domingo, 28 de fevereiro de 2010

Drops - Fevereiro

Datafolha indica aproximação do cruzamento das curvas

Sobre a pesquisa Datafolha, divulgada no último sábado – que aponta Serra com 32% das intenções de voto, Dilma com 28%, Ciro com 12%, e Marina com 8% - Fernando Rodrigues fez alguma observações interessantes: “o Datafolha pergunta quem conhece os candidatos e estratifica as respostas. No caso de Serra, 33% dos eleitores dizem conhecê-lo ‘muito bem’. Já Dilma só é conhecida ‘muito bem’ por 17% dos eleitores”, ou seja, metade. Temos uma candidata com curva ascendente, menos conhecida que o candidato que vem caindo. Vocês imaginem o que vai acontecer quando Dilma tornar-se tão conhecida quanto o Governador de São Paulo... Soma-se a isto, o seguinte fato: o Datafolha perguntou “Você votaria no candidato do Lula?” (se as eleições fossem hoje). 42% cravaram “sim”, 26% relativizaram, responderam “talvez”. O menor grupo é daqueles que não votariam no candidato do Lula: 22%. A disposição das pessoas de votar no candidato do Lula ainda não se traduz em votos na Dilma. Neste quesito, é temerário desconsiderar a taxa de conhecimento da Ministra – bem menor que a de Serra.

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Discurso por água a baixo


Rigorosamente todos os analistas políticos da grande mídia afirmam que Dilma cresce porque faz propaganda criminosa – antes do prazo estabelecido pela lei, enquanto Serra está parado (ou seja, ele cumpre a lei). Entretanto, entendem os jornalistas, uma vez que o tucano começar a se movimentar, ele também vai crescer nas pesquisas, enquanto Dilma vai estacionar ou até cair, assim que se descompatibilizar da Casa Civil e parar de inaugurar obras. É uma pena para os jornalistas que os fatos contradigam suas análises torcidas. Apesar de a Ministra estar participando de inaugurações de obras do PAC, e aceitando que Serra estaria “parado”, ela continua bem menos conhecida do que ele. Simples assim. As pessoas já conhecem bem o Serra, sabem de sua trajetória, sabem o que ele representa, a que turma ele pertence. Serra pode se movimentar o quanto quiser, pode espernear, plantar bananeira, não adianta. O cidadão vota na Dilma, não porque ela inaugurou ou iniciou uma obra na cidade dele naquela semana. O cidadão vota em Dilma porque ela representa a continuidade do Governo que trouxe a ele ganhos reais, sentidos ao longo dos últimos anos. Dilma cresce porque cada vez mais pessoas (por vários meios) a identificam como a candidata do Governo, não porque ela inaugura obras.

Datafolha, por regiões

Se o Serra conseguir só 22% dos votos no Nordeste, como sugere o Datafolha, será um vexame homérico! Pro tucano nunca mais sair de casa! Naquela região, Dilma já tem 36% dos votos. No Norte / Centro Oeste, foi onde a Ministra mais diminuiu a diferença, que caiu de 14 para 3 pontos. Ela tinha 24% em dezembro e foi para 29 em fevereiro. O Governador tinha 38%, e caiu para 32. No Sudeste, reduto do tucanato, Serra teve leve queda: de 41 para 38%; enquanto Dilma subiu de 19 para 24%. Creio que Dilma pode melhorar bem seu desempenho no Sudeste, principalmente em função do Rio de Janeiro e do Espírito Santo. Em ambos estes estados Dilma está bem servida de palanques regionais, enquanto Serra está mal das pernas. Minas será a incógnita da região e do Brasil, o verdadeiro fiel da balança de 2010. Aécio trabalhará por Serra, e Lula apresentará Dilma (que nasceu em Minas), será um duelo de titãs. No Sul, o PSDB também impõe grande vantagem: 38% a 24, mesmo placar do Sudeste. Serra certamente vence em Santa Catarina, e provavelmente vence no Paraná, ainda que com diferença menor. No Rio Grande do Sul, Dilma pode ter uma chance de vencer, SE for apoiada pelo PMDBista Fogaça, o que já é uma possibilidade real.

