quinta-feira, 30 de abril de 2009

Drops - Abril

A doença de Dilma

O mais absurdo nesta história são as pessoas falando no “benefício” que a doença trouxe à Dilma. Como pode haver benefício para alguém que descobriu um câncer?! Supostamente, a Ministra vai aparecer mais na TV, e ficar mais popular. Primeiro, que isto não é necessariamente verdade. Apareceu nos primeiros dias, hoje já não vejo tanto. Depois, ainda que a Dilma fique mais conhecida, o que ela poderia fazer? Censurar a Imprensa? Ficar escondida em uma caverna? Ao contrário, Dilma esclareceu o que estava acontecendo, como é do feitio de gente séria e responsável. Ressalte-se que não foi a Ministra quem tomou a iniciativa de tornar público o problema. Foi a Folha que começou a especular a respeito. Segundo postagem de Noblat, Dilma tem duas opções: “jogar todas as suas fichas na cura” ou “dividir as fichas entre a cura e a manutenção de sua candidatura”. E o blogueiro afirma: “quem conhece Dilma sabe que ela já fez sua escolha: a aposta dupla”. Ou seja, Dilma é tão viciada em poder, que arrisca a própria vida se for preciso. Depois Noblat esticou a mesma postagem, postou de novo e acrescentou, dentre outras coisas, que “alguém só pode ser considerado curado de um câncer depois de passar cinco anos sem apresentar nenhum sintoma”. Agouro pouco é bobagem...


A Folha, cada vez mais, às voltas com a Ditadura
No texto de 3 semanas atrás, comentei que a Folha andava às voltas com a Ditadura. O jornal fez uma reportagem inócua, que insinuava que a Ministra Dilma Rousseff ajudou no suposto planejamento do seqüestro de Delfim Netto, à época do Governo Militar. Poucos dias depois, o Professor que foi utilizado como fonte na matéria desmentiu completamente o jornal. Um papelão deprimente! Pois bem, no último sábado (25.04), a Folha admitiu que a famigerada ficha da Dilma Rousseff, que havia sido publicada pelo jornal (e até hoje circula em infinitos blogs e sites anti-petistas), na verdade, não tem autenticidade garantida, e tampouco veio ou pode ser encontrada nos arquivos do DOPS. A Folha recebeu a ficha por e-mail, de um grupo de defensores do Regime Militar, que também achou a ficha na Internet. Seria cômico, se não fosse trágico. Como se não bastasse, Élio Gaspari, da Folha, publicou a foto de uma mulher que teria participado de um atentado, em que uma bomba explodiu no Consulado dos Estados Unidos, em São Paulo. No atentado, um jovem que passava pela rua teve parte da perna amputada. A mulher, que não participou da ação, processou a Folha e foi indenizada.


Esse negócio de direta e esquerda deixa muita gente tonta

O CQC tem um quadro chamado Palavras Cruzadas, em que personalidades precisam responder brevemente sobre temas polêmicos, coisas pessoais, políticos etc. Em uma das edições mais recentes, participou Luana Piovani. A atriz respondeu ser de Direita, torceu o nariz quando falaram em Lula (até aí, coerente), entretanto, quando falaram no Obama, Luana Piovani ficou toda ouriçada! Eu pensei “Ué! Ela não acabou de falar que é de direita?!”. O Obama foi eleito pra aumentar o tamanho do Estado, prometeu fiscalizar com muito mais rigor as ações dos bancos e do mercado, comprometeu-se a investir mais nos programas sociais, pertence a um partido que historicamente defende mais gastos do Estado, desconfia muito de corte de impostos e propõe aproximação com países mais pobres (inclusive com Cuba), ou seja, tudo que a Direita condena! Parece que nada disso importa, já que o Obama tá na moda. Eu só gostaria de saber se esta moça tem qualquer noção do que seja ideologia política. Afinal, ser politizado vai um pouco além de ler o Reinaldo Azevedo toda semana, né? Eu acho...




As formas de retratar o presidente


Finalmente, não podia deixar de resgistrar duas fotos de líderes mundiais na reunião da Cúpula das Américas. A primeira foto, completa, foi a utilizada pelo El País; a segunda foto, toda recortada, foi utilizada pela Folha. As imagens falam por si.

