sexta-feira, 31 de julho de 2009

Drops - Julho

O dia em que a mídia brasileira parou

Este mês, o Jornal da Globo – e vários outros jornais da mídia brasileira – fizeram um verdadeiro escarcéu com a reportagem do The Economist, em que o Senado brasileiro é chamado de “casa dos horrores”. Esta publicação inglesa freqüentemente faz matérias sobre o Brasil, muitas sobre política, mais ainda sobre economia. Aliás, por diversas vezes o The Economist fez elogios ao Governo Lula. Nesta reportagem, por exemplo, faz rasgados elogios ao Bolsa Família (com migalhas de repercussão na mídia brasileira, óbvio). Mas, de repente, o que diz o mesmo The Economist passou a causar verdadeiro furor entre os jornalistas brasileiros, foi parar nos espaços mais privilegiados da Imprensa nacional. Parecia que o Brasil tinha sido citado em uma revista internacional pela primeira vez! Será que é porque, dessa vez, a revista publicou algo palatável aos veículos de comunicação daqui? Será que a mídia brasileira só vai repercutir o The Economist quando for da sua conveniência? Imagina!



Mais uma da Cantanhêde

Mal eu um publico um texto sobre uma declaração esdrúxula da Eliane Cantanhêde, e ela me vem com outra pior ainda (se é que pode piorar). No programa Jogo do Poder da última quarta-feira, 29 de julho, Cantanhêde foi convidada por Alon Feuerwerker, para ajudar na entrevista com o Senador Sérgio Guerra, presidente nacional do PSDB. Depois que Sérgio Guerra discorreu sobre como tudo no Brasil dá errado, como o PAC é uma cantilena, como obra nenhuma vai dar certo neste país, enfim, pregou o verdadeiro apocalipse – esclarecendo porque os tucanos são favoritos para 2010; Cantanhêde fez a seguinte observação: "Mas o Bolsa Família compensa tudo isso...". Um político da oposição dizer que a popularidade do Governo Lula deve-se apenas ao Bolsa Família já é absurdo; uma jornalista especializada em política, com coluna no mais lido jornal do país, fazer uma insinuação deste tipo, então, é inominável! Este é um dos reducionismos mais frágeis da política brasileira. É EVIDENTE que o Governo tem pontos positivos que vão muito além do Bolsa Família. Penso que o jornalista deve arbitrar, mediar, equilibrar os discursos políticos. Se for assumir um posicionamento partidário, que pelo menos faça de maneira minimamente embasada.

Acesso à Universidade muda o destino de uma nação

Emocionante este vídeo do encontro entre Lula e universitários do PROUNI. A UNE foi bastante acusada de estar fazendo campanha para o Governo, mas certamente os estudantes presentes no evento não foram obrigados a ficar lá, nem foram obrigados a bradar “Lula Guerreiro do Povo Brasileiro”. Aliás, o vídeo demonstra nitidamente que a manifestação é espontânea, tanto que o presidente foi às lágrimas em meio ao discurso. Pra quem acha que os estudantes presentes foram arranjados pelo PT, basta entrar na comunidade do PROUNI no Orkut e procurar o tópico sobre o Lula, que é dos mais comentados, com vários agradecimentos de bolsistas ao Presidente. Certamente, todos espontâneos também. Eu acho que o Governo Lula tem algumas falhas, e alguns méritos. Mais méritos do que falhas. Das grandes transformações que este Governo tem promovido no Brasil, o PROUNI é das mais importantes. É daquele tipo de programa que muda a cara de um país. Faz muito pouco tempo e só jovens mais ricos tinham a oportunidade de cursar o ensino superior. Hoje, centenas de milhares de jovens brasileiros pobres podem sonhar, correr atrás e cursar a Universidade.




Mas tem coisa que Universidade nenhuma ensina...

Escandaloso o silêncio sepulcral da mídia em torno da premiação que a UNESCO concedeu a Lula. O Presidente brasileiro recebeu o prêmio Félix Houphouët-Boigny, no último dia 7, em Paris, pela sua atuação na promoção da paz e da igualdade de direitos. O prêmio da Unesco está em sua 20ª edição. A premiação já teve entre os ganhadores o ex-presidente da África do Sul, Nelson Mandela; o ex-premiê israelense, Yitzhak Rabin; o presidente da Autoridade Palestina, Yasser Arafat; e o ex-presidente dos EUA, Jimmy Carter. O prestígio internacional de Lula, entre chefes de Estados, líderes políticos, diplomatas etc., do mundo inteiro, é abissal. Coisa de dom mesmo, olho no olho, desenvoltura, carisma. Fernando Henrique, o sociólogo doutor, por exemplo, jamais sonhou com um prestígio assim. A forma como Lula é retratado na Imprensa internacional difere radicalmente da forma como ele é retratado aqui. Até aí eu entendo, Imprensa tem que pegar no pé de Governo mesmo. O problema é que a mídia faz isso reparando na cor do partido, distorcendo dados, restringindo-se à superficialidade do denuncismo, e evitando os grandes debates.

