sábado, 14 de fevereiro de 2009

Um relato do Fórum Social Mundial - Belém

No último texto, escrevi sobre o que eu considerei o ápice da minha participação no Fórum Social Mundial. Mas o evento inteiro foi fantástico! Uma experiência inesquecível, para levar pro resto da vida. O simples fato de uma quantidade imensa de pessoas reunir-se em tornos de causas coletivas, debatendo e procurando formas de melhorar a realidade, é admirável. Aí também entra em jogo a miscelânea de culturas. Africanos testemunhando as mazelas de suas nações, ‘gringos’ destoando com seus olhos azuis e cabelos loiros em Belém – a cidade morena, chineses falando um inglês enrolado, e brasileiros de diferentes estados, com os mais diversos objetivos. Todos formando uma gigantesca e efêmera comunidade. Costumo dizer que cada participante faz o seu próprio Fórum. É uma infinidade de atividades, palestras, mesas redondas, oficinas e afins. Centenas de salas em duas Universidades Federais (do Pará – UFPA e Rural da Amazônia - UFRA), além do Centro de Convenções de Belém, em que ocorreu, por exemplo, a reunião do Presidente Lula com os colegas da América Latina.

O ideal é que o participante consiga crivar aquilo que mais lhe interessa, mas poucos são os que conseguem vencer o calhamaço que é a programação do evento. Eu tentei selecionar aquilo que mais chamou a minha atenção, mas eventualmente aconteceu de não haver aquela atividade planejada, aí eu circulava pela Universidade, até encontrar um destino. Foi assim que, ironicamente, descobri aquilo que eu posso chamar de ponto alto do meu Fórum, a mesa redonda com Suplicy e Patrus Ananias, descrita na postagem anterior. Às vezes, o palestrante simplesmente não aparecia, ou a sala era muito pequena para a quantidade de participantes que apareceu, aí procurava-se um lugar maior, ou então determinada atividade não estava mesmo prevista na programação oficial. Diante do imprevisto, seja qual for o motivo, o melhor a se fazer era andar. E os participantes do Fórum deveriam estar preparados para andar MUITO! Tanto a UFPA, como a UFRA, são bem grandes. Seja procurando um destino certo, ou apenas passeando, provavelmente fazia-se necessária uma bela caminhada!

De todo modo, eu não considerava propriamente um incômodo. Eram muitas as distrações. Stands, tendas, apresentações culturais e, sempre, muita gente! Em determinados pontos, verdadeiras procissões. Além disso, mesmo depois que descobri que não haveria o debate sobre cotas que eu tanto aguardava, eu já estava extasiado com o que havia assistido no mega-evento. Destaque para uma excelente explanação de professores sociólogos sobre Políticas de Segurança Pública e a Questão da Violência, um Seminário sobre o Governo Lula: realizações e perspectivas, com a participação do Deputado Federal Zé Eduardo Cardoso, o Senador Inácio Arruda, a Presidente da Une, Lúcia Stumpf, o ex-Presidente da CUT, João Felício, o Ministro da Secretaria Geral da Presidência, Luiz Dulci, dentre outros, e uma mesa sobre Mulheres nos Espaços de Poder, com a presença da Ministra da Secretaria Especial de Políticas para as Mulheres, Nilcéia Freire, a Senadora Fátima Cleide, a Governadora do Pará, Ana Júlia e a Ministra Chefe da Casa Civil, Dilma Rousseff.

Muitos ficaram com uma impressão mais negativa do Fórum. Eu posso ter relevado problemas, pelo entusiasmo de ouvir tantas coisas interessantes, com as quais eu concordava. Era agradável ver tantas pessoas buscando um mundo mais justo. O que não implica unidade! Ao contrário, também ficava nítida a divisão ideológica entre os integrantes. Por exemplo, podia-se ver duas esquerdas: uma que reconhece os avanços do Brasil nos últimos anos, pragmática, com realizações para mostrar e contradições a esclarecer; e outra que não reconhece nenhum avanço, mais ideológica, purista e quixotesca. Na minha visão, acima de tudo, quixotesca. A primeira usufrui o poder e perde discurso, a segunda desfruta a conveniência de não ter responsabilidades a cumprir e, ao solidificar seu discurso, confirma-se como uma alternativa política inviável. Ambas, assim como tudo que diz respeito ao Fórum, todas as correntes, os debates, as bandeiras, são devidamente ignoradas pela mídia e ridicularizadas pelos formadores de opinião, crédulos da mão invisível do mercado. Ainda que, em tempos de crise, o mercado revele suas entranhas e o Social demonstre o seu valor.

Um comentário:

  1. Realmente, o fórum social mundial foi muito produtivo. Apesar dos pequenos problemas, que são perfeitamente compreensíveis devido à extensão do evento, o saldo foi extremamente positivo. O único artifício necessário para aproveitar um evento como esse é a vontade. Andando e perguntando, conseguia-se encontrar eventos excelentes e pessoas interessantes. Tinha de tudo para todos os gostos.

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