece exercer maior apelo que a bandeira ambiental, simbolizada por Marina. Entretanto, ela tem prestígio ainda maior. Noves fora, o desempenho nas urnas tende a ser o mesmo. De qualquer forma, se eu estiver errado, estaremos em boas mãos.