sexta-feira, 24 de julho de 2009

Eliane Cantanhêde e a "herança bendita" de FHC

Em uma das edições deste mês do Fatos e Versões (Programa da Globo News, apresentado por Cristiana Lôbo), Eliane Cantanhêde, articulista da Folha, afirmou que, ao contrário do que diz o petismo, FHC deixou “uma bela de uma herança bendita”, e que Lula é quem deixará uma herança maldita para o seu sucessor, a partir de 2010. Em um momento do programa em que os participantes – Cristiana Lôbo, Catanhêde e o jornalista da Globo News, João Borges – discutiam o aniversário de 15 anos do Real, a jornalista da Folha afirmou:“Lula encontrou um país muito mais estável, em que ele pode aplicar e aprofundar políticas sociais graças a isso. O que me preocupa [...] é o país que o Lula vai deixar pro sucessor”. Para Eliane, o atual presidente está distribuindo sacos de bondade, ampliando o Bolsa Família, aumentando o número de funcionários públicos, “às vésperas de eleição”, e tudo isto pode repercutir negativamente em um próximo mandato.

De fato, a arrecadação do Governo tem caído nos últimos meses, devido à Crise mundial. Ainda assim, o Governo manteve investimentos como o programa Minha Casa Minha Vida, ampliou o Bolsa Família, e ainda abriu mão de impostos, com a isenção de IPI para as indústrias automobilística, de eletrodomésticos, de materiais de construção, de máquinas, além de concessão de crédito para caminhoneiros e para empresários comprarem equipamentos industriais. Assim, configura-se uma situação de endividamento do Governo, que pode mesmo repercutir nos próximos anos. O que a jornalista desconsidera é que este endividamento terá papel importante justamente no combate à Crise, na sustentação da atividade produtiva, na expansão do PIB e na geração de emprego. De toda forma, esta é apenas parte da realidade, que não permite inferir que Lula "teve a sorte" de encontrar uma bela de uma herança bendita de FHC e ainda vai prejudicar seu sucessor.

Quando do final do Governo tucano, o Brasil estava em uma situação alarmante. Um Estado totalmente endividado (as dívidas externa e interna tinham explodido), nenhuma austeridade fiscal, produtividade industrial corroída, reservas cambiais pífias, moeda completamente desvalorizada (dólar chegou a mais de R$ 3,00) infra-estrutura em situação de penúria, desemprego alarmante, miséria e pobreza crescendo, taxas estratosféricas de juros básicos (chegou a 26,5% ao ano). Um país sem possibilidades de crescimento, nenhuma capacidade de investir, sem perspectiva de futuro. Hoje, depois de dois mandatos de Lula, o Brasil está muito diferente. O país retomou a capacidade de investimento, aqueceu fortemente a produtividade industrial e o consumo das famílias, valorizou sua moeda, retomou um processo de superação dos gargalos estruturais, gerou mais de 11 milhões de empregos, tudo isto com distribuição de renda, resgate de dezenas de milhões de famílias da miséria e da pobreza. Lula tem 80% de aprovação, FHC não atingia 40. Por tudo isso, a afirmação da Eliane é absurda.

É claro que alguém pode dizer que, enquanto a avaliação de Cantanhêde é “atucanada”, a minha é “petista”. Mesmo entre especialistas e técnicos em economia, não há consenso para estes assuntos governamentais. Há sempre um forte componente subjetivo, ideológico ou da própria visão de mundo de quem analisa os cenários. Eu vejo dados que respaldam fartamente a conclusão de que herança de Lula será muito melhor que a deixada por FHC. Entretanto, se a jornalista da Folha está convencida do contrário, tem o direito de se manifestar, né? Eu só acho que este caso serve para ilustrar como predomina entre os articulistas da Imprensa uma visão mais próxima do PSDB (e, neste caso, mais afastada dos fatos). Se ao menos houvesse um esforço para equilibrar, mediar, contemplar as duas (ou as múltiplas) visões, vá lá. Nem isso! O resultado é uma cobertura partidarizada. Não porque o PSDB “compra” ou manipula a mídia, mas porque predomina nos principais veículos uma leitura de alguma forma mais identificada com os tucanos, e muitos jornalistas simplesmente reproduzem o discurso de um partido. E, para muitos espectadores / eleitores, discurso de partido é politicagem, mas discurso de jornalista é a realidade. Temos um problema?


