quinta-feira, 21 de abril de 2011

Capa e-book Mídias Sociais e Eleições 2010

Em breve será lançado o e-book "Mídias Sociais e Eleições 2010", organizado por mim, pela Nina Santos e pelo Tarcízio Silva, da PaperCliQ. Este livro reúne artigos que tratam de usos das tecnologias digitais no processo eleitoral brasileiro de 2010. Alguns autores, como Murillo de Aragão, Carlos Manhanelli, Martha Gabriel, Gil Castilho, dentre outros, foram convidados para compor o e-book. Outros autores foram selecionados por Chamada de Trabalho. Assim que o material for lançado, estará disponível aqui no blog o link para download. Fiquem atentos!


segunda-feira, 18 de abril de 2011

As distinções que não podemos ignorar


"Mais uma vez a oposição e, sobretudo, o PSDB não entenderam o argumento de Fernando Henrique. O ex-presidente escreveu um excelente artigo na revista Interesse Nacional, que deve sair amanhã. A Folha de São Paulo publicou. Eu e algumas pessoas que recebemos a revista fomos brindados com a íntegra do artigo por antecipação. Fernando Henrique continua um estupendo analista. Não perdeu a mão como analista político, como sociólogo."


"O ex-presidente é amigo pessoal e uma espécie de guru do sociólogo Manuel Castells, da Universidade Southern California, nos Estados Unidos, um dos maiores estudiosos da nova sociedade civil que vem se organizando através das novas mídias ... "
Merval Pereira – O Globo


"Crivado de flechas impiedosamentecomo o São Sebastião da música de Chico Buarque –, o ex-presidente da República Fernando Henrique Cardoso anda atônito e desolado. [...] O mais espantoso: o fogo cerrado começou imediatamente depois do presidente honorário do PSDB produzir – em tempo de muita intriga e pensamento ralo e rasteiro – um dos mais brilhantes, completos e elevados textos políticos em forma e conteúdo sobre os descaminhos e equívocos das oposições no Brasil."
Vitor Hugo Soares – Blog do Noblat


"O artigo divulgado esta semana foi escrito pelo sociólogo Fernando Henriquenão pelo político semi-aposentado que ele é. [...] Como presidente da República, Fernando Henrique provou na pele a dor pelo que não disse. E também a dor pelo que disse e acabou interpretado de outra forma. Ele não disse "esqueçam o que escrevi". Mas a frase foi posta em sua boca e ali permanece até hoje. Ele chamou de "vagabundos" servidores que abusavam de artifícios para se aposentar antes do tempo. Ficou que ele chamara os aposentados de "vagabundos."

Ricardo Noblat – Blog do Noblat

É, não precisa ser um PhD em análise de discurso pra perceber a verdadeira euforia com que FHC é defendido por certos segmentos da mídia brasileira. Incompreendido, sacrificado, brilhante, são alguns dos termos com que o ex-presidente tucano foi tratado. A idolatria que jornalistas dedicam a Fernando Henrique chega ao absoluto ridículo, provoca constrangimento alheio ao leitor. Indisfarçável como o objeto maior da veneração jornalística é a formação sociológica do tucano. Nada surpreendente numa mentalidade em que bom político é o que tem formação canônica, erudita, aquela que pode distinguir a análise política da análise ‘científica’. E somos obrigados a ler isto mesmo após o governo do metalúrgico, que acabou aclamado por 85% dos brasileiros. Mas este, é claro, continua sem “méritos”, aos olhos dos esclarecidos – posto que nem fundamental completo tem, quanto mais doutoramento em sociologia para compreender as entranhas do povo, ora.

Só acho pouco digno não admitir que existe lado nos espaços de maior alcance da mídia brasileira. Não são todos os colunistas, não são todos os veículos, nem todas as análises feitas estão engajadas num complô. Mas, as figuras proeminentes do colunismo nos veículos de maior audiência, claramente, apresentam simpatias, preferências, aproximações com um determinado campo político. É importante persistir neste ponto, porque há: 1) uma tentativa de desqualificar esta percepção, alegando mania de perseguição dos “petistas”, incompreensão da heterogeneidade daquilo que seria a mídia, ou afins; e ainda 2) uma tentativa de dizer o inverso: que a mídia é enviesada num sentido que favoreceria o PT. Esta última tese, por bizarra que é, defendida apenas por lunáticos da estirpe de Diogo Mainardi e Reinaldo Azevedo. Aliás, em texto recente, Azevedo identifica um “petismo jornalístico, sobretudo na TV”.