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Noblat entrou pra história


O PATÉTICO Noblat teve a cara de pau de, em pleno escândalo do DF, com direito a Governador preso e tudo, defender o DEM! “Que tal pararmos de implicar com o DEM?”, sugere o blogueiro. Na postagem intitulada “Façamos justiça ao DEM”, Noblat reproduz fielmente, em seu espaço de grande visibilidade, o discurso dos DEMos: “O DEM merece ser criticado - como de resto os demais partidos. Mas não por ser excessivamente tolerante com quem pisa na bola. É o menos tolerante de todos”. É tragicômico! Noblat critica PT e PSDB por passarem a mão na cabeça dos seus mensaleiros, e aponta o DEMocratas como baluarte da intolerância com a corrupção. Noblat quer comparar o incomparável! O Governador do DEM foi FILMADO recebendo um calhamaço de notas das mãos do operador do esquema e dizendo “tá ótimo!”, está PRESO poucos meses depois do escândalo estourar, comprou um Haras com o dinheiro da propina. Nunca se comprovou qualquer tipo de envolvimento direto do presidente Lula no mensalão do PT, muito menos enriquecimento ilegal. O mesmo pode ser dito a respeito de Azeredo. Noblat, que nunca fez qualquer tipo de relativização em favor do PT, prestou-se ao ridículo de defender o DEM. Um post pra nunca mais ser esquecido. Ainda bem que a Justiça do Poder Judiciário é diferente da Justiça do Noblat.

quarta-feira, 24 de fevereiro de 2010

A intolerância pintada de ouro

Outro dia, visitando o formspring do Tulio Vianna, achei a seguinte pergunta: “Na sua opinião, qual a razão de tantos jovens no mundo contemporâneo, inclusive algumas celebridades como os Jonas Brothers, Hannah Montana e Kaká, revalorizarem e propagandearem a instituição do ‘casar-se virgem’?” O Tulio deu uma resposta que, com algumas ressalvas, eu achei brilhante: “É um backlash. As grandes conquistas de direitos vêm seguidas historicamente de reações conservadoras. A revolução sexual possibilitou uma grande autonomia dos corpos em relação a governos e religiões. É claro que muitos líderes políticos e religiosos ficaram incomodados com esta maior liberdade dos indivíduos e tentaram reverter estas conquistas por meio de lavagem cerebral. Muitos jovens acabam se deixando influenciar por toda esta ladainha conservadora...”. É de fato intrigante como, depois de décadas de avanços no que diz respeito a direitos, ainda haja espaço para referências tão conservadoras e moralistas. Mais intrigante ainda é o fato destas referências, freqüentemente, encontrarem abrigo entre jovens e adolescentes.

Fico bastante chocado com o ranço conservador no discurso de uma garotada que, muitas vezes, sequer atingiu a maioridade. Pois são capazes de tirar da tumba carcaças moralistas das mais odiosas. Era de se esperar que esta geração tivesse uma postura mais progressista, pois ela já nasceu em uma sociedade que marginaliza muito menos os negros, que não lida com a homossexualidade como o tabu de antigamente, que aceita mais a mulher como provedora e como profissional. Mas não é assim sempre. Às vezes é exatamente o contrário. Talvez, as gerações anteriores reconheçam a importância destes valores democráticos e tolerantes, justamente porque tiveram que lutar para construí-los. Para a geração mais recente, estas bandeiras esvaziaram-se de sentido. Talvez, estes adolescentes, quase crianças, não vejam mais necessidade de brigar por direitos civis. A inferência de que, na sociedade de hoje, dá no mesmo ser branco ou negro, homem ou mulher, hétero ou homossexual, está logo ali e é muito perigosa.

