sexta-feira, 31 de outubro de 2008

Drops - Outubro

Ode a Kassab (por Lucia Hippolito)

É incrível como os especialistas em política da mídia reproduzem exatamente o mesmo discurso, chegam às mesmas conclusões (que nunca são minimamente embasadas) e trocam suas posturas como quem troca de camisa. Comentaristas como Lucia Hippolito, Cristiana Lobo, Alexandre Garcia, Gilberto Dimenstein, Eliane Cantanhede, Josias de Souza, Noblat, enfim, as vozes dos veículos de comunicação de massa, exibem impressionante sincronismo nas suas interpretações. Apontam José Serra, ou a Oposição, como os vencedores das eleições 2008, mas nunca mostram um gráfico, uma estatística, algo concreto que respalde suas afirmações. Até porque, quando se recorre aos dados, o que vemos é aumento do PT e diminuição do PSDB e do DEM. Na Globo News, no programa Estúdio i, Lucia Hippolito, sempre tão combativa e crítica (?), teve a oportunidade de fazer uma pergunta a Gilberto Kassab. Lucia poderia fazer inúmeras perguntas que seriam do interesse do cidadão paulistano. Mas preferiu fazer a seguinte intervenção: “ Eu queria um pouco conversar com o Sr. sobre o peso da responsabilidade de ser o prefeito mais votado de toda a história de São Paulo!“ Vejam se tem cabimento! Pura babação de ovo em pleno canal de jornalismo. Vocês conseguem imaginar uma pergunta dessa ao Presidente Lula? “Presidente, como o Sr. se sente com esta aprovação recorde de 80%?” O máximo que os especialistas da mídia falam sobre a popularidade do presidente é que ela se deve aos programas assistencialistas do Governo.

Eu já sabia!

Muita gente ficou bastante surpresa com algumas reviravoltas destas eleições. Mas este blog já adiantou muita coisa inesperada! Por exemplo:

=> Gabeira no segundo turno:

Ainda em 16 de agosto, quando Crivella liderava as pesquisas com folga (28 pontos) e Jandira estava em segundo lugar, eu disse aqui: "... creio que o cenário eleitoral de hoje, no Rio de Janeiro, está maquiando o que acontecerá no dia da votação. Ao contrário do que muitos pensam, acho que o único realmente garantido no segundo turno é Eduardo Paes. [...] Crivella tem um eleitorado fiel (literalmente), no entanto, não deve apresentar crescimento. Digo isso baseado no tempo de propaganda eleitoral de que o Bispo dispõe: 1 min e 56 s. Muito pouco! A segunda colocada, Jandira Feghali, tem 2 min. e 32 s., por isso também deve cair cada vez mais até a votação. [...] Gabeira tem a segunda maior fatia de horário eleitoral, 4 min. e 50 s., é um bom tempo e pode alavancar a candidatura..." Depois, no dia 21 de setembro, reiterei que "... Gabeira ou Molon podem ser a grande surpresa destas eleições. O número de eleitores indecisos ainda é expressivo...“ Dava pra perceber que os indecisos iriam fazer a diferença na hora H, provocando uma surpresa. No caso, sempre é algum candidato novo (como Gabeira ou Molon). O que fez a diferença pro Gabeira foi mesmo o tempo de TV que era o segundo maior, perdendo apenas para o do Eduardo Paes.

=> Virada em Salvador:

Na capital baiana, tudo mudou! Existiam 4 candidatos competitivos (mais o do PSOL), os dois que começaram muito bem nas pesquisas foram colocados para trás (ACM e Imbassahy), e os dois que tinham pior desempenho inicialmente passaram para o segundo turno (João Henrique e Pinheiro). Entretanto, já em 16 de JULHO, antes mesmo de o horário eleitoral começar, eu disse: "É curioso que um candidato do PSDB e outro do DEM sejam tão fortes em uma região em que Lula é tão popular..." Os que tinham melhores condições de pregar uma parceria com Lula eram: o candidato do PT, por razões óbvias, e o candidato do PMDB, porque o partido uniu-se a Jacques Wagner para tirar o Carlismo do Governo da Bahia em 2006. Acabou que os partidos de oposição, mesmo tendo subitamente trocados seus críticas por elogios a Lula, ficaram de fora do segundo turno em Salvador.