Ainda sobre o artigo em que Fernando Henrique sugere que o PSDB não deve ter muito sucesso se tentar conquistar as classes mais baixas (ou seja, o povão), Lula deu uma resposta simplesmente precisa e eloqüente: a de que o “povão” deve ser a própria razão de ser do Brasil. A diferença é abissal: uma postura, mais estratégica, avalia o que seria eleitoralmente mais proveitoso, foca a crescente e já majoritária classe média brasileira e se permite o luxo de não priorizar as classes mais baixas – as quais, neste raciocínio, estariam "aparelhadas" ou "cooptadas"; a outra postura adota os estratos mais pobres, não apenas como prioridade, mas como propósito central, a própria razão da existência política. Outra coisa: o que seria aparelhamento da sociedade ou "cooptação eleitoral" é, na verdade, instrumento de promoção da cidadania, obrigação política, econômica e humanitária do poder público. É isto que sintetiza a resposta brilhante de Lula, que, apesar dos muitos títulos honoris causa que o cara tá ganhando, carrega um tipo de brilhantismo que não precisa de doutorado.

terça-feira, 12 de abril de 2011

Da liturgia do cargo: os 100 dias de lua de mel do Governo

Completados 100 dias de Governo, começam a proliferar pela mídia – impressa e televisiva – opiniões, editoriais, análises ou debates sobre o desempenho de Dilma à frente do executivo. Evidente, há avaliações negativas e críticas sobre determinados tópicos, como a inflação. Mas, de modo geral, o mandato da primeira mulher presidente tem sido elogiado - quase sempre por seu estilo vsto como 'discreto' e 'mais técnico'. Pode-se mesmo dizer que os especialistas midiáticos estão numa espécie de lua de mel com o Governo, especialmente se compararmos à cobertura jornalística que se deu ao longo dos mandatos de Lula. Uma inflexão e tanto! O último IBOPE sobre avaliação presidencial também trouxe um quadro muito positivo para Dilma Rousseff. Pela pesquisa, 56% consideram o Governo ótimo ou bom. Este patamar de aprovação é superior aos que FHC e Lula conseguiram, nestes momentos dos respectivos mandatos de cada um. Se a avaliação do Governo foi boa, a da pessoa da presidenta foi ainda melhor: ela é aprovada por 73% dos entrevistados.

Pelo menos as opiniões encontradas nos principais veículos de comunicação dão-se mais acerca de uma imagem pública da presidenta, um estilo identificado, atributos e valores mais subjetivos. Questões práticas e administrativas não têm sido a tônica das avaliações. Do ponto de vista da imagem pública, alguns fatores ajudam a entender os números tão favoráveis ao Planalto. O próprio cargo de presidente da república e a liturgia em torno dele já conferem ao seu ocupante alguma altivez, prestigio, e até certo carisma. Obviamente, isto em uma conjuntura favorável e com uma agenda pública que beneficie a imagem do presidente. Este primeiro ano do mandato de Dilma continua marcado pelo bom momento do país – consumo aquecido, desemprego muito baixo, indústria reagindo etc. A sensação de bem-estar predominante contribui para que o chefe do principal cargo da república seja visto de forma positiva pela população. Além disso, estes primeiros meses do mandato foram marcados por episódios interessantes para a imagem da presidenta.

A visita de Obama, por exemplo, sintetiza de maneira muito clara o prestígio do Brasil neste momento. As cerimônias de recepção, a aparições públicas ao lado do americano, e os mecanismos jornalísticos que tornam especiais eventos como este, agregaram valor à figura da governante. Outros momentos mais midiáticos de Dilma foram as aparições nos programas de Ana Maria Braga e Hebe Camargo. Participações em programas com este perfil aproximam Dilma de um público mais popular, com grande percentagem de mulheres, e que espera conhecer aspectos mais humanos dos políticos. Trabalhar publicamente aspectos mais humanos é importante para que a maior parte da população seja aproximada do governante. Lula sempre foi visto pelos brasileiros de forma muito humanizada, em função da própria trajetória de vida que criava uma conexão e uma empatia direta com a maior parte dos brasileiros, e também por uma personalidade mais aberta, informal e extrovertida. Dilma ainda precisa construir esta ponte. Por isso, iniciativas midiáticas que explorem seu lado mais ‘comum’, descontraído ou leve, são pertinentes.

