quinta-feira, 26 de junho de 2008

Drops - Junho

"Quem não viu, vai ver" (mas pode não acreditar)
Como pode um programa em rede nacional ter um erro tão grosseiro logo no título? Eu fico pensando, este título foi criado por alguém, que obviamente não entende muito de gramática. Mas, muitos profissionais desta equipe são igualmente responsáveis pelo mico. Nenhum produtor percebeu? Os apresentadores não vêem que está errado? Como o diretor mantém isso no ar?! Será que, dos tantos telespectadores que ligam para ganhar prêmios incríveis (R$ 50,00 na maioria das vezes), nenhum aproveitou pra avisar “olha, valeu pelos 50, mas não se separa sujeito de predicado com vírgula”. Que decadente! Quem não viu vai ver (sem vírgula) um erro gramatical grosseiro na TV, se sintonizar o SBT, sábado à tarde.

Ana Maria Braga e a sanidade
Há algum tempo, na expectativa de votação da nova CPMF - CSS, Ana Maria Braga, indignada, criticou a empreitada “da base do Governo Lula” (detalhe enfatizado na voz de Ana). No bloco anterior, a apresentadora alertou que a discussão era importante para os “cidadões” (?). Na volta do comercial, já acompanhada pelos seus convidados – Alexandre Pires, cantor de pagode, e Alexandre Slaviero, ator descoberto em Malhação – Ana Maria perguntou o que eles achavam do novo imposto. Os rapazes pouco puderam contribuir com a discussão. A apresentadora continuou com seus questionamentos: “A saúde melhorou depois da CPMF?”, “Melhorou o policiamento?”, “Melhorou [...], sabe, a sanidade do país?” [1]. Aí eu fiquei bastante confuso. Sanidade?! Depois entendi, quando ela falou em “esgotos”. Era saneamento! Foi tudo tão lastimável, que eu resolvi nem comentar aqui. Mas recentemente li uma notícia que não podia passar em branco: Ana Maria esteve ao lado de Paulo Maluf, durante o lançamento da candidatura a prefeito de SP [2]. O marido da apresentadora será candidato a vereador pelo mesmo partido. Mais uma vez, precisa nem comentar...

Reviravoltas no horário nobre: A Favotira x Os Mutantes x Pantanal

Duas semanas depois da estréia, “A Favorita” marcou mais de 40 pontos no Ibope, pela primeira vez, no dia 18 de junho [1]. Para Daniel Castro, da Folha, a atual novela das 21h teve a pior estréia da década e provavelmente a pior da história global. “Definitivamente, a hegemonia das novelas da Globo acabou”, declarou o colunista [2]. Por sua vez, “Os Mutantes” tem conseguido índices de audiência surpreendentes para a Record [3]. Agora, com a reprise de “Pantanal”, o horário nobre vai ficar ainda mais imprevisível. Durante a exibição de "Pantanal", a audiência da Globo tem saído de mais de 30 prontos para 24, 23, em média. A tendência não é exclusividade do horário nobre. Apesar de ainda ser líder, com cerca de o dobro de audiência da Record, a Globo caiu 20% no Ibope nos últimos cinco anos, na Grande São Paulo, entre 7h e meia-noite, comparando dados do primeiro semestre de cada ano. Já a audiência da emissora de Edir Macedo cresceu 112% no mesmo período e faixa de horário [4].

O Jornal Hoje que não me deixa mentir!
Eu tava assistindo ao Jornal Hoje, quando exibiram matéria sobre a operação da Polícia Federal que investiga desvios dos recursos do PAC [1]. Citaram logo de cara o exemplo da prefeitura de Palmas como uma das investigadas, e esclareceram: "do PT". Logo em seguida, na mesma matéria, falaram que a operação também passou por Cabo Frio. Aí o partido foi omitido. No caso, é o PSDB. É claro que o jornalista não é obrigado a citar TODOS os prefeitos e TODOS os partidos envolvidos na investigação. Até porque isso seria inviável na TV e há muitas outras informações mais relevantes para serem veiculadas. Mas, pô, SEMPRE que a legenda envolvida nas denúncias é o PT, isso é explicitado na matéria! A denúncia que envolve um é imediatamente generalizada e vira munição contra "o partido" e todos os seus membros. O PT vai se tornando sinônimo de corrupção, num processo de criminalização patrocinado pela grande mídia. Enquanto que, em outros casos, o partido é “esquecido”.