=> Pseudo-liderança em Belém:

Em Belém, as pesquisas alastravam um cheiro fortíssimo de manipulação das brabas. Neste caso, não registrei minhas desconfianças no meu blog, mas fiz um comentário no Blog do Espaço Aberto, que depois foi publicado como uma postagem. Há menos de 3 semanas para o dia da votação, foi divulgada uma pesquisa Ibope em que Valéria Pires Franco, do DEM, liderava com 25% das intenções de votos, Duciomar tinha 23, Priante apareceu com 16 e Mário ficou com apenas 13. Depois, já na quase véspera da votação, o Ibope mostrou Valéria no segundo lugar, com 18 pontos (ainda assim, bem à frente de Priante e Mário, que apareceram com 12). Porééém, eu bem que alertei o seguinte: “Acho muito mais provável que Valéria tivesse algo em torno destes 18 pontos desde o começo, mas o veículo de comunicação/Instituto quis enfiar goela abaixo do público que a candidata do DEM estava nas alturas. Com a possibilidade de manipulação de até 8 pontos, graças à famigerada "margem de erro" (especialmente ampla em Belém), fica fácil montar diversos cenários. Quanto mais próximo do dia D, mais fiel à realidade precisam ser as pesquisas. De qualquer forma, não será nenhuma surpresa se o resultado do TRE for bastante diferente do que é alardeado pela ORM.

Os Tops das Eleições 2008

=> Top 5 - as maiores derrotas:
1. Geraldo Alckmin, PSDB (SP). Candidato à presidência há 2 anos, favorito absoluto e não chegou nem ao segundo turno.
2. ACM Neto, DEM (Salvador). Liderou a campanha inteira, ficou fora do segundo turno e mostrou que o Carlismo minguou na Bahia.
3. Fátima Bezerra, PT (Natal). Tinha o maior tempo de TV, apoio do atual prefeito, da Governadora e do Presidente Lula, mas foi derrotada no primeiro turno.
4. Valéria Pires Franco, DEM (Belém). Brigou pela ponta das pesquisas a campanha inteira, mas terminou em quarto lugar, com 13%, quase ultrapassada pelo candidato do PPS, que ficou com 11%.
5. César Maia, DEM (Rio). Depois de ter administrado o Rio por 3 vezes, César Maia não conseguiu eleger sua candidata (que ficou com 3% dos votos válidos, em sexto lugar), e deixa a prefeitura carioca rejeitadíssimo pelos eleitores.

=> Top 5 - as maiores surpresas:
1. Fernando Gabeira, PV (Rio). Começou a campanha com fraco desempenho nas pesquisas, mas não foi eleito por uma diferença mínima.
2. Leonardo Quintão, PMDB (Belo Horizonte). Forçou um segundo turno que parecia improvável na capital mineira e chegou a liderar as pesquisas contra o candidato do prefeito e do governador.
3. Kassab, DEM (São Paulo). Saiu de 8% de intenções de votos nas pesquisas para uma reeleição com mais de 60% dos votos válidos no segundo turno.
4. Flávio Dino, PC do B (São Luís). Chegou a registrar 4% nas pesquisas, mas apresentou forte crescimento e chegou ao segundo turno. Flávio Dino terminou com 44% dos votos válidos.
5. Priante, PMDB (Belém). Quando todos esperavam um segundo turno entre o atual prefeito, Duciomar, e a candidata do DEM, Valéria Pires Franco, Priante passou para o segundo turno na capital parense.