Do El País:













Da Folha:




sábado, 25 de abril de 2009

O PSB, a esquerda brasileira e a entrevista bombástica de Ciro Gomes

Neste mês de abril, no dia 16, foi ao ar o programa partidário nacional do Partido Socialista Brasileiro. Particularmente, gostei muito! Bem produzido, com bons argumentos, direto e claro. Protagonizado pelo Governador de Pernambuco e Presidente do Partido, Eduardo Campos (neto de Miguel Arraes), e pelo deputado federal do Ceará e presidenciável, Ciro Gomes, o programa mostrou um partido muito bem resolvido ideologicamente, que acredita, defende e propõem o Socialismo Democrático como alternativa de poder. Ideologia que é compartilhada pelos outros partidos de centro-esquerda, como PT, PC do B, PDT, e até alguns setores do PMDB (que tem de tudo). Mas poucas vezes o Socialismo Democrático é colocado de maneira clara para a população nos respectivos programas partidários. Muitos jornalistas afirmam que o Socialismo está morto, que foi um sonho da juventude dos anos 80 já devidamente invalidado por experiências históricas sem sucesso.


Na verdade, hoje, nós vivemos uma experiência Socialista aqui no próprio Brasil. Experiência esta com Democracia, importante ressaltar! Por Socialismo, acredito que devemos compreender não a total substituição do Capitalismo (aliás, nem vislumbro esta possibilidade), mas, como o programa do PSB sugere, menor compromisso com o capital e mais compromisso com o bem estar das pessoas, com o social, como o nome já diz. No meu entendimento, o pressuposto básico do Socialismo é a constante busca de uma sociedade mais equânime, ou seja, em que não haja tamanha concentração de renda, oportunidades, informações, educação, privilégios, lazer e tantas outras condições dignas de vida. Na prática, o Socialismo deve apresentar alternativas ou compensações ao Sistema Capitalista, fortalecendo o Estado para investir no social e atuar na Economia, disponibilizando mais crédito à população mais pobre, elaborando programas de transferência de renda e financiamento da agricultura familiar e de pequenos empreendimentos, fortalecendo cooperativas, enfim, destinando recursos do país para aqueles que mais precisam, como vem fazendo o Governo Lula. Isto é Socialismo.

Lamentável que hoje esteja no ar o programa de um partido que também possui Socialista no nome, mas que vem alinhando-se a forças neoliberais e pavimentando o caminho até 2010 para José Serra. Segundo a Soninha Francine (sub-prefeita da administração Kassab / DEM, em São Paulo), o Lula faz campanha, o Serra é quem trabalha de verdade, e nas próximas eleições eles estarão ‘do outro lado’ do que está aí. E pensar que a Soninha era candidata a deputada federal pelo PT há 3 anos atrás, rompeu com o partido no ano passado e tentou a prefeitura paulistana, já pelo PPS. As diferenças ideológicas podem ser enfrentadas com argumentos... Muito mais grave são as mentiras de Raul Jungmann, dizendo que Lula vai mexer na poupança do brasileiro como fez Collor, o que é uma mentira descarada, pilantragem mesmo. Como explicou o blog Acerto de Contas, ninguém vai confiscar nada, a discussão é sobre a redução da taxa de juros, para que a Renda Fixa não tenha rendimento inferior à poupança. “Misturar Lula com Collor é um absurdo”, disse o doutor em finanças do blog.

Além dessa “esquerda à direita”, que serve ao PSDB / DEM, as esquerdas governistas no Brasil indicam que estarão em lados opostos em 2010. Ciro Gomes reivindica a candidatura pelo PSB, e o PT vai de Dilma Rousseff. O primeiro adversário de Ciro são as composições partidárias. O PC do B esteve ao lado de Lula nas duas vezes em que chegou à presidência, é difícil que não componha com o PT em 2010. O PDT também está muito alinhado com o Governo, principalmente por intermédio do presidente do partido, Carlos Lupi. Até o PMDB pode fechar com Dilma Rousseff. Hoje, faltam aliados de peso para a chapa do PSB. O outro adversário de Ciro é ele próprio, impaciente, destemperado e provocador, inviabilizou-se em 2002 para a presidência muito em função de declarações ríspidas, que servem como prato cheio aos seus adversários. Finalmente, preciso indicar a vocês uma entrevista de Ciro Gomes ao Kennedy Alencar, no programa É Notícia, do último dia 5. Declarações históricas, bombásticas! Vale muito à pena assistir. Selecionei um trecho, simplesmente IMPAGÁVEL (aquele esquema só de áudio porque não sei se tem como reproduzir o vídeo aqui). Por favor, confiram as duas partes, até o final:

Parte 01 (corrupção no Gov. Lula x corrupção no Gov. FHC)