Não dá no mesmo! E é fundamental que esta nova geração esteja convencida disto. A questão do direito sobre o corpo e da revolução sexual é diferente da questão dos direitos das minorias. Mas, em ambos os casos, houve forte avanço progressista nas últimas décadas seguido de resistência moralista. É como se, na ausência de um inimigo comum (um dia já representado pelo dogmatismo religioso, ou pelo racismo, ou pela homofobia, ou pelo patriarcalismo, ou pela Ditadura), os adolescentes de hoje buscassem amparo nas mais variadas ideologias, incluindo as ultrapassadas e extremamente nocivas – que vão desde a instituição do casar-se virgem, passando pelo tratamento hierárquico dos gêneros, até ímpetos moralizantes e simpáticos a regimes ditatoriais na política. Eu mesmo já testemunhei vários jovens – pessoalmente ou em comunidades virtuais – nostálgicos da Ditadura Militar brasileira (pois “pelo menos era melhor do que estes políticos corruptos que estão aí”), ou ainda tomando por natural que o homem traia a mulher porque “o corpo masculino é feito para semear”, dentre outros absurdos do tipo, que supostamente estariam superados.

O verdadeiro movimento de idolatria para manter Marcelo Dourado no Big Brother Brasil 10 é a mais recente e intensa manifestação do ranço intolerante - novamente bastante comum entre adolescentes. 5 minutos na comunidade do Dourado é uma experiência! Lemos coisas do tipo “Dourado mestre”, Dourado mito”, “Hail, Dourado”. Muitos espectadores - o próprio pai do Marcelo - entendem que a vítima na verdade é o lutador, que sofre com 'heterofobia'. Evidente que nem todos os torcedores do Dourado compartilham esta mentalidade. Mas tal adesão cega e inconcidional está sensivelmente relacionada ao fator intolerância sexual. Nesta análise, é fundamental considerar que vivemos sob a égide do politicamente correto. Com raríssimas exceções, ninguém declara abertamente um preconceito. Cada vez mais, este preconceito assumirá formas veladas e implícitas. Discriminação não é apenas ofender, demitir, agredir ou expulsar alguém de um recinto. Estas são apenas manifestações mais explícitas e extremadas, mas o preconceito também se dá em um plano simbólico, por meio de representações e discursos que subjugam um grupo historicamente desfavorecido.

Os discursos do orgulho hétero, da heterofobia, do orgulho branco, são exemplos clássicos. A
condição heterossexual ou a cor de pele branca não precisam ser declaradas, nem causam sofrimento a ninguém. É para negros, gays, dentre outros grupos, que fazem sentido as ações afirmativas, a conquista de espaços historicamente negados, a luta pela recuperação da auto-estima. Se havia heterofobia na casa do Big Brother, porque nenhum dos outros participantes heterossexuais sofreu com ela? Por que o Dourado foi a única “vítima”? Defender as atitudes do Dourado, alegar que ele sofre de “heterofobia”, afirmar o "orgulho hétero" é o mesmo que usar aquela camisa do “orgulho branco”. É dizer que, apesar de todos os avanços das últimas décadas, a tolerância a estes grupos precisa “encontrar um limite”. É uma maneira de demonstrar incômodo com a presença cada vez mais forte de grupos previamente segregados no convívio social. É disfarçar o ranço do preconceito embaixo de várias camadas de discursos politicamente aceitáveis. A idolatria ao Marcelo Dourado é, em grande medida, o extravasamento de um sentimento que precisou conter-se nos últimos anos, mas que perdura e continuará predominante por muito tempo.

sexta-feira, 19 de fevereiro de 2010

As enchentes de SP e o viés partidário da mídia

A grande mídia no Brasil tem algum viés, desvio, tendência ideológico-partidária? É esta pergunta (e o pressuposto de que a resposta é sim) que move este blog. Há sinais de que os principais veículos de comunicação prestam um serviço republicano, denunciando descalabros dos dois principais campos políticos brasileiros: polarizados pelo PT e pelo PSDB, em nível nacional. Tanto o Mensalão do PT, de 2005, quanto o Mensalão do DEM, do ano passado, ganharam forte repercussão na mídia. A administração da petista Marta Suplicy, em São Paulo, teve muitas de suas debilidades criticadas e expostas pelos jornalistas; o Governo Yeda, do PSDB, no Rio Grande do Sul, também passa por intenso desgaste. Maiores manipulações midiáticas não permitiriam estas comparações. Por outro lado, coberturas de temas como transferência de renda (Bolsa Família), MST, Privatizações, dentre outros, demonstram de maneira bem nítida um posicionamento enunciativo dos veículos.