quinta-feira, 30 de outubro de 2008

A mídia nas eleições 2008

Eu imagino que seja muito difícil para os jornalistas fazer a cobertura de uma eleição. Ao falar dos candidatos, é obviamente importante que o jornalista não tome partido e possa informar o público de maneira isenta, sem vínculos com grupos políticos. É muito importante também sempre abrir espaço para os diferentes pontos de vista e não apenas reproduzir o discurso de algum candidato. Esses são preceitos básicos, não apenas do profissionalismo jornalístico, mas da própria Democracia. Os meios de comunicação precisam servir como fontes de informação independentes para os eleitores que ainda estão indecisos, e ao mesmo devem fazer com que eleitores de diferentes posicionamentos sintam-se dignamente representados. Tudo isso parece ser um consenso, mas nem sempre é possível observar na prática. Por um lado, é natural que um jornalista ou um comentarista político deixe transparecer suas preferências partidárias. Afinal, são seres humanos como qualquer um de nós, possuem suas opiniões e não podem abstrair-se delas. Por outro lado, muitos dos comentaristas políticos clássicos forçam a barra, tiram conclusões bizarras e não conseguem demonstrar razoavelmente o que estão afirmando. São exemplos deste último caso que eu procuro reunir neste texto.

Começo com exemplos nem tão graves, mas que revelam a quebra de um padrão. Considerando esta isenção especialmente necessária durante as eleições, é comum que a Imprensa especifique a autoria de determinada informação, ao invés de publicar como se fosse uma afirmativa do próprio jornalista. Por exemplo, dificilmente uma reportagem vai afirmar “Marta quebrou a prefeitura de São Paulo”. Uma reportagem fala: “Segundo Kassab, Marta quebrou a prefeitura de São Paulo”. E vice-versa: “Segundo Marta, Kassab recebeu a prefeitura com as contas em ordem”. Por mais que se trate de um assunto concreto – a situação fiscal de uma prefeitura – a Imprensa deixa explícita a autoria da afirmação, para respeitar as diferentes versões do mesmo fato. Isso faz parte da gramática jornalística. Em reportagem do dia 23.10, o UOL relata que manifestantes da Vila Formosa receberam o prefeito de São Paulo, Gilberto Kassab, com vaias e protestos, por causa de um CEU (Centro Educacional Unificado) que foi não foi entregue no prazo prometido. O texto refere-se a um “suposto atraso”, ou seja, não confirma se há de fato um atraso na obra ou não.

Sobre uma mulher que chamou o prefeito de mentiroso, a reportagem diz que ela “se identificou como dona-de-casa”. Novamente, a matéria não assume responsabilidade nem mesmo sobre a profissão da manifestante. Para não reproduzir as críticas da campanha de Marta Suplicy, a reportagem do UOL não afirma categoricamente se há atraso na obra, nem garante que a manifestante citada é de fato uma dona-de-casa, como a própria havia alegado. Entretanto, procedendo de maneira diferente, em matéria do dia 22.10, a Folha On Line (mesmo grupo do UOL) afirma – ela própria – que o atual prefeito de SP, Gilberto Kassab (DEM), ao pedir aos eleitores que não votem nele caso seja candidato em 2010, deu mais uma prova de que irá cumprir os quatro anos de mandato na prefeitura caso seja reeleito. O jornalista, sem transferir autoria, nas suas próprias palavras, afirma que o candidato deu uma prova (!!!) de que irá cumprir os 4 anos de mandato. Em primeiro lugar, é estranho que o jornalista simplesmente reproduza o discurso do DEM; depois, isso não é nenhuma prova, já que o próprio Serra em 2004 fez a mesma recomendação de que os eleitores poderiam não votar mais nele caso saísse da prefeitura, no entanto, em 2006 foi para o Governo do Estado.

