quarta-feira, 31 de março de 2010

Drops - Março

Dor de cotovelo

Acho tão engraçado isso. Os jornalistas são especialmente mordidos com o presidente pelo fato dele estar fazendo “campanha antecipada”. Mais interessante do que as críticas diretas e objetivas, são as indiretas, os sarcasmos, as insinuações de que, apesar de o presidente estar gritando aos quatro ventos que Dilma é sua candidata, ela não atingiu sequer os "30% históricos do PT". Entretanto, apesar de criticarem a postura do presidente, criticam também o Serra por não estar fazendo a mesma coisa! Ou seja, o que está errado não um ato condenável do presidente, o que está errado é o fato de Serra estar demorando muito pra fazer igual. Agora, é tudo um grande circo, né? Várias falácias juntas pra montar essa palhaçada. Não é o PT que tem 30% históricos, foi o Lula – único candidato à presidência do PT até hoje – que teve, sempre que concorreu, pelo menos algo em torno dos 30%. E tanto a Dilma, quanto o Serra, estão sim utilizando as plataformas dos seus governos para exporem seus nomes. É que os jornalistas esperavam que Serra fizesse isso mais ainda.

Ofensiva

Não dá pra entrar no mérito do caso, num drops desse. É claro que qualquer desvio de dinheiro para enriquecimento ilícito ou financiamento ilegal de campanha deve ser punido, mas as edições deste mês de Veja e Isto É foram meio infantis, na minha opinião. Uma desenterra o Mensalão de 2005, com a desculpa de que agora é o “relatório final”, e tentar envolver o pré-candidato do PT ao Governo de Minas, Fernando Pimentel. O ex-prefeito já assegurou na Justiça direito de resposta. A outra desenterra supostas irregularidades da campanha de Lula de 2002, usando como fonte primária um promotor de Justiça que já pediu à própria VEJA ressarcimento por danos morais no valor de R$ 20 mil, alegando que a revista extrapolou o direito de liberdade de informação e violou a sua honra, ao qualificá-lo como “pioneiro da era dos promotores heróis”. Além disso, a Bancoop emitiu nota reclamando que “não foi ouvida em momento algum pelos jornalistas responsáveis pela matéria da revista VEJA, em clara violação a princípio elementar de ética jornalística”. Puxão de orelha de bancário sobre ética jornalística é feio, hein? Principalmente quando embasado.

Tiro no pé?

Serra finalmente desincompatibiliza-se do Governo de São Paulo em ato oficial, com mais de 5.000 presentes (servidores e tucanos). O presidenciável do PSDB alfinetou o PT: "Já fui governo e já fui oposição, mas de um lado ou de outro, nunca me dei a frivolidade das bravatas". Serra poderia estar saindo do cargo sob agenda negativa. Funcionários públicos realizaram um protesto na Avenida Paulista chamado de “bota-fora do Serra”. Segundo Ilimar Franco, de O Globo, “a campanha do tucano José Serra está comemorando as marchas de protesto dos professores, filiados à CUT e aliados do PT, em greve”. Ainda segundo a nota de Ilimar, “um assessor ironizou ontem: ‘Amanhã eles vão fechar mais uma rua, o paulistano vai adorar’". Greve de servidores pode ser negativa para o governante, mas o tiro também pode sair pela culatra, especialmente em um estado como São Paulo. A opinião média dos cidadãos pode ser agressivamente contrária às categorias que optaram pela paralisação. É possível que muitos paulistanos, não apenas condenem a greve, como apóiem qualquer forma de repressão mais firme.


segunda-feira, 29 de março de 2010

Datafolha mostra recuperação de Serra e estagnação de Dilma

A pesquisa Datafolha divulgada no último sábado mostrou recuperação de Serra, que saiu de 32 para 36%; e estagnação de Dilma, com queda, dentro da margem de erro, de 28 para 27%. Ciro Gomes saiu de 12 para 11 pontos, Marina Silva continua com 8%. O cenário traz novo fôlego para os tucanos, que passaram um sufoco em função da diminuição brusca da diferença entre Serra e Dilma; e baixa a bola dos petistas que achavam que o crecimento da Ministra continuaria acelerado. O cruzamento das curvas, ou seja, Dilma ultrapassando Serra ficou mais distante - apesar de já ser uma possibilidade real para o futuro. A polarização eleitoral, entre o Governo e a Oposição, já está muito bem demarcada e creio que seja isso que mais interessa à Dilma. A pesquisa foi realizada nos dias em que teve boa repercussão no noticiário a multa aplicada pelo TSE a Lula, por divulgar antecipadamente a candidatura de Dilma.