Tais posicionamentos, na cobertura jornalística, relevam-se na seleção dos aspectos que são mostrados (ou omitidos). Outra forma de os veículos de comunicação demonstrarem tendência partidária é adotando ou não teor político na cobertura de calamidades públicas, provocadas por falhas técnicas e estruturais. Este recorte analítico é eloqüente. Ontem (quinta-feira), por exemplo, o Jornal Nacional fez uma matéria sobre as enchentes de São Paulo e suas conseqüências. A matéria mostra situações trágicas: um rapaz desaparecido, trânsito caótico, rios transbordando, avenidas inteiras alagadas, ondas em pleno asfalto, carros e seus motoristas ilhados, pessoas arrastadas pelas águas ao tentarem ajudar o próximo etc. etc. Reportagens como esta freqüentemente mostram as causas estruturais destas enchentes: acumulação de lixo, bueiros entupidos, expansão descontrolada das cidades, falta de planejamento urbano, dentre outros.



Eu nunca vi uma matéria sobre este assunto mostrando um deputado do PT faturando eleitoralmente em cima das tragédias. Eu não acho que o certo seria mostrar o deputado do PT. Tampouco acho que o governador Serra e o prefeito Kassab são os únicos – ou mesmo os principais – responsáveis por tanto sofrimento. Portanto, não seria a mais adequada uma cobertura que hostilizasse o presidenciável tucano. Os dramas das famílias e o receio da população recomendam o tratamento mais técnico e sóbrio possível. Avaliações apaixonadas e utilização político-eleitoral do debate não contribuem. Entretanto, não é esta a regra que a grande mídia utiliza quando o problema atinge o outro campo político. A cobertura jornalística do blecaute de novembro do ano passado – que comparativamente causou muito menos danos aos cidadãos – foi absolutamente implacável com a Ministra Dilma. Inúmeras lideranças da oposição apareciam diariamente no mesmo Jornal Nacional, faturando eleitoralmente.

Dilma havia declarado em entrevista anterior ao blecaute que o Brasil não sofreria mais com apagões. Fato avidamente explorado por jornais, de todo o país. Sem a devida distinção entre blecaute (causado por interferências externas, como acidentes climáticos) e apagão (causado por falta de planejamento e investimento por parte do Governo). O PSDB fez propaganda em eleições anteriores sobre obras que, supostamente, iriam resolver o problema das enchentes, como a calha do Tietê. Eu poderia argumentar confortável e longamente que o Governo Lula fez investimentos eficientes no setor energético brasileiro, livrando o país do risco de desabastecimento; enquanto que os tucanos, há 16 anos governando SP, não fizeram os investimentos necessários para evitar enchentes. Mas, prefiro focar a questão do viés midiático neste texto. É prudente aceitar que ambos os problemas – apagões e enchentes – tem causas climáticas, incontroláveis, e causas estruturais, de responsabilidade dos governantes. O grave é que a responsabilidade política só é explorada pela mídia quando envolve um campo político.



terça-feira, 9 de fevereiro de 2010

Trunfos e fraquezas da esquerda para 2010

Este ano, não tem muito como deixar de escrever textos sobre as eleições. Mesmo porque este é o meu assunto preferido em política. Podem dizer nos comentários se vocês acham isto uma boa idéia ou nem tanto. Como este blog propõe um olhar de esquerda sobre o Brasil, começo analisando as chances deste campo ideológico para as eleições de 2010. Para a disputa nacional, eu penso que a esquerda está muito bem posicionada. A conjuntura é altamente favorável para a candidatura governista. Apenas um desempenho realmente trágico da candidata, durante a campanha, mudaria este prognóstico. É bastante improvável. Esperava até que um crescimento mais significativo da candidatura petista se daria apenas no segundo semestre, com o Horário Político. Mas pesquisas recentes, como Vox Populi e Sensus, mostraram Dilma muito próxima de Serra.