Também verificamos imensa disparidade por parte da mídia na reação ao vídeo em que a campanha de Marta Suplicy questiona, dentre outras coisas, a vida pessoal de Kassab, perguntando se o eleitor sabe se ele é casado ou tem filhos. O número de reportagens, editoriais e comentários criticando a petista representaram uma verdadeira avalanche. Há quatro anos, o PSDB publicou em seu site uma nota falando em “Dona Marta e Seus Dois Maridos”, fazendo referência ao fato de Marta ter se separado do Eduardo Suplicy e se casado com Luis Favre. A mídia pouco comentou a atitude da campanha dos tucanos e, por muitas vezes, também invadiu a vida pessoal de Marta e seu novo marido. Tudo isso está ricamente demonstrado em uma postagem do blog O Biscoito Fino e a Massa. Eu sei que qualquer crítica à Imprensa, nestas circunstâncias, pode parecer uma defesa da campanha petista. É, realmente, uma linha tênue. O PT cometeu um ato abominável ao pautar a vida pessoal do adversário, promoveu um retrocesso no debate eleitoral. Isso é inquestionável, mas não posso deixar de registrar este episódio, que representa um dos maiores exemplos de partidarização da mídia já vistos.

Outra coisa que me incomoda bastante são as avaliações dos resultados das eleições 2008. É lugar comum entre os especialistas da mídia que Marta sofreu, mais que uma derrota eleitoral, uma derrota política. Porém, a versão é outra para Geraldo Alckmin, que era favorito absoluto para governar a capital paulista, já que Kassab começou a campanha com 8% das intenções de votos e Marta tem um teto muito claramente definido pela sua forte rejeição. Para a surpresa de todos, o tucano sequer chegou ao segundo turno. Entretanto, na análise de Dora Kramer, em editorial do Estado de São Paulo do dia 04.10, o tucano sai das eleições 2008 fortalecido, já que “se exibiu. De todo modo está na boca do povo”. Alckmin foi candidato à presidência há apenas 2 anos, contrapôs-se à uma administração que foi conquistada pelo seu próprio partido, e acabou sofrendo uma derrota retumbante! Mas, de todas as manifestações partidárias de profissionais da mídia, nenhuma foi tão acintosa quanto a de Alexandre Garcia no Jornal Hoje do dia 27.10. Outro lugar comum nas análises midiáticas sobre os resultados de 2008 é a conclusão de que José Serra foi um dos grandes vencedores (destaque de Lucia Hippolito em seu blog e de Gilberto Dimenstein em sua coluna, por exemplo).

Alexandre Garcia foi além, disse que “a oposição” ao Governo Lula sai fortalecida do pleito municipal, porque venceu em São Paulo. O comentarista disse ainda que essa eleição mostrou que o Presidente não transfere prestígio, citando exemplos de cidades em que Lula apoiou candidatos que saíram derrotados. Na realidade, tanto o DEM quanto o PSDB diminuíram a quantidade de prefeitura que administram, enquanto o PT ampliou. Certamente, São Paulo é a cidade mais importante do país, mas não é mais importante que centenas de outras cidades juntas! O Alexandre Garcia não menosprezou apenas o PT ou o PMDB, menosprezou principalmente as outras capitais e cidades. Os exemplos escolhidos pelo comentarista para medir a transferência de prestígio de Lula foram totalmente tendenciosos. Se Lula perdeu em várias cidades, ganhou em tantas outras. Além disso, praticamente NENHUM grande candidato este ano falou mal do Governo (nem mesmo Alckmin), o que confirma e realimenta a força do Presidente Lula. Alexandre ainda tenta confundir o eleitor ao misturar sucessão municipal com a presidencial, nas quais pesam questões totalmente diferentes. O mais irônico é que o comentarista conclui falando em “moralidade”. Simplesmente repulsivo!