Mesmo o estereotipo de “durona” sofreu alguns abalos com a emoção que Dilma demonstrou no discurso de posse no congresso e agora com a tragédia em realengo. O falecimento do ex-presidente, José Alencar, também trouxe uma carga de pessoalidade à presidenta. Este elo com a população, mais multifacetado, em várias dimensões – políticas, ideológicas, e também mais humanizadas – é fundamental para a construção de uma imagem positiva sólida e disseminada. Por isso, as lamentações de uma parte da esquerda pela visita de Dilma às apresentadoras, além da presença no aniversário de 90 anos da Folha, não faz muito sentido. A presidenta governa para todos os brasileiros e deve estar aberta ao diálogo com os mais variados segmentos da sociedade. As estratégias de comunicação do Planalto devem pretender-se amplas e conciliadoras. O Governo Federal e a presidenta devem continuar aparecendo bem cotados nas próximas pesquisas, mantidos o cenário sócio-econômico favorável, uma agenda pública bem pensada, e uma cobertura midiática que não seja muito hostil – o que vem ocorrendo, ao contrário do que houve com Lula. De toda forma, o prognostico inicial para a presidenta não poderia ser muito melhor do que isto.


segunda-feira, 4 de abril de 2011

A democracia que queremos (uma resposta ao Noblat e ao Bolsonaro).

Nesta segunda, Noblat escreveu um artigo para defender a liberdade do deputado Bolsonaro de defender suas opiniões, e criticar os que se colocaram contra o parlamentar, os 'fascistas do bem'. Segundo o colunista, se não respeitamos as declarações de Bolsonaro, nos igualamos a eles, nos tornamos intolerantes também. Noblat incomoda-se com uma ‘patrulha estridente do politicamente correto’, que seria ‘opressiva, autoritária, antidemocrática’. Claro, o blogueiro também não perde a oportunidade de espinafrar Lula, por causa de uma piada que o ex-presidente fez com a cidade de Pelotas, décadas atrás. Noblat parte do seguinte pressuposto: “Nossa capacidade de tolerar os intolerantes é que dá a medida do nosso comprometimento para valer com a liberdade e a democracia”. É uma premissa absolutamente falsa!

Não é verdade que, em nome da liberdade de expressão ou da tolerância, qualquer discurso está justificado ou seja inimputável. Não é possível que rigorosamente todas as falas sejam aceitas, como partes legítimas do debate democrático, sob pena de nos igualarmos a um Bolsonaro da vida. É claro que as diversas opiniões podem ser defendidas, inclusive aquelas que são contrárias a direitos de minorias como as cotas raciais, casamento civil gay, adoção por casais homossexuais etc. Aliás, elas já o são, ao contrário do que insinua cinicamente o Noblat. O problema está no ataque proferido, na injúria, na discriminação, na perseguição praticada contra grupos historicamente excluídos sob vários aspectos. Não, nem toda opinião é parte legitima do debate, e isso não viola, mas fortalece a democracia.

Paulo Moreira Leite, da Época, é muito feliz quando cita o exemplo da França, em que a extrema direita defende seus posicionamentos, mas sem atacar outros grupos. Jean-Marie Le Pen defende a ‘França para os franceses’, mas toma cuidado para não agredir os imigrantes. É igualmente obscuro, mas qualitativamente diferente. Aqui, o ‘politicamente correto’ cumpre uma função primordial, na medida em que protege direitos. Este quadro é sintomático de uma democracia amadurecida, em que não há espaço para discursos intolerantes – os de verdade, não os fabricados por sofismas como os do Noblat. Paulo M. Leite argumenta que “a sociedade francesa não permite. A força das idéias democráticas naquele país é tal que não se aceita que as teses antidemocráticas sejam proferidas em público, de modo exibicionista e ofensivo, como faz Bolsonaro”.

Noblat deturpa argumentos, inverte valores e tenta igualar coisas muito diferentes, no afã de atacar Lula e a esquerda (sim, porque foi principalmente pessoas identificadas com a esquerda que se insurgiram contra Bolsonaro, seja na blogosfera, seja no Congresso, vide Jean Wyllys / PSOL, Manuela D’Ávila / PC do B e Brizola Neto / PDT). O guarda-chuva da tolerância não pode abrigar todos! Não pode abrigar, por exemplo, um neonazista, e também não tem espaço para os Bolsanaros. Ninguém pode reivindicar para si o direito de perseguir, constranger, condenar, agredir de qualquer forma, outro grupo, por ser diferente. É premissa jurídica básica que um direito termina onde começa outro. O exercício pleno da cidadania deve ser estendido a todos, sem distinções. Alguns defendem isto, outros não. É preciso escolher um lado, há muito que se avançar a este respeito no Brasil, e é neste sentido que devemos seguir, sem hesitações.