Apesar de você, amanhã é outro dia.
Segundo o IBGE, o desemprego caiu para a segunda menor taxa já registrada [1]. Os levantamentos de Maio (divulgados em Junho) mostraram que o desemprego caiu pra 7,9% da população economicamente ativa. A única vez em que este percentual ficou mais baixo foi em dezembro de 2007 (7,4%). E ainda tem gente dizendo que o Lula é popular porque brasileiro não gosta de trabalhar e quer viver de Bolsa do Governo. O Bolsa Família ajuda, óbvio. Mas não é só isso. O Lula é popular, principalmente, porque tem mais trabalho pro povo. O salário mínimo, antes de 2003, comprava cerca de 1 cesta-básica; hoje, compra quase duas. Isso tem um impacto tremendo em regiões como o Nordeste. Além de programas como o Pronaf, Conab, Territórios da Cidadania que fomentam a economia e levam infra-estrutura aos municípios mais pobres. Projetos como esses são capazes de mudar a cara de um país, e são o grande legado que o Governo Lula deixará.

domingo, 22 de junho de 2008

A missão impossível das forças armadas brasileiras. => Vote na ENQUETE!

No Morro da Providência, Rio de Janeiro, 3 jovens foram torturados e assassinados com tiros à queima roupa (46 ao todo). Segundo nota oficial, tropas do exército fizeram a detenção dos rapazes por serem “suspeitos e terem desacatado militares de serviço”. O tenente Vinícius Ghidetti, preocupado com a repercussão do caso junto à tropa, recusou-se a liberar os detidos e pensou em “aplicar um pequeno castigo”. Os jovens foram entregues aos traficantes pelo tenente. Foi a sentença de morte dos garotos. O Ministério Público Militar pediu à Justiça a prisão de 4 dos 11 militares acusados. É estarrecedor que integrantes das forças armadas tenham este tipo de relação e proximidade com o crime organizado. Ainda que este tenente não esperasse que os rapazes fossem executados, nada daria a ele o direito de condenar ou aplicar qualquer castigo a estes jovens. Que tipo de mente doentia, sádica brinca com vidas desta maneira?

Vamos esperar que estes militares sejam minoritários Eu não quero crer que este seja o perfil dos oficiais formados pela AMAN (Academia Militar das Agulhas Negras). As tropas estão presentes no Morro para executar as obras de engenharia e fazer a proteção do projeto Cimento Social, do Senador Marcelo Crivella, candidato à prefeitura do Rio de Janeiro este ano. O trágico episódio deve provocar um debate maior: será que as forças armadas devem atuar em questões de segurança pública relativas a conflitos urbanos? Os militares desenvolvem trabalhos imprescindíveis na Floresta Amazônica, em comunidades distantes, nas fronteiras do país, em construções de pontes, estradas, obras de grande porte etc. Estes trabalhos são de interesse nacional, suprapartidários, e devem continuar. O caso do Cimento Social é diferente, é de autoria de um Senador específico, integrante da base aliada do Governo Federal. E agora fica a dúvida: será que o exército seria acionado em um projeto elaborado por um Senador da oposição?

Este tipo de especulação deve passar a milhas de distância dos militares, aliás, de qualquer instituição republicana. Eu não acho que o Senador que idealizou o projeto seja em alguma medida responsável pelas mortes. Ninguém poderia esperar que um tenente do exército fosse proceder desta maneira. Mas qualquer envolvimento político-partidário não é saudável e vulgariza o papel das forças armadas. Só isso já seria motivo suficiente para não permitir a presença dos militares nestas obras. Mas este não é o único problema. O risco gerado por missões que levem à presença do exército nas favelas está na possibilidade de o crime organizado corromper até mesmo as forças armadas. Os militares não foram preparados para estas questões de segurança urbana (a não ser em casos extremamente graves: estado de sítio, intervenção federal e coisas do gênero). De maneira geral, a solução para a segurança pública não passa pelas forças armadas.

Aliás, estabelecer segurança pública não passa por nenhum tipo de enfrentamento, passa pela prevenção, fazendo o Estado chegar às periferias, gerando oportunidades. A repressão é secundária e só funcionará quando forem eliminados os braços do crime nas instituições oficiais. Enquanto existir a banda podre da polícia (e a cada levantamento descobre-se que ela é maior do que podíamos supor), será impossível fazer qualquer coisa contra o tráfico. As instituições de segurança pública precisam sofrer uma verdadeira REVOLUÇÃO. As questões locais deveriam ser atendidas por uma polícia municipal, com estrutura organizacional totalmente nova e que trabalhe em conjunto com a política estadual. A propósito: de que adianta duas forças policiais, Civil e Militar, totalmente desconexas, refratárias e corrompidas? As polícias estaduais precisam ser unificadas. Só uma polícia bem equipada, bem remunerada, inteligente, transparente, HONESTA e integrada será capaz de combater o crime.

