segunda-feira, 30 de novembro de 2009

Drops - Novembro

Escândalo Fulminante no GDF

As denúncias de que o Governador Arruda apropria-se e distribui entre aliados políticos
montantes vultosos estão fartamente comprovadas pela Polícia Federal. São documentos, registros de movimentações financeiras, escutas telefônicas e vídeos. Por isso, o escândalo é fulminante. Por mais grave que seja uma denúncia, sem uma prova cabal do envolvimento do governante, fica o dito pelo não dito. Um grampo é avassalador, um vídeo é um golpe de morte. Neste caso, não é nem apenas um vídeo, são vários, envolvendo toda a alta cúpula do GDF, com direito a dinheiro na meia e tudo. Ainda que o Governador diga que a finalidade do dinheiro era outra (comprar panetones), o efeito psicológico que a imagem gera sobre o público é devastador. Todos os analistas dão de barato que Arruda está liquidado eleitoralmente. Eu sinceramente não duvido de nada. Claro que, a essa altura, é muitíssimo improvável que Arruda seja reeleito, mas eu não duvidaria de um desempenho razoável do Governador, em 2010. Acontece que o DEM cogita retirar-lhe a legenda, o que impediria Arruda de disputar as eleições. O candidato precisa estar filiado a um partido com um ano de antecedência para participar do pleito. Neste caso, as forças governistas podem lançar outro candidato. Aí, realmente, o que já era difícil fica quase impossível.

Do Blog do Gadelha: Duas crises financeiras, dois resultados (Elio Gaspari)

"Um malvado devorador de números fez um exercício e comparou as iniciativas tomadas pelo tucanato durante a crise financeira internacional de 1997/1999 com as medidas postas em prática pelo atual governo desde o ano passado. Fechando o foco nas mudanças tributárias, resulta que os tucanos avançaram no bolso da patuléia, enquanto Nosso Guia botou dinheiro na mão da choldra. Entre maio de 1997 e dezembro de 1998, o governo remarcou, para cima, as alíquotas de sete impostos, além de passar a cobrar um novo tributo. A voracidade arrecadatória elevou a carga tributária de 28,6% para 31,1% do PIB. O produto interno fechou 1998 com um crescimento de 0,03% e a taxa de desemprego pulou de 10% para 13%. Em 1999, o salário mínimo encolheu 3,5% em termos reais. A crise financeira mundial de 2008/2009 foi mais severa que as dos anos 90. Em vez de aumentar impostos, o governo desonerou setores industriais, baixou o IPI dos carros, geladeiras e fogões, deixando de arrecadar cerca de R$ 6 bilhões nos primeiros três meses do tratamento. Uma mudança na tabela do Imposto de Renda das pessoas físicas, resolvida antes da crise, deixou cerca de R$ 5,5 bilhões na mão da choldra. A carga tributária caiu de 35,8% do PIB para 34,5%. Em 2009, o salário mínimo teve um ganho real de 6,4%. O desemprego deu um rugido mas voltou aos níveis anteriores à crise."

Heráclito Fortes: sem comentários


quarta-feira, 25 de novembro de 2009

Aniversário de 2 anos!

Eu precisei ir conferir quando foi a primeira postagem e fazer as contas direito, para poder acreditar que já se foram dois anos, desde que eu decidi criar este blog. Talvez seja besteira fazer uma “postagem de comemoração” todos os anos. Acho que os outros não fazem. Mas, sei lá, não gosto de deixar passar em branco. Por mais que nem eu tenha percebido, já se passou o segundo ano de blog, de uma atividade que exige algum compromisso e trabalho. Eu nem teria moral para falar, considerando que tantas pessoas colocam conteúdo novo no blog todos os dias, e eu mal consigo manter a freqüência semanal de atualização. Ao mesmo tempo, eu procuro relacionar o que eu escrevo com várias outras referências, notícias, colunas, opiniões, pesquisas, programas televisivos etc., e isto exige um trabalho que vai além de escrever. Também tento fazer análises que vão um pouco além da reprodução de discursos e da pura panfletagem.

Quando eu criei o blog, em novembro de 2007, eu estava morando em São Paulo. No aniversário de um ano do blog, por pura coincidência, eu estava em uma passagem de poucos dias por São Paulo. Em novembro deste ano, precisei ir apresentar um trabalho em um congresso. Onde? Em São Paulo! Pensei seriamente em escrever o texto por lá (não imaginava que eu tivesse um lado tão supersticioso). Infelizmente, não deu tempo. Escrevo agora que já voltei de viagem. Se isto mudar alguma coisa, espero que seja pra melhor. De fato, acho que o blog de hoje é melhor que o de um ou dois anos atrás. Quando eu pego alguns textos antigos pra ler e gosto, é porque alguma coisa tá errada. Prefiro quando eu detesto textos que eu escrevi há alguns meses atrás, porque isso mostra evolução, mostra que o eu de hoje é melhor do que o eu de ontem. Ano passado eu passei um período assim, meio estagnado, gostando do que eu tinha escrito há meses. Este ano voltei a brigar comigo mesmo, graças a Deus.