quarta-feira, 22 de outubro de 2008

Eleições 2008 - Resultados

1) As Prefeituras
Quando consideramos os resultados das eleições 2008, três conclusões são bem nítidas: PMDB manteve e até ampliou a liderança no rank das prefeituras. O PT apresentou um forte crescimento, passando da 5º para a 3º posição. O DEM prossegue na sua trajetória declinante. Na lista abaixo, podemos acompanhar a evolução dos partidos na quantidade de prefeitos eleitos. Os números correspondem às eleições de 2000, 2004, 2008:

Número de prefeituras conquistadas por partidos:
Ano:-----------2000-------------------2004-----------------2008
1º PMDB:.....1.257..........=>..........1054.........=>........1.195
2º PSDB:..... ...990..........=>.............861........=>..........785
3º PT*:...........187..........=>.............399........=>..........548
4º PP:.............618..........=>............548........=>...........547
5º DEM:.......1.028..........=>............794........=>...........495

Fonte: UOL (Os números de 2008 ainda são referentes ao 1º turno, apenas. De acordo com a fonte utilizada, pode haver divergência nos números. Especialmente os registros referentes às eleições mais antigas apresentam algumas imprecisões. De qualquer forma, dá pra verificar as linhas declinantes ou ascendentes dos partidos).

*A terceira posição do Rank pertence ao PT, segundo o UOL. Mas nos dados do G1, a terceira posição é do PP (PP: 549 / PT: 547). Como a diferença entre estes dois partidos em 2008 é mínima (de 1 prefeitura no UOL e de 2 prefeituras no G1), dá pra colocar o PT a frente do PP com tranqüilidade, visto que o Partido dos Trabalhadores está melhor posicionado para o 2º turno. Portanto, mesmo no G1, o PP deverá ficar na 4º posição.

2) Total de votos recebidos
Considerando o total de votos recebidos por partidos, em 2008, para o cargo de prefeito, o PMDB novamente fica na liderança, o PT passa para o segundo lugar e o PSDB fica em terceiro. É importante destacar que, nos últimos pleitos municipais, PT e PSDB foram os que receberam mais votos neste quesito, já que são partidos mais fortes em grandes cidades. Entretanto, este ano, foram superados pelos PMDBistas.

Total de votos recebidos pelos partidos para o cargo de prefeito:
Ano: 2008
1º PMDB:__21.085.813
2º PT:____19.141.226
3º PSDB:__15.517.033
4º DEM:___11.659.434
5º PSB:____6.762.373
6º PP:_____6.301.901

Fonte: UOL

3) O G-79
Outro rank interessante é o do chamado G-79, ou seja, o conjunto das 79 cidades brasileiras mais importantes, incluindo as 26 capitais e 53 municípios com mais de 200 mil habitantes. Nesta amostra dos maiores municípios, o PT largou na frente no primeiro turno:

Número de prefeituras do G-79 conquistadas por partidos:
Ano: 2008 / primeiro turno
1º PT: 13 (disputam o 2º turno em primeiro lugar: 11; disputam o 2º em segundo lugar: 4)
2º PMDB: 9 (disputam o 2º turno em primeiro lugar: 7; disputam o 2º em segundo lugar: 4)
2º PSDB: 9 (disputam o 2º turno em primeiro lugar: 4; disputam o 2º em segundo lugar: 7)
4º DEM: 4 (disputam o 2º turno em primeiro lugar: 1; disputam o 2º em segundo lugar: 1)
5º PSB: 3 (disputam o 2º turno em primeiro lugar: 3; disputam o 2º em segundo lugar: 3)
5º PP: 3 (disputam o 2º turno em primeiro lugar: 11 ; disputam o 2º em segundo lugar: 4)