Algumas condições para a confirmação deste favoritismo da esquerda: a aliança com o centro, representado pelo PMDB – que implica inflexão programática e ideológica, mas garante mais tempo de Televisão e uma capilaridade expressiva para a candidatura; manutenção da retomada do crescimento e superação definitiva da Crise (ainda cogita-se que a Crise pode assumir forma de W, ou seja, esboce recuperação para logo em seguida agravar-se de novo, mas parece que o formato da crise foi mesmo de V); ausência de Aécio Neves na disputa nacional. Todos estes fatores, a preço de hoje, devem confirmar-se ao longo do ano. Assim, acho que, sem a candidatura Ciro – que também é do campo da esquerda, Dilma pode vencer no primeiro turno, coisa que nem o Lula conseguiu. Mas o Lula ainda suscitava dúvidas na primeira vitória e disputou a reeleição um ano depois do Mensalão, que causou frustração no eleitorado e desânimo na militância petista.


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Nos estados, a situação do PT não é tão confortável - preço que o partido paga para aumentar as chances de Dilma, e garantir a continuidade do projeto nacional. Lula deixará de usar seu prestigio a favor de muitos candidatos a governador do PT, como Jaques Wagner, na Bahia. Se o quadro partidário brasileiro fosse mais binário, como nos EUA (Democratas x Republicanos), a vida do presidente seria mais fácil. Mas, aqui, o campo governista vai subdividir-se em mais de uma candidatura nos estados. Aí, Lula precisa manter-se neutro, em homenagem à aliança formada em torno de Dilma. Ainda assim, o PT pode conquistar um bom número de governos estaduais. Na própria Bahia, no Acre, em Sergipe, petistas são favoritos. Em estados maiores, a esquerda também pode ter bom desempenho. No Rio e no Espírito Santo, candidatos do PMDB (Sério Cabral e Ricardo Ferraço, respectivamente), devem vencer, apoiando Dilma e com um vice do PT.

Em Minas, há muitos candidatos lulistas – Hélio Costa, do PMDB, Patrus Ananias e Fernando Pimentel, do PT. Diante do impasse entre os nomes, pode-se optar pelo vice-presidente, José Alencar, que unificaria os partidos alinhados com Lula. De qualquer forma, o candidato do PSDB deve crescer muito, puxado por Aécio. No Rio Grande do Sul, Tarso Genro está na frente nas pesquisas, mas terá dificuldade para formar maioria no segundo turno. Além disso, o PT gaucho, principal partido de oposição à Yeda, enfrenta grande dificuldade para atrair outras legendas para sua chapa. O mesmo acontece com Ana Julia, no Pará, apesar de o PT paraense estar no Governo. No DF, o Mensalão do Arruda favorece muito a chapa petista. Em São Paulo, as enchentes e o aumento na criminalidade também favorecem a esquerda, apesar do conservadorismo do eleitorado e da grande aliança formada em torno de Alckmin, que já conta com PMDB, DEM, PTB etc.

A esquerda (hoje, com Lula) consegue maioria no Brasil reunindo, principalmente, sociedade civil organizada – centrais sindicais, representações de categorias trabalhistas, lideranças comunitárias, entidades sociais etc. – e também as classes mais pobres – D e E, e nova classe média – diretamente beneficiadas pelas políticas públicas do Governo. Claro que Lula tem respaldo, maior ou menor, em praticamente todas as classes, todas as regiões, e todos os segmentos da sociedade brasileira. De fato, um maior número de empresários, agricultores, profissionais liberais, aproximaram-se e até se filiaram-se ao PT, nos últimos anos, mudando o perfil do partido. De qualquer forma a classe média tradicional (ou média – alta), na sua maioria, ainda tem forte resistência ao PT e não é contemplada pelo discurso político da esquerda. Creio que o desafio dos petistas e aliados é formular um discurso que consiga manter os segmentos da sociedade dos quais já têm simpatia e, ao mesmo tempo, atrair a classe média mais conservadora. Até porque, estamos construindo um país em que esta classe média será, cada vez mais, majoritária.