segunda-feira, 13 de julho de 2009

Crise Política e ângulos de abordagem

Este blog faz uma opção por demonstrar distorções verificadas na cobertura jornalística sobre política. Se eu tiver que escolher entre falar sobre uma qualidade ou um defeito da mídia, eu fico com o segundo, porque é a isso que eu me proponho. Os blogs – e os veículos tradicionais – também têm que fazer opções por demonstrar estes ou aqueles aspectos, de uma determinada realidade; salientam uns, em detrimentos de outros. Os blogs são mais opinativos, e seus posicionamentos editoriais são mais perceptíveis. Os blogs mais alinhados com a esquerda optam sempre por salientar denúncias, falhas, erros de governantes do PSDB / DEM. Os blogs mais identificados com a direita, ou anti-PT / Lula, destacam ou atribuem maior gravidade às denúncias contra petistas. Há ainda blogs que focam na mídia o/ . Muitos políticos importantes têm blog, como o ex-prefeito César Maia. No caso dos blogs, este processo de seleção de aspectos a serem publicados é mais tranqüilo. Blog é a visão pessoal, subjetiva do seu autor. No caso da mídia, é mais complicado.

Os aspectos selecionados pelos jornalistas chegam ao público de massa. É uma responsabilidade muito grande. Por isso, nos veículos de comunicação, o ideal seria um equilíbrio entre os diversos lados das questões, uma espécie de arbitragem. Infelizmente, não é a isenção que predomina na cobertura sobre política. Ainda que alguns espaços sejam mais democráticos, prevalece um determinado modo de tratamento dos temas políticos. Peguemos como exemplo o programa As Meninas do Jô, que vai ao ar às quartas-feiras. Depois de já ter assistido a várias edições, digo com alguma tranqüilidade que o programa não é tendencioso. Na última edição, o próprio Jô falou com todas as letras que estão fazendo “tempestade em copo d’água” no caso do currículo lattes de Dilma Rousseff (constam no currículo da Ministra os títulos de mestra e doutora, quando na verdade Dilma apenas cursou as disciplinas e não concluiu suas pesquisas). Para o entrevistador, mais relevante na trajetória da Ministra foi a sua atuação no combate à Ditadura, sobre o que ninguém fala. Este momento demonstra que o programa não é unilateral.

Sobre a candidatura da Ministra à presidência, Lilian Wite Fibe observou que Dilma não terá problema em ser aceita pelo partido. Segundo a jornalista, “os petistas aceitarão a candidata com toda a facilidade. Aceitam até o Sarney...”. Na avaliação de Delis Ortiz, do Jornal Nacional, é o PT quem fica com o ônus da Crise Política do Senado. Delis Ortiz tem toda a razão. Uma análise mais fria leva inevitavelmente a este diagnóstico. O PT é quem está pagando esta conta. De fato, a bancada petista no Senado ficou dividida entre apoiar ou pedir a saída de Sarney. Mas não foi o PT o maior responsável pela chegada de Sarney ao comando do Senado. Foi o DEM quem reconduziu Sarney à presidência no início do ano, e foi o DEM que ocupou a primeira secretaria nos últimos anos – cargo diretamente envolvido com as questões administrativas. Entretanto, nenhum grande jornal faz cobranças aos Democratas; a grande maioria responsabiliza o Partido dos Trabalhadores diariamente. Mesmo em um programa que eu considero mais "isento", nenhuma Menina do Jô citou o DEM durante o debate sobre a Crise, mas o PT não foi aliviado, porque é este o ângulo de abordagem predominante que a mídia concede ao PT.