Fonte: Blog do Fernando Rodrigues

Além disso, considerando apenas as capitais, o PT largou na frente com uma boa folga no primeiro turno: elegeu 6 prefeitos. Em segundo lugar, empatados, estão PMDB, PSDB e PSB, com 2 capitais. O único partido que ainda tem condições de ultrapassar o PT nas capitais é o PMDB, dependendo do seu desempenho no segundo turno. De qualquer forma, estes dados desmoralizam por completo reportagens como a da Tribuna da Imprensa, que afirmou que o “PT deixa as urnas com face mais rural”, ou jornalistas como Políbio Braga, para quem “o PT virou o Partido dos grotões”. É verdade que o Partido dos Trabalhadores expandiu-se, também, para pequenos municípios, mas ainda figura como uma das principais legendas das capitais e grandes cidades, ao lado do PMDB. Mesmo quando não vence, freqüentemente, o partido do Presidente tem bons desempenhos nas regiões mais populosas.

4) Vereadores
Nas eleições para o Legislativo, PDMB, PT e PSDB, naturalmente, permanecem nas melhores posições. Geralmente, os partidos dos principais candidatos aos cargos majoritários são os que recebem mais votos para o legislativo. Neste quesito, os tucanos superam os petistas, mas os PMDBistas continuam na ponta do rank:

Total de votos recebidos pelos partidos para o cargo de vereador:
Ano 2008:
1º PMDB: 11.976.280
2º PSDB: 10.717.527
3º PT: 10.532.965
4º DEM: 8.000.480
5º PP: 7.246.502
6º PDT: 6.728.274
Considerando os vereadores eleitos apenas nas capitais, o PT está a frente com 79, o PMDB elegeu 76, o PSDB ficou com 73, o PSB tem 48 vereadores eleitos nas capitais e o DEM fica em quinto lugar, com 46.

5) Balanço Final:
Nas eleições para as prefeituras deste ano, o PMDB confirmou sua posição de maior partido brasileiro: maior bancada no Senado, maior bancada na câmara federal, maior número de Governadores eleitos e, agora, mantém o maior número de prefeitos e vereadores eleitos.

O PT apresentou um forte crescimento no número de prefeituras que administra, o que converge com o crescimento dos petistas no Congresso. Entretanto, o Partido que ocupa hoje a presidência ainda perde para os tucanos, tanto no número de Governadores (6 a 5, para o PSDB), quanto no número de prefeitos eleitos. Se a tendência permanecer nas eleições municipais de 2012, pode ser que os petistas superem os tucanos na esfera municipal.

Naquilo que diz respeito à diminuição da oposição ao Governo Lula, certamente, a tragédia do DEM é a maior. Hoje, a legenda está com menos da metade do número de prefeituras que já teve em mãos. O mesmo pode ser afirmado a respeito da bancada do ex-PFL na câmara federal. Dentre os governadores, apenas 1 é do DEM (o do Distrito Federal). A vitória de Kassab em São Paulo vai impedir o sepultamento da legenda, e o número de Senadores ainda é expressivo. Entretanto, o DEM (irmão siamês do PP, ambos frutos da antiga Arena, partido da Ditadura) perde cada vez mais espaço na Democracia brasileira.

domingo, 19 de outubro de 2008

Lindemberg, dá um tchauzinho?

Daria para aceitar a hipótese de um crime motivado por amor – amor não seria o termo mais adequado, é a paixão que pode fazer uma pessoa sair totalmente do seu estado normal e cometer atos inconseqüentes – mas tendo terminado da forma que terminou, não dá mais pra cogitar esta hipótese. É possível que um rapaz desesperadamente apaixonado recorra às últimas conseqüências para conseguir conversar com a garota. Paixão e ódio são duas faces da mesma moeda, é relativamente fácil passar de um pro outro. Mas, mesmo nestas circunstâncias, se ele realmente gostasse dela, jamais seria capaz de machucá-la, seria o primeiro a impedir que algo de ruim acontecesse com a menina. Pelo contrário, Lindemberg assassinou Eloá. Pode ser que o sentimento de posse tenha falado mais alto, algo na linha “se eu não posso tê-la, ninguém mais terá”; pode ser que ele tenha se assustado com a bomba da polícia e atirado em um ato de desespero e medo; e pode ser que as coisas não tenham terminado da maneira que ele gostaria e, contrariado, resolveu descontar a raiva nas meninas.