Parte 02 (O verdadeiro autor político do Real e as mentiras de FHC)

domingo, 19 de abril de 2009

Protógenes novamente na berlinda



Este mês, Protógenes Queiroz voltou à berlinda midiática em função do seu depoimento à CPI dos grampos. Além dele, o banqueiro Daniel Dantas também depôs na Comissão. Ambos estavam amparados por um habeas corpus, que permitia aos depoentes dizer apenas o que quisessem. Protógenes afirmou que foi espionado pelo banqueiro. Segundo Dantas, o vídeo que mostra um dos seus homens subornando um agente da PF é, na verdade, uma montagem. Desde a eclosão da Operação Satiagraha,os principais veículos de comunicação têm dado muito mais destaques às possíveis falhas do delegado, e menos informações sobre os crimes praticados e a origem do magnata Daniel Dantas.

Em seu Blog, Noblat denunciou o debate que tem sido feito acerca da investigação realizada por Protógenes. O blogueiro reclama que qualquer crítica feita ao delegado tem sido automaticamente associada a uma defesa do banqueiro Daniel Dantas. Nas palavras do blogueiro, “Se hesitar em responder que está do lado do delegado é porque você é defensor enrustido do banqueiro [...] Se insinuar que o delegado, [...] tenha exorbitado dos seus poderes é porque você é um “dantista” descarado”. Pobre Noblat, injustiçado, perseguido, incompreendido, não se conforma... No final, a postagem também faz uma série de perguntas: “Mas quem derrubou Protógenes da coordenação da Satiagraha – quem foi? Quem distribuiu trechos de uma fita onde ele parecia pedir para deixar a função – quem foi? Quem ordenou a abertura de inquérito para investigar sua conduta – diga lá? E quem se prepara para denunciá-lo à Justiça por supostos crimes - quem? Resposta a todas as perguntas: o governo do cara, do boa pinta, via Ministério da Justiça e Polícia Federal”. Noblat pretende deixar claro que o Governo Lula não tem interesse em investigar Dantas, e que também investe contra o delegado!

Agora vejam que distorção mais desonesta a do Noblat. A questão não é a retidão dos procedimentos do Protógenes, não se trata de defender ou indignar-se diante dos excessos do delegado, justificar ou não os meios utilizados na investigação. A questão é o momento em que boa parte da mídia e jornalistas como o Noblat escolheram para iniciar esta empreitada contra a polícia federal. Inúmeros brasileiros sofrem todo o tipo de abuso, especialmente no interior deste país afora. Menores são encarcerados, mulheres são mantidas em celas com homens, inocentes são detidos sem direito à ampla defesa, as mais sórdidas formas de violações de direitos humanos ocorrem diariamente, incluindo tortura! Sabemos que, com freqüência, muitos delegados adotam este tipo de expediente como rotina. Pois bem, meus amigos, tudo isto passa ao largo de Noblat e Cia. Entretanto, bastou mexer com os interesses de Daniel Dantas, o influente-mor (já que o crápula sou eu), para presenciarmos uma enxurrada de críticas a um delegado. Alguma outra Operação federal despertou tanta indignação por parte dos jornalistas? Ou fez programas especializados em políticas promoverem profundos debates sobre o Estado Democrático de Direito? Tente lembrar...

Portanto, absolutamente, não é que todo crítico de Protógenes seja automaticamente um defensor de Dantas. Ao contrário, tudo indica que o delegado cometeu mesmo abusos. As incongruências no relatório por ele produzido já foram demonstradas por muitos jornalistas. O problema é esta indignação seletiva de setores da mídia, é este resgate dos direitos humanos apenas para os humanos que convém, é esta combatividade dirigida. Em muitas cidades do interior deste país, parece que o tempo parou no que tange direitos humanos, mais que isso: os Direitos e o Estado inexistem, o poder público não chega por nenhum canal. Mas foi somente depois da prisão de um magnata – com tentáculos da política à mídia – que o Brasil foi dormir Democracia e acordou Grampolândia. De repente, lembraram a importância do Estado Democrático de Direito. Veículos de comunicação investiram contra a Polícia Federal, naquilo que procede e naquilo que não procede! O Willia Bonner afirma em seu Jornal que grampearam o presidente do STF e o Senador do DEM, mas até hoje isso nunca foi checado, nunca comprovado. A Veja lançou a tese, mas é a palavra dela contra a da Inteligência Brasileira. Sobre as perguntas que o Noblat fez no final do seu post, de fato, foi o Governo Lula que repreendeu, afastou e investiga Protógenes. Agora eu faço outra pergunta ao blogueiro: em que Governo a Polícia Federal pode investigar, prender e reunir provas contra o banqueiro bandido?