Mas não me parece que a estagnação da candidata esteja relacionada a qualquer agenda negativa. Parece que a petista esgotou sua capacidade de crescer sem condições fundamentais, que só uma campanha pode oferecer. Dilma precisa ainda ser mais mostrada como a candidata do Lula, só isso já é capaz de motorizar a candidatura do PT. A mesma pesquisa Datafolha do último sábado mostra que apenas 58% sabem que a Ministra é a escolhida pelo presidente para disputar as eleições. Ainda há muito chão a ser percorrido pela candidatura petista. Entretanto, creio que isso só seja possível quando do Horário Eleitoral Gratuito na televisão. Antes disso, a disseminação desta informação acontecerá de maneira muito lenta, inviabilizando crescimento mais expressivo da candidata. Ironicamente, o que pode ajudar a divulgar o nome de Dilma como presidenciável é exatamente a veiculação destas pesquisas no Jornal Nacional, que só passou a mostrar os números do Ibope e do Datafolha neste mês de março.

O JN é uma vitrine extremamente privilegiada, e a divulgação das pesquisas ajuda a reforçar o clima de disputa eleitoral. Soma-se a isso, o fato de os candidatos estarem se descompatibilizando de seus cargos até o final desta semana, passando a dedicarem-se apenas à disputa. De toda forma, algumas condições só serão obedecidas a partir de agosto, com os rostos dos candidatos nos meios de comunicação de massa, nos debates, nas entrevistas etc. É só aí que o eleitor toma melhor conhecimento das propostas, das opiniões, das qualidades e defeitos dos presidenciáveis. É quando os candidatos tornam-se relacionáveis; o cidadão forma uma imagem, um conceito sobre o candidato e desenvolve uma postura em relação a isso. Há vários casos de candidaturas que iniciaram as eleições por baixo e terminaram vencendo.

Isto vale para candidatos totalmente desconhecidos da população, para candidatos conhecidos e mesmo para candidatos no cargo. Kassab, em São Paulo, ano passado, começou as eleições com um dígito nas pesquisas, cresceu e terminou o primeiro turno na frente, deixando para trás os favoritos: Marta Suplicy e Geraldo Alckmin. Só a campnha permitiu a Kassab comunicar aspectos positivos de sua candidatuta e gestão. Em Recife, também em 2008, João da Costa, completamente desconhecido, partiu de praticamente nada para vencer já no primeiro turno. O petista tinha um forte padrinho - João Paulo - e representava uma gestão altamente aprovada pela população recifense. Foi a campanha que permitiu colar a imagem de João da Costa a estes atributos positivos. Ainda penso que a conjuntura de 2010 é altamente favorável à Dilma, que deve terminar o primeiro turno na frente ou mesmo liquidar a fatura já na primeira rodada, cenário mais viável se Ciro sair da disputa.

quinta-feira, 25 de março de 2010

O papel de Lula no cenário internacional

O final do Governo Lula implica, necessariamente, especulações sobre quem vai sucedê-lo. Mas, implica também a seguinte dúvida: qual será o destino de Lula após sua saída da presidência? Hoje, esta pergunta necessariamente passa necessariamente pela geopolítica mundial, devido ao prestígio que o presidente construiu globalmente. Títulos como os de personagem do ano de 2009, concedidos pelo jornal espanhol El País e pelo francês Le Monde; Estadista Global, concedido pelo Fórum Econômico de Davos; 18º pessoa mais influente do mundo, pela revista Newsweek; são algumas das incontestáveis provas do reconhecimento internacional aos méritos de Lula. Somam-se a Copa e as Olimpíadas no Brasil. O nome do presidente já é cotado para cargos da maior importância, como presidente do Banco Mundial e secretário Geral da ONU. De fato, não faz sentido Lula ainda ter pretensões internamente.

