sábado, 30 de agosto de 2008

O retorno de um Império

Não é de hoje que a posição dos Estados Unidos como principal potência do mundo precisa ser relativizada. O poderio político, econômico, financeiro dos americanos ainda é inquestionável, mas hoje deve ser flexibilizado, principalmente, por causa do potencial chinês. O PIB da China é hoje o quarto maior do mundo, atrás dos EUA, Japão e já no calcanhar da Alemanha. A previsão é que, dentro de algumas décadas, antes da metade do século, a economia chinesa seja a maior do mundo. Este crescimento acelerado, a uma taxa média de 10% ao ano, já está na sua terceira década, vem desde o início dos anos 80. Por causa da imensa população, a renda per capta dos chineses não é das maiores, mas os avanços sociais no país são expressivos. O número de habitantes sob extrema pobreza baixou de 250 milhões em 1978 para 14,79 milhões em 2007, de acordo com estatísticas nacionais sobre a observação da pobreza rural [1]. Para 2008, a meta é investir US$ 1,11 bilhão em programas para redução da pobreza [2].

Nunca houve dúvidas de que a China será uma das grandes potências do futuro. Depois destas Olimpíadas a dúvida é: este futuro já chegou? Os jogos olímpicos foram muito ilustrativos deste novo momento mundial. Já na abertura, a China deixou perfeitamente claro que consegue proporcionar um espetáculo sem precedentes. É difícil até encontrar uma palavra que esteja à altura daquela apresentação. Incrível, magnífica, arrebatadora... Não! Ainda não chega perto da magnitude daquele momento. A sincronia perfeita entre multidão, tecnologia, arte, bom gosto, história de um povo. Tudo minuciosamente ensaiado. Seria mesmo impossível que a China não desenvolvesse uma expertise em manusear multidões. São 1 bilhão e 300 milhões de habitantes. É a maior população do mundo, cerca de um quinto da população mundial. Há relatos de que, diante das superlotações em banheiros públicos, os chineses inventaram a fralda para adultos [3].

Com esta gigantesca demanda populacional, o país precisou providenciar soluções à altura. O Transrapid, em Xangai, é um trem magnético suspenso, que atinge a velocidade de até 430 km/h. É um salto tecnológico de nível verificado em poucos países. Neste quesito, o Japão é uma grande referencia asiática. O PIB japonês ainda supera o chinês, e mais importante: o poder aquisitivo no Japão é muito maior. Dentre várias diferenças, os dois países têm em comum uma cultura milenar. Tradições fortemente respeitadas até hoje que precisam conviver com o que há de mais recente e inovador. Em contextos muito distintos, China e Japão tiveram que aprender a valorizar e conviver com as tecnologias. Para o Ocidente, sempre foi bem mais fácil. Progresso, dominação, acumulação, são a tônica da cultura ocidental, e foi para este propósito que serviu o desenvolvimento tecnológico. Mas o Oriente sempre teve outra concepção de “progresso”, outra relação com o ambiente e outra lógica de ocupação do espaço.

No livro “A Pele da Cultura”, Derrick de Kerckhove escreve que “quando uma nova tecnologia é introduzida, lança uma guerra não declarada à cultura existente”. No livro “The Development of the Japanese Transportation System”, encontramos que, durante muito tempo, o povo japonês resistiu a comprar carros particulares: “um carro implica individualismo, independência, decisões súbitas, tudo coisas que vão contra a mentalidade japonesa”. Nas últimas 3 décadas, na China, populações maiores que a do Brasil saíram da miséria, sem ter o que comer e vestir, para um novo mundo de desenvolvimento. O processo de industrialização em massa que ocorreu no Japão e ocorre na China é marcado pela intensidade. Os asiáticos, de um jeito ou outro, aprenderam a se adaptar. Não é qualquer nação que tem a habilidade de integrar o velho e o novo. Para usar os termos de Kerckhove, “mudar de pele”. O autor traça um interessante paralelo, analisando o Cinema.