terça-feira, 17 de junho de 2008

É isso que eu chamo de jornalismo unilateral

É possível que um telejornal faça a cobertura de determinadas denúncias, sem adotar um viés político. Opte por não citar nomes, nem partidos, preservando os envolvidos, talvez partindo do pressuposto de que todo mundo é inocente até que se prove o contrário. É justo, certamente é um posicionamento editorial mais sóbrio e contido. Por outro lado, se o jornal preferir, também pode dar nomes aos bois, estampar a cara de governantes mesmo sem haver nenhuma prova concreta, e com isso desestabilizar um Governo ou um político individualmente. Basta deixar claro que ainda é uma denúncia e não uma sentença. É uma postura mais agressiva, mas não necessariamente condenável, já que muitas vezes trata-se de dinheiro público e a audiência tem o direito de saber o que se passa, com todos os detalhes. O que não pode é mudar o tipo de cobertura de acordo com o partido em questão.

Devido às denúncias envolvendo a venda da Varig, a Ministra Dilma Rousseff voltou a ganhar espaço na mídia. As acusações partem de Denise Abreu, ex-presidente da Anac, que está desempregada desde o Caos Aéreo e é tida por muitos como ressentida com o Governo [1]. Existe ainda a especulação sobre um encontro que Denise Abreu teria tido com Tasso Gereissati (ex-presidente e político influente do PSDB) antes de tornar públicas as suas denúncias [2]. Para Lula, Dilma virou “vidraça” para os ataques da oposição, porque supõem que ela pode ser “candidata a alguma coisa” [3]. De qualquer forma, a denúncia está aí, e neste caso bastou um boato para a Dilma voltar à berlinda nos telejornais da Globo. Tá certo, o boato não parte de uma qualquer, parte da ex-presidente da Anac. Mas foi o suficiente para, no mesmo dia, o caso ganhar toda a visibilidade a que tem direito.

Já no caso Alstom, o Jornal Nacional só levou ao ar uma reportagem sobre o assunto meses depois que o Wall Street Journal deu o furo falando em subornos da empresa francesa em vários países da América Latina. O periódico americano já havia publicado matéria específica sobre o Brasil citando os valores envolvidos na obra de extensão do metrô de São Paulo. Há desde denúncia da justiça suíça até investigação judicial na procuradoria de Paris. Serra apressou-se, já declarou que não precisa de CPI, existem “outras medidas de investigações” [4], que essa tentativa de inquérito na Assembléia Legislativa de SP é operação do “Kit PT”, ou seja, é “eleitoralismo” [5]. Eu só queria saber se o Wall Street Journal também está incluído neste “Kit PT” citado pelo Serra. A despeito dessas disputas políticas muito previsíveis, as denúncias são sérias!

Mas a questão aqui não é os méritos das investigações, é a diferença no tratamento que elas recebem da principal emissora de televisão do país. O que justifica um posicionamento editorial com viés marcadamente político, rendendo diversas pautas, no caso da Varig; e uma reportagem insossa [6], que não cita nome de político nenhum, tão pouco partido (a não ser o PT, que acusa), no caso da Alstom? A pergunta não é sarcástica. Eu sinceramente preciso de uma explicação. É por que um caso envolve o Governo do país e o outro envolve o Governo de um Estado? Mas, poxa, o caso Alstom tá ganhando repercussão internacional! É por que não há nada de concreto envolvendo governantes? Mas também não há no caso da Varig, até então! Afinal, que critério é esse?! É difícil de entender! Se alguém tiver uma explicação, por favor...


[1] http://clipping.planejamento.gov.br/Noticias.asp?NOTCod=435982

[2] http://www.projetobr.com.br/web/blog?entryId=7717

[3] http://www.estadao.com.br/nacional/not_nac188393,0.htm

[4] http://www1.folha.uol.com.br/folha/brasil/ult96u408285.shtml

[5] http://www1.folha.uol.com.br/folha/brasil/ult96u407945.shtml

[6]http://video.globo.com/Videos/Player/Noticias/0,,GIM837997-7823-JUSTICA+QUESTIONA+CONTRATO+DA+ALSTOM+COM+O+METRO,00.html

sexta-feira, 6 de junho de 2008

Quem segura esse país?