segunda-feira, 13 de abril de 2009

A Folha de SP às voltas com a Ditadura

A Folha de São Paulo do dia 05 deste mês trouxe, em primeira página, a seguinte chamada “Grupo de Dilma planejou seqüestro de Delfim Netto”. A chamada era para uma reportagem das páginas A8 a A10, cujo conteúdo afirma que Dilma Rousseff tinha conhecimento do suposto atentado. A Ministra, no entanto, nega. O jornal baseou as informações da reportagem em entrevista com o professor Antônio Roberto Espinosa, que foi o responsável nacional pelo setor militar da organização VAR-Palmares (em que Dilma militou), e em um suposto mapa que teria a localização de Delfim, à época do planejamento do seqüestro. A matéria vem “do nada”, cai de pára-quedas, retira um passado distante do seu contexto, com o propósito aparente de agredir gratuitamente Dilma Rousseff, que vem consolidando uma candidatura de continuidade ao Governo petista. Mas a Folha foi além, omitiu fatos da maior relevância e deliberadamente distorceu informações, para prejudicar ao máximo a Ministra.

Em carta posterior à matéria, Espinosa declarou-se chocado com a edição da entrevista, cujo conteúdo divergiu gravemente do que foi declarado a uma jornalista que o professor sequer conheceu pessoalmente, apenas conversou por telefone e e-mail. Segundo Espinosa, o tal mapa era na verdade um croqui, que só foi liberado para a reportagem em função de autorização por escrito concedida pelo professor junto ao Superior Tribunal Militar. Concedida, para que a jornalista conhecesse melhor a atuação de resistência política praticada POR ESPINOSA, não por Dilma. De qualquer forma, o entrevistado disse que jamais tinha visto o desenho. Portanto, era impossível que se tratasse de um planejamento da VAR-Palmares para seqüestrar Delfim, já que o responsável por estes tipos de ações não reconheceu o material. Note-se que Espinosa autorizou a liberação de documentos pelo STM à jornalista, recomendou que o croqui fosse mostrado ao próprio Delfim e é defensor histórico da abertura dos arquivos da Ditadura.

Ao contrário do que foi publicado, o entrevistado desmentiu ter dito que Dilma sabia do planejamento do seqüestro. Aliás, Espinosa falou precisamente o contrário: que Dilma sempre teve uma militância somente política, ou seja, jamais participou da execução ou do planejamento de ações militares, e que, como responsável por tais ações, assume a responsabilidade moral e política das iniciativas do grupo. “Jamais eu diria a qualquer pessoa, mesmo do comando nacional, algo tão ingênuo, inútil e contraproducente como ‘vamos seqüestrar o Delfim, você concorda?’”, declarou Espinosa na carta. O entrevistado também desmentiu o jornal no que se referiu a um detalhamento do plano e à definição de data e local, desafiando os editores a mostrar a gravação em que ele teria dito isto à repórter. Para Espinosa, “os editores da Folha transformaram um não-fato de 40 anos atrás (o seqüestro que não houve de Delfim) num factóide do presente (iniciando uma forma sórdida de anticampanha contra a Ministra)”.

Eu ainda encontro dificuldades para entender este episódio. Será que alguém conseguiria ver esta matéria como o exercício de um jornalismo “isento”, simplesmente combativo e fiscalizador dos integrantes do Governo vigente? É possível supor que esta postura aguerrida diante da Ministra Dilma também é desferida pela Folha contra políticos de outros partidos e outros Governos, como o Governador José Serra, por exemplo? Estavam os editores chefes e a repórter que produziram esta matéria apenas trabalhando para levar as melhores informações possíveis para os seus leitores? Não é mais sequer razoável sustentar esta tese... É evidente que qualquer entrevista será editada, nenhum jornal publicaria na integra. Isto é perfeitamente compreensível, natural, diria até inevitável. Mas o que sucedeu foi uma forte distorção das declarações do entrevistado, e pior: com objetivos políticos e – diante do quadro que se desenha – objetivos eleitorais. Agora a Folha vive às voltas com a Ditadura. Primeiro aquele editorial babaca da Ditabranda, agora essa demonização daqueles que combateram (quando não morreram) um dos mais terríveis momentos da nossa História.