Como expressão artística e retrato simbólico da cultura, o Cinema revela muito sobre uma nação. O Godzilla, invenção japonesa, pode ser uma metáfora do caos moderno no Oriente. O trânsito raivoso, lento e mal cheiroso invade as metrópoles, tal qual o monstro. O engarrafamento é o Godzilla por excelência. Há, no mito japonês, forte influência do velho tema do dragão chinês. Mas se o primeiro momento é traumatizante, agora os orientais apropriam-se das tecnologias. No Cinema, a melhor referência são os Transformers, outra criação japonesa. A abertura das Olimpíadas mostra como os chineses também estão à vontade com o avanço tecnológico. É a máquina e o homem, o orgânico e o inorgânico, em momentos de profunda integração. O Ocidente está em crise por ter criado um modelo econômico-produtivo que destrói o planeta. Toda a humanidade trabalha para tentar reverter este quadro e garantir um futuro. Por ironia do destino, ou por uma questão de justiça, quando este futuro chegar, ele terá um novo líder: o Oriente.

sábado, 23 de agosto de 2008

Drops - Agosto

Pesquisa Ipea - Repercussões I (Lucia Hippolito)

Ainda sobre a diminuição da miséria e pobreza no Brasil, revificada pelo Ipea, Lucia Hippolito fez um comentário no Jornal da CBN. A apresentadora, Fabíola, fez uma introdução dizendo que o presidente do Ipea tinha creditado este feito, dentre outros fatores, a alguns programas sociais do Governo (além do crescimento da Economia). Lucia disse o seguinte: “Com todo o respeito, porque ele conhece a pesquisa melhor do que eu, vou pedir licença pra discordar do presidente do Ipea. Os programas sociais do Governo retiraram muita gente da miséria. Eles deixaram de ser miseráveis e passaram a ser pobres. O que aumentou a classe media foi o crescimento econômico, o aumento do emprego”. Eu resisto muito a acreditar que a Lucia não tenha conhecimento sobre a questão. Só posso concluir que há má fé, vontade de retirar do Governo um mérito que ele de fato tem. A Lúcia deve saber perfeitamente que os programas sociais do Governo vão muito além do Bolsa Família. Pronaf e Conab, por exemplo, foram fortemente expandidos pelo Lula. Estes programas permitem a prosperidade de pequenos empreendimentos, principalmente nos municípios do interior, e retiram famílias da pobreza! Não apenas da miséria. Ouça o comentário da Lucia:



Pesquisa Ipea - Repercussões II (G1)

A mídia atingiu um nível tal de dissimulação e distorção de conteúdos, que vem transformando suas opiniões em fatos, e os fatos em opiniões dos outros. É bom que eu vou colecionando aqui no Blog todas as pérolas. Já registrei as da Veja, Folha e Globo News há duas postagens atrás. Dessa vez, pego a Lucia e o G1. A imagem abaixo foi retirada do Blog do Gadelha. Mas eu trago pra cá porque é realmente impagável. O título da matéria é confuso, muito mal formulado e chega a ser ambíguo. Os jornalistas globais podem ser tudo, mas certamente não são maus redatores. A não ser, talvez, quando convém.



Guerra e Paz

A maioria dos autores da Globo são muitos bons. Em compensação, os que são ruins... abusam do mal gosto! O que é o Carlos Lombardi? Uga Uga, Kubanacan, Pé na Jaca, e agora Guerra e Paz. Sempre o mesmo Pasquim, fazendo o mesmo personagem, os mesmos diálogos repletos de ironias, metáforas, frases cortadas ou insinuações. Incrível como o autor ainda escreve todos os personagens da mesma maneira! Acha que faz um texto ágil, inteligente e bem humorado. Mas continua apelativo, confuso e forçado. Piadinhas demais, referências sexuais demais, futilidade demais. Humor, coerência, dramaturgia de menos. A estória é exagerada, confusa, tenta muita coisa e não consegue nada. Um aglomerado de esquetes perdidos, sem nexo, sem graça, bem pastelão. Em inglês existe a expressão "overwritten", não sei traduzir mas é perfeita para o Lombardi.

Marco Zero das eleições

Começou o horário eleitoral nas maiores cidades. Muitos municípios não têm programação para os seus candidatos, o que representa um grande prejuízo para a democracia. É claro que a televisão, pelo alcance que tem, desempenha um papel fundamental na mediação entre candidato e eleitor. É a melhor forma para massificar as campanhas e divulgar as propostas. Em termos de marketing político, eu destaco o programa da Marta Suplicy. As imagens, a direção, os efeitos,
até o texto, mesmo com os clichês de sempre, tudo muito bem feito. Está entre o que eu já vi de melhor. O publicitário responsável pela campanha, João Santana, é realmente o melhor do ramo. Muito superior ao Duda Mendonça, que fez a campanha da Marta em 2004, e construiu uma imagem “vulnerável” que não correspondia à personalidade da candidata. Duda também foi o responsável pela campanha de Lula em 2002, e nestas eleições trabalha com o Crivella, no Rio, e com a Luizianne Lins, em Fortaleza. Abaixo estão os trabalhos do Duda em 2004, para Marta; este ano, para Luizianne; e o trabalho de João Santana, para Marta, que é uma adaptação do jingle de Lula em 2006:

Marta, 2004 (Duda).
Boomp3.com

Luizianne, 2008 (Duda).
Boomp3.com

Marta, 2008 (João Santana).