Imagino que o presidente continuará sempre ligado às questões políticas brasileiras. Mas, Lula tem todas as condições de pleitear uma carreira mundial que corresponda ao seu tamanho político. Ou teria? Na grande Imprensa tem sido cada vez mais freqüentes observações no sentido de diminuir este suposto prestígio internacional do presidente. Só nas últimas semanas, eu ouvi três vezes a mesmíssima previsão: o comportamento lastimável que o presidente Lula tem desempenhado ultimamente sepultou as chances reais que ele tinha de vencer o Prêmio Nobel da Paz. Este diagnóstico foi feito, recentemente, pelo advogado Ives Granja, em entrevista ao Jô; pelo jornalista João Domingos, do Estado de São Paulo; e pelo jornalista Cristiano Romero, do Valor Econômico, nas últimas edições do Fatos e Versões – que eu tenha visto. Claro que a previsão do início do declínio de Lula sempre vem acompanhada do escudo retórico “claro que o presidente é muito admirado mundialmente, MAS...”

O problema, na visão dos “entendidos”, é que o desempenho internacional de Lula, ainda que espetacular nos últimos 7 anos, está sendo maculado exatamente neste último ano! Vejam vocês, que infortúnio do presidente! Em linhas gerais, Lula tem sido muito criticado pela simpatia a governos ditatoriais de esquerda (como no episódio em que criticou o recurso da greve de fome, utilizado por um dos dissidentes do Governo cubano que veio a falecer); e por estar se “intrometendo” no conflito do Oriente Médio, entre israelenses e palestinos, adotando postura complacente demais diante do Irã, especialmente no que tange tecnologia nuclear. Bom, ninguém com o mínimo de bom senso pode pensar que Lula será a solução para este conflito milenar. Mas, será que é impossível imaginar que o nosso presidente tenha papel relevante na condução das negociações? O porta-voz da Presidência palestina, Mohamed Edwan, afirmou que espera que o presidente Lula seja o próximo secretário-geral da Organização das Nações Unidas. O jornal israelense Ha'aretz classificou o presidente como o “profeta do diálogo”.

A suposta fraqueza de Lula – ser presidente de um país completamente afastado do conflito no Oriente Médio – pode tornar-se o trunfo. Os americanos e europeus não são levados a sério pelos palestinos, principalmente diante do justo argumento de que eles possuem os maiores arsenais nucleares do mundo, suficientes para destruir o planeta várias vezes (e, cá entre nós, pra quê a segunda?). Que moral têm os americanos para impedir o Irã de desenvolver tecnologia nuclear? A verdade é que a previsão do fracasso diplomático do presidente é feita, hoje, pelos mesmos que estão prevendo o fracasso de Lula desde o seu primeiro dia de Governo, não apenas na área diplomática, como na área econômica e na gestão como um todo. E o que aconteceu na realidade? O presidente Lula só fez aumentar seu alcance político, no mundo e nacionalmente. Nada disso impede que os apocalípticos continuem a prever os fracassos do presidente. Será que eles têm razão?





domingo, 21 de março de 2010

O Plano Nacional de Direitos Humanos no Jô

A cobertura que a Imprensa tem feito sobre o terceiro PNDH, do Governo Lula, para variar, tem sido amplamente negativa. A grande maioria das matérias ou comentários de especialistas que saem nos veículos de comunicação é no sentido de demonstrar o quanto o Plano Nacional é uma ameaça ao Brasil. Acho razoável que se faça críticas, uma vez que muitas das propostas apresentadas pelo documento estão excessivamente à esquerda para os padrões da sociedade brasileira. Entretanto, na última sexta-feira, vi uma entrevista no Programa do Jô que sintetizou muito do discurso sobre o Plano que tem sido disseminado, bem como revelou os usos partidários e eleitorais que têm surgido na discussão. Se por um lado é perfeitamente natural que haja uma apreciação crítica do PNDH, eu também acho que seria produtiva uma cobertura que colocasse o outro lado – favorável ao Plano, para obedecer aos princípios jornalísticos mais básicos e a um valor democrático.