Foi o meu primeiro ano no mestrado em Comunicação da UFBA. Pra quem quer falar sobre mídia, nada mais providencial. Esse ano foi mesmo um marco na minha vida, e também no blog, já que a minha proposta aqui é exatamente analisar a cobertura midiática sobre política. Mestrado não é garantia de sucesso pra ninguém, está longe de tornar qualquer opinião inquestionável, diria até que não é nada de mais, mas é algo que eu queria muito e está sendo ótimo. Aqui, nem sempre eu encontrei confirmações pra minhas convicções, sejam as referentes à política, sejam as referentes à mídia. Ao mesmo tempo, encontrei ferramentais teóricos (perdoem o típico academiquês) para aperfeiçoar as minhas análises. Algumas convicções foram confirmadas, outras foram reformuladas, outras precisaram ser destruídas para serem reconstruídas ainda mais sólidas. De maneira geral, muita coisa ficou mais clara e mais fácil de operacionalizar.

A tese central permanece, talvez elaborada de maneira mais cuidadosa: os principais veículos de comunicação fazem um cobertura jornalística sobre os temas políticos que privilegia aspectos da realidade que se alinham com um determinado campo político, isto ao custo de uma melhor compreensão da audiência, da distorção de algumas informações e de um possível desequilíbrio na disputa político-eleitoral. Na minha visão, a principal motivação para isto é a predominância de uma visão de mundo nas editorias políticas, que contempla certos discursos e ideologias (às vezes mais à direita, e às vezes mais à esquerda - mas quase sempre contra o campo político que está na presidência atualmente, e mais favorável ao PSDB / DEM). No caso de alguns veículos, esta cobertura oferece, estrategicamente, aquilo que o público consumidor quer ler. Espero continuar o debate acerca desta tese central e de várias outras, por vários anos. Agradeço nominalmente ao Guto, ao Interferente e à Repórter das Sandálias, mas sou igualmente grato a todos os que visitam este espaço. Parabéns a todos nós! XD

sábado, 14 de novembro de 2009

O apagão, a política e a mídia.

De todas as coberturas prejudiciais à imagem de Dilma, se a menor dúvida, esta sobre o apagão é a de maior poder de fogo. Nem Dossiê da Casa Cívil, nem Lina Vieira, nem currículo “falso”, causaram um prejuízo sequer próximo ao que pode ser causado pelo apagão. Pode-se dizer que o Governo vinha navegando em um verdadeiro mar de rosas. Um presidente extremamente popular, programas e realizações importantes e aprovados pela população, um prestígio internacional sem precedentes, tudo isso coroado com as conquistas dos dois eventos mundiais mais importantes: Copa do Mundo e Jogos Olímpicos. O apagão significou uma turbulência no mar de rosas do Governo. Não acho que este incidente vá alterar a decisão de voto dos brasileiros, mas representa um percalço na trajetória petista pela presidência. Especialmente, por causa da extensão do blecaute. A depender de como o incidente será retratado na mídia, o percalço pode converter-se em uma mancha e ter reverberações sobre as eleições de 2010. E qual tem sido o enfoque predominante na mídia? Eis:



Claro que esta é apenas uma matéria, de um jornal. Mas é o jornal mais importante, e este discurso também está em outros telejornais, nos principais jornais impressos, nos principais sites de notícias etc. Há questionamentos que devem ser feitos sobre os mecanismos de proteção do nosso sistema elétrico? Sim, há. É verdade que a versão do Governo, de que o apagão foi causado por fatores meteorológicos, apresenta falhas e sugere vulnerabilidades? Sim, é verdade. Partir do pressuposto de que chuvas e raios podem deixar mais da metade do país sem luz é bastante preocupante, de fato. Dilma foi Ministra de Minas e Energia, trabalhou no modelo de gestão do Sistema Elétrico brasileiro, e afirmou pouco tempo atrás que tinha uma certeza: “de que não vai ter apagão”. E isto, é verdade? Sim, é tudo verdadeiro. Mas também é verdade que o Sistema Interligado, que pode ter permitido o alastramento do apagão por 18 estados, é considerado o mais adequado para o nosso país. No Brasil, enquanto o Nordeste enfrenta chuva, o Sul e o Sudeste podem passar por secas. Por isso, é importante que usinas hidrelétricas e termelétricas estejam conectadas por grandes linhas de transmissão.