Boomp3.com

sábado, 16 de agosto de 2008

Eleições 2008: Top 03 - Imprevisíveis / Previsíveis

TOP 03 - Capitais mais imprevisíveis

Rio de Janeiro
No Rio, sem dúvidas, a eleição será das mais imprevisíveis deste ano. Aliás, creio que o cenário eleitoral de hoje, no Rio de Janeiro, está maquiando o que acontecerá no dia da votação. Ao contrário do que muitos pensam, acho que o único realmente garantido no segundo turno é Eduardo Paes. O PMDB não brinca em serviço em capitais tão importantes, principalmente quando está no Governo do Estado. Além de “bala na agulha”, Eduardo conta com o maior tempo de propaganda: 6 min. e 53s. Os atuais líderes nas pesquisas dificilmente permanecerão nestas posições. Crivella tem um eleitorado fiel (literalmente), no entanto, não deve apresentar crescimento. Digo isso baseado no tempo de propaganda eleitoral de que o Bispo dispõe: 1 min e 56 s. Muito pouco! A segunda colocada, Jandira Feghali, tem 2 min. e 32 s., por isso também deve cair cada vez mais até a votação. Outra candidata sem maiores chances é Solange Amaral, do DEM, que tem 3 min. e 40 s. de horário eleitoral, mas vai enfrentar todo desgaste das administrações César Maia. Gabeira tem a segunda maior fatia de horário eleitoral, 4 min. e 50 s., é um bom tempo e pode alavancar a candidatura. Outro que tem condições de crescer na eleição carioca é Alessandro Molon, que é jovem, carismático, pouco rejeitado, tem 4 min. e 9 s. de mídia e conta com uma militância aguerrida. Entretanto, Molon ainda tem desempenho pífio nas pesquisas. Há muitas possibilidades em aberto.

Salvador
Na capital baiana, há apenas 4 nomes realmente competitivos. Entretanto, está muito difícil prever os destinos deles. Quem está praticamente garantido no segundo turno é ACM Neto. Após sofrer uma estrondosa e inesperada derrota em 2006, o Carlismo vê uma grande oportunidade para recuperar forças. Neto é o terceiro colocado no rank do horário eleitoral, mas tem um tempo respeitável: 5 min. e 42 s. O segundo colocado nas pesquisas é Antônio Imbassahy, que já pertenceu ao Carlismo, foi prefeito de Salvador por 8 anos e agora tenta voltar ao poder pelo PSDB. Imbassahy tem 5 min. e 26 s. de mídia. O atual prefeito, João Henrique Carneiro, foi eleito pelo PDT, mas hoje está no PMDB. João está em terceiro lugar nas pesquisas de intenção de votos, mas pode reverter esta situação e chegar ao primeiro turno, já que tem a maior fatia da propaganda eleitoral: 9 min. e 27 s. O problema é que os soteropolitanos avaliam negativamente o mandato de João e podem buscar uma alternativa. É com esta possibilidade que Walter Pinheiro, do PT, está contando. Walter defenderá a união das 3 esferas de poder e tem o segundo maior tempo de mídia: 7 min. e 18 s.

Manaus
Em Manaus também temos uma situação que provavelmente será alterada. O ex-governador Amazonino Mendes lidera a disputa com muita folga! Está com mais da metade das intenções de votos. O segundo colocado, com apenas 16%, é o atual vice-governador Omar Aziz, do PMN. O prefeito que postula a reeleição, Serafim Corrêa, do PSB, está em terceiro, tem 8%. O candidato do PT, Francisco Praciano, é o quarto colocado com 6%. Ainda que Amazonino continue na liderança, dificilmente vencerá no primeiro turno, já que tem menor horário eleitoral, dentre os 4 principais concorrentes: 4 min. e meio. É um tempo razoável, mas muito inferior ao do atual prefeito, Serafim Corrêa, que contará com 9 min. O problema do prefeito é a gigantesca rejeição. Omar Aziz, segundo colocado nas intenções de voto, terá quase 7 min. e também pode crescer até a votação. Outro candidato com algum potencial é Francisco Praciano, do PT. Apesar de pouco popular, o deputado federal petista tem aproximadamente 6 min. de mídia e é a maior novidade desta eleição, já que está enfrentando um ex-governador, o atual vice-governador e o atual prefeito.