Neste sentido, a cobertura jornalística da grande mídia, na maioria das vezes, está mais próxima a de um blog tucano. Denúncias contra petistas ganham maior destaque, vão para os espaços de maior visibilidade, têm maior longevidade nos jornais, são publicadas sem maiores apurações, na base do offismo, ou ganham pechas e rótulos que ajudam a disseminar as denúncias (como os casos do “mensalão”, do “dólar na cueca”, dos “aloprados do PT”, “do dossiê da Casa Civil” etc.). Casos similares – ou até mais graves – quando envolvem outras legendas, não recebem o mesmo tratamento da mídia. Porém, é importante discernir cada caso, cada escândalo, cada crise. As atuais denúncias contra o Senado, por mais que estejam eventualmente contaminadas por uma cobertura enviesada, têm fundamentos. E mais: representam uma oportunidade histórica para depurar a Instituição. Isso é muito importante! São abusos e desvios de longa data, que finalmente estão vindo à tona. Tudo isso, graças à Democracia. Na época da Ditadura, certamente os abusos eram ainda mais graves, e permaneciam encobertos. O caminho é este mesmo: na Democracia, aprimorar as instituições. E, neste processo, apesar de todos os seus defeitos, a mídia é imprescindível.

domingo, 5 de julho de 2009

Criticar a mídia não inocenta Sarney

Eu entendo as críticas que são feitas à mídia. Acho que são críticas legítimas, fundamentadas, e fazem referência a distorções graves na cobertura jornalística. Sou o primeiro a estimular este debate. Certamente a atual Crise do Senado não se restringe à figura individual de Sarney. O Jornal Nacional repete diariamente que quem segura Sarney no cargo é o PT e o presidente Lula. O PSDB e o DEM posam de defensores da moralidade pública, partidos sensíveis ao clamor “popular”. Os jornais ignoram totalmente que durante todo este período em que o grupo político de Sarney esteve no comando do Senado, o DEM também estava! O DEM ocupa a primeira secretaria, que é justamente a responsável por essas questões administrativas. Hoje, o Primeiro Secretário é o Senador Heráclito Fortes, do PI. Seu antecessor foi o Senador Efraim Moares, da PB. Foram vários anos de gestões questionáveis - pra dizer o mínimo - dos DEMocratas. Hoje, o DEM é retratado como ícone da ética.

Qualquer brasileiro que peça a saída de Sarney pode estar coberto de razão. No caso do partido DEMocrata, isto não passa de pura demagogia. É completamente estapafúrdio, quando se considera a história e o contexto desta Crise. Mas isso é tudo que a mídia não faz no que se refere à política. A cobertura é, de maneira geral, superficial e localizada. Um debate mais amplo, aprofundado, que aborde as raízes estruturais do problema, nunca é feito. É claro que, no caso dos telejornais, o próprio tempo dedicado ao assunto é restrito, o que pode inviabilizar um debate mais profundo. Mas isso não justifica, já que a mídia impressa também opera com esse nível de superficialidade e a televisão abre bastante espaço para política, em tempos de “Crise”. Ou seja, ao invés de tornar públicos aspectos mais substanciais, a mídia faz em um jogo politiqueiro, vazio. Certo! Eu acho que estas críticas fazem todo o sentido. Mas nada disso ameniza a situação do presidente do Senado.

Irmão, netos, sobrinhas, primas, apadrinhados e cia, tirando proveito do poder público; auxílios e verbas utilizados de maneira irregular; e agora uma mansão de R$ 4 milhões não declarada à Justiça Eleitoral. O Planalto fez uma opção política por Sarney. Antes de fazer juízo de valor, estou apenas constatando que os fatores considerados pelo presidente, nesta opção, foram eminentemente políticos. Lula está preocupado com a possível chegada do tucano Marconi Perillo (atual vice) à presidência do Senado. Se a vida do Governo, no Senado, já não é das mais fáceis, com o PSDB no comando é que complicaria de vez. Lula ponderou principalmente as conseqüências para as eleições de 2010. Vocês lembram que eu vinha comentando sobre o alto preço que os PMDBistas pretendiam cobrar em troca do apoio à candidatura de Dilma? Pois bem, com este alinhamento a Sarney, o Governo pode sacramentar de vez a aliança eleitoral muito antes do que imaginava, e pagado baratíssimo! A gratidão do PMDB será incomensurável.

Difícil é descobrir o preço que o Governo terá de pagar, junto à população, por defender a permanência de José Sarney na presidência do Senado, em meio a uma Crise tão grave. Talvez, o preço não seja tão alto. Até 2010, pode ser que a população já tinha dissipado os efeitos das denúncias. O Governo pode perder mais apoio na classe média, que foi beneficiada por medidas como injeção de crédito no mercado, facilitação no financiamento de imóveis, redução de impostos de carros e eletrodomésticos, mas que é mais atenta e exigente no campo da moralidade. As classes mais baixas parecem priorizar questões materiais. De qualquer forma, são generalizações. É preciso aguardar para conferir as reais conseqüências políticas da opção de Lula por Sarney. Institucionalmente, na minha opinião, o Brasil perde.