Também é verdade que Dilma, quando disse que não teríamos apagões, estava se referindo aos investimentos que este Governo fez, como dezenas de quilômetros de linhas de transmissão, além da Hidrelétrica de Santo Antônio e a Usina de Jirau. Ao contrário da gestão anterior, que foi incompetente, não se planejou e de repente o Brasil consumia mais energia do que podia produzir (e olha que a Economia tinha um desempenho pífio). O resultado foi o racionamento de energia que os brasileiros tiveram que enfrentar. Concretamente, são duas situações muito diferentes. Entretanto, nada disto impediu Eliane Cantanêde, da Folha, de chegar à seguinte conclusão: “Uma das críticas que governo do PT sempre fez ao governo de Fernando Henrique Cardoso é sobre o apagão de 1999. Agora a gente tem apagão contra apagão, sendo que, neste caso, bate diretamente na candidata Dilma Rousseff”. Cantanhede foi tendenciosa na melhor das hipóteses, e sórdida na pior. Atribuir o apagão à imagem da Ministra Dilma tem evidentes e importantes implicações eleitorais.

Não vou dizer que as implicações eleitorais foram a motivação dos jornalistas, quando optaram pelo viés político na cobertura, mas eles têm perfeita consciência destas implicações. Esta politização do debate não é proibida. A declaração da Ministra de que não haveria apagão é noticiável, não há nada de errado com a veiculação em si deste fato. O primeiro problema é a reprodução e o reforço do discurso cascateiro da Oposição, em detrimento da melhor compreensão do episodio. É claro que há muitas questões pertinentes: Não havia formas de isolar a pane (fazer o chamado ilhamento)? Não teria como construir linhas reservas para estes casos? É possível, viável, custa muito caro? E o Governo não deve temer este debate. Ao contrário, encarar os questionamentos – que certamente continuarão – é a melhor saída. Nisto, o presidente Lula tem sido de uma inteligência ímpar. As declarações do presidente estão sendo no sentido de admitir possíveis falhas, buscar os aprimoramentos necessários, e informar sobre os avanços do setor elétrico nos últimos anos. Pena que nem todas as lideranças do Governo têm esta mesma sensibilidade e sensatez, diante da irritação e desconfiança da população.

O segundo problema da politização do debate é que ela só aparece quando compromete um campo político. Vejam por exemplo as matérias do mesmo JN sobre o acidente no Rodoanel, em que gigantescas vigas de concreto caíram sobre cidadãos. Por muito pouco, ninguém morreu. Absolutamente, não há viés político-eleitoral nas matérias. A cobertura se dá em um nível técnico, sóbrio. A Oposição – que norteou boa parte das matérias sobre o apagão – foi ignorada nas matérias sobre o acidente no Rodoanel. Uma obra que é tida como a menina dos olhos da gestão Serra, e que está prevista para ser entregue exatamente no período em que o Governador precisa de descompatibilizar do cargo para disputar a presidência. Também foi assim com a cratera no metrô, em 2007. Este tem sido um padrão: há cobertura com viés político-eleitoral, contra o Governo Federal, por qualquer Lina Vieira ou tapioca. Contra as administrações tucanas – de presidenciáveis, e nos estados mais importantes – coberturas técnicas. Qual foi a grande crise política que Serra ou Aécio tiveram de enfrentar? Quem conseguir citar uma ganha um presente...

terça-feira, 10 de novembro de 2009

Lula: subperonista, autoritário popular e analfabeto

O presidente Lula nada de braçada na política, de maneira que, como causa ou como conseqüência, a oposição mostra-se tímida, desarticulada e sem agenda. Por incrível que pareça, os principais candidatos oposicionistas à sucessão do atual Governo não assumem a linha de frente das críticas à gestão petista. Ao contrário, raramente Serra ou Aécio assumem um papel de antagonistas do Governo Federal, a não ser que estejam falando para dentro do PSDB. Publicamente, nenhum quer fazer frente ao presidente. Isso tem uma razão evidente: a popularidade de Lula, que intimida qualquer adversário. Assim, o papel da oposição, muitas vezes, é exercido pelos líderes do PSDB / DEM no Congresso; por órgãos como o TCU – que barrou obras importantes do mais badalado Programa do Planalto, o PAC – pela Imprensa; ou ainda pelo presidente do STF, Gilmar Dantas. Para reforçar o coro, o ex-presidente Fernando Henrique publicou artigo em O Globo e no Estadão, fazendo duras críticas ao Lula.