TOP 03 - Capitais mais previsíveis

No sentido contrário, as 3 capitais com as disputas mais previsíveis deste ano são Curitiba, Vitória e Goiânia, em que estão garantidas as reeleições dos prefeitos Beto Richa (PSDB), João Coser (PT) e Íris Rezende (PMDB), respectivamente.

quinta-feira, 7 de agosto de 2008

Para mídia, "Ipea é do PT".

No último dia 05, o Ipea – Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada – divulgou pesquisa mostrando, basicamente, que a pobreza diminui enquanto a classe mais rica e principalmente a classe média aumentam no Brasil. O colunista do site da Veja, Lauro Jardim, alegou que a divulgação deveria “enfatizar” também que a maior queda da pobreza deu-se entre 1993 e 1995, durante o Governo FHC. Eu pergunto: e de que adiantou a diminuição da pobreza durante a década de 90 se, quando o Governo tucano terminou, o grupo dos pobres já tinha aumentado tudo de volta? Foi só a partir de 2003 que a pobreza passou a encolher novamente. Além disso, não foi apenas o Ipea que comprovou a expansão da classe média durante o Governo Lula. O próprio Datafolha já fez uma pesquisa neste sentido, ainda em 2007. O The Economist frequentemente faz matérias com este teor. A Fundação Getúlio Vargas lançou uma pesquisa junto com o Ipea apontando para os mesmos resultados. E aí, são do PT também?

O “Entre Aspas”, da Globo News, chamou dois economistas para mostrar que o Brasil ainda tem inúmeros problemas. Eu acho válido mostrar que ainda há muito que se fazer. Mas há uma clara resistência da mídia em aceitar que muitas coisas estão melhorando. A Folha criou um FÓRUM para perguntar quem “concordava” com a pesquisa. Como se o Ipea tivesse divulgado uma opinião. O presidente do Instituto procurou a imprensa e falou “Olha, eu acho que a pobreza no Brasil tá diminuindo... Não posso afirmar com certeza! Mas eu tô com essa impressão, viu?” Chega a ser ridículo! O Ipea divulgou uma pesquisa técnica! Os dados foram levantados por profissionais, com o todo critério. Não se trata de “concordar” ou “discordar”. O avanço social no Brasil é um fato! Agora, se há segmentos da sociedade brasileira que não GOSTAM deste avanço é outra coisa! E não paira nenhuma dúvida que estes segmentos existem.

Não é possível generalizar, mas parte de uma classe média alta aqui no Brasil (a qual eu já me referi em outros textos) torce pra que tudo dê errado, especialmente na área social. É para esta classe média alta que veículos de comunicação como Globo News, Folha e Veja falam. São pessoas que simplesmente não aprovam determinadas ações de promoção social. Essas pessoas pensam que o Bolsa Família estimula o desemprego (mesmo quando todos os dados demonstram o contrário), que Sem Terra é vagabundo arruaceiro, que o pobre é pobre porque não se esforçou o suficiente. Essas pessoas adoram doar uma cesta-básica, roupas e objetos usados, dão um presente qualquer pra alguém mais humilde no fim do ano, fazem caridade, mas odeiam qualquer tipo de ascensão de classes. Fazer parte de um grupo financeiramente privilegiado é muito conveniente por uma série de motivos.

Além do próprio poder aquisitivo, tem uma coisa de status, uma superioridade simbólica, aguça a vaidade. Depois, é cômodo ter à disposição uma camada social mais vulnerável, uma empregada doméstica que trabalha um mês inteiro por R$ 300,00; um rapazinho que lava o carro por R$ 5,00; um pedreiro que aceita fazer a reforma por um precinho bem camarada depois de uma boa pechincha. Eu sei que é terrível pensar sob esta perspectiva, mas infelizmente eu estou convencido que é esta a mentalidade de muita gente. Esquecem que maior que as vantagens advindas da superioridade financeira é o caos gerado por uma sociedade tão desigual. Não adianta! Essa classe média alta nunca vai aprovar os programas sociais, nem o Governo Lula, nem o movimento Sem Terra, também nunca vão aceitar que a pobreza é resultado de um modelo econômico injusto e de um Poder Público ausente. Bom, agora parece que nem tão ausente assim...

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