O Senador Aloizio Mercadante (PT/SP) tem se dedicado bastante ao estudo das recentes reservas de petróleo que a Petrobras descobriu. Para o Senador, o Brasil vai tornar-se uma “potência petrolífera tardia” [1]. Em entrevista à TV Estadão [1] (e ao Brasília Ao Vivo, da Record News [2]), Mercadante explicou que “o petróleo será cada vez mais uma matéria-prima decisiva na economia mundial, não só porque os preços estão hoje em U$ 125,00 (por barril) e vêm crescendo [...], mas porque também nos últimos 30 anos não houve nenhuma grande reserva nova sendo descoberta”. As classificações de grau de investimento pelas agências Standard & Poor's e Fitch certificam que o Brasil está em outro patamar. Nosso país tem, de fato, juntamente com China, Índia e Rússia, a possibilidade de tornar-se uma das principais economias do mundo, no prazo de algumas décadas.

É claro, isso se vencermos alguns desafios importantes: educação, carga tributária, infra-estrutura e logística, energia e Juros. Este último é o inimigo disfarçado, o grande coringa. Pelo menos na teoria, todos desejam educação de maior qualidade, que a carga tributária seja reduzida a níveis sustentáveis, uma infra-estrutura mais eficaz e geração de energia suficiente para sustentar nosso desenvolvimento. Mas, em relação aos Juros, a coisa não é tão simples, muitos alegam ser este o nosso grande obstáculo, o que impede o nosso país de alçar vôo. Entretanto, os Juros altos são um recurso que o Banco Central possui para enfrentar outro grande inimigo, possivelmente o pior deles: inflação. A grande função do BC, no Brasil, é perseguir a meta inflacionária. Em outros países, como Estados Unidos, o Banco Central procura um equilíbrio entre inflação e produtividade. Ainda não atingimos este nível. Aqui, elevação dos preços é o pesadelo da população e de qualquer governante.

Juros altos seguram a inflação e sabotam o crescimento. Juros baixos estimulam o crescimento, mas abrem margem para um processo inflacionário. Eis o dilema! Juros não é a única arma para o controle inflacionário. Há anos, a FIESP – Federação das Indústrias de São Paulo – bate na tecla de que uma redução dos gastos do Governo aliviaria a pressão sobre os preços e evitaria que o BC precisasse subir os juros para segurar o processo inflacionário [3]. É possível dizer que o corte nas despesas correntes do Governo é uma bandeira do empresariado brasileiro, como um todo [4]. Qualquer empresário precisa de previsibilidade e de uma expectativa de crescimento econômico para fazer seus investimentos, e todos ganharíamos com isso. Mais investimentos implicam mais emprego e renda para a população. O Governo, geralmente, alega que não é fácil eliminar gastos. De fato, falar é muito fácil, é preciso apontar que gastos são “excessivos”, ou seja, como e o que cortar.

O orçamento do Estado brasileiro tem alguns compromissos ingratos: dívida pública, previdência e funcionalismo. No que diz respeito à dívida pública, acho que fizemos importantes avanços. Lentos, mas importantes. Ainda gastamos muito com dívida, pior: com os juros da dívida. Mas a situação fiscal do Brasil está mais confortável agora do que há 10 anos. Hoje, temos mais reservas cambiais do que dívida externa. Melhor! Já a previdência tem um déficit histórico. O Senador Paulo Paim (PT/RS) derrubou este ano, no Senado, o fator previdenciário, criado no Governo Fernando Henrique para reduzir em até 40% as aposentadorias e pensões dos que integram o Regime Geral da Previdência. O fator previdenciário prejudica principalmente os mais pobres, que começam a trabalhar mais cedo. Dificilmente a proposta de Paim passa na câmara, e se passar será vetada por Lula, tal é o suposto rombo da previdência.

Já em relação aos funcionários do Governo, penso que muito pode ser feito: racionalizando a quantidade (averiguando quais são realmente necessários) e melhorando a gestão (para que esta mesma estrutura ofereça melhores serviços à população). O problema é extremamente complexo, e acho até que o Governo pode manter um extenso quadro de servidores. É melhor do que terceirizar serviços (acaba saindo mais barato). Entretanto, muitos ministérios poderiam ser enxugados, secretarias poderiam ser aglutinadas e, consequentemente, servidores poderiam ser dispensados. Nada acontece. Talvez por falta da famigerada “vontade política”, ou por falta de um projeto de desenvolvimento mais estratégico. Quando o quadro geral vai bem, costumamos subestimar certos problemas e negligenciar determinadas prioridades. Deveria ser o contrario: tínhamos que aproveitar a boa fase para corrigir falhas estruturais e garantir a continuidade dos avanços.