FHC acredita que o PT conduz o Brasil para um autoritarismo popularesco ou “subperonista”, com partidos e sociedade civil neutralizados, organizações sociais cooptadas e empresariado dependente do capital controlado pelo Estado. O líder tucano diz ainda que Lula não aceita críticas, e tentar matar moralmente os adversários. O jornalista Alon Feuerwerker escreveu em seu Blog que o PT caiu como um pato na armadilha de FHC, uma vez que respondeu ao artigo, praticando exatamente aquilo que foi objeto da crítica: os petistas “armaram o pelotão de fuzilamento”, buscaram a todo o momento desqualificar moralmente o adversário e não ofereceram argumentos ao mérito do debate. O próprio Lula afirmou que FHC é movido pelo inconformismo com o sucesso do Governo. Por pior que tenha sido a reação do PT, as críticas de FHC realmente me parecem por demais abstratas, vagas e de difícil assimilação pela maioria da população. O texto não trata de questões específicas, materiais ou que possam ser percebidas no cotidiano do brasileiro, é tudo muito intelectualizado.



O discurso pode surtir efeito sobre os públicos dos jornais – que já são majoritariamente “anti-Lula”. Mas o tiro pode sair pela culatra, quando considerada a disputa política como um todo. É fato que qualquer polarização pública entre FHC e Lula serve monstruosamente ao projeto petista. Claro que isto não exime o PT da necessidade de elaborar uma resposta decente, mas a percepção que a população tem da gestão FHC é acentuadamente negativa. E não é à toa. Kennedy Alencar, em sua Pensata desta semana, lembra que, nos mandatos federais do PSDB, “os fundos de pensão das estatais foram usados politicamente para a formação de consórcios privados que arremataram empresas públicas” – o que tornou gente como Daniel Dantas verdadeiros magnatas. “O Estado, naqueles anos, atuou no limite da irresponsabilidade, como disse Ricardo Sérgio de Oliveira, ex-diretor da área internacional do Banco do Brasil que ficou muito rico nos anos FHC. A Força Sindical, hoje nos colos de Lula, era massa de manobra do PSDB. A aliança com o PFL, hoje DEM, não difere muito da firmada pelo PT com o PMDB”.

Kennedy foi preciso, mas eu iria mais longe. Por mais que o PMDB e outros partidos da base aliada de Lula abriguem em seus quadros verdadeiras escórias da política brasileira, como Renan, Collor ou Sarney; o PFL, além de ter políticos da mesma laia, é o grande herdeiro da Ditadura deste país! Isto nunca é discutido! O partido da Ditadura militar foi subdividido no PFL (hoje, DEM) e no PP (Partido Progressista). Mas o DEMocratas pode ser considerado “o filho preferido”, pois herdou as máquinas eleitorais do Nordeste – simbolizada pelo finado ACM – e o programa partidário da aristocracia sulista – capitaneada pelo Jorge Bornhausen. A diferença entre as alianças do PT com o PMDB e do PSDB com o PFL é que a primeira é diariamente crucificada pela Imprensa e pela classe média brasileira, enquanto a segunda é naturalizada e tomada por adequada Hoje, o PT carrega, de maneira generalizada, a marca da contradição, da incoerência e da permissividade; o PSDB / DEM posa de defensor da moralidade e combatente da corrupção.

Kennedy lembrou ainda que FHC nomeou um procurador-geral da República que ficou conhecido como engavetador-geral da República. Resumindo: quem é o Fernando Henrique para criticar Lula por não respeitar preceitos democráticos? O Governo do PT, em muitos aspectos, representa avanços nas práticas republicanas. Na mesma semana, Caetano Veloso, que declarou voto em Marina Silva, chamou o presidente Lula de analfabeto. Esse tipo de crítica, realmente não tem como transigir. O presidente Lula, pode ter defeitos, mas é um dos grandes políticos brasileiros. Ataques como o de Caetano revelam preconceito e têm de ser colocados no seu devido lugar, o que foi feito pelos próprios jornalistas, em sua maioria. A melhor análise, por incrível que pareça, ficou por conta do Josias de Souza, que citou o próprio Caetano: “Quiseste ofuscar minha fama / E até jogar-me na lama / Só porque eu vivo a brilhar / Sim, mostraste ser invejoso / Viraste até mentiroso / Só para caluniar / Deixe a calúnia de lado / Se de fato és poeta / Deixe a calúnia de lado / Que ela a mim não afeta.