terça-feira, 10 de março de 2009

Uma autocrítica (o que é mídia?).

Bom, se cada um de nós aqui ganhasse um real por cada vez que lêssemos a palavra “mídia” neste blog, já teríamos um bom pé de meia, não é verdade? Arrisco que daria um belo trocado. Isto vale para tantos outros blogs espalhados pela Rede, que se dedicam (aliás, muito mais do que eu) a revelar as contradições e as distorções provocadas pela “mídia”. Tarefa em que eu acredito, considero extremamente relevante e pretendo levar adiante até quando achar necessário. Entretanto, a esta altura do campeonato, acho oportuno fazer uma reflexão crítica sobre esta proposta, para reconhecer possíveis falhas e aprimorar os argumentos utilizados. Para tanto, é preciso entender melhor do que se trata a tal “mídia” tão recorrente nos blogs como este. O que é mídia? Qual crítica vem sendo feita a própria? Do ponto de vista acadêmico, em que medida esta crítica é válida?

Bom, para início de conversa, do ponto de vista científico, qualquer proposta que vá no sentido de demonstrar que “a mídia” conspira contra determinado Governo ou partido e manipula audiências, estará condenada ao descrédito. Há muito tempo, qualquer pesquisa da área vem demonstrar que os meios de comunicação geram efeitos sobre a audiência, mas estes efeitos já não podem mais ser vistos como “manipulação”. As Teorias da Comunicação são inúmeras, geralmente não há consenso entre elas, as origens e as abordagens são plurais, mas já não existe mais espaço para análises que entendam a relação entre a audiência e os meios de comunicação como algo mecânico, em que o espectador é vítima e não tem defesa para as investidas da mídia. Os processos comunicativos são compostos por dois pólos, o da emissão e o da recepção da mensagem. Ainda que estes pólos não estejam em condições de igualdade, a produção de sentido para qualquer mensagem midiática pertence a ambos.

Além disso, se avaliarmos com rigor, o termo “mídia” é uma abstração. Outro pressuposto básico para a pesquisa em Comunicação é partir do princípio de que “mídia” refere-se a um campo extremamente diversificado, heterogêneo, composto por inúmeros veículos, meios, atores sociais e instituições, com os mais variados interesses, objetivos e visões de mundo. Portanto, “a mídia” não é e nem deixa de ser, não faz e nem deixa de fazer nada, porque “a mídia” não é uma coisa só. Há várias vozes e há divergência naquilo que se entender por mídia. Se quisermos amadurecer esta discussão, inclusive para termos credibilidade nas nossas críticas, precisamos ter muita clareza a respeito destes aspectos. Infelizmente, é comum vermos blogs, ou mesmo figuras públicas, recorrendo a este tipo de estereótipo da mídia como bicho de sete cabeças que tudo pode. Neste blog mesmo, em algum momento, é possível que eu tenha deixado passar algo assim ou recorrido a esta idéia, extremamente equivocada.

Feitos os esclarecimentos e as autocríticas, eu particularmente considero que é possível, sim, usar a palavra mídia. Qualquer espectador pode, por exemplo, fazer uma crítica ao Jornal Nacional e chamá-lo de mídia (o que de fato é!) DESDE QUE entenda que toda crítica precisa ser específica e que “mídia” é um conjunto, complexo e diversificado. É preciso entender também que muitas vezes usa-se o termo “mídia” para fazer referência aos principais veículos de comunicação de massa, como Globo, Folha, Estadão, Veja etc. Acho coerente este uso do termo. É lógico, sempre dependerá de como a idéia é desenvolvida e dos exemplos que são dados. Entretanto, ainda que, para determinadas pautas, haja espantosa convergência entre os jornalistas, como tantas que eu mesmo já demonstrei aqui (e não retiro uma única vírgula), precisamos entender que convergência não é unanimidade, e que a maioria não é a totalidade.

Ainda que algumas vozes tenham grande repercussão entre os jornalistas, e ainda que haja troca de influências entre profissionais da área (e há!), este raio de influência evidentemente encontrará seus limites em algum momento. Portanto, cada pauta é uma pauta, cada momento é um momento, cada caso é um caso. Se vocês acharem que algo não ficou claro ou soou incoerente, por favor, registrem nos comentários. É realmente um tema sutil com muitas nuances, que nem sempre são identificadas com clareza. O importante é avançarmos nestas reflexões, trocando impressões e pontos de vista. A finalidade deste texto é esclarecer certos aspectos, para não gerar ou estimular compreensões que são equivocadas e precisam ser combatidas. Ainda que os leitores deste blog já soubessem disso tudo, achei mais responsável fazer um registro definitivo.

2 comentários:

  1. "o termo “mídia” é uma abstração"

    "Portanto, “a mídia” não é e nem deixa de ser, não faz e nem deixa de fazer nada, porque “a mídia” não é uma coisa só. Há várias vozes e há divergência naquilo que se entender por mídia."


    Usamos "mídia" geralmente para se referir aos veículos de comunicação em massa, não somente os nacionais como os locais também. É uma noção simplória, mas, como você disse, não está incorreta e, muita vezes, acaba transmitindo a mensagem que queremos (se não na sua complexidade, pelo menos em sua essência). Como desenvolver esta questão além do espaço acadêmico ou do virtual (como este blog), é uma resposta que ainda não consegui ver.

    Além disso, sabe aquela história de que quanto mais se aprende a perguntar, mais dúvida se tem? É um dos benefícios da área acadêmica. Mas, ao mesmo tempo, sinto receio de ver tantas definições e não chegar a alguma satisfatória para minha análise (principalmente qdo se divide a mídia em categorias como: impressa, online, audiovisual e outras).

    ResponderExcluir
  2. A denominação "mídia" virou um certo clichê para falar mal dos meios de cominicação. E o pior é que é sempre de maneira generalizada, como o próprio termo é.
    Ao invés de ser usado o veículo específico, usa-se mídia, é mais prático, mais fácil e todas as pessoas entendem...entendem?

    ResponderExcluir