Bom, o cidadão brasileiro não teve a oportunidade de ouvir os dois lados, nem na maior parte da cobertura jornalística, muito menos no Programa do Jô. O que se viu foi uma campanha de ataque ao Plano, ao Governo Lula e à candidatura governista da Ministra Dilma, acreditem se quiser. Ou seja, algo nobre, que poderia levar a uma visão crítica, fomentar um debate importante, dar visibilidade a temas de interesse da sociedade brasileira, tornou-se algo vil, que visa desequilibrar a disputa democrática. O advogado Ives Gandra da Silva Martins revelou ser contra o Plano (fato que me deixou absolutamente estupefato!), e alertou para diversos perigos relacionados ao PNDH: censura contra a Imprensa, doutrinação ideológica à esquerda para professores e alunos da rede pública de ensino (no estilo soviético, segundo o especialista), anulação do direito à propriedade, excesso de plebiscitos (o que é ruim por reproduzir um modelo “venezuelano” demais), enfim, uma ameaça à própria democracia e à soberania brasileira.

Engraçado que, em determinado momento, o advogado criticou os ‘formuladores’ do Plano por serem admiradores de regimes como o de Cuba, da Venezuela, do Equador etc. Jô Soares caiu na inocência de afirmar que tem grande admiração pela luta de Fidel. O advogado imediatamente apressou-se para dizer que não tem a mesma admiração e que tem outra formação ideológica. Evidente! Não sou eu que vou defender o regime cubano, mas se este senhor fizesse qualquer relativização sobre o Fidel, certamente ele não seria o convidado do programa para falar sobre o Plano de Direitos Humanos. Enfim, Ives Gandra concluiu que o PNDH representa a vontade de trazer ao Brasil os modelos políticos das ditaduras da esquerda. O advogado acrescentou ainda que Lula poderia ser indicado até ao Nobel da Paz, não fossem as recentes declarações complacentes do presidente para com regimes não democráticos, como o cubano, o iraniano e o hondurenho de Zelaya.

No final da entrevista, o programa abriu para perguntas da platéia. As pessoas, evidentemente atônitas com tantas ameaças ao Brasil, queriam saber quando e como todas as tragédias iriam acontecer sobre as nossas vidas. Não ficou devidamente claro – para a platéia e certamente para o público de casa – que o Plano, por mais criticável que seja, reúne formulações colhidas em Conferências públicas, que não têm efeito de lei, e precisa passar pelo Congresso Nacional para ter qualquer uma das suas proposições oficializadas. Assim, todas as considerações da Secretaria de Direitos Humanos só serão concretizadas caso os representantes da sociedade aprovem-nas nas formas de projetos de lei ou de emendas, no legislativo. Para o advogado, não há chance de o Plano passar no Congresso este ano, pois nenhum deputado iria posicionar-se contra a sociedade brasileira em matérias tão delicadas.

Entretanto, depois de toda a campanha contra o documento, o convidado do Jô fez o seguinte alerta: “Agora, nós não sabemos, em função daquele candidato que vai ganhar – e já são dois candidatos que estão com mais possibilidades – se, enfim, o candidato do Governo ganhar se vai ou não aceitar o Plano e levar o Plano pra frente”. A entrevista ganhou uma conotação bastante diferente neste ponto. Primeiro, que esta afirmação sugere que a vigência do PNDH depende de uma “aceitação” do Governo, o que não é verdade; segundo, que o convidado fez referência direta ao Serra e à Dilma, colando na Ministra a suposta ameaça à democracia representada pelo Plano – sem nenhum direito de defesa. Eu, e o Ives Grandra, já temos uma orientação ideológica e uma opção eleitoral para 2010 definidas. Mas as pessoas, que ainda não têm um posicionamento eleitoral e atribuem ao programa e ao entrevistado altos níveis de conhecimento técnico e imparcialidade, depois de assistirem àquela entrevista (na platéia ou em casa), estarão mais dispostas a votar no Serra ou na Dilma? É disso que se trata.