O que mais me revolta neste caso é que o Lindemberg alegava que a menina, Eloá, havia o abandonado no momento em que ele mais precisava. A menina é menor de idade! Não é responsável nem por ela mesma, quanto mais por namorado! É praticamente uma criança! Tudo bem que com 15 anos, tecnicamente, é uma adolescente, mas na minha opinião está muito mais próxima de uma criança que de uma mulher! E ele falava como se fosse uma adulta, que deveria responder por sua falta de consideração. É claro que ele continuaria errado, mesmo que Eloá fosse mais velha. Mas o fato de ela ser tão nova é um tremendo agravante! Um homem de 22 anos na cara cobrando responsabilidades de uma menina de 15! Não tem o menor cabimento. Pra piorar, ele acaba atirando na moça e na amiga. Isso depois de já ter espancado e, possivelmente, torturado a ex-namorada por horas. A polícia pedia pra falar com as meninas por telefone, mas elas podiam perfeitamente falar apenas o que o seqüestrador mandava ou permitia. Ou seja, pode ser que todas as 100 horas tenham sido de sofrimento físico para Eloá. Não sabemos nem mesmo se os dois tiros foram dados apenas naqueles últimos momentos.

Mais uma vez, a postura da mídia foi uma brincadeira, uma verdadeira palhaçada, um circo. Espetacularização do que não é espetáculo, glamurização do que não é glamuroso, a famigerada busca incondicional por audiência. Um caso como esse, em que a cobertura da mídia pode prejudicar a ação da política, deve ser noticiado com todo o rigor, cuidado e formalidade. A coisa é muito séria! E nem todo mundo se dá conta disso. A entrevista da Record com o seqüestrador já havia sido extremamente inconseqüente e inadequada. No Hoje em Dia, da mesma emissora, o apresentador Brito, ficava anunciando de 5 em 5 minutos que o rapaz estava prestes a libertar as garotas (óbvio, pra segurar a audiência). E se o Lindemberg estivesse assistindo? E se tomasse aquilo como uma provocação? E se, de fato, estivesse prestes a libertar as meninas, mas só porque o cara da TV falou, não vai mais! Esse tipo de cobertura da mídia engrandece o criminoso, faz ele se sentir muito poderoso, dá a oportunidade de medir forças. O seqüestro estava em andamento! Isso faz toda a diferença, não dá pra brincar com a coisa.

Nada foi mais imperdoável do que a atitude da apresentadora Ana Hickmann. No afã de segurar a audiência, no ápice do sensacionalismo, na tentativa de vender essa ilusão de que eles estão “no controle da situação”, a modelo afirmou que o seqüestrador não faria mal às garotas. Para confirmar sua tese, Ana Hickmann pediu que Lindemberg acenasse da janela, tipo, desse um tchauzinho, caso estivesse prestigiando a Record naquele momento. Tem cabimento? Excessos são normais, profissionais de todas as áreas cometem erros. Mas, na mídia brasileira, o que deveria ser exceção é regra, é deliberado, de praxe. O problema não é um conjunto de falhas pontuais, é a postura. Falta responsabilidade, seriedade, critério. Muitos casos anteriores já mostraram este mesmo cenário, e nada mudou. Provavelmente voltaremos a falar tudo isso em casos futuros. O lado bom (se existir) é que tudo vai ficando mais flagrante, o público e pessoas da própria mídia vão percebendo que estes descalabros dos meios de comunicação têm conseqüências sérias. Pelo menos, pode servir para alertar que a mídia é, sim, passível de críticas, não está acima do bem e do mal e precisa ser observada de maneira crítica na sua